Arquivo mensais:julho 2010

Cruyff

A seleção holandesa era chamada de Laranja Mecânica, mas nada tinha de mecânico aquela obra da imaginação, que desconcertava todo mundo com suas mudanças incessantes. Como A Máquina do River, também caluniada pelo nome, aquele fogo laranja ia e vinha, impelido por um vento sábio que o trazia e o levava: todos atacavam e todos defendiam, espalhando-se e unindo-se vertiginosamente em leque, e o adversário perdia as pistas diante de uma equipe onde cada um era onze.
Um jornalista brasileiro chamou-a de desorganização organizada. A Holanda tinha música e o que regia a melodia de tantos sons simultâneos, evitando a bagunça e o desafino, era Johann Cruyff. Maestro da orquestra e músico, Cruyff trabalhava mais do que todos.
Aquele magrinho elétrico tinha entrado para o Ajax quando era menino: enquanto sua mãe servia na cantina do clube, ele recolhia as bolas que iam para fora, limpava as chuteiras dos jogadores, colocava as bandeirinhas nos cantos dos campos e fazia tudo o que lhe pedissem e nada do que lhe mandassem. Queria jogar e não deixavam, por seu físico frágil e seu caráter demasiadamente forte. Quando deixaram entrar, ele ficou. E ainda garoto estreou na seleção holandesa, jogou estupendamente, marcou um gol e com um murro fez o árbitro desmaiar.
Depois continuou sendo esquentado, trabalhador e talentoso. Durante duas décadas ganhou vinte e dois campeonatos, na Holanda e na Espanha . Parou aos trinta e sete anos, quando acabava de fazer seu último gol, nos braços da multidão que o acompanhou do estádio até sua casa.

Até o final da Copa, o blog da L&PM publica diariamente um trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. Leia os anteriores:
Gol de Zarra
Obdulio
Gol de Maradona
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Adiós, Piva

Ivan Pinheiro Machado

Em 1984,o Eduardo Bueno, vulgo Peninha, veio trabalhar na L&PM. Naquela época, ele era mais ou menos o que é hoje, só que sem a fortuna que acumulou nestes últimos anos, graças ao seu talento e sua incrível capacidade de trabalho (não é ironia). Era o tradutor do On the road, de Jack Kerouac, e trouxe para a L&PM a cultura beat. Nós, na época, editávamos uma coleção anarquista e já publicávamos Bukowski. Foi atraído por este clima transgressor que Peninha foi parar lá na rua Nova York, 306, sede da L&PM. Fizemos coisas maravilhosas com pouquíssimo dinheiro e muitas ideias. No começo dos anos 80, conhecemos Claudio Willer (autor da antológica tradução de Uivo de Allen Ginsberg) que nos apresentou o poeta Roberto Piva, um estranho maluco genial, cultuado nas rodas radicais de São Paulo.  Nesta época mesmo, criamos uma coleção chamada “Olho da Rua”, com projeto gráfico do grande pintor Caulos. Publicamos Reinaldo de Moraes, Pepe Escobar, Jorge Mautner, Antonio Bivar, Sergio Faraco, os beats Gregory Corso, Allen Ginsberg, Neal Cassady, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti. Lançamos também no Brasil Sam Shepard, Isadora Duncan e o clássico Luna Caliente de Mempo Giardinelli. A coleção tinha grande prestígio nos meios alternativos e Roberto Piva submeteu, para nosso exame, a sua Antologia Poética que então saiu nesta coleção com capa desenhada por mim. Ele adorava a capa, porque era a representação de uma montanha de lixo com um latinha de Coca-Cola que – segundo ele – ordenava a desordem… Na verdade, encontramos poucas vezes Roberto Piva, pois ele era paulista e nossa sede era –  e é –  em Porto Alegre.

Pois o Piva morreu sábado, dia 3 de julho, aos 72 anos. Ele era a representação física dos seus poemas. Trepidante, delirante e brilhante. Encerro com um trecho da apresentação da nossa edição de 1985 de Antologia Poética escrita pelo Peninha: “A vida de Piva – poética, maldita, conturbada – fornece o material bruto que ele lapida e transpõe para seus poemas. (…) Ele é o mais indômito, o mais rebelde e um dos mais inspirados poetas brasileiros das últimas décadas”.

