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Versos para esquentar

Aproveitando que a Paula ainda não voltou para o Brasil e, portanto, não vai nos dizer que seus poemas não devem ser publicados por aqui pelo risco de censura dos mais puritanos (ou por uma vergonhazinha de que pareça auto-promoção), vamos a dica de hoje para o dia dos namorados.

Ok que a data é romântica e o que mais se vê pelas ruas são rosas vermelhas, corações e bichos de pelúcia. Mas que tal usar os versos da nossa poeta ‘inspiradora’ para aquecer a noite do dia 12 (e todas as outras também)?

O PornoPopPocket reúne poemas, como sugere o nome, eróticos. Mas não se preocupem, ainda somos um blog de família: selecionamos os versos mais sutis. O resto é por conta da imaginação.

Eu gosto quando você
coloca as mãos atrás
da minha cabeça
e me puxa com pressa
pra dentro da sua boca
eu gosto como louca
de ter seus lábios grudados
de um jeito sôfrego
que sangra
e me tira o fôlego
eu gosto de te sorver
aos goles e fingir
que nossas línguas
são siamesas
gosto de beijos
com gosto de insensatez
e incerteza.

___

Você já foi um estranho
tateando na escuridão
das minhas entranhas
você enfrentou o breu
e hoje conhece os caminhos
muito melhor do que eu

Curta de Jorge Furtado relembra Copa de 50

Às vésperas do início da Copa e da estreia de Jorge Furtado na L&PM WebTV (o Palavra de Escritor com o autor de Meu tio matou um cara vai ao ar na próxima semana), o blog resolveu recuperar aquele que Jorge considera seu único filme sem qualquer dose de humor: Barbosa, de 1988. O curta é baseado no livro Anatomia de uma derrota, de Paulo Perdigão, publicado pela L&PM em 1985. Nele, um homem volta no tempo para tentar evitar a falha do goleiro Barbosa na final da Copa de 50.
Se bem que  a história é dramática apenas no Brasil. Na entrevista, o diretor contou que quando Barbosa foi exibido no Uruguai, a plateia “morria de rir”.

Mas enquanto a Copa não começa e o Palavra de Escritor com Jorge Furtado não está disponível, você pode esperar assistindo a um trecho do filme e vendo o roteiro original, que está disponível no site da Casa de Cinema.

A solução para os amores difíceis em Shakespeare

Algumas das melhores e mais dramáticas histórias de amor foram escritas por Shakespeare, todos sabem. De Romeu e Julieta até A comédia dos erros, são muitas as paixões conturbadas e os obstáculos a serem enfrentados pelos pombinhos em busca de um final feliz.

E como mostra A megera domada, o maior amor também exige determinação, e a prova está no rústico Petrúquio. Determinado a se casar com a rebelde Catarina, ele elabora as maiores artimanhas para conseguir levá-la ao altar, ainda que todos tentem dissuadi-lo da ideia.

A confiança de Petrúquio, em uma frase dita a seu futuro sogro, é a prova de que ele conhece sua amada e está determinado a tê-la:

“O que acontece é isto, caro pai: o senhor e todos que falam de Catarina não a compreenderam. Ela é violenta apenas por política, pois seu temperamento nada tem de insolente. Ao contrário, é manso como o de uma pomba. Não é afogueada, mas fresca como a aurora”.

Se você está apaixonado por uma Catarina, ainda dá tempo de ter uma aulinha com Petrúquio até o dia 12. Comece lendo um trecho de A Megera Domada aqui. Também dá pra conhecer a história pela adaptação da obra, feita por Leon Garfield.

10 dicas para você não ter apenas “quase” amores

1 – Aumentar a lista de nomes que você jamais namoraria. Se ele se chamar Vanderlei ou Dejair, nem pensar. Mas e Bejair? Melhor incluir na lista outros nomes difíceis. Também é bom considerar o risco de um convite para o cinema. Escolher o filme é uma decisão sábia para não acabar em uma sessão de filmes “adultos”.

2 – Se você acaba de entrar na faculdade, o risco de encontrar um militante/estudante profissional é grande. Ele terá boa lábia, é um político, afinal de contas. Melhor só investir se você tiver vocação política.

3 – Desistiu do revolucionário? Encontrou o amor da sua vida em um pintor? Ele pode ser bacana, te amar e tudo mais. Então, melhor manter distância dos amigos dele. Infidelidade, mesmo que você tente se convencer que tem origem genética, não é legal.

