Arquivo mensais:maio 2011

Bem-vindos ao mundo de Alice!

O país das maravilhas já tem endereço! Na verdade, não é bem um país, mas um restaurante da rede japonesa Dimond Dining, em Ginza, no Japão, que se inspirou na história de Lewis Carroll para decorar seus vários ambientes. Já na entrada, garçonetes vestidas de Alice recebem os convidados numa sala com livros gigantescos:

O local tem até um labirinto igualzinho àquele onde Alice e o Coelho Branco se encontram pela primeira vez:

Também não podia faltar nesta história um ambiente inspirado no exército de cartas de baralho da Rainha de Copas:

A decoração foi concebida pelo estúdio Fantastic Design Works Co., de Tóquio. Tem mais fotos do ambiente aqui.

via Zupi

26. A primeira vítima

Por Ivan Pinheiro Machado*

O Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, 3 de maio, é um dia a ser comemorado. Mais do que uma distinção e homenagem a comunicadores em geral – jornalistas de rádio, jornal e televisão, editores, escritores, blogueiros e todos que de uma forma ou de outra transmitem notícias, opiniões e ideias – esta data é, como o próprio nome indica, uma celebração da liberdade.

Sem imprensa livre não há democracia. Porque liberdade de imprensa subentende o exercício do primeiro dever do jornalista: dizer a verdade. E, como bem sabemos, os regimes totalitários não toleram a verdade. A L&PM Editores atravessou os famosos “anos de chumbo” da ditadura militar que começou em 1964. Fundamos a editora em 1974 e por 10 anos – até 1984 – amargamos, com toda a imprensa brasileira, a falta de liberdade, o medo e a intolerância. Passamos pelo que era o “trivial” naqueles tempos: apreensões de livros, grampos, agentes infiltrados entre os funcionários da editora e pressão econômica. Mas, como se vê, sobrevivemos.

Sempre tivemos como objetivo a edição de livros, mas, mesmo assim, nos aventuramos em editar dois jornais e duas revistas. Os jornais foram “Risco e texto” em 1976, um periódico com muito cartum, crônicas e humor (o humor era o único antídoto à burrice dos censores) e o “L&PM Moinhos” em 1993 (uma alusão ao bairro Moinhos de Vento em Porto Alegre, onde ficava a sede da editora). Aliás, o “L&PM Moinhos” era o único jornal de bairro no Brasil que tinha correspondente em Nova York.

As revistas foram a “Revista de Filosofia Política”, que teve 11 números e a revista “Oitenta”, que tornou-se cult desde o início e, até hoje, é saudada como uma das grandes revistas culturais já editadas neste país. Tinha o formato de um livro e, em média, eram 300 páginas por edição.

E é por isso que, hoje, nos incorporamos às homenagens prestadas aos editores de livros, autores e aos jornalistas de ofício, especialmente àqueles que estão no front da notícia, quase sempre desagradando poderosos. E para marcar este dia gostaria de sugerir um clássico sobre imprensa: “A Primeira vítima – o correspondente de guerra” de Philip Knightley, cujo título é uma alusão à célebre frase de um senador americano na década de 1930 e que sintetiza de forma genial o drama da missão do jornalista: “Quando começa a guerra, a primeira vítima é a verdade”.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o vigésimo sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

O eterno Leonardo da Vinci

Em 2 de maio de 1519, ele escreve no seu caderno: “Continuarei…”, seguido de um “etc.” cheio de esperança. Após o chamado de Mathurine [a cozinheira que o serviu desde a chegada à França] para tomar a sopa antes que esfrie, ele perde os sentidos e cai. Battista, Melzi e Mathurine [seus empregados] correm até ele. Os olhos do mestre não se abrem mais. Caído sobre a mesa onde tomava notas, ele está morto.

Leonardo tinha quase 70 anos de idade e, apesar dos sinais físicos de que o dia derradeiro estava próximo, ele estava plenamente consciente. Pouco antes de morrer, mandou chamar o notário de Amboise, cidade francesa onde passou seus últimos anos, e ditou-lhe seus últimos desejos. Mandou dividir seus bens com os empregados e os pobres da comunidade. Seus quadros – inclusive A Gioconda – foram deixados de herança para o rei Francisco I, que no dia da morte de Leonardo, estava em outra cidade, desmentindo assim o célebre quadro de Dominique Ingres, que faz o artista morrer nos braços do rei.

