Arquivo mensais:março 2010

As curvas eternas de Gaudí

Cultuado como um mágico das formas, a presença de Gaudí é imensa em Barcelona. Autor da mais célebre obra inacabada do planeta (começou a ser construída e projetada em 1886 e segue em obras), o templo da Sagrada Família, Gaudí é único na historia da arquitetura mundial. Sua obra é baseada na alucinante combinação de curvas e surpresas. Suas criações se estendem pela cidade, em prédios de formas improváveis e beleza sinfônica tal é a profusão de materiais, estilos e invenções.

Park Güell e as torres da ainda inacabada Sagrada Família, ambas projetadas por Gaudí / Fotos: Ivan Pinheiro Machado

Nem Miró, nem Picasso, nem Dalí: o símbolo gráfico da cidade de Barcelona são as torres da Sagrada Família estilizadas num elegante bico de pena que acompanha todas as campanhas e materiais publicitários que promovem a cidade.
Aqui Gaudí é uma presença física constante de qualquer perspectiva que se olhe a cidade. Suas enormes e enigmáticas construções transcendem a arquitetura e têm o impacto de gigantescas esculturas. Mesmo concebidas um século atrás ainda intrigam e deslumbram como só a grande arte é capaz de fazer.

Snoopy na estante de casa

por Tássia Kastner*

Peanuts completo é edição de colecionador. Eu mesma não consegui resistir e li todo o segundo volume enquanto ele ainda estava na fase de revisão. A evolução do traço de Schulz para Charlie Brown, Snoopy e toda a turma podem ser acompanhados nessa coleção.

Para quem é muito fã, o Universo HQ avisou hoje pelo Twitter dessa mini-escultura do Snoopy, que vai ser lançada em edição limitada (e numerada). São apenas 950 unidades, e a estatueta tem a aparência das tiras da década de 50 (confere no Peanuts completo – 1950 a 1952).

E aí descobrimos que já havia sido divulgada a pequena estátua do Charlie Brown. Elas chegam às lojas, em terras gringas ao que tudo indica, a partir de julho.

* Tássia é assessora de imprensa da L&PM

Furacão em Barcelona

Barcelona comecou a semana com uma chuva fina, friozinho de 12 graus e um furacão. Chama-se furacão Leonel Messi, que os barceloneses chamam carinhosamente de Leo. Os jornais esgotaram os adjetivos do rico idioma espanhol: genial, incrível, mágico, extraordinario, era o mínimo que estava impresso qualifiicando a semana vivida pelo craque argentino. Oito gols em três jogos. Além do desempenho recorde e, como dizem os jornais aqui, fantástico, a crônica louva a modéstia de Messi. Poderia ter feito o seu quarto gol na vitória do seu Barcelona ontem sobre o Zaragoza. Mas preferiu deixar para o atacante Ibra, cobrado pela torcida pelos poucos gols que tem feito. Também, pudera. Messi nao deixa espaço e assim vai fazendo com que os adjetivos – que muitos consideram um pecado estilístico no jornalismo – invadam as manchetes e as matérias dos jornais espanhois.

Barcelona amanheceu nublada nessa segunda-feira / Foto: Ivan Pinheiro Machado

Ficamos aqui nesta bela cidade, berço de Antonio Gaudí, Pablo Picasso, Salvador Dalí e outros tantos gênios  até  quinta e na sexta de manhã estaremos na Porte de Versailles em Paris para olhar e cobrir para este blog o 30° Salão do Livro de Paris.

Começa na sexta-feira o 30º Salão do Livro de Paris. E nós estaremos lá.