4 – Para evitar a culpa da infidelidade, melhor não assumir o papel de “a outra”, especialmente se o cara fizer parte de uma família típica de comercial de margarina. Ainda que o caso extra-conjugal dele possa funcionar por algum tempo para você. Mas só por algum tempo.

5 – Pessoas bem-sucedidas são legais. Mas se a sogra perguntar o nome de sua família, é hora de bater em retirada.

6 e 7 – Muita atenção quando se deparar com um garçom ou um Papai Noel.

8 – Colegas de trabalho podem ser uma encrenca – ou não.

9 – O que pode ser mais desestimulante do que um cara lindo e charmoso te examinando e não te abraçando? Deixe os médicos de fora da sua lista

10 – Um astro do circo pode ser bem legal. Mas ele sempre vai embora.

As dicas são extraídas da vida de Maria Ana, personagem de Dez (quase) amores, de Claudia Tajes, e servem para ajudar você fugir de prováveis relacionamentos que nunca darão certo. Agora, se você encontrar um homem ‘perfeito’ que não esteja nessa lista, por favor, nos avise. Entraremos na fila também.

Esperando para colocar o pé na estrada

Se você acha que está demorando para sair do papel o projeto do Walter Salles para On the Road, saiba que o próprio Kerouac esperou por anos que seu principal livro fosse parar nas telas do cinema. E já tinha até eleito o seu diretor: Marlon Brando.

Começou a circular agora há pouco na internet a carta que a gente reproduz mais abaixo, que teria sido escrita pelo próprio Kerouac. No texto, ele diz que espera que Marlon Brando compre os direitos da história e que entenderia as adaptações necessárias para que o filme pudesse ser realizado.

Abaixo está a transcrição do texto, que tiramos daqui. (via @marcelo_orozco)

Jack Kerouac
14182 Clouser St
Orlando, Fla

Dear Marlon

I’m praying that you’ll buy ON THE ROAD and make a movie of it. Don’t worry about the structure, I know to compress and re-arrange the plot a bit to give perfectly acceptable movie-type structure: making it into one all-inclusive trip instead of the several voyages coast-to-coast in the book, one vast round trip from New York to Denver to Frisco to Mexico to New Orleans to New York again. I visualise the beautiful shots could be made with the camera on the front seat of the car showing the road (day and night) unwinding into the windshield, as Sal and Dean yak. I wanted you to play the part because Dean (as you know) is no dopey hotrodder but a real intelligent (in fact Jesuit) Irishman. You play Dean and I’ll play Sal (Warner Bros. mentioned I play Sal) and I’ll show you how Dean acts in real life, you couldn’t possibly imagine it without seeing a good imitation. Fact, we can go visit him in Frisco, or have him come down to L.A. still a real frantic cat but nowadays settled down with his final wife saying the Lord’s Prayer with his kiddies at night…as you’ll seen when you read the play BEAT GENERATION. All I want out of this is to able to establish myself and my mother a trust fund for life, so I can really go roaming around the world writing about Japan, India, France etc. …I want to be free to write what comes out of my head & free to feed my buddies when they’re hungry & not worry about my mother.

Incidentally, my next novel is THE SUBTERRANEANS coming out in N.Y. next March and is about a love affair between a white guy and a colored girl and very hep story. Some of the characters in it you know in the village (Stanley Gould etc.) It easily could be turned into a play, easier than ON THE ROAD.

What I wanta do is re-do the theater and the cinema in America, give it a spontaneous dash, remove pre-conceptions of “situation” and let people rave on as they do in real life. That’s what the play is: no plot in particular, no “meaning” in particular, just the way people are. Everything I write I do in the spirit where I imagine myself an Angel returned to the earth seeing it with sad eyes as it is. I know you approve of these ideas, & incidentally the new Frank Sinatra show is based on “spontaneous” too, which is the only way to come on anyway, whether in show business or life. The French movies of the 30’s are still far superior to ours because the French really let their actors come on and the writers didn’t quibble with some preconceived notion of how intelligent the movie audience is, the talked soul from soul and everybody understood at once. I want to make great French Movies in America, finally, when I’m rich…American Theater & Cinema at present is an outmoded Dinosaur that ain’t mutated along with the best in American Literature

If you really want to go ahead, make arrangements to see me in New York when you next come, or if you’re going to Florida here I am, but what we should do is talk about this because I prophesy that it’s going to be the beginning of something real great. I’m bored nowadays and I’m looking around for something to do in the void, anyway—writing novels is getting too easy, same with plays, I wrote the play in 24 hours.

