Arquivo mensais:maio 2010

Entenda o conflito no Tibet

Ivan Pinheiro Machado

Em 1959, depois do fracasso da rebelião armada contra o governo chinês, o 14º Dalai Lama, acompanhado de milhares de fiéis, refugiou-se na cidade de Dharamsala, na Índia, instalando um governo no exílio.
Nove anos antes, com o desequilíbrio de forças ocasionado pela descolonização britânica, o Tibet havia sido ocupado pelo exército chinês, rompendo com uma tradição de 400 anos de estado religioso. Os ingleses apoiavam o Dalai Lama, o chefe de estado tibetano, e os chineses apoiavam Panchem Lama, de outra facção budista e postulante ao governo do Tibet. O tempo entre a invasão inicial e a fuga do 14º Dalai Lama foi marcado por um processo sistemático de perseguições e de aculturação monitorado pelos chineses que tentaram – e tentam até hoje – erradicar o budismo que é a identidade do Tibet e do povo tibetano.
Em seu livro Caminho da sabedoria, caminho da paz, publicado na coleção L&PM POCKET, o Dalai Lama denuncia o incrível número de um milhão de mortos (um sexto da população) desde 1959 como consequência da invasão chinesa: 175 mil morreram na prisão, 156 mil em execuções em massa, 413 mil de fome (isso durante as “Reformas agrícolas”), 92 mil foram torturados até a morte e 10 mil cometeram o suicídio. No rastro deste genocídio – segundo conta o Dalai Lama em seu livro – 6.100 mosteiros foram destruídos.
A China alega que o Tibet faz parte de seu território desde meados do século XIII e deve ficar sob o comando de Pequim. Muitos tibetanos afirmam que a região do Himalaia ficou independente durante vários séculos e que o domínio chinês nem sempre foi uma constante.
Em 1989, a causa da independência do Tibet ganhou força no Ocidente após o massacre de manifestantes pelo exército chinês na praça da Paz Celestial e a entrega do Nobel da Paz ao Dalai Lama, líder espiritual dos budistas.
Desde o final dos anos 1990, a China tenta legitimar sua presença no Tibet por meio do crescimento econômico – a partir de 1999, a economia local cresceu 12% ao ano. O governo chinês também tenta dominar o país através da presença de chineses da etnia majoritária han e do controle da sucessão religiosa.
A China diz que os tibetanos no exílio, liderados pelo Dalai Lama, só estão interessados em separar o Tibet da terra-mãe. O Dalai Lama diz querer nada mais que a autonomia da região.

Sete anos no Tibet

O registro deste conflito está em Sete anos no Tibet (L&PM POCKET), livro escrito pelo alpinista austríaco e campeão olímpico Heinrich Harrer (1912-2006) que relata sua experiência na região. Em 1943, após decidir escalar um dos picos mais altos do Himalaia, Harrer e seu companheiro Peter Aufschnaiter, engajados no exército alemão, foram presos pelos ingleses. Depois de fugir do campo de prisioneiros na Índia, atravessaram as montanhas do Himalaia enfrentando a rejeição das autoridades tibetanas, as baixas temperaturas e todos os perigos imagináveis. Ao fim de dois anos de uma árdua travessia, chegaram às portas de Lhasa, a Cidade Proibida, famintos, maltrapilhos e quase mortos de frio. Diante do estado lamentável em que se encontravam, foram recolhidos e acolhidos pelos tibetanos. Devido aos seus conhecimentos de ciências em geral, Heinrich Harrer, depois de conquistar a confiança dos monges e nobres tibetanos, foi contratado para ser o preceptor e professor do Dalai Lama – a encarnação do Buda na Terra. Nesta convivência de sete anos, Harrer viveu uma profunda amizade com o jovem Dalai Lama que o despertou para um mundo completamente diferente daquele que conhecia. Ele permaneceu no Tibet até 1950, quando os chineses invadiram o país expulsando milhares de cidadãos e o líder Dalai Lama.

Em 1997, o livro de Harrer foi adaptada para o cinema com grande sucesso, em filme dirigido por Jean-Jacques Annaud e com Brad Pitt no papel de Harrer.

