Arquivos da categoria: Geral

Quem é Dorian Gray?

Paula Taitelbaum

Dorian Gray é Narciso, Dionísio e Drácula.
O ego, o amor cego, o apego à imagem.
Dorian Gray é gótico, plástico, estético.
É o olhar da medusa: irônico, platônico.
Dorian Gray é botox, lifting, laser.
Um eterno retrato do mundo.
Dorian Gray é um espelhado lago profundo.
Dorian Cinza, Dorian Fênix, Dorian Gay.
É, de Oscar Wilde, o que há de mais genial.
Para sempre, imortal.

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, foi reeditado recentemente pela L&PM.

Cássia Kiss lê Doidas e Santas

Na última quarta-feira, a escritora Martha Medeiros se encontrou com a atriz Cássia Kiss no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília. Martha falou sobre sua carreira e a relação com o público e Cássia fez uma bela leitura de algumas crônicas de Doidas e Santas (assista no vídeo).

Em seu blog, Martha postou suas impressões do encontro: “Fui chamada ao palco e fiquei uma meia hora contando sobre como comecei minha carreira, os desvios e mudanças de rota desde a infância até chegar aqui, o que gosto de escrever, como costuma ser a reação dos leitores, enfim, um tricô regado a muito bom humor e informalismo. Eu me senti em casa, e acho que a plateia curtiu também.
E então chegou o grande momento: Cássia Kiss subiu ao palco para ler algumas crônicas do meu livro Doidas e Santas. Sempre considerei a Cassia uma atriz intensa, e imaginei que ela talvez desse uma certa dramaticidade ao texto, mas que nada, de cara ela foi tirando os sapatos que apertavam e deixou todo mundo super à vontade. Leu com muita graça e leveza, as pessoas riam demais, foi uma delícia.”
Para ler a íntegra do texto de Martha, clique aqui.

E se, como Robinson Crusoé, eu fosse parar numa ilha deserta?

Paula Taitelbaum

Entre lançamentos e reedições, todo dia chegam livros da coleção de bolso à minha mesa. Entre os que recebi essa semana estava As aventuras de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. A emocionante aventura do náufrago mais famoso da literatura fez com que eu recordasse outra história. Lembrei de uma questão que me foi apresentada há alguns anos pelo professor do Parque Lage, Charles Watson, em seu curso de Processo Criativo: “Se você fosse um escritor e, depois de um naufrágio, ficasse totalmente sozinho em uma ilha deserta; se tivesse total certeza de que jamais seria resgatado, que ninguém nunca, em hipótese alguma, fosse ler os seus escritos, você continuaria escrevendo?”. Meus colegas de curso, entusiasmados com suas próprias capacidades artísticas e com todas as possibilidades criativas que ali afloravam, responderam, em sua maioria, que sim, obviamente continuariam escrevendo, inclusive para matar o tempo, para registrar suas memórias, etc, etc. Eu não tive tanta certeza. Não cheguei a responder em voz alta, mas pensei que a possibilidade de escrever para ninguém ler era praticamente nula pra mim. No entanto, o grupo continuou cruzando suas palavras por um tempo, defendendo entusiasticamente que um escritor não precisa de leitores, discutindo a tese quase à exaustão, até o professor interromper. Se não me engano (já aviso que às vezes me engano), ele disse que essa questão foi levantada por Sartre em um ensaio ou artigo. E disse mais: que mesmo que os presentes ali duvidassem, era provado que ninguém escreveria numa ilha deserta se tivesse a certeza de que não haveria leitores para sua obra, nem mesmo leitores póstumos. As necessidades de sobrevivência numa ilha deserta seriam muito mais latentes e não haveria sentido em criar arte sem um receptor. Mas… – sempre existe um “mas” nessas horas – o professor expôs que existia, sim, uma possibilidade de continuar escrevendo. “Que possibilidade seria essa?” Perguntou mais uma vez o caro Watson. Dessa vez arrisquei:  “Talvez…” disse eu. “Talvez se eu pudesse me distanciar do texto de uma forma que eu não o percebesse como meu, se eu conseguisse me espantar com a leitura, me descolar da própria autoria, ser eu o meu leitor, então, quem sabe, eu continuasse escrevendo…”

O professor sorriu satisfeito.“Exatamente”, falou ele. “Essa seria a única maneira de continuar escrevendo”.

Faz tempo que fiz esse curso. Mas nunca esqueci a lição.

P.S.1: Eu realmente espero nunca ir parar em uma ilha deserta. Mas um dia, quem sabe, ainda consigo me distanciar de mim mesma…
P.S.2: Se você já leu Robinson Crusoé, sempre vale a pena ler de novo. Se não leu, nunca é tarde para se apaixonar por esse livro.