"Morte de Leonardo da Vinci" (1818), de Jean-Auguste-Dominique Ingres

Ele também planejou seu funeral nos mínimos detalhes, com toda a pompa que tinha direito. Sua despedida está descrita no trecho a seguir, extraído do livro Leonardo da Vinci, da Série Biografias:

Este famoso artista, humilde e chistoso, simples e irônico, apaixonado pela glória e pela opulência, organizador de solenidades reais e brincadeiras desconcertantes, que adorava tanto o grotesco  e o mostruoso dos rostos populares, quanto a beleza do rosto e das roupas dos rapazes, providenciou um funeral com grande pompa, à altura de sua fama. Sua última festa. Talvez ele tenha imaginado que sua pessoa, admirada por Francisco I, equivalia a de um rei…

O cortejo é impressionante. Toda a corte acompanha seu ataúde atrás do rei, seguida pelo povo da aldeia. Como para um príncipe, todo o clero de Ambroise participa do funeral. (…) Serão a seguir celebradas três grandes missas e trinta missas gregorianas.

Mas após o funeral, não há notícia do paradeiro do corpo de Leonardo.

Alguns afirmam que o corpo de Leonardo estava enterrado sob uma das lajes do coro [da igreja de Saint Florentin, destruída durante a Revolução Francesa e demolida em 1808]. Um jardineiro diz ter recolhido alguns ossos que seriam dele, e com os quais as crianças da aldeia brincavam até então!

Assim Leonardo pregou a sua última peça.

Nenhuma sepultura real ou figurada existe para o maior artista do Renascimento. Nada, nem o menor vestígio. Ele, que não cessou de embaralhar as pistas enquanto viveu, vê seus desejos literalmente cumpridos na morte.

Não repousa em parte alguma. Assim a lenda pode continuar. E ela continua

Ernesto Sábato: a morte de um humanista

Morreu dia 30 de abril, aos 99 anos na Argentina, Ernesto Sábato, um dos maiores escritores latinoamericanos de todos os tempos. Foi um dos poucos a enfrentar a perigosa e assassina ditadura argentina. Neste embate, confrontou-se com outro gênio, Jorge Luis Borges, que apoiava a ditadura.

Curiosamente, Sábato começou a vida como cientista. Formou-se em física pela Universidade de Buenos Aires, fez doutorado e teve uma passagem pelo reconhecido Laboratório Curie de Paris e pelo Instituto Tecnológico de Massachussets, onde realizou trabalhos sobre radiações atômicas. Após a segunda guerra, abandonou a ciência e passou a dedicar-se exclusivamente à literatura. Deixou entre muitos outros livros, três romances geniais: O túnel (1961), Entre Heróis e Tumbas (1961) e Abadon, o exterminador (1971).

Humanista, auto intitulado anarquista, teve a coragem de fazer o grande levantamento da tragédia causada pela ditadura argentina. Seu célebre livro Nunca Mais foi um marco nas lutas democráticas na América Latina, quando 90% dos países eram dominados pelas ditaduras. Publicado no Brasil em 1985 pela L&PM Editores, ele faz um inventário emocionado dos crimes da ditadura argentina, narrando episódios de sequestros, torturas e assassinatos com os respectivos nomes das vítimas. Por questões de trabalho, trocamos intensa correspondência com Sábato. Ele sempre nos atendeu, gentil e atencioso. E no alto de suas cartas, impressionava poeticamente o nome de sua cidade no interior da Argentina: Santos Lugares.