Gol de Zarra

Foi no Mundial de 50. A Espanha acossava a Inglaterra, que só atinava em chutar de longe.
O ponta Gaínza devorou a cancha pela esquerda, passou por meia defesa e cruzou a bola para a meta inglesa. O zagueiro Ramsey chegou a tocá-la, de costas, no contrapé, quando Zarra arremeteu e meteu a bola, raspando a trave esquerda.
Telmo Zarra, goleador da Espanha em seis campeonatos, herdeiro do toureiro Manolete na paixão popular, jogava com três pernas. A terceira perna era sua cabeça fulminante. Foram de cabeça seus gols mais famosos. Zarra não fez de cabeça aquele gol da vitória, mas comemorou-o apertando entre as mãos a medalhinha da Imaculada, pendurada no peito.
O dirigente máximo do futebol espanhol, Armando Muñoz Calero, que tinha participado da invasão nazista a terras russas, enviou por rádio uma mensagem ao generalíssimo Franco:

– Excelência: vencemos a pérfida Albion.

Era a vingança pela aniquilação da Invencível Armada Espanhola, que tinha sido derrotada em 1588 nas águas do Canal da Mancha.
Munõz Calero dedicou a partida “ao Melhor Caudilho do Mundo”. Não dedicou a ninguém a partida seguinte, quando a Espanha enfrentou o Brasil e levou seis gols.

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Obdulio
Gol de Maradona
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Aqui você encontra Snoopy

Chegaram na semana passada e já estão espalhados pela editora alguns cartazes com o Snoopy de um lado e o Charlie Brown do outro.

E as mais apaixonadas pelo beagle, como a supervisora do departamento de marketing Vera Regina e a assessora de imprensa Tássia Kastner, já aproveitaram inclusive para customizar suas mesas.

Em breve, os cartazes estarão nas livrarias de todo o país. Então, se você estiver por aí e encontrar um desses “Snoopys”,  já sabe: há um Peanuts Completo bem perto de você. Aliás, o Peanuts Completo vol. 3 será lançado só em agosto, mas na seção “Próximos Lançamentos” do site da L&PM já é possível ver a capa e ler algumas tirinhas.

Obdulio

Eu era menino e peladeiro, e como todos os uruguaios estava grudado no rádio, escutando a final da Copa do Mundo. Quando a voz de Carlos Solé transmitiu a triste notícia do gol brasileiro, minha alma caiu no chão. Recorri então ao mais poderoso de meus amigos. Prometi a Deus uma quantidade de sacrifícios, se Ele aparecesse no Maracanã e virasse o jogo.
Nunca consegui recordar as muitas coisas que prometi, e por isso nunca pude cumpri-las. Além disso, a vitória do Uruguai diante da maior multidão jamais reunida numa partida de futebol tinha sido sem dúvida um milagre, mas o milagre foi acima de tudo obra de um mortal de carne e osso chamado Obdulio Varela. Obdulio tinha esfriado a partida, quando a avalanche nos caía em cima, e depois carregou toda a equipe nos ombros e com pura coragem impeliu-a contra ventos e marés.
No final daquela jornada, os jornalistas acossaram o herói. E ele não bateu no peito proclamando somos os melhores e que não há quem possa com a garra nacional:
– Foi casualidade – murmurou Obdulio, abanando a cabeça. E quando quiseram fotografá-lo, virou de costas.
Passou aquela noite bebendo cerveja, de bar em bar, abraçado aos vencidos, nos balcões do Rio de Janeiro. Os brasileiros choravam. Ninguém o reconheceu. No dia seguinte, fugiu da multidão que o esperava no aeroporto de Montevidéu, onde seu nome brilhava num enorme letreiro luminoso. No meio da euforia, escapuliu disfarçado de Humphrey Bogart, com um chapéu metido até o nariz e um impermeável de gola levantada.
Em recompensa pela façanha, os dirigentes do futebol uruguaio deram a si mesmos medalhas de ouro. Aos jogadores, deram medalhas de prata e algum dinheiro. O prêmio que Obdulio recebeu deu para comprar um Ford modelo 31, que foi roubado naquela mesma semana.

Leia entrevista em que Galeano fala sobre as chances do Uruguai na Copa.