Come on now Marlon, put up your dukes and write!

Sincerely, later,
Jack Kerouac

As lições de amor da turma do Charlie Brown

Hoje a dica não é para os casais. Mas sim para você, amiga, que está desesperada para não passar o dia 12 sozinha. A gente sabe, você já fez promessa para todos os santos, já assediou todos os contatos do msn, Facebook, Orkut. Toda a sua timeline no Twitter sabe que você está solteira. E o único cara que ainda não te deu o fora é o Schroeder – ops, aquele menino quieto, quase autista, que era seu colega na terceira série?

Pois é… vale quase tudo para não ficar sozinha. Agora, se fizer como a Lucy, não tem jeito, até sua última esperança se esvairá. Tenha modos e umas aulas com a turma do Charlie Brown (clique nos quadrinhos para aumentar a imagem).

Ajuda de deuses e filósofos para o dia dos namorados

Para quem está sem inspiração para preparar um belo dia dos namorados, a gente dá uma forcinha. Até o dia 12 (mas não necessariamente todos os dias, porque mordomia tem limites) a gente dá dicas para você surpreender o seu/sua amado.

E começamos do princípio: com os gregos. Uma das mais belas metáforas do amor está em O banquete, de Platão. Quando os filósofos se reúnem em uma janta e o debate sobre Eros é imposto, Aristófanes apresenta a origem dos seres humanos:

Para começar, a humanidade compreendia três sexos, não apenas dois, o masculino e o feminino, como agora. O andrógino era então, quanto à forma e quanto à designação, um gênero comum, composto do macho e da fêmea. (…) Terríveis na força e no vigor, extraordinários na arrogância, desafiaram os deuses. Escalar o céu, tentativa que Homero atribui a Efialtes e Oto, era projeto deles, hostis aos celestes. Zeus e os outros deuses, ao deliberarem sobre as medidas a serem tomadas, esbarraram num impasse. Se os extinguissem e fulminados os fizessem desaparecer como os gigantes, sumiriam as homenagens e os templos erigidos pelos homens. De outra parte, inconcebível seria tolerar a insolência. Ao cabo de cansativa deliberação, sentenciou Zeus: “Julgo ter encontrado um recurso para preservar os homens e, enfraquecendo-os, deter a insolência. Seccionarei agora cada um em dois para torná-los mais fracos e mais prestativos a nós, visto que serão mais numerosos. Andarão eretos, sustentados por duas pernas”.

(…)

Eros, que atrai um ao outro, está implantado nos homens desde então para restaurar a antiga natureza, faz de dois um só e alivia as dores da natureza humana. Cada um de nós é, portanto, a metade complementar de outro (um símbolo). Somos como uma das partes de um linguado cortado ao meio, dois formando um. Cada qual anda à procura de seu próprio complemento.

Claro que lá tem muito mais coisas – para todas as orientações sexuais, inclusive –, então, vai se preparando para chamar seu amor de a metade que Zeus separou.

Dennis Hopper: morreu o rebelde sem causa

Diretor e ator, reconhecido por sua rebeldia, Dennis Hopper morreu no último sábado, aos 74 anos, em decorrência de câncer de próstata. Dirigiu oito filmes, dos quais se destacam o marco da contracultura Sem destino (Easy Rider), de 1969, e Colors – as cores da violência, de 1988, estrelado por Sean Penn e Robert Duvall. Contracenou com James Dean, de quem foi grande amigo, nos clássicos Juventude transviada (1955), de Nicholas Ray, e Assim caminha a humanidade (1956), de George Stevens. Dennis Hopper também atuou nos emblemáticos Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola, e Veludo azul (1986), dirigido por David Lynch.

Assista a um trecho do programa “Fishing With John”, onde o ator conversa com o músico John Lurie, e leia aqui o texto de Mario Bortolotto para a Folha (somente para assinantes).

