Arquivo mensais:junho 2010

Versos para esquentar

Aproveitando que a Paula ainda não voltou para o Brasil e, portanto, não vai nos dizer que seus poemas não devem ser publicados por aqui pelo risco de censura dos mais puritanos (ou por uma vergonhazinha de que pareça auto-promoção), vamos a dica de hoje para o dia dos namorados.

Ok que a data é romântica e o que mais se vê pelas ruas são rosas vermelhas, corações e bichos de pelúcia. Mas que tal usar os versos da nossa poeta ‘inspiradora’ para aquecer a noite do dia 12 (e todas as outras também)?

O PornoPopPocket reúne poemas, como sugere o nome, eróticos. Mas não se preocupem, ainda somos um blog de família: selecionamos os versos mais sutis. O resto é por conta da imaginação.

Eu gosto quando você
coloca as mãos atrás
da minha cabeça
e me puxa com pressa
pra dentro da sua boca
eu gosto como louca
de ter seus lábios grudados
de um jeito sôfrego
que sangra
e me tira o fôlego
eu gosto de te sorver
aos goles e fingir
que nossas línguas
são siamesas
gosto de beijos
com gosto de insensatez
e incerteza.

___

Você já foi um estranho
tateando na escuridão
das minhas entranhas
você enfrentou o breu
e hoje conhece os caminhos
muito melhor do que eu

Um jantar cheio de vida na China

Conta a lenda que há muito tempo havia uma espécie de panteão chinês, governado por um deus conhecido como Imperador de Jade e que possuía uma filha chamada Chih’nü (garota tecelã).  Diariamente, com a ajuda de um robe mágico, Chih’nü descia à terra para banhar-se. E foi em um desses dias que a garota tecelã encontrou um vaqueiro solitário que se apaixonou por ela. Para impedir que a filha do imperador voltasse ao reino dos céus, o vaqueiro roubou seu robe mágico e a levou para sua casa. Ao saber do acontecido, o imperador ficou furioso, mas nada pode fazer, já que nesse meio tempo sua filha também se apaixonara pelo vaqueiro casando-se com ele. Mas Chih’nü sentia muita saudade do pai e, um dia, depois de encontrar seu robe mágico em uma caixa, foi visitá-lo no céu. Só que ao tentar voltar para o marido, a moça descobriu que o pai havia criado um rio que passava pelos céus (a Via Láctea) e que a impedia de retornar para a Terra. Como o imperador não era tão mau assim, decidiu que uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar chinês, ele permitiria que os dois amantes se encontrassem sobre um rio.
E é assim que ainda hoje, em todo sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar há um feriado na China conhecido como Qi Xi, que é uma espécie de Dia dos Namorados para eles. Confesso que não sei muito bem como eles comemoram essa data, já que não vi nenhum restaurante à luz de velas na China. Aliás, preciso confessar, os restaurantes daqui não são nada românticos. E nem muito limpinhos. Com exceção de Hong Kong, que acabo de conhecer e que nem parece a China de tão cosmopolita (e que pertencia aos ingleses, portanto é diferente mesmo), Shanghai e Wenzhou (outra cidade que também visitei na ex terra de Mao) não são exatamente lugares feitos para namorar.
Os mais “chiques” tem salas individuais e de diferentes tamanhos onde você não vê os outros clientes e os garçons ficam ali à sua disposição. A mesa é sempre redonda e grande, com o centro giratório, onde uma média de trinta e quarenta pratos vão sendo servidos. Um tipo de buffet particular. Só que na China, o que gira não é apenas a mesa, mas também o seu estômago. Em um dos almoços, dessa vez em um restaurante mais simples, um chinês nos convidou para comer uma espécie de sopão, que fervia dentro de um buraco no meio da mesa, enquanto os ingredientes – que chegam crus à mesa – iam sendo jogados lá dentro. Na verdade, cru é modo de dizer, porque alguns deles chegam vivos mesmo. Eu estava lá quando, de repente, vi alguma coisa se mexendo no prato ao meu lado. Eram dezenas de bichos que mais pareciam uma mistura de camarão com lacraia e que tentavam desesperadamente fugir dali. Nosso anfitrião chinês não teve dúvida:  foi logo jogando os bichos na fervura. E enquanto eles esperneavam, lutando pela vida, eu me mantinha em estado de choque.