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Gol de Maradona
O gol
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O pecado de perder

Claudio Willer homenageia o amigo Roberto Piva

Por Claudio Willer

Desde sábado passado, dia 3 de julho, quando Roberto Piva faleceu (este depoimento é escrito 48 horas depois), já recebi bons poemas dedicados a ele, além de algumas belas crônicas. Mesmo antes, teria sido possível preparar uma edição de poemas nos quais ele está presente em títulos, citações, epígrafes, alusões e homenagens. Também importante, penso, é uma ensaística recente, incluindo teses e dissertações, lançando novas luzes sobre sua contribuição. Acabei de receber o convite para a defesa da dissertação de mestrado de Danilo Monteiro, na USP, Teatralidade da palavra poética em Paranoia de Roberto Piva, nesta terça-feira, dia 6 de julho. Em breve, será apresentada, também na USP, outra dissertação sobre ele, do talentoso poeta Fabrício Clemente. Ano passado, fui banca da tese de doutorado de Gláucia Pimentel, Ataques e utopias: Espaço e Corpo na obra de Roberto Piva, na UFSC; e de outra dissertação de mestrado, Roberto Piva, Panfletário do Caos de Bruno Eduardo da Rocha Brito, na UFP.
Tudo isso mostra que Piva, hoje, é um poeta não apenas lido, porém estudado e escrito; um intertexto. Assim são recuperadas as quase quatro décadas de atraso na boa recepção de seu livro de estréia, Paranóia. Como já observei ao dizer, por sugestão dos demais amigos presentes, algumas palavras na breve cerimônia de sua cremação, deixa um legado enorme. Dele fazem parte a renovação da poesia brasileira; e uma ética particular, que ele seguiu rigorosamente, pela conduta sempre coerente com sua rebelião. Permanece, igualmente, a contribuição como fonte de informações e indicações de leitura. Já escrevi a respeito no posfácio do volume 1 de sua Obra Reunida (Globo, 2005) e no capítulo final do meu recente Geração Beat (L&PM, 2005), registrando a ocasião em que ele apareceu em minha casa em 1961, com a pilha de edições beat da City Lights, de Ginsberg, Ferlinghetti, Corso, Lamantia etc, que nos pusemos imediatamente a traduzir. E pretendo voltar ao assunto: há inúmeros outros episódios como esse, de indicações de leitura, sempre em tom entusiástico e com uma precisão certeira, pois acabariam sendo decisivas  para mim e para outros de seus amigos (e para seus leitores atentos: não economizou citações e indicações de autores no aparente delírio de seus poemas).
E permanecem as amizades. Piva era seletivo, reservado, até idiossincrático em seus relacionamentos; ao mesmo tempo, foi um agregador e catalisador. Gostava de apresentar pessoas nas quais via qualidades. Do meu círculo de amizades, quantas não se formaram, direta ou indiretamente, através dele. Seu último livro de poesia, Estranhos Sinais de Saturno, é, entre outras coisas, um hino à amizade. Todas aquelas dedicatórias aos amigos, àqueles a quem apreciava, formam um mapa, desenham uma constelação afetiva.
Piva se foi. Mas, por todas essas razões, estará cada vez mais presente.

Veja no site uma nota sobre o falecimento de Piva e a transcrição de uma de suas poesias.

Todos querem falar com Eduardo Galeano

Ivan Pinheiro Machado

Eduardo Galeano é a grande referência internacional do Uruguai. É apaixonado por futebol e autor do clássico Futebol ao sol e a sombra. Sem arroubos patrióticos, Galeano é apaixonado pela sua Celeste, como é chamada carinhosamente a seleção uruguaia. E nós somos seus editores no Brasil, razão pela qual TODOS os grandes veículos de comunicação brasileiros, via amigos ou desconhecidos, pedem para que intercedamos junto ao Galeano para que ele dê declarações e entrevistas a respeito do grande confronto de amanhã contra a Holanda nas semi-finais da Copa. A todos damos a mesma desculpa: não temos esse poder. O que temos feito, diante do assédio da imprensa pedindo telefone, endereço e pistolão é… dar o e-mail. E mesmo por e-mail, todas as tentativas de contactá-lo têm caído no vazio. Pelo que sei, a única pessoa que ele atende, em meio a sua concentração cívica e futebolística ,é seu tradutor, o escritor Sergio Faraco, que está retraduzindo As Veias Abertas da América Latina. Por outro lado, soubemos de fonte segura que ele esteve incógnito, assistindo a Uruguai e Gana no telão da Plaza Independência em Montevidéu, no meio da massa. Quem sabe ele não vai lá amanhã?

