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Maio de 68: Paris vivia outra revolução #1

A agitação começou em 2 de maio de 1968. Quatro dias depois, no dia 6, 13 mil estudantes bateram de frente com a polícia. A partir daí, Paris virou um campo de batalha entre jovens que protestavam e policiais que tentava reprimir a massa. Foi um combate que teve a participação de intelectuais como Jean-Paul Sartre (na foto abaixo, entregando jornais durante as agitações) e que culminou numa greve geral com a participação de milhões de europeus. 

© Bruno Barbey / Magnum Photos

O movimento que durou menos de um mês foi suficiente para eternizar o Maio de 68. Desde então, tornou-se impossível, por exemplo, escrever sobre a história de Paris sem tocar nesse episódio. A seguir, trechos de dois livros publicados pela L&PM Editores que falam sobre o assunto:
 

 Paris: uma história, de Yvan Combeau – L&PM POCKET ENCYCLOPAEDIA
Em 1968, da Rue Gay-Lussac ao Odéon, da Sorbonne aos Champs-Élysée, os dias do mês de maio apresentaram uma agitação bastante parisiense. Após um primeiro ato nos edifícios da recém-fundada Universidade de Nanterre, o movimento dos estudantes transcorreu (dia e noite) nas ruas, nos bulevares e nos teatros da capital. 

 
Paris – Biografia de uma cidade, de Colin Jones – L&PM EDITORES
“Esses acontecimentos começaram como um protesto contra as condições de superlotação e empobrecimento das universidades, mas acabaram se tornando um esforço de estudantes rebeldes de reviverem a tradição de militância nas ruas da Esquerda do século XIX. Durante várias semanas, revoltas e barricadas novamente tornaram-se característica principal da vida urbana parisiense, e o Quartier Latin transformou-se num campo de batalha entre estudantes arremessadores de pedras e policiais repressores de rebeliões. Os eventos de Maio de 68 também providenciaram um fórum para questionamentos fundamentais dos valores da sociedade capitalista e de seu consumismo emergente.

O poema roubado

No dia em que se completam 16 anos da morte de Mario Quintana, resolvemos fazer uma homenagem bem descontraída  em nosso blog. Para isso, separamos um trecho do programa Palavra de escritor, com Claudia Tajes. A autora de Dez quase amoresSó as mulheres e as baratas sobreviverão,  entre outros, conta, de um jeito super divertido, que quando era criança, Mario escreveu um poema só para ela. Claudia recita os versos exclusivos e fala que, ao levar o presente do poeta para a escola, a professora o pegou e nunca mais devolveu. “Dona Didia, se vocês estiver  ouvindo, devolva o meu poema” diz a escritora.

Festa de Separação

Por Carol Teixeira

Ninguém gosta de falar do fim de um amor. O fim lembra morte e ninguém gosta de pensar em morte. Isso porque a experiência do amor nos dá a sensação de continuidade, logo, cria a ilusão de eternidade. Então é compreensível que o fim de um romance leve a essa inevitável associação ao oposto do eterno, mesmo que inconsciente. Por isso as pessoas quando vêem seus relacionamentos terminados, não se permitem assimilar com calma, refletir muito sobre, simplesmente querem se livrar logo daquela sensação ruim e da incompreensão – é mais fácil sentir raiva, mágoa e jogar tudo para baixo do tapete.