Cruyff

A seleção holandesa era chamada de Laranja Mecânica, mas nada tinha de mecânico aquela obra da imaginação, que desconcertava todo mundo com suas mudanças incessantes. Como A Máquina do River, também caluniada pelo nome, aquele fogo laranja ia e vinha, impelido por um vento sábio que o trazia e o levava: todos atacavam e todos defendiam, espalhando-se e unindo-se vertiginosamente em leque, e o adversário perdia as pistas diante de uma equipe onde cada um era onze.
Um jornalista brasileiro chamou-a de desorganização organizada. A Holanda tinha música e o que regia a melodia de tantos sons simultâneos, evitando a bagunça e o desafino, era Johann Cruyff. Maestro da orquestra e músico, Cruyff trabalhava mais do que todos.
Aquele magrinho elétrico tinha entrado para o Ajax quando era menino: enquanto sua mãe servia na cantina do clube, ele recolhia as bolas que iam para fora, limpava as chuteiras dos jogadores, colocava as bandeirinhas nos cantos dos campos e fazia tudo o que lhe pedissem e nada do que lhe mandassem. Queria jogar e não deixavam, por seu físico frágil e seu caráter demasiadamente forte. Quando deixaram entrar, ele ficou. E ainda garoto estreou na seleção holandesa, jogou estupendamente, marcou um gol e com um murro fez o árbitro desmaiar.
Depois continuou sendo esquentado, trabalhador e talentoso. Durante duas décadas ganhou vinte e dois campeonatos, na Holanda e na Espanha . Parou aos trinta e sete anos, quando acabava de fazer seu último gol, nos braços da multidão que o acompanhou do estádio até sua casa.

Até o final da Copa, o blog da L&PM publica diariamente um trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. Leia os anteriores:
Gol de Zarra
Obdulio
Gol de Maradona
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Adiós, Piva

Ivan Pinheiro Machado

Em 1984,o Eduardo Bueno, vulgo Peninha, veio trabalhar na L&PM. Naquela época, ele era mais ou menos o que é hoje, só que sem a fortuna que acumulou nestes últimos anos, graças ao seu talento e sua incrível capacidade de trabalho (não é ironia). Era o tradutor do On the road, de Jack Kerouac, e trouxe para a L&PM a cultura beat. Nós, na época, editávamos uma coleção anarquista e já publicávamos Bukowski. Foi atraído por este clima transgressor que Peninha foi parar lá na rua Nova York, 306, sede da L&PM. Fizemos coisas maravilhosas com pouquíssimo dinheiro e muitas ideias. No começo dos anos 80, conhecemos Claudio Willer (autor da antológica tradução de Uivo de Allen Ginsberg) que nos apresentou o poeta Roberto Piva, um estranho maluco genial, cultuado nas rodas radicais de São Paulo.  Nesta época mesmo, criamos uma coleção chamada “Olho da Rua”, com projeto gráfico do grande pintor Caulos. Publicamos Reinaldo de Moraes, Pepe Escobar, Jorge Mautner, Antonio Bivar, Sergio Faraco, os beats Gregory Corso, Allen Ginsberg, Neal Cassady, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti. Lançamos também no Brasil Sam Shepard, Isadora Duncan e o clássico Luna Caliente de Mempo Giardinelli. A coleção tinha grande prestígio nos meios alternativos e Roberto Piva submeteu, para nosso exame, a sua Antologia Poética que então saiu nesta coleção com capa desenhada por mim. Ele adorava a capa, porque era a representação de uma montanha de lixo com um latinha de Coca-Cola que – segundo ele – ordenava a desordem… Na verdade, encontramos poucas vezes Roberto Piva, pois ele era paulista e nossa sede era –  e é –  em Porto Alegre.

Pois o Piva morreu sábado, dia 3 de julho, aos 72 anos. Ele era a representação física dos seus poemas. Trepidante, delirante e brilhante. Encerro com um trecho da apresentação da nossa edição de 1985 de Antologia Poética escrita pelo Peninha: “A vida de Piva – poética, maldita, conturbada – fornece o material bruto que ele lapida e transpõe para seus poemas. (…) Ele é o mais indômito, o mais rebelde e um dos mais inspirados poetas brasileiros das últimas décadas”.