De 26 a 31 de março próximo, a vida cultural francesa estará voltada com olhos e ouvidos para a realização do 30º Salão do Livro de Paris, num enorme pavilhão em Porte de Versailles. Data cheia, 30 anos, mereceu dos organizadores um “menu” espetacular. Além de ser a maior exposição pública de livros e audiolivros em língua francesa disponíveis para venda, haverá, durante 6 dias, um show de eventos literários e artísticos espetacular (para detalhes da programação veja www.salondulivreparis.com) . O mote deste ano especial será “Descubra 90 autores convidados de honra do Salão”. São 30 autores estrangeiros de primeiríssimo time e 60 franceses. Sob forma de mesas redondas, debates, colóquios e diálogos desfilarão diante do público francês mega-celebridades do mundo literário internacional. Claro, que por ser um evento francês, estamos nos referindo às celebridades do lado dito “culto” no negócio do livro. Nada de grandes best-sellers comerciais. Mas se você estiver flanando pela cidade luz e quiser ouvir os hiper-incensados Paul Auster, Umberto Eco, Salman Rushdie, Yasmina Khadra, Doris Lessing, Antonio Lobo Antunes, Enrique Vila-Matas, Amelie Nothomb e TODOS os autores franceses importantes do momento, eles estarão por lá, em eventos individuais e coletivos, conversando, apresentando e discutindo literatura das 10 da manhã às 19 horas. O único autor brasileiro convidado é o premiado Bernardo Carvalho (Jabuti de 2004 e Prêmio Portugal Telecom), publicado na França e autor, entre outros, dos livros Mongólia, Nove noites e O filho da mãe. Para se ter uma idéia dos eventos planejados, na terça-feira, dia 30 de março, dois amigos de longa data, Paul Auster e Salman Rushdie estarão dialogando diante da platéia. Nem a FLIP tem um cardápio destes…

O Salão deste ano festivo promete centenas de eventos que se realizarão no pavilhão oficial e cercanias. Mas a “peça de resistência” de toda esta grande festa é a imensa feira de livros de língua francesa expostos no pavilhão de Porte de Versailles. São mil expositores ao todo, das poderosas Gallimard, Flammarion, Robert Laffont, Larousse, Hachette ao mais alternativo dos editores franceses, todos estarão lá mostrando o vigor desta indústria editorial que, com Alemanha, Inglaterra e EUA se coloca entre as mais importantes do mundo, com um dos maiores índices de leitura per capta do planeta (11 livros por habitante).

Entre as mesas redondas, os organizadores prometem discutir a questão da democracia na internet. Mas como mostra o a página da internet e o material imprenso, o foco do salão será mesmo o velho e bom livro em papel. Coincidentemente, no país europeu mais desenvolvido e interessado em tecnologia e informática, pouco parece se falar sobre e-book e correlatos. Mas isso veremos mesmo a partir de sexta que vem.

No blog da L&PM, você poderá acompanhar de perto esse 30º Salão do Livro de Paris. Prometemos manter os leitores atualizado e informados sobre tudo – ou quase tudo. Aguarde!

Problemas no amor? Claudia Tajes responde

Começaram as gravações do Consultório Sentimental da Claudia Tajes, um dos programas da nossa L&PM Web TV que breve, brevíssimo, entrará no ar. No programa semanal, Claudinha responderá – daquele jeito divertido e espontâneo dela -, as dúvidas amorosas dos nossos internautas. Quando estrear (não se preocupe, avisaremos assim que acontecer), você, caro leitor, poderá enviar suas perguntas para que as mesmas sejam respondidas neste consultório. Garantimos que, se a Claudia não solucionar o seu problema, pelo menos você dará boas risadas.

Pasmem: no Rio Grande se faz educação sem livro

Por Ivan Pinheiro Machado

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul faz mágica. E a mais fabulosa delas é fazer educação sem livros. Há 14 anos as bibliotecas públicas e bibliotecas de escolas públicas não recebem UM LIVRO SEQUER para os seus acervos. Isto significa que não existem mais bibliotecas em escolas, e as bibliotecas públicas que sobrevivem estão totalmente sucateadas, em estado terminal, morrendo de inanição. A esmagadora maioria dos estados possuem programas específicos, efetivos e eficientes de estímulo à leitura, fornecendo à toda rede pública o chamado livro para-didático, que complementa a formação do aluno – pois nem só de livros de matemática, ciências e português é feita a formação de um jovem. É preciso ler também Érico Veríssimo, Cervantes, Jorge Amado, Quintana, Shakespeare, Faraco, Assis Brasil, Rubem Fonseca, Ariano Suassuna, Dalton Trevisan, Millor, Machado de Assis, José de Alencar, Scliar para entender o mundo e as suas relações culturais.