Foi justamente o que não fez o ex-casal que escreve e protagoniza a peça que vi ontem, “Festa de Separação – um documentário cênico”. A história pré-peça é real: a atriz Janaína Leite e o filósofo e músico Fepa tiveram um relacionamento de vários anos. Até que ele acabou. Ao invés de simplesmente agir como a maioria, eles decidiram ritualizar esse fim, fizeram diversas “festas de separação” e gravaram trechos e depoimentos, num exorcismo positivo de todo aquele sentimento. E surgiu a ideia de fazer algo que refletisse sobre esse fim sobre o qual ninguém gosta de falar. Daí veio essa linda peça que me virou do avesso. Me identifiquei muito com a maneira com a qual eles abordam o assunto, mostrando trechos de filme, trechos das gravações feitas nas tais festas de separação, trechos de livros, músicas, citações de filósofos. Me senti em casa, porque é assim que eu vejo a vida e reflito sobre as questões, sempre filtrada através de pedaços de arte, de irrealidades. Então, pelo fato de eles falarem a minha língua, a peça me tocou de uma forma mais absurda ainda.
O legal é que eles satisfazem nossas curiosidades voyerísticas (lemos um antigo e-mail dele para ela, ouvimos uma mensagem dela tristíssima gravada da secretária eletrônica, vemos vídeos…), mas ao mesmo tempo eles universalizam a questão do fim, através da arte (citações, leituras, músicas, metáforas e a própria realização da peça), levando todos juntos naquele delicado processo catártico.
Me vem à mente agora a frase do Nietzsche que tenho tatuada nas costas, “a arte existe para que a verdade não nos destrua”. Ou aquele mito do Perseu que só olhava para Medusa através da imagem refletida em seu escudo de bronze, para que o olhar dela não pudesse o petrificar.
A arte, com seu olhar indireto, curando. A arte fazendo transcender. A arte como a única maneira possível de superar nossa natureza trágica.

Para assistir à entrevista de Carol com Janaína e Fepa, clique aqui.

Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e eu

Por Paula Taitelbaum

Cheguei no prédio da Turma da Mônica uma hora depois do combinado. Tudo porque um nevoeiro emparedou a cidade de Porto Alegre, fechou o aeroporto e fez meu avião decolar com cinco horas de atraso. Ou seja: desembarquei do táxi, na Lapa paulista, esbaforida, nervosa e faminta. Enquanto esperava pelo meu crachá na fila, notei que havia uma garota sentada. Juro que ela era a cara da Mônica adolescente. Fiquei pensando se seria algum teste para filme, alguma vaga para recepcionista de parque temático ou se tudo não passava de delírio meu. Ainda na fila da portaria, prestei atenção em quatro estudantes que estavam ali pelo mesmo motivo que eu: entrevistar Mauricio de Sousa. Antes mesmo de conhecê-lo, percebi o quão acessível é o pai da Turma da Mônica.

Com o crachá pendurado no peito, entrei sozinha no elevador e apertei no número cinco. Ao descer no andar indicado, não consegui achar nenhuma recepção, só o que me pareciam ser duas portas de saídas de emergência. Abri a primeira e encontrei a escada. Abri e segunda e, bingo, lá estava a ilha particular de Maurício. Depois de me apresentar e me desculpar pelo atraso, em segundos fui levada ao escritório do chefe. Entrei em uma sala enorme, com uma mesa de trabalho cheia de coisas das mais variadas espécies. Pelas paredes, quadros clássicos com Mônica e Cebolinha. Pelos cantos, estantes, livros de quadrinhos e bichos de pelúcia da turma.

Mauricio chegou sorridente como nas fotos que vemos dele. Mas apesar do sorriso sincero, não consegui relaxar totalmente. Eu estava atrasada, mareada, insone, faminta, lembram? E pior: tinha que montar o tripé, ligar a câmera de vídeo, plugar o microfone, conectar os fones de ouvido, enquadrar, testar… Pode parecer simples pra você, mas pra mim foi uma tarefa de gincana. Normalmente quem faz isso por aqui é a Cris e a Cris não estava lá comigo.

Aparentemente, tinha conseguido fazer tudo direitinho. Quando ia começar a gravar, uma das filhas de Mauricio, Marina, que deve ter uns vinte e poucos anos, entrou. Depois de eu ser apresentada a ela, pai e filha conversaram amenidades. Quando ela saiu, ele me explicou que o assunto era o apartamento novo da moça, que está saindo de casa para morar sozinha. “Já meu filho disse que não sai de casa de jeito nenhum, Inclusive perguntou se, quando casar, pode continuar morando lá”, falou ele entre sorrisos.