Lançamento de novas traduções de Freud lota auditória da Livraria da Vila em SP

* Por Tássia Kastner

Freud é o maior gerador de empregos do século. Essa é uma, talvez a única, conclusão a que se chegou, em meio a algumas risadas, durante o encontro “Freud para todos”. O evento reuniu os colaboradores das edições de O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, na Livraria da Vila, para um bate-papo sobre a entrada em domínio público, a polêmica das traduções, a importância cultural de Freud e, claro, um breve desmembramento das obras.

Da esquerda para a direita, Edson Souza, Caroline Chang, Renato Zwick, Renata Udler Cromberg, Márcio Seligmann e Paulo Endo

O porquê de Freud ser o maior gerador de empregos, ao menos naquele momento, era um tanto óbvio. O auditório tinha todas as suas 50 cadeiras ocupadas, e na sua grande maioria, por psicanalistas e estudiosos da obra do pai da psicanálise.

Após a apresentação dos colaboradores, feita pela editora da L&PM Caroline Chang, os psicanalistas Edson Sousa e Paulo Endo apresentaram as conexões de Freud com nosso comportamento atual.

Já Renato Zwick, tradutor dos dois textos, discutiu questões pontuais de tradução, apontando os termos mais polêmicos. Trieb, por exemplo, foi traduzido como “impulso”, diferentemente das traduções anteriores como “instinto” e “pulsão”. Os consagrados id, ego e superego, na tradução de Renato, passam a ser “isso”, “eu” e “supereu”, mais condizentes com o estilo de Freud, e mais coerentes, já que o objetivo é traduzir do alemão para o português. “Não há porque pegar um atalho no latim, já que há uma palavra correspondente em nossa língua”, explicou.

Renata Udler Cromberg falou sobre o desafio de prefaciar O futuro de uma ilusão – o único ensaio que a psicanalista ainda não havia lido com profundidade.

“Talvez por uma dificuldade de me deparar com a questão da religiosidade, que é o que ele discute nesse livro”, comentou.

O germanista Marcio Seligmann encerrou o encontro explicando O mal-estar na cultura, desde as questões discutidas por Freud, até o próprio conceito de mal-estar, já que a palavra usada em alemão é mais uma daquelas que não possui tradução para o português.

Em breve, a L&PM disponibilizará na WebTV o vídeo deste encontro.

Crianças e livros

O auditório da Livraria da Vila da Lorena, onde a L&PM reuniu os colaboradores das edições de O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, de Freud, fica ao lado da área infantil da biblioteca. No sábado, o espaço estava lotado pelos pequenos, como esses três atirados nos pufes do local, compenetrados em seus livros.

Além de fofa, a imagem é estimulante. Ainda que se pregue o fim dos livros, enquanto o hábito da leitura se renovar com as crianças – assim mesmo, no papel – nossas histórias favoritas continuarão sendo impressas.

Puffin elege os 70 melhores livros infanto-juvenis

A Puffin, selo infantil da Penguin, comemorou seus 70 anos com a divulgação dos 70 melhores livros infanto-juvenis de todos os tempos. A lista está dividida em categorias que vão de “Poesia” a “Guerras e conflitos”. A diretora da Puffin, Francesca Dow, disse que “as categorias foram escolhidas para mostrar que há livros para satisfazer todos os gostos, daqueles que adoram ação e aventura aos que trazem contos sobre família e amizade e até um ou dois de vampiros”. Três títulos da Coleção L&PM POCKET estão entre os melhores: Drácula, O cão dos Baskerville e Alice no País das Maravilhas. Para ver a lista completa, clique aqui.