Mas o Rio Grande não pensa assim. O governo Britto criou em 1996, no primeiro ano de seu governo a “Biblioteca do Rio Grande” e todas as escolas públicas receberam um acervo de 40 livros com uma seleção dos mais representativos autores gaúchos. Era para começar uma biblioteca (já não havia bibliotecas nas escolas) que supostamente seria ampliada gradualmente pelo Estado. Mas ficou por aí. De lá para cá, NENHUM LIVRO foi comprado pelo Estado.

Em tempo: os livros didáticos que chegam às escolas gaúchas são provenientes de programas do Governo Federal. A chamada “leitura complementar” e os “programas de estímulo à leitura” ficam a cargo do Governo do Estado.

Como exemplo de que é possível ter uma política cultural, leia aqui como São Paulo tem trabalhado.

Galeano na L&PM WebTV

Já faz parte do banco de vídeos da L&PM WebTV a participação do escritor uruguaio Eduardo Galeano na Feira do Livro de Porto Alegre de 2008. Galeano participou de uma edição especial do “Encontros com o Professor”, uma espécie de talk show semanal conduzido pelo jornalista Ruy Carlos Ostermann.
No vídeo, é possível assistir a íntegra do evento e ouvir alguns trechos de “Espelhos – Uma história quase universal” lidos pelo próprio escritor.

Clique aqui e para ver a galeria de fotos da passagem do escritor pela Feira.

Assista ao vídeo:

Encontrei o Leonardo!

Por Paula Taitelbaum*

Enquanto leio o primoroso Roubaram a Mona Lisa! de R. A. Scotti (você não leu? Tá esperando o quê?) descubro, além de um livro muitíssimo bem escrito – sobre o verídico roubo do quadro mais famoso do mundo em 1911 –  que alguns personagens das belas artes mundiais possuem um lado que eu desconhecia. Primeiro, deparei com um Picasso que envolvia-se com freqüência em furtos de obras de arte: “No final da audiência, Picasso, que havia comprado as peças roubadas, foi liberado depois de assumir o ato e ser alertado para que não saísse de Paris”. Depois, fiquei sabendo que Leonardo da Vinci arrasava os corações de Florença com um rosto que tinha uma beleza “fora do comum”. Para mim, a imagem que surgia ao ouvir falar do mestre da Vinci era a de um velho homem de nariz adunco, muitas rugas e vasta cabeleira – e não a figura do titã de cabelos louros e encaracolados que lhe caiam sobre os ombros despertando suspiros nas donzelas. Confesso que duvidei. E por isso fui ao Google procurar algo que pudesse atestar a beleza do pai da Mona Lisa. O que encontrei foi o vídeo produzido pelo TED – Ideas worth spreading. É uma micro palestra do artista Siegfried Woldhek sobre o verdadeiro rosto de Leonardo da Vinci. Muito bom!

Paula é jornalista, escritora e coordenadora da L&PM WebTV

L&PM em tempo real #2 — Iotti assalta a editora

O jornalista e humorista Iotti, muito bem disfarçado de Carlos Henrique, apareceu de surpresa na L&PM hoje a tarde. E não foi para uma visita de cortesia. O criador do Radicci veio – com algum desespero – em busca do pocket Ratos e homens, de John Steinbeck. Como não havia nenhum exemplar vagando a esmo pela editora, o jeito foi retirar um da estante “intocável” da produção, a única que reúne (reunia) todos os 850 livros da coleção de bolso por ordem de publicação.
Esperamos que ele aproveite bem a leitura enquanto encomendamos outro Steinbeck pra repor a perda antes que alguém repare.