Tentando ser o mais rápida e ágil possível, fiz a primeira pergunta: como tudo começou? Com um livro da Turma da Mônica da Coleção L&PM POCKET nas mãos, ele contou que planejou tudo nos mínimos detalhes, usando os quadrinhos americanos como modelo. Falou que sempre quis fazer o pacote completo que incluía brinquedos, filmes, alimentos e até parque temático. E emendou dizendo que o que gostava mesmo de fazer eram as tirinhas iguais as que a L&PM publica. Foi então que a câmera apitou e apagou. Por sorte, diga-se de passagem. Porque eu simplesmente tinha esquecido de apertar no Rec e, por isso, a câmera entrou no modo stand by (só que isso eu só fui descobrir depois). Comecei de onde ele tinha parado, dessa vez captando tudo (o vídeo logo estará disponível na L&PM Web TV). Ai, que atrapalhação…

Como Mauricio estava com pressa, a entrevista foi curtinha. Mas já valeu. Saí da sua sala cheia de gibis para minha filha, ganhei sanduíche e suco de uva e fui conhecer o estúdio. Antes, no entanto, Mauricio avisou que, de jeito nenhum, eu poderia captar imagens dos desenhos que estavam sendo feitos. Era sexta-feira, dia de fechamento de capas, e nenhuma delas poderia vazar na internet. Ele contou que tinha tomado essa decisão desde que a capa do beijo da Mônica e do Cebolinha tinha sido divulgada antes de chegar nas bancas, estragando a surpresa. Sacudi a cabeça dizendo que ele não precisava se preocupar e lá fui eu conhecer onde nascem as histórias da turma.

O estúdio divide-se em mesas de desenhos onde tudo é feito à mão. Repito: à mão! Juro que achei que só artesanato de feirinha hippie ainda era feito à mão… Mas além dos habilidosos desenhistas, também vi computadores bem modernos. Depois de conversar com um roteirista que inventa histórias, de captar algumas imagens (tortas, diga-se de passagem) e trocar endereços eletrônicos com as amáveis secretárias de Mauricio de Sousa, saí com a certeza de que eles são uma grande família. Pena que eu não tirei nenhuma foto com Mauricio. Esqueci, vocês acreditam?

Filmar On the road é uma estrada sem fim

Depois de divulgar os prováveis atores dos papéis principais de On the road e de dizer que estava procurando nomes para os papéis secundários, Walter Salles anunciou em recente entrevista que agora só “um milagre” fará com que consiga terminar a sua produção independente. Apesar do diretor não ter desistido oficialmente, nada garante que algum dia assistiremos à adaptação da principal obra de Jack Kerouac nas telas do cinema. Gus van Sant e Jean-Luc Godard já haviam desistido antes mesmo de começar e agora é a vez de Salles queixar-se das dificuldades de fazer um “Road movie” com diferentes locações espalhadas pelo vasto território californiano. “Esse filme tem uma história de 50 anos de tentativas. É um pouco um filme Sísifo, em que você nunca tem a certeza de que vai conseguir levar a pedra lá para cima”, disse o diretor, em conversa com a Folha de S. Paulo

Mas se o longa-metragem não está nem perto do fim, Walter Salles pelo menos conseguiu realizar À Procura de On the Road, um documentário que registra, segundo ele mesmo, a “busca por um filme possível”. O trabalho de 60 minutos foi editado em uma semana e exibido no Festival de Cinema de San Francisco, mas não deverá ser visto novamente. Uma pena, pois nele estão depoimentos de gente como Sean Penn, Wim Wenders, Peter Coyote e Johnny Depp. 

A pergunta que fica no ar é: se é tão difícil filmar, não seria melhor esquecer e deixar a obra de Kerouac somente para leitores?  A L&PM Editores possui treze títulos de Kerouac, entre eles On the road – o manuscrito original, o recém lançado Satori em Paris e ainda Big Sur, que acaba de sair em nova edição.

“Kafka” de Soderbergh chega ao Brasil em formato de DVD

Quase 20 anos depois do lançamento, Kafka, segundo longa da carreira de Steven Soderbergh (diretor de Onze homens e um segredo e Che), finalmente chega ao Brasil em formato de DVD. A ausência de cores faz lembrar os expressionistas Robert Wiene e Fritz Lang, e o filme está mais para thriller do que para biografia. Nele, Kafka (Jeremy Irons) é um servidor público que tenta descobrir o paradeiro do amigo Eduard Rabin. Rabin desapareceu depois de ter sido mandado pelos patrões a um lugar – não coincidentemente – chamado de “Castelo”. E essa é só a primeira das várias referências à obra do escritor tcheco na trama. Assista ao trailer e corra para a locadora:

Com informações do jornal Zero Hora.