Mas o mais chocante de toda a viagem foi passear dentro do Carrefour de Shanghai, um gigantesco supermercado de quatro andares ondeé vendido tudo o que você pode e até o que não pode imaginar. Sapos e tartarugas vivas ficam espremidos dentro de caixas de vidros para serem escolhidos e, posteriormente, deglutidos pela clientela chinesa. Quando vi um jovem casal rondando os aquários, fiquei imaginando dois apaixonados escolhendo a sua rã saltitante para um jantar à luz de lanternas vermelhas, antecipando o Qi Xi. Até porque, você há de concordar, amar também é engolir sapos.

Para conhecer fábulas chinesas como a do Qi Xi leia a edição bilíngue de 50 fábulas da China fabulosa, de Sérgio Caparelli e Márcia Schmaltz.

Leia os posts anteriores:
Será que alguém lê livros na China?
A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias
Enquanto isso, na China milenar, a Expo continua a mil
A Expo é um parque de diversões na cabeça
A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
Xangai é um barato

Curta de Jorge Furtado relembra Copa de 50

Às vésperas do início da Copa e da estreia de Jorge Furtado na L&PM WebTV (o Palavra de Escritor com o autor de Meu tio matou um cara vai ao ar na próxima semana), o blog resolveu recuperar aquele que Jorge considera seu único filme sem qualquer dose de humor: Barbosa, de 1988. O curta é baseado no livro Anatomia de uma derrota, de Paulo Perdigão, publicado pela L&PM em 1985. Nele, um homem volta no tempo para tentar evitar a falha do goleiro Barbosa na final da Copa de 50.
Se bem que  a história é dramática apenas no Brasil. Na entrevista, o diretor contou que quando Barbosa foi exibido no Uruguai, a plateia “morria de rir”.

Mas enquanto a Copa não começa e o Palavra de Escritor com Jorge Furtado não está disponível, você pode esperar assistindo a um trecho do filme e vendo o roteiro original, que está disponível no site da Casa de Cinema.

A solução para os amores difíceis em Shakespeare

Algumas das melhores e mais dramáticas histórias de amor foram escritas por Shakespeare, todos sabem. De Romeu e Julieta até A comédia dos erros, são muitas as paixões conturbadas e os obstáculos a serem enfrentados pelos pombinhos em busca de um final feliz.

E como mostra A megera domada, o maior amor também exige determinação, e a prova está no rústico Petrúquio. Determinado a se casar com a rebelde Catarina, ele elabora as maiores artimanhas para conseguir levá-la ao altar, ainda que todos tentem dissuadi-lo da ideia.

A confiança de Petrúquio, em uma frase dita a seu futuro sogro, é a prova de que ele conhece sua amada e está determinado a tê-la:

“O que acontece é isto, caro pai: o senhor e todos que falam de Catarina não a compreenderam. Ela é violenta apenas por política, pois seu temperamento nada tem de insolente. Ao contrário, é manso como o de uma pomba. Não é afogueada, mas fresca como a aurora”.

Se você está apaixonado por uma Catarina, ainda dá tempo de ter uma aulinha com Petrúquio até o dia 12. Comece lendo um trecho de A Megera Domada aqui. Também dá pra conhecer a história pela adaptação da obra, feita por Leon Garfield.

Chester Himes, a alma genial do Harlem

Por Ivan Pinheiro Machado

Chester Himes era negro e marginal. Não por acaso ficou conhecido como um dos grandes escritores do gênero “noir”. Esta palavra remete ao “sombrio” e foi cunhada na França para batizar romances policiais, digamos assim, mais literários. São histórias protagonizadas por personagens ambíguos, em tramas banais, contracenando num mundo hipócrita e duro, habitado por perdedores, delinquentes, aproveitadores, escroques de todos os tipos e dois ou três sujeitos que valem a pena. A esse gênero, que reúne personagens antológicos como os detetives Philipe Marlowe, de Raymond Chandler, Sam Spade, de Dashiell Hammet, e Lew Archer, de Ross Macdonald, Chester Himes agregou sua dupla Jones Coveiro e Ed Caixão, detetives da delegacia mais animada do Harlem dos velhos tempos. Só que Coveiro e Caixão são negros, numa época em que ser negro não era exatamente como é nos tempos de Barack Obama.

