No comunismo capitalista da China é assim: Twitter e Facebook são como pornografia, totalmente bloqueados para consumo do povo. Isso quer dizer que você jamais poderá passear pela Expo Shanghai 2010 tuitando sobre o que está vendo e gostando. Mas antes de contar sobre o mega pavilhão da China na Expo, vamos a um passeio pelos outros espaços. Primeiro, o Canadá. Os canadenses pedalaram tanto que, não resta dúvida, chegaram ao futuro antes de nós. O pavilhão do país começa com várias bicicletas fixas que, com a interação dos visitantes, movimentam enormes animações ao estilo de Moebius (não chequei se são dele). E ainda há um lago sonoro que muda de tom quando tocamos em suas águas.
Visitantes fotografam pavilhão finlandês / Paula Taitelbaum
Já o pavilhão da Finlândia mais parece uma loja de decoração futurista, pois exala design por todos os poros. Em um vídeo que lembra o mundo de Pandora, de Avatar, robôs interagem com bolas de sabão ao ritmo de uma música hipnótica. Entre as atividades interativas, está o fato das pessoas poderem tirar “uma foto na Finlândia”, bastando para isso escolher um fundo no computador. A minha até agora não chegou… Mas falando em fotos, esse é um dos assuntos em destaque no pavilhão do Japão que, entre alguns robôs que limpam a casa e outros que tocam violino, está um grande merchandising da Canon e da Toyota. Um dos momentos mais impressionantes é quando a super câmera Canon, ao vivo, capta um detalhe do painel de parede e mostra no telão em alta definição, isso a muitos metros de distância. Mas o Japão não acerta todas e tropeça no seu último ato. No final das apresentações, há uma espécie de ópera de Pequim tão sonolenta, repetitiva e enfadonha que cheguei a pegar no sono.
Cartaz com imagem do pavilhão chinês convida para a Expo / Reprodução
O pavilhão da Alemanha – cujas filas chegam a quatro horas – é um tanto quanto claustrofóbico. Uma verdadeira usina de calor com overdose de informação. Como tem elementos demais, interação demais e gente demais, fica quase insuportável circular pelos espaços. Parece ônibus na hora do rush. Mas no final – quando eu já me encontrava um tanto quanto irritada e louca pra ir embora – há um espetáculo bem impressionante com uma bola gigantesca que pende do teto e projeta luz e imagens mais fortes à medida que o público grita e aplaude. É a salvação da Alemanha no finalzinho do segundo tempo.
E agora o gran finale: o espetáculo da anfitriã. O pavilhão da China, tão vermelho quanto à estrela de Mao, tem catorze andares, sendo que os dois últimos fechados ao público. Mas ainda sobram doze para o desfrute dos visitantes. A diversão começa nos andares mais altos, com a exibição de um filme que parece ser sobre Genghis Khan, mas que logo evolui para mostrar como a China – em especial Xangai – chegou onde chegou. É claro que, sendo um investimento (e põe investimento nisso) estatal, o “partido” está ali representado por seus trabalhadores sempre dispostos a pegar junto, unir forças e fazer um “novo país”. Depois dessa exibição, quando não resta nenhuma dúvida de que a China vai mesmo dominar o mundo, começa a caminhada pelo resto do pavilhão. Há metros e metros de paredes que projetam uma magnífica animação da China antiga. Há relíquias autênticas que exemplificam e contam a história do papel, da porcelana e da seda. Há, ainda, representações do interior das casas dos chineses ao longo das décadas. E há um disputado trenzinho que conduz a uma viagem que mais parece “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Tudo para expor que a China é, de fato, milenarmente moderna. O detalhe é que esqueceram de avisar a maioria dos chineses disso. Talvez quando conseguirem acessar a Internet sem censura eles descubram que podem ser tão modernos quanto as cidade. Por enquanto, ainda acho que o povo é um tanto quanto primitivo. Ou você acha que jogar bichos vivos dentro da sopa é uma evolução? Hoje meu almoço teve esse tipo de espetáculo. E eu ainda não me recuperei… Conto mais nos próximos posts.
Leia os posts anteriores:
– A Expo é um parque de diversões na cabeça
– A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
– Xangai é um barato