Obdulio

Eu era menino e peladeiro, e como todos os uruguaios estava grudado no rádio, escutando a final da Copa do Mundo. Quando a voz de Carlos Solé transmitiu a triste notícia do gol brasileiro, minha alma caiu no chão. Recorri então ao mais poderoso de meus amigos. Prometi a Deus uma quantidade de sacrifícios, se Ele aparecesse no Maracanã e virasse o jogo.
Nunca consegui recordar as muitas coisas que prometi, e por isso nunca pude cumpri-las. Além disso, a vitória do Uruguai diante da maior multidão jamais reunida numa partida de futebol tinha sido sem dúvida um milagre, mas o milagre foi acima de tudo obra de um mortal de carne e osso chamado Obdulio Varela. Obdulio tinha esfriado a partida, quando a avalanche nos caía em cima, e depois carregou toda a equipe nos ombros e com pura coragem impeliu-a contra ventos e marés.
No final daquela jornada, os jornalistas acossaram o herói. E ele não bateu no peito proclamando somos os melhores e que não há quem possa com a garra nacional:
– Foi casualidade – murmurou Obdulio, abanando a cabeça. E quando quiseram fotografá-lo, virou de costas.
Passou aquela noite bebendo cerveja, de bar em bar, abraçado aos vencidos, nos balcões do Rio de Janeiro. Os brasileiros choravam. Ninguém o reconheceu. No dia seguinte, fugiu da multidão que o esperava no aeroporto de Montevidéu, onde seu nome brilhava num enorme letreiro luminoso. No meio da euforia, escapuliu disfarçado de Humphrey Bogart, com um chapéu metido até o nariz e um impermeável de gola levantada.
Em recompensa pela façanha, os dirigentes do futebol uruguaio deram a si mesmos medalhas de ouro. Aos jogadores, deram medalhas de prata e algum dinheiro. O prêmio que Obdulio recebeu deu para comprar um Ford modelo 31, que foi roubado naquela mesma semana.

Leia entrevista em que Galeano fala sobre as chances do Uruguai na Copa.

Até o final da Copa, o blog da L&PM publica diariamente um trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. Leia os anteriores:
Gol de Maradona
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Claudio Willer homenageia o amigo Roberto Piva

Por Claudio Willer

Desde sábado passado, dia 3 de julho, quando Roberto Piva faleceu (este depoimento é escrito 48 horas depois), já recebi bons poemas dedicados a ele, além de algumas belas crônicas. Mesmo antes, teria sido possível preparar uma edição de poemas nos quais ele está presente em títulos, citações, epígrafes, alusões e homenagens. Também importante, penso, é uma ensaística recente, incluindo teses e dissertações, lançando novas luzes sobre sua contribuição. Acabei de receber o convite para a defesa da dissertação de mestrado de Danilo Monteiro, na USP, Teatralidade da palavra poética em Paranoia de Roberto Piva, nesta terça-feira, dia 6 de julho. Em breve, será apresentada, também na USP, outra dissertação sobre ele, do talentoso poeta Fabrício Clemente. Ano passado, fui banca da tese de doutorado de Gláucia Pimentel, Ataques e utopias: Espaço e Corpo na obra de Roberto Piva, na UFSC; e de outra dissertação de mestrado, Roberto Piva, Panfletário do Caos de Bruno Eduardo da Rocha Brito, na UFP.
Tudo isso mostra que Piva, hoje, é um poeta não apenas lido, porém estudado e escrito; um intertexto. Assim são recuperadas as quase quatro décadas de atraso na boa recepção de seu livro de estréia, Paranóia. Como já observei ao dizer, por sugestão dos demais amigos presentes, algumas palavras na breve cerimônia de sua cremação, deixa um legado enorme. Dele fazem parte a renovação da poesia brasileira; e uma ética particular, que ele seguiu rigorosamente, pela conduta sempre coerente com sua rebelião. Permanece, igualmente, a contribuição como fonte de informações e indicações de leitura. Já escrevi a respeito no posfácio do volume 1 de sua Obra Reunida (Globo, 2005) e no capítulo final do meu recente Geração Beat (L&PM, 2005), registrando a ocasião em que ele apareceu em minha casa em 1961, com a pilha de edições beat da City Lights, de Ginsberg, Ferlinghetti, Corso, Lamantia etc, que nos pusemos imediatamente a traduzir. E pretendo voltar ao assunto: há inúmeros outros episódios como esse, de indicações de leitura, sempre em tom entusiástico e com uma precisão certeira, pois acabariam sendo decisivas  para mim e para outros de seus amigos (e para seus leitores atentos: não economizou citações e indicações de autores no aparente delírio de seus poemas).
E permanecem as amizades. Piva era seletivo, reservado, até idiossincrático em seus relacionamentos; ao mesmo tempo, foi um agregador e catalisador. Gostava de apresentar pessoas nas quais via qualidades. Do meu círculo de amizades, quantas não se formaram, direta ou indiretamente, através dele. Seu último livro de poesia, Estranhos Sinais de Saturno, é, entre outras coisas, um hino à amizade. Todas aquelas dedicatórias aos amigos, àqueles a quem apreciava, formam um mapa, desenham uma constelação afetiva.
Piva se foi. Mas, por todas essas razões, estará cada vez mais presente.