O Harlem era um gueto maldito na ponta norte de Manhatan, controlado por traficantes, cafetões, jogadores e seres afins. Decididamente não era um lugar para amadores. Chester Himes soube como niguém captar o clima, a atmosfera complexa e perigosa do Harlem. A sensualidade do blues é combinada com o ceticismo desolado de Jones Coveiro e Ed Caixão, submetidos a realidade precária e violenta de um lugar abandonado pela América branca e protestante. Considerado um dos grandes escritores americanos do século passado, Himes enfrentou em seus livros a realidade racista dos anos 50, o dilema vivido pelos detetives num lugar onde só “negro podia prender negro”. Seus livros são documentos pungentes onde ele desnuda sem perdão esse lado sombrio da América pós-guerra.

Muito antes de se tornar um famoso romancista, Himes foi um criminoso. Em novembro de 1928, roubou um Cadillac, dinheiro e algumas joias de um casal de idosos em Ohio. Preso aos 19 anos, teve de cumprir pena por roubo a mão armada por sete anos e meio. Foi durante esse período que começou a escrever. Suas histórias foram publicadas em diversos periódicos norte-americanos, como Atlanta Daily World e Esquire. Seu primeiro romance publicado, If He Hollers, Let Him Go (1945), já tem o racismo como tema central. Foi ignorado no seu país e celebrado no exterior, sobretudo na França. Em meados da década de 1950, exilou-se em Paris, onde conviveu com os também escritores negros, norte-americanos e expatriados James Baldwin, Ralph Ellison e Richard Wright. Foi de lá que escreveu e publicou, em 1957, For Love of Imabelle (posteriormente rebatizado de A Rage in Harlem e publicado pela L&PM Editores como A maldição do dinheiro), o primeiro de nove thrillers passados no Harlem com Coveiro e Caixão como protagonistas. A série teve enorme sucesso. Entre seus títulos mais conhecidos estão O Harlem é escuro (Blind Man with a Pistol), A louca matança (The Crazy Kill), Um jeito tranquilo de matar (The Real Cool Killers), todos publicados na Coleção L&PM Pocket, além de Cotton comes to Harlem The Heat’s On. Dois de seus livros foram adaptados para o cinema: Cotton Comes to Harlem, dirigido por Ossie Davis em 1970 (trailer abaixo), e A maldição do dinheiro, estrelado por Gregory Hines e Danny Glover em 1991.

Será que alguém lê livros na China?


A falta de livros nas mãos dos chineses é uma triste herança dos tempos em que a literatura literalmente virou cinza. Só depois de muito procurar, encontrei uma rua em Xangai com quatro livrarias, uma atrás da outra. Duas delas estavam praticamente vazias, uma tinha meia dúzia de gente e apenas a “Art Bookstore” exibia compradores mais animados. Nessas livrarias, não encontrei nenhum livro de ficção escrito em mandarim. O que parece significar que, para ler um romance na China, é preciso saber ler em inglês – e garanto que a maioria não sabe. Até as publicações contando a história de Xangai, com belíssimas fotos, apresentavam-se em caracteres ocidentais.

Chamou a atenção que, em um dos estabelecimentos, a editora inglesa Penguin tinha uma prateleira só dela. Mas o que mais me agradou mesmo foi a livraria de arte. Projetada com esmero e dividida por prateleiras curvilíneas, ela é um espaçoso paraíso para os amantes do desenhos e da pintura – em especial da arte chinesa. Há não apenas livros, mas muitas revistas e quadrinhos. No fundo da loja, um espaço que vende tintas, pincéis e outros artigos do ramo. Tudo muito bacana, mas que faz nascer a dúvida: será que os clientes que ali se encontravam se interessam por literatura ou apenas por artes plásticas?

Para saber mais sobre a Revolução Cultural chinesa, que queimou todos os livros, prendeu professores e fechou universidades, leia China: uma nova história.

Leia os posts anteriores:
A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias
Enquanto isso, na China milenar, a Expo continua a mil
A Expo é um parque de diversões na cabeça
A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
Xangai é um barato

10 dicas para você não ter apenas “quase” amores

1 – Aumentar a lista de nomes que você jamais namoraria. Se ele se chamar Vanderlei ou Dejair, nem pensar. Mas e Bejair? Melhor incluir na lista outros nomes difíceis. Também é bom considerar o risco de um convite para o cinema. Escolher o filme é uma decisão sábia para não acabar em uma sessão de filmes “adultos”.

2 – Se você acaba de entrar na faculdade, o risco de encontrar um militante/estudante profissional é grande. Ele terá boa lábia, é um político, afinal de contas. Melhor só investir se você tiver vocação política.

3 – Desistiu do revolucionário? Encontrou o amor da sua vida em um pintor? Ele pode ser bacana, te amar e tudo mais. Então, melhor manter distância dos amigos dele. Infidelidade, mesmo que você tente se convencer que tem origem genética, não é legal.