Um jardim com todas as plantas venenosas das histórias de Agatha Christie

55 assassinatos por envenenamento foram cometidos nos livros de Agatha / Divulgação

A Coleção L&PM POCKET já soma mais de vinte títulos de Agatha Christie. Perfeitos para serem levados na mala, eles ainda podem servir de motivação para um tour pelo sul da Inglaterra.
Ao visitar o condado de Devon, onde a escritora nasceu, você poderá conhecer Greenway, a casa de veraneio da família Christie, e dar uma passada pela Ilha do Burgh, que inspirou a Rainha do Crime a escrever O caso dos dez negrinhos. Também terá a opção de ficar hospedado no The Grand Hotel, em Torquay, onde Agatha passou a noite de núpcias com o primeiro marido.
Em Torquay, aliás, cidade do condado às margens do Canal da Mancha, há ainda um museu com uma ala inteira dedicada à escritora e um jardim venoso em homenagem a ela. O jardim apresenta todas as plantas venenosas que aparecem em seus livros – dos 80 casos de assassinatos, 55 foram cometidos por envenenamento. O interessante é que o jardim tem um clima de mistério, pois além das ervas letais que apresenta, ainda oferece pistas que permitem ao visitante tentar descobrir os segredos de algumas delas.
 Torquay, chamada de “Riviera inglesa” pelo seu clima ameno, será o principal palco das celebrações dos 120 anos do nascimento da escritora que começam em setembro deste ano. Se você é fã, prepare as malas. 

As aventuras de Tommy e Tuppence

Tradutor de diversos títulos da Agatha Christie, Henrique Guerra publicou no seu blog um texto sobre os livros da dupla Tommy e Tuppence. Com a devida autorização, reproduzimos o aqui o texto dele. Da dupla, a L&PM já publicou Sócios no crime e Portal do destino. Os direitos de N or M? e By The Pricking of My Thumbs também foram adquiridos pela editora e serão publicados em breve.

Tommy & Tuppence: sempre aventureiros

O universo de Tommy e Tuppence envolve espionagem, contraespionagem, mensagens cifradas, segredos de Estado, fugas, perseguições, reviravoltas, tiros, socos e até cabeçadas. Tommy, sempre com os pés no chão; Tuppence, intuição pura. Um casal que se ama e se alfineta com intensidade. Ao criar a dupla, Agatha Christie surpreendeu a Bodley Head (editora do livro de estreia da autora, O misterioso caso de Styles), que esperava novo whodunnit. Em vez disso, Agatha entregou um thriller insuperável.

O inimigo secreto (The secret Adversary, 1922), primeiro livro com Tommy e Tuppence e segundo de Agatha, tem como dedicatória: “A todos os que levam uma vida monótona, com votos de que experimentem em segunda mão os encantos e os perigos da aventura”. Ao cabo da Primeira Guerra, Tommy e Tuppence precisam encontrar Jane Finn, que antes de escapar de um naufrágio recebe importantes documentos de um agente secreto.

Sócios no crime (Partners in Crime,1929) é uma coletânea de contos que se interconectam. A segunda aventura dos Beresford inicia com Tuppence ansiosa por peripécias. Então Tommy recebe a missão oficial de cuidar de uma agência de detetives. Detalhe: em cada caso deslindado, Agatha homenageia (ou satiriza) um detetive da ficção policial (entre eles, o Padre Brown e Sherlock Holmes). Inclusive, numa das histórias, Tommy e Tuppence encarnam Poirot e Hastings para enfrentar ninguém menos que o Número 16 – brincadeira alusiva ao Número 4, vilão de Os Quatro Grandes.