Iotti acompanhado da assessora da L&PM, Tássia Kastner, e de seu exemplar de "Ratos e homens". Ao fundo, a estante desfalcada / Foto: Cristine Kist

Freud explica: agora em livro de bolso

Por Caroline Chang*

Minha tia, uma das figuras principais da minha formação, é psicóloga de orientação freudiana. Numa certa fase da minha infância, eu dizia que, quando crescesse, queria ser “pepsicóloga”. Quando a realidade oferecia algum fenômeno, alguma relação ou explicação não-evidente, mas inconsciente, logo aprendi a lascar, do alto do meu então um metro de altura: “Freud explica” ou “Que lapso!”. Em seguida, quando meu pai e a minha mãe se separaram, e eu, em 1983 e com sete anos, passei a viver com o meu pai, a importância do Freud na minha vida recrudesceu. Passei a frequentar duas vezes por semana o consultório de uma “psi” (as diferenciações profissionais não eram claras para mim então) que, entre uma brincadeira aqui e um jogo ali (meu preferido, e acho que o dela também, era o “Jogo da vida”), me incitava a falar e fazia perguntas, algumas das quais incômodas. Na minha adolescência, o hábito de falar para elocubrar já era parte de mim, e mais uma vez fiz psicoterapia, com uma freudiana-kleiniana. De forma que não considero um exagero dizer que devo muito a Freud, esse gênio da raça, “Sigi de ouro”, como lhe chamava a mãe. De forma que me senti imbuída não só de uma pesada responsabilidade moral e profissional, mas de um senso de responsabilidade íntimo, talvez primo da gratidão, quando, cerca de três anos antes de janeiro de 2010 (data em que a obra freudiana entraria em domínio público), demos início à necessariamente longa, lenta e pedregosa empreitada de publicar algumas de suas principais obras em formato de bolso.

Assim como acho que num mundo ideal todo mundo deveria/poderia fazer psicoterapia ou análise pelo menos uma vez na vida, considero – respeitadas as leis de direito autoral – um motivo de comemoração para a humanidade quando obras do calibre das de Freud se tornam disponíveis em várias edições, em várias traduções, editadas por diversos profissionais e pelas mais variadas casas. E creio que é uma razão de orgulho para nós, brasileiros, o fato de no nosso país haver uma tradição psicanalítica forte a ponto de várias editoras respeitadas estarem neste momento trabalhando em novas edições e traduções de Freud. (Eu, que cresci lendo tão-somente as coleções Vaga-Lume e Pra Gostar de Ler, que era o que havia de disponível na época, garanto: quanto mais numerosas as opções, melhor para o público-leitor).
Foi um nervosismo, mas sobretudo um prazer, editar O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, duas das obras chamadas “sociais” de Freud, com a colaboração de Renato Zwick (que não poupou esforços para alcançar, no português, o mesmo nível de clareza linguística e conceitual dos originais em alemão); de Edson Sousa e Paulo Endo, profundos e apaixonados conhecedores não apenas da obra freudiana, mas da vida do pai da psicanálise; de Márcio Seligmann-Silva, verdadeiro entusiasta das releituras que as novas traduções de Freud proporcionarão a todos, e que foi suficientemente audaz e suficientemente fiel ao espírito revolucionário do autor ao propor “cultura” para tradução de “Kultur”, em vez da tradução tradicional, “civilização”; e de Renata Udler Cromberg, que enriquece e atualiza a leitura de O futuro de uma ilusão com seu prefácio, tão humanista, tão certo da possibilidade de melhora das pessoas.
Espero que os leitores gostem. Para aqueles que tomarem contato com Freud pela primeira vez por meio desses livros, que suas vidas sejam doravante iluminadas por essa inteligência maior.

Boa leitura.

* Caroline Chang é editora e tradutora da L&PM