Sexo para todos os gostos


Por Ivan Pinheiro Machado

Algum moralista de plantão poderia dizer que Balzac era um amoral convicto. E estaria absolutamente certo. Grande parte da obra balzaquiana trata do adultério com absoluta naturalidade. Alguns dos casos de amor mais tórridos de seus romances foram, na sua maioria, casos extraconjugais. Mas há exceções: no grande O lírio do Vale, a condessa de Mortsauf morre de paixão para não consumar fisicamente seu violento amor adúltero pelo jovem Felix de Vandensse. Uma abstinência que não é comum entre as páginas de Balzac. Na Comédia Humana é tão natural ter amantes quanto ter esposas. Ou seja, o “kit” é, invariavelmente, mulher & amante. Entre os abastados, claro.  Mesmo porque os pobres povoam a Comédia como coadjuvantes e só ficam sob os refletores quando há a possibilidade de rápida ascensão social. A homossexualidade masculina é tratado abertamente em Ilusões Perdidas e Esplendores e misérias das cortesãs. Vautrin, misterioso personagem em O Pai Goriot e vilão em Ilusões perdidas e Esplendores…  é apaixonado pelo herói do romance, Lucien de Rubempré, descrito como o homem mais bonito de Paris. A homossexualidade feminina está escancarado em A Menina dos Olhos de Ouro, livro em que o dândi Henri de Marsay, um dos personagens masculinos favoritos de Balzac na “Comédia”, inadvertidamente apaixona-se loucamente por Paquita Valdès, que por sua vez tem um caso com Margarita-Euphèmia Porrabéril. O final é trágico e a amante traída mata a sua paixão, a bela Paquita. Não sendo suficiente esta ampla demonstração de liberalismo sexual, Balzac surpreende a todos em Uma paixão no deserto; nada mais nada menos do que o caso de amor entre um soldado e uma pantera. E isto em 1830…

Leia também:
Balzac: o homem de (maus) negócios
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Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois

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Balzac: o homem de (maus) negócios


Por Ivan Pinheiro Machado

Honoré de Balzac foi um homem estranho. Nasceu em 1799 em Tours, à beira do rio Loire, em uma família tipicamente provinciana e praticamente cresceu em um internato. Na solidão de sua infância e pré-adolescência, criou um mundo à parte, onde desenvolveu sua incrível capacidade de fabulação. A ambição e a fantasia faziam parte de sua personalidade, herdada em parte de seu pai, 33 anos mais velho do que sua mãe, e cujo sobrenome Balssa, Honoré transformou em Balzac (uma cidadezinha próxima a Tour e também nome de uma velha família aristocrata). Discretamente, Monsieur Balzac acrescentou um “de” que, na época, era sinal de nobreza – e sentia enorme prazer em usar esta partícula. Em última análise, queria ser rico. Fez negócios de todo o tipo: tentou adquirir sem sucesso ações de uma mina de prata na Sardenha, criou uma editora e uma fundição de caracteres tipográficos financiada com as magras economias de sua família e foi à falência acumulando dívidas que o perseguiriam pela vida inteira. Obcecado crítico da imprensa, sonhava em ter seus próprios jornais. Em 1936, fundou o jornal La Chronique de Paris que quebrou em pouco tempo. Cinco anos mais tarde, já muito endividado, fundou  a Revue Parisiense e inventou coleções de clássicos para vender de porta em porta. Fracassou novamente.
E foi graças a este péssimo tino para os negócios, aliado a uma enorme ambição, que a literatura ganhou um dos seus maiores gênios. Na verdade, sua imensa obra foi criada para ganhar a vida, ganhar dinheiro. Entregava livros contra o pagamento dos editores.
Mas, no fundo, muito mais do que ser um escritor, o que Balzac queria era desfilar pelas Tullerias num fiacre, exibir-se como se fosse um nobre. No fim das contas, ele trabalhava dezoito, vinte horas por dia, para arrumar dinheiro e livrar-se dos credores que o perseguiam. Foi um best seller na sua época e um dos autores mais lidos e publicados na Europa. Ganhou dinheiro com a literatura. Mas morreu esgotado aos 51 anos quando recém realizara o seu sonho de comprar um palacete finamente decorado e casar com uma condessa de verdade.
Sua rotina durante quase 20 anos foi acordar à meia noite e escrever até as seis da tarde. Só dormia 4 ou 5 horas e voltava ao trabalho extenuante na tentativa de cumprir prazos e entregar textos aos editores que lhe pagavam. Mesmo tento vivido a glória das ruas, sendo reconhecido como escritor popular, foi sistematicamente desdenhado pela crítica que jamais reconheceu seu valor em vida. Balzac morreu pobre, num palacete, sustentado pela Condessa Hanska, o amor de toda a sua vida. Mas sem conseguir seu grande objetivo que era… pagar as dívidas.