4 – Para evitar a culpa da infidelidade, melhor não assumir o papel de “a outra”, especialmente se o cara fizer parte de uma família típica de comercial de margarina. Ainda que o caso extra-conjugal dele possa funcionar por algum tempo para você. Mas só por algum tempo.

5 – Pessoas bem-sucedidas são legais. Mas se a sogra perguntar o nome de sua família, é hora de bater em retirada.

6 e 7 – Muita atenção quando se deparar com um garçom ou um Papai Noel.

8 – Colegas de trabalho podem ser uma encrenca – ou não.

9 – O que pode ser mais desestimulante do que um cara lindo e charmoso te examinando e não te abraçando? Deixe os médicos de fora da sua lista

10 – Um astro do circo pode ser bem legal. Mas ele sempre vai embora.

As dicas são extraídas da vida de Maria Ana, personagem de Dez (quase) amores, de Claudia Tajes, e servem para ajudar você fugir de prováveis relacionamentos que nunca darão certo. Agora, se você encontrar um homem ‘perfeito’ que não esteja nessa lista, por favor, nos avise. Entraremos na fila também.

Balzac e as balzaquianas

Balzac prestou às mulheres um serviço imenso, pois duplicou para elas idade do amor. Curou o amor do preconceito da mocidade…”. Georges Viacaire, crítico francês, referia-se a enorme repercussão que A mulher de 30 anos teve quando foi lançado. Duzentos anos depois, em dezenas de línguas, “balzaquiana” é o adjetivo que designa, como diz o respeitável dicionário Houaiss da língua portuguesa, “aquela que tem mais de 30 anos”. A maioria esmagadora das milhões de pessoas que empregam a expressão nem sonham que ela vem de um livro escrito por um certo Honoré de Balzac há 180 anos atrás. Existe maior glória para um escritor?

A mulher de 30 anos não está entre os melhores livros de Balzac. É irregular, foi escrito num período muito longo, entre dezenas de outros romances e concluído às pressas, numa verdadeira colagem de trechos esparsos. Mas mesmo assim possui grandes momentos que, por si só, justificam a fama de mais famoso de todos os cem livros escritos por Balzac.

A belíssima marquesa Julia d’Aiglemont é a famosa mulher de 30 anos. Infeliz no casamento, renasce numa paixão extraconjugal pelo jovem Carlos Vandenesse que… bem… leia o livro. Como degustação, para ilustrar este post, colocamos abaixo um fragmento deste romance que glorificou e eternizou as balzaquianas:
“A jovem conta apenas com sua coqueteria, e acredita ter dito tudo quando tirou o vestido(…) A mulher de trinta anos pode fazer-se jovem, representar todos os papéis, até tornar-se mais bela com uma infelicidade. A jovem sabe apenas gemer. Entre as duas há a incomensurável diferença entre o previsto e o imprevisto, a força e a fraqueza. Armada de um saber obtido quase sempre ao preço de infelicidades, a mulher de trinta anos ao entregar-se, parece dar mais do que ela mesma; ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar (…).” (Tradução de Paulo Neves)

Leia também:
Ouro e prazer
20 de maio: aniversário de Balzac
Sexo para todos os gostos
Balzac: o homem de (maus) negócios
O monumento chamado Comédia Humana
Por que ler Balzac
Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois

CLIQUE AQUI PARA LER A PARTE 9 DESTA SÉRIE.

A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias


Para nós, meros ocidentais prisioneiros da lógica, é quase impossível entender como os chineses conseguem escrever do jeito que escrevem. No lugar de letras, eles desenham símbolos. E o fazem com uma destreza impressionante que desafia a compreensão de quem aprendeu a ler a partir de “vovô viu a uva” como eu. A escrita chinesa não parte de um princípio sonoro, mas de traçados que contém em si a representação de um objeto ou de uma ação. Para escrever a palavra “casa”, por exemplo, basta um único ideograma (que lembra uma casinha, com telhado e tudo). Aliás, ideograma quer dizer exatamente isso: representação das ideias por meio de sinais. O que faz com que a leitura se torne dinâmica, muito mais rápida, pois o cérebro não precisa identificar as letras sonoramente para chegar a um significado. Sem contar a caligrafia chinesa, essa arte milenar que atravessou as gerações e permanece sendo louvada na atualidade. Prova disso são as inúmeras lojas que vendem pincéis especiais para calígrafos e oferecem quadros com grandes ideogramas para serem colocados na parede. Você consegue imaginar coisa igual com as nossas insossas letras?