Em M ou N? (N or M?, 1941), sua terceira aventura, T & T voltam à ativa em plena Segunda Guerra, quando agentes infiltrados (os “quinta-colunas”) no seio da comunidade britânica auxiliam os nazistas a realizar seus intentos. A ação se passa na pensão Sans Souci, pacato estabelecimento no litoral, onde podem estar hospedados M ou N, agentes nazistas da confiança de Hitler. A única informação de que os Beresford dispõem é que M é mulher e N é homem. Mistura perfeita de adrenalina e suspense.

By the pricking of my thumbs (1968), é uma citação da peça Macbeth (da fala de uma bruxa). No Brasil, ganhou o título Um pressentimento funesto. Em sua quarta aventura, Tommy e Tuppence vão visitar a tia Ada, que mora num asilo. Tuppence conversa com a sra. Lancaster, que olha para a lareira e comenta: “A coitadinha era sua filha?”. A sra. Lancaster é retirada do asilo de modo tempestuoso, deixando como única pista o quadro de uma bucólica residência. Tuppence decide investigar o paradeiro da sra. Lancaster e o sinistro mistério por trás da “criança morta na lareira”.

Publicada em 1973, a quinta aventura dos Beresford, Portal do destino (Postern of Fate), é a derradeira obra composta por Agatha. Depois ainda lançou dois romances escritos na década de 1940: Cai o Pano e Um crime adormecido (o último caso de Poirot e de Miss Marple). Portal do destino narra o mergulho no passado feito pelos Beresford ao encontrarem nas páginas de um livro no sótão da nova casa a mensagem: “Mary Jordan não morreu de morte natural”. Ladeados pelo cãozinho Hannibal, os Beresford voltam à ativa para desvendar o mistério. Uma curiosidade: Tuppence encontra na casa itens citados na autobiografia de Agatha (KK, Matilde e Truelove). Como em outras obras do fim de carreira de Agatha, Portal do destino foi gravado no ditafone e depois transcrito.

Em todas as cinco aventuras, o casal conta com a fiel colaboração do escudeiro Albert. Diálogos espirituosos, gosto pelo perigo e inesgotável juventude garantem aos Beresford lugar especial na galeria de personagens de Agatha Christie. Que teve um pressentimento nada funesto ao escrever em 1922 numa carta para sua mãe: “Não se preocupe com dinheiro. Algo me diz que a dupla Tommy e Tuppence será um sucesso.”

Duas opiniões sobre a Alice de Burton

O frenesi para ver a adaptação de Tim Burton de Alice no País das Maravilhas levou a Paula, coordenadora do núcleo de comunicação da L&PM, e a Tássia, assessora de imprensa, ao cinema no final de semana de estreia do filme no Brasil. As impressões das duas a gente publica agora:

Que país das maravilhas é esse?

Por Paula Taitelbaum
Eu juro que fui preparada para assistir a uma versão da história. Juro que eu sabia que, para gostar do filme, teria que deixar o mundo literário e entrar de cabeça no mundo visual (e virtual). Eu já tinha sido avisada – e bem avisada pela mídia – de que a Alice de Burton era outra. Mesmo assim, não adiantou. Como grande amante do livro, não consegui gostar do filme. Acho até que prefiro a primeira versão da Disney.
Mas nem tudo me desagradou, é claro. O figurino de Alice é dos melhores. E desde que a moça entra na toca do coelho, troca de roupa cada vez que diminui ou aumenta de tamanho, o que acontece várias vezes. Até a armadura com a qual ela enfrenta o dragão malvado é digna de uma diva pop. Mas tirando isso, saí com a sensação de que é muito marketing para pouco enredo.
Na minha humilde opinião (essa pseudocrítica não passa de algo pessoal com a qual você tem todo o direito de não concordar), o que mais me irritou foi a luta do bem contra o mal. Enquanto no livro não há mocinhos e bandidos, no filme há heróis e vilões. No País das Maravilhas original todos são malucos, mas em suas maluquices ironizam o mundo real de forma inteligente. É impossível não rir quando se lê o livro. No País das Maravilhas de Tim Burton, os loucos, com destaque para o Chapeleiro Johnny Deep, são melancólicos párias dignos de pena. E piedade não me parece um sentimento que Lewis Carroll quisesse estimular. Mas daí voltamos ao início: o filme propõe-se a ser uma versão, não uma adaptação.
Só que a adaptação de Burton, volto a repetir, não me convenceu. Mesmo sendo gótico, o diretor é norte-americano demais para a inglesa Alice. Na verdade, acho até que ele se enganou de filme: o que Burton fez foi filmar O Mágico de Oz. Assista ao filme e depois me diga: Alice não está mais pra Dorothy? O Chapeleiro não está a cara de um espantalho? A Rainha Branca não é igualzinha à Bruxa Boa do Leste? A Rainha Vermelha não poderia ser a Bruxa Má do Oeste?
Mas não desanime: minha filha de nove anos gostou…