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Por que ler Balzac
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O monumento chamado Comédia Humana

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Ler Hamlet agora ou daqui a pouco: eis a questão

Ao digitar “Hamlet” no Google, o resultado soma aproximadamente 20 milhões* de citações. E não é preciso ir muito longe: mesmo aqueles que nunca leram Shakespeare (e que não sabem o que estão perdendo), já ouviram falar do Príncipe Hamlet.
Escrita entre 1599 e 1601, a peça, com seu denso enredo, mistura traição, vingança, incesto e corrupção para formar uma teia trágica de acontecimentos. E se Shakespeare realmente se baseou na lenda de Amleto (ou Amleth) – que depois se transformaria numa peça de teatro isabelino conhecida hoje como Ur-Hamlet – , ninguém sabe ao certo. De certeza mesmo, só que Hamlet é um clássico obrigatório aos amantes do bom texto e da boa trama. E também que a ótima tradução de Millôr Fernandes oferece o prazer de ler Shakespeare em português. Mas enquanto você não vai correndo buscar o seu Hamlet da Coleção L&PM POCKET, que acaba de sair em nova edição, divirta-se assistindo a versão de Os Simpsons para o clássico. E veja que, mais de 400 anos depois, Hamlet continua sendo a inspiração e o deleite de muitos:

*Atualização: em 9 de agosto de 2011, se você buscar por “Hamlet” no Google, o número de resultados já ultrapassa os 51 milhões!

Mansão em que Capote morou está a venda

Essa casa amarela da foto foi o local onde Truman Capote escreveu o clássico Bonequinha de Luxo. Capote morou lá entre 1955 e 1965. Segundo o NY Daily News, o autor de A sangue frio teria dito que embebedou o amigo Oliver Smith, então dono da mansão, para convencê-lo a lhe alugar uma parte da casa. Smith foi diretor de arte da peça da Broadway “Amor, sublime amor”.

Agora, a mansão de 11 quartos (e 11 lareiras) deve bater o recorde de preço de uma casa no Brooklyn: a estimativa é de que seja vendida por $18 milhões. O recorde anterior era de $12 milhões.

Dunga assassina o português – Parte II

Por Ivan Pinheiro Machado

As duas pessoas mais importantes do país, hoje, são o Presidente Lula e Dunga, o técnico da seleção brasileira. Sobre eles se voltam os chamados “olhos da nação”. Ontem, o Brasil parou para saber os convocados de Dunga e ouvir a sua entrevista coletiva. E, na minha opinião, muito pior do que deixar de convocar os dois melhores jogadores do país – Neymar e Ganso –, muito pior, foi o show de erros de português, de autoritarismo e arrogância protagonizado pelo comandante da Seleção Brasileira. Se houvesse uma forma de voltar ao passado, Dunga seria o técnico dos sonhos do ditador mais truculento de nossa história, o General Médici.

Lula, tão criticado pela imprensa pelos seus deslizes no português, é um verdadeiro lexicógrafo perto do Dunga. Mas, curiosamente, ninguém na imprensa critica as barbaridades que o técnico diz em cada espaço que tem na mídia. Depois de inúmeras trombadas na língua “que Camões chorou no exílio”, perguntado sobre as razões da convocação do goleiro Gomes, ele explicou:

– Ele está habituado a conviver “com nós”.

O velho filósofo e esteta húngaro Georg Lukács dizia: “A forma nunca é indissociável do conteúdo”. Portanto…

Para ler a Parte I, clique aqui.

Um mundo melhor?

O crítico Jacob Klintowitz escreveu sobre o conto “Um mundo melhor”, do seu amigo Sergio Faraco, no Suplemento Literário de Minas Gerais. Leia um trecho:

“Tudo poderia levar a crer que se trata de um conto de ideias, pois a história contém todos os elementos indispensáveis da vida intelectual. Dos três personagens, dois são homens de atividade artística, um é escritor e o  outro é diretor de teatro. Há dois cenários, e um deles é um teatro. A ação objetiva tem dois momentos. O primeiro é um ensaio em que se discute o caráter da representação. A outra ação é inexpressa, uma cena de violência física. E o único diálogo coloca as questões fundamentais sobre a natureza da arte. Entretanto, ainda que o conto “Um Mundo Melhor”, de Sergio Faraco, obviamente contenha ideias, elas estão subordinadas a um conflito existencial.”

– Para ter acesso à íntegra da crítica de Jacob, acesse a página do SLMG. A resenha ocupa as páginas 8 e 9.
– Para assistir à conversa de Faraco e Klintowitz na FestiPoa Literária, clique aqui.