Mas as letras romanas não são totalmente rejeitadas na China e, além de estarem presentes em muitas placas chinesas, elas causam fascínio nas crianças orientais. Tanto é assim que, num dos dias em que estive circulando pela Expo Shanghai, vários chinesinhos vieram correndo com cadernos abertos, pedindo para que eu – e os demais que estavam comigo – escrevêssemos nossos nomes neles. Na hora não tive a ideia (meu cérebro não funciona com a rapidez de um ideograma), de também pedir que elas escrevessem, ou melhor, desenhassem no meu caderninho. Seria uma lembrança e tanto…

No próximo post: livrarias de Shangai.

Leia os posts anteriores:
Enquanto isso, na China milenar, a Expo continua a mil
A Expo é um parque de diversões na cabeça
A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
Xangai é um barato

Esperando para colocar o pé na estrada

Se você acha que está demorando para sair do papel o projeto do Walter Salles para On the Road, saiba que o próprio Kerouac esperou por anos que seu principal livro fosse parar nas telas do cinema. E já tinha até eleito o seu diretor: Marlon Brando.

Começou a circular agora há pouco na internet a carta que a gente reproduz mais abaixo, que teria sido escrita pelo próprio Kerouac. No texto, ele diz que espera que Marlon Brando compre os direitos da história e que entenderia as adaptações necessárias para que o filme pudesse ser realizado.

Abaixo está a transcrição do texto, que tiramos daqui. (via @marcelo_orozco)

Jack Kerouac
14182 Clouser St
Orlando, Fla

Dear Marlon

I’m praying that you’ll buy ON THE ROAD and make a movie of it. Don’t worry about the structure, I know to compress and re-arrange the plot a bit to give perfectly acceptable movie-type structure: making it into one all-inclusive trip instead of the several voyages coast-to-coast in the book, one vast round trip from New York to Denver to Frisco to Mexico to New Orleans to New York again. I visualise the beautiful shots could be made with the camera on the front seat of the car showing the road (day and night) unwinding into the windshield, as Sal and Dean yak. I wanted you to play the part because Dean (as you know) is no dopey hotrodder but a real intelligent (in fact Jesuit) Irishman. You play Dean and I’ll play Sal (Warner Bros. mentioned I play Sal) and I’ll show you how Dean acts in real life, you couldn’t possibly imagine it without seeing a good imitation. Fact, we can go visit him in Frisco, or have him come down to L.A. still a real frantic cat but nowadays settled down with his final wife saying the Lord’s Prayer with his kiddies at night…as you’ll seen when you read the play BEAT GENERATION. All I want out of this is to able to establish myself and my mother a trust fund for life, so I can really go roaming around the world writing about Japan, India, France etc. …I want to be free to write what comes out of my head & free to feed my buddies when they’re hungry & not worry about my mother.

Incidentally, my next novel is THE SUBTERRANEANS coming out in N.Y. next March and is about a love affair between a white guy and a colored girl and very hep story. Some of the characters in it you know in the village (Stanley Gould etc.) It easily could be turned into a play, easier than ON THE ROAD.

What I wanta do is re-do the theater and the cinema in America, give it a spontaneous dash, remove pre-conceptions of “situation” and let people rave on as they do in real life. That’s what the play is: no plot in particular, no “meaning” in particular, just the way people are. Everything I write I do in the spirit where I imagine myself an Angel returned to the earth seeing it with sad eyes as it is. I know you approve of these ideas, & incidentally the new Frank Sinatra show is based on “spontaneous” too, which is the only way to come on anyway, whether in show business or life. The French movies of the 30’s are still far superior to ours because the French really let their actors come on and the writers didn’t quibble with some preconceived notion of how intelligent the movie audience is, the talked soul from soul and everybody understood at once. I want to make great French Movies in America, finally, when I’m rich…American Theater & Cinema at present is an outmoded Dinosaur that ain’t mutated along with the best in American Literature

If you really want to go ahead, make arrangements to see me in New York when you next come, or if you’re going to Florida here I am, but what we should do is talk about this because I prophesy that it’s going to be the beginning of something real great. I’m bored nowadays and I’m looking around for something to do in the void, anyway—writing novels is getting too easy, same with plays, I wrote the play in 24 hours.

Come on now Marlon, put up your dukes and write!

Sincerely, later,
Jack Kerouac