Ernesto Sábato viveu um século. Uma vida muito longa onde esteve próximo de todo o mal que os homens podem causar aos seus semelhantes. Talvez por isto tenha sido este grande humanista, defensor intransigente das liberdades e dos direitos da pessoa humana. (Ivan Pinheiro Machado)

Dilbert e o dia-a-dia do trabalho

Hoje é Dia do Trabalho, feriado nacional (na verdade, mundial). Pena que por aqui… caiu num Domingo. Imagina o que Dilbert não está achando disso… Logo ele, que “adora” seu trabalho e seus colegas, esses que aparecem aí abaixo:

Dilbert foi criado em 1989 pelo americano Scott Adams. É engenheiro, tem trinta e poucos anos e trabalha em uma empresa de tecnologia. Com Dogbert, o Chefe e outros personagens, ele está aí para satirizar a burocracia e os absurdos do mundo corporativo. As tiras Dilbert são publicadas em mais de 1.500 jornais em todo o mundo e em seis volumes na Coleção L&PM POCKET.

Autor de hoje: Jack London

San Francisco, EUA, 1876 – † Glen Elle, EUA, 1616

Pseudônimo de John Griffith, trabalhou como jornalista e correspondente de guerra. Sua vida foi rica em experiências: trabalhou como pescador e pesquisador de ouro no Alasca, chegando a tornar-se vagabundo de estrada. Socialista, sua obra literária caracteriza-se pelo relato de episódios de força primitiva, ou de aspectos brutais e vigorosos que articulou em contos e romances. A vida aventureira, entre os que buscavam o ouro nos confins do Yukon, forneceu-lhe material para a maior parte de sua ficção. Combinando experiências pessoais com as ideias evolucionistas de Darwin e de Spencer, mais as técnicas estilísticas colhidos nas obras de Rudyard Kipling, produziu obras de sucesso, desde a sua estreia com O filho do lobo (1900). Ao longo de sua vida, escreveu intensamente, produzindo cinquenta livros em dezessete anos.

Obras principais: O chamado da floresta, 1903; O lobo e o mar, 1904; Caninos brancos, 1906; Antes de Adão, 1907; De vagões e vagabundos, 1915

JACK LONDON por Ana Esteves

Como a figura do lobo diante de sua presa, Jack London abocanhou o mundo e, com a mesma voracidade que o devorou, transformou-o em literatura. Foram mais de cinquenta livros, entre novelas, contos, ensaios e reportagens, escritos em apenas dezessete anos, com a mesma intensidade com que London vivia sua vida. De forma magistralmente criativa, sua obra é resultado de um emaranhado de experiências pessoais, recheada de temas que o autor conheceu na prática. De um lado, nos deparamos com o olhar de um escritor politicamente engajado com a realidade social mutante de sua época que, para retratar a situação de exclusão e miséria dos habitantes do East End londrino, se faz passar por um deles. Sua obra está fortemente marcada pelo prisma do socialismo; nela o escritor/repórter narra com detalhes situações de desigualdade social, enfatizando as principais questões sociais e políticas então vigentes: a expansão imperialista, a exploração do trabalho, a concentração da riqueza. Sob esse viés, nos deparamos com um autor que produziu ensaios e contos altamente significativos, inseridos no debate político de sua época. Essa faceta de London se revela em contos como “The Apostate”, em que se mostra inconformado com a exploração do trabalho infantil nos Estados Unidos, ou em “The Mexican”, em que expressa simpatia pela Revolução Mexicana.

Jack London, porém, é muito mais. Trata-se de um autor que, mesmo comprometido com suas convicções político-ideológicas, lança-se à ficção, às narrativas de viagens e aventuras, baseadas em suas andanças pelo mundo. Sua composição é enriquecida pelo contato direto com outras culturas, diferentes regiões e tipos humanos, como quando relata suas experiências como marinheiro na Ásia, ou contextualiza suas narrativas em lugares pitorescos como o Alasca, onde trabalhou como garimpeiro. Assim ele se tornou conhecido, com seus romances e contos vigorosos sobre aventuras vividas em lugares exóticos e selvagens, sem esquecer, é claro, sua veia fantástica. Toda a vivacidade impressa em suas narrativas é reflexo da mentalidade de um escritor – como ele próprio define – que deseja ser convencido pela evidência dos próprios olhos e não pelos ensinamentos de quem não havia visto, ou pelas palavras dos que o tinham.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Em maio, a L&PM lançará mais um dos principais livros de Jack London: O lobo do mar.