“Eu confesso que fiquei abalado com a morte de Dennis Hopper. Às vezes eu estava vendo um filme aparentemente recente em que ele aparecia na TV e clicava naquele comando que mostra a sinopse do filme para ver em que ano rodou. No último que vi – nem lembro o nome – achei que ele estava OK. O Mario Bortolotto, em seu texto na Folha e S. Paulo, conclui que “nossos heróis estão morrendo…”. É verdade, os heróis também morrem. Aquela turma toda anda morrendo. Os caras que nos fascinam desde a nossa juventude. Eu lembro perfeitamente, nos meus vinte anos, do domingo ensolarado em que foi anunciada a morte de Picasso. Ele tinha 93 anos. Mas eu fiquei chocado. Que sacanagem é esta? Ele não era mágico? Ele não era super-homem? Ele não pintava três quadros por dia? Ele não era Picasso? Como Picasso podia morrer?
Este é o grande enigma da existência. Nossos heróis morrem. O velho e maravilhoso maluco Dennis Hopper morreu. Todo mundo morre. Até o Picasso morre.”  (Ivan Pinheiro Machado)

David Goodis: tão bom quanto Chandler e Hammett

Eddie experimentou os tapete macios do legendário Carneggie Hall. Seus dedos deslizaram sob as alvas teclas de um piano Steinway de 200 mil dólares. E após o último acorde da “Polonaise em lá bemol maior Opus 53”, ele foi aplaudido de pé.
Muita coisa aconteceu até ele chegar àquela espelunca onde tocava praticamente em troca de comida, num piano vagabundo, para gente pior ainda. A história de Eddie e seu irmão está contada no maravilhoso livro Atire no pianista (L&PM POCKET) de David Goodis.

Menos conhecido e incensado que Raymond Chandler e Dashiell Hammett, Goodis foi tão bom quanto eles no gênero que ficou consagrado como “policial noir”. Na verdade, o complemento “noir” foi criado para diferenciar do policial tradicional. Eram obras que iam além da trama policial, do “quem matou quem”. Livros com notável reflexão psicológica e estereótipos clássicos, como o “cara durão”, as mulheres fatais e cínicas , o detetive sentimental e cético que ganhava a vida por 25 dólares por dia, mais despesas. E sempre enfrentando problemas com os tiras. Quase que invariavelmente as tramas se passam nos anos 30, 40 e 50 na Califórnia, ou na Filadélfia, no caso de Goodis. Seja na época da Grande Depressão ou já no pós-guerra, os heróis (ou anti-heróis) dos escritores “noir” estavam sempre na contramão do “sonho americano”.

Os franceses adoram este gênero, tanto é que “noir” vem do francês “negro”. E François Truffaut filmou Atire no pianista, estrelado por Charles Aznavour (trailer abaixo). Tal foi o sucesso do filme que o livro mudou de nome; era Down There e tornou-se Shoot the piano player. Os outros livros do autor, A lua na sarjeta, A garota de Cassidy (que vendeu um milhão de cópias nos Estados Unidos) e Sexta-feira negra, todos publicados pela coleção POCKET, são verdadeiras obras-primas.

Goodis foi também roteirista em Hollywood, onde adaptou A Dama do Lago, de Raymond Chandler (trecho abaixo), entre muitos outros.

Além de Atire no pianista, outros de seus livros tiveram grande sucesso no cinema, como Lua na Sarjeta (La lune dans le caniveau) de Jean-Jacques Beinex, com Gerard Depardieu e Nastassja Kinski, e Dark Passage com Humphrey Bogart e Lauren Bacall. Dark Passage, por sinal, foi objeto de uma disputa judicial que se arrastou até após a morte de Goodis. Ele denunciou a United Artists e a rede de TV ABC por terem se apropriado da ideia do livro para criar o célebre seriado e o filme O Fugitivo (trecho abaixo). Em decisão histórica para o direito à propriedade intelectual, a Suprema Corte dos Estados Unidos deu ganho de causa a Goodis.

Depois de sua morte em 1957 num acidente mal explicado, sua obra caiu no esquecimento nos Estados Unidos. Só na década de 70 seus livros voltaram a fazer sucesso, mas na França, onde todos foram traduzidos e são reeditados até hoje. Para tentar recuperar o prestígio de Goodis junto aos americanos , em fevereiro desse ano foi lançado o documentário David Goodis… To a pulp (trailer abaixo) produzido e dirigido por Larry Withers, enteado do escritor.

Livro que Washington retirou de biblioteca é devolvido mais de 200 anos depois

Em 5 de outubro de 1789, George Washington foi a biblioteca de Nova York e retirou um exemplar de “A Lei das Nações”. Na semana passada, em 19 de maio de 2010, ele foi finalmente devolvido. Uma associação que cuida da propriedade de Mount Vernon, que pertencia a Washington, descobriu que o livro nunca havia retornado à biblioteca e comprou na internet um outro exemplar da mesma edição por U$12 mil. Dos males o menor: se alguém fosse pagar a multa, teria que desembolsar cerca de U$300 mil.