Alice para crianças. Só para crianças.

Por Tássia Kastner
Na edição de bolso de Alice no País das Maravilhas, publicada pela L&PM, a obra é apresentada como “O mais estranho e fascinante livro para crianças (só para crianças?)”. O sucesso da história através dos séculos, entre adultos e crianças, está em não ter solução para as perguntas. Tim Burton, em sua adaptação para o cinema, tem uma resposta: sim, só para crianças.
Porque a história que nos conta o aclamado diretor é uma narrativa linear, permeada por todos os principais elementos já consolidados no imaginário popular sobre o que é a história da Alice de Lewis Carroll. Uma menina, um coelho branco, um chapeleiro, um gato risonho, rainhas, charadas. Tudo isso está lá, devidamente organizado. Para Tim Burton, Alice tem 19 anos, está prestes a ser pedida em casamento, diz que precisa de um tempo para pensar e sai a perseguir um coelho – aquele coelho que todos conhecemos. O caminho, como também sabemos, a levará ao buraco “porta de entrada” do mundo que teimava em existir em seus sonhos desde os cinco anos – primeira vez que estivera no País das Maravilhas.
A partir daí, muitas cenas de ação, típicas dos clássicos infantis e infanto-juvenis da Disney. O visual, todos sabem, enche os olhos, a linguagem 3D é muito bem explorada e sem excessos. A queda de Alice no buraco é um brilhante jogo de perspectiva e faz o 3D finalmente ser mais do que uma profusão de objetos saltando da tela em direção ao espectador.
Quem pouco aparece é o Senhor Tempo, com exceção da cena do chá, quando à mesa, todos dizem que aguardavam Alice para a batalha que os libertaria daquele dia em que ela estivera lá pela última vez. Alice mal sabe que está atrasada. Responde sem dúvidas à pergunta da lagarta azul: Sou Alice. A charada insolúvel vira quase um bordão repetido ao longo do filme, e ela não ter resposta já não é uma perda de tempo.
Com um roteiro desprovido da fantasia do original de Carroll, restam apenas as perseguições e as atuações cuidadosamente afetadas de Johnny Depp e de Helena Bonham Carter. Já Tim Burton está ali quase que somente pelas peles pálidas e olheiras, sua herança expressionista, como se o excesso de cores do País das Maravilhas tivesse tirado as formas e a estética que consagraram o diretor. As árvores e seus troncos retorcidos são o que de mais próximo há na linguagem tradicional do cineasta (bem parecido com Noiva-Cadáver, animação de 2005).
A beleza do cenário e o uso das cores são o mais interessante das duas horas de filme. Ainda que não seja o melhor de Tim Burton, a estética do diretor ainda faz valer o ingresso do cinema. Já o onírico e fantástico mundo de Alice, esse é melhor buscar nos livros.

Site da Bienal do Livro do Ceará revela preferência do público


O site da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, onde a L&PM esteve presente com seus livros, fez uma pergunta: “Qual a programação mais interessante da Bienal?”. Interessante mesmo foram as respostas: 40,9% disse que era o Espaço Cordel. 13,5%, os lançamentos de livros. 11,9%, respondeu que era a própria Feira. 10,7% responderam que preferiam as palestras e debates. 7,2% votou nos shows. E só 2,6%, escolheram os seminários. A Bienal, que aconteceu em Fortaleza entre os dias 09 e 18 de abril, fechou os trabalhos com Maurício de Sousa que no dia 18, Dia do Livro Infantil, falou sobre os seus 50 anos de carreira.