Veja no site uma nota sobre o falecimento de Piva e a transcrição de uma de suas poesias.

Todos querem falar com Eduardo Galeano

Ivan Pinheiro Machado

Eduardo Galeano é a grande referência internacional do Uruguai. É apaixonado por futebol e autor do clássico Futebol ao sol e a sombra. Sem arroubos patrióticos, Galeano é apaixonado pela sua Celeste, como é chamada carinhosamente a seleção uruguaia. E nós somos seus editores no Brasil, razão pela qual TODOS os grandes veículos de comunicação brasileiros, via amigos ou desconhecidos, pedem para que intercedamos junto ao Galeano para que ele dê declarações e entrevistas a respeito do grande confronto de amanhã contra a Holanda nas semi-finais da Copa. A todos damos a mesma desculpa: não temos esse poder. O que temos feito, diante do assédio da imprensa pedindo telefone, endereço e pistolão é… dar o e-mail. E mesmo por e-mail, todas as tentativas de contactá-lo têm caído no vazio. Pelo que sei, a única pessoa que ele atende, em meio a sua concentração cívica e futebolística ,é seu tradutor, o escritor Sergio Faraco, que está retraduzindo As Veias Abertas da América Latina. Por outro lado, soubemos de fonte segura que ele esteve incógnito, assistindo a Uruguai e Gana no telão da Plaza Independência em Montevidéu, no meio da massa. Quem sabe ele não vai lá amanhã?

Eu compreendo o Galeano. Primeiro, ele está curtindo recluso esta fábula maravilhosa que é seu pequeno país chegar entre as quatro grandes equipes do planeta; que histórias deve estar dando este frenesi! E por mais que ele seja interrompido amanhã contra a Holanda, já terá sido um grande feito da Celeste. E segundo, Galeano, na sua honrada e sincera modéstia, deve estar constrangido, porque – apesar de seu status de celebridade, afinal é publicado em mais de 30 países – jamais se considerou porta-voz do povo uruguaio.

A L&PM está publicando durante a Copa a série Futebol ao sol e à sombra. Diariamente são postados trechos do livro de Galeano. Veja os posts feitos até agora:
Gol de Maradona
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Mecha de cabelo de Napoleão é vendida por US$ 13 mil

Um leilão na Nova Zelândia vendeu cerca de 40 itens da memorabília de Napoleão Bonaparte. Os objetos estavam em posse de descendentes de um oficial britânico que conviveu com Bonaparte durante os últimos anos de sua vida, quando esteve exilado na ilha de Santa Helena.

Um dos itens leiloados foi uma mecha de cabelo do imperador francês, cortada logo depois que ele morreu, em 1821. O comprador, que desembolsou US$ 13 mil, foi um londrino não-identificado pela empresa responsável pelo leilão. O total arrecadado com a venda de todos os itens foi de quase US$ 100 mil.

Irmãos Grimm para ler e viajar

Quem não cresceu ouvindo os clássicos dos Irmãos Grimm? Chapeuzinho Vermelho, A bela adormecida, O pequeno polegar, Branca de neve e tantas outras histórias atravessam as gerações em novas leituras, edições e até adaptações para o cinema.

E que tal se agora, além de viajar pelas páginas desses clássicos, você pudesse, literalmente, viajar pelas paisagens que inspiraram os Irmãos Grimm? Na Alemanha, onde os dois viveram, foi criada a “Rota dos contos de fada”. Em um trajeto de 560 quilômetros entre Frankfurt e Bremen, é possível conhecer a casa na qual Wilhelm e Jacob viveram até os 6 anos (em Hanau), a Vila de Steinau (56 quilômetros ao norte de Hanau), onde moraram depois, além de passear por inúmeras cidadezinhas que podem ter servido de cenário para a dupla.

A dica é planejar o roteiro para 2011, quando parte dos museus da Rota, hoje em reforma, já estarão abertos à visitação. Enquanto você fala com seu agente de viagens, aproveite para reler as clássicas histórias nos dois volumes lançados pela Coleção L&PM Pocket. E quando a viagem sair, não esqueça de levá-los na mala, claro.