Eu compreendo o Galeano. Primeiro, ele está curtindo recluso esta fábula maravilhosa que é seu pequeno país chegar entre as quatro grandes equipes do planeta; que histórias deve estar dando este frenesi! E por mais que ele seja interrompido amanhã contra a Holanda, já terá sido um grande feito da Celeste. E segundo, Galeano, na sua honrada e sincera modéstia, deve estar constrangido, porque – apesar de seu status de celebridade, afinal é publicado em mais de 30 países – jamais se considerou porta-voz do povo uruguaio.

A L&PM está publicando durante a Copa a série Futebol ao sol e à sombra. Diariamente são postados trechos do livro de Galeano. Veja os posts feitos até agora:
Gol de Maradona
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Gol de Maradona

Foi em 1973. Jogavam as equipes infantis de Argentinos Juniores e River Plate, em Buenos Aires. O número 10 do Argentinos recebeu a bola de seu goleiro, evitou o beque central do River e começou a corrida. Vários jogdores foram ao seu encontro: passou a bola por fora de um deles, entre as pernas de outro, e enganou mais um de calcanhar. Depois, sem parar, deixou paralisados os zagueiros e botou o goleiro caído no chão, e se meteu caminhando com a bola na meta rival. No campo tinham ficado sete meninos fritos e quatro que não conseguiam fechar a boca.�
Aquela equipe de garotinhos, os Cebollitas, estava invicta há cem partidas e tinha chamado a atenção dos jornalistas. Um dos jogadores, Veneno, que tinha treze ans, declarou:
– Jogamos para nos divertir. Nunca vamos jogar por dinheiro. Quando entra dinheiro, todos se matam para ser estrelas, e então chega a hora da inveja e do egoísmo.
Falou abraçado ao jogador mais querido de todos, que também era o mais alegre e o mais baixinho: Diego Armando Maradona, que tinha doze anos e acabava de fazer aquele gol incrível.
Maradona tinha o costume de pôr a língua para fora quando estava em pleno impulso. Todos os seus gols tinham sido feitos com a língua de fora. De noite dormia abraçado com a bola e de dia fazia prodígios com ela. Vivia numa casa pobre de um bairro pobre e queria ser técnico industrial.

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Paris: a cidade-personagem

Ivan Pinheiro Machado

Balzac amava Paris.

Nasceu em Tours, na belíssima Touraine, região célebre pelos magníficos castelos construídos à beira do Rio Loire – este que é o maior rio da França, com cerca de 1.000 quilômetros, e que serpenteia por quase metade do território francês. E próximo a Tours, numa extensão que ocupa quase 100 mil hectares, estão os mais belos castelos do mundo que, no ano 2000, foram tombados como patrimônio da humanidade pela Unesco. Há castelos que estão por lá desde muito antes da descoberta do Brasil. A beleza, o luxo e a imponência de cerca de trezentos “châteaux” contam a história da arquitetura francesa – da sobriedade contida na Idade Média do século X ao ardor renascentista do século XV. Tours foi capital da França entre 1461 e 1560, quando Paris passou a ser a capital definitiva. Balzac saiu de lá adolescente, logo após abandonar o internato onde esteve isolado de tudo e de todos. Apostava numa carreira literária e conseguiu convencer seu pai a sustentá-lo em Paris, onde estudaria Direito e escreveria romances. De fato, Honoré de Balzac se formaria advogado, mas – naquele momento – não convenceria como romancista, nem no suspeito círculo dos familiares. Era 1820 e ele tinha 21 anos. Precisou de 10 anos mais para construir os alicerces da sua obra e finalmente convencer como escritor. Paris foi impactante o suficiente para submeter Balzac aos seus mistérios, suas mazelas e seus encantos. Magnetizado pela paisagem da cidade luz, fez com que o desconcertante contraste de ruelas medievais, miseráveis, mal-cheirosas, com salões reluzentes, parques esplêndidos e palácios fosse uma constante em sua obra. Posso até me arriscar em dizer que, se a Comédia Humana tem um personagem principal, este personagem é a cidade de Paris.

A grande cortesã

Impregnado do bucolismo das paisagens de Tours e arredores, Balzac capitulou diante da diversidade arquitetônica, econômica, moral e espiritual de Paris. Foi um amor à primeira vista. Ele certamente diria o que disse Henrique IV, o rei da França, 250 anos antes, ao ser obrigado a renunciar ao protestantismo para agradar seus súditos de maioria católica: “Paris vaut bien une messe” (Paris vale bem uma missa).

Ele se apoderou da cidade para ambientar seus quase 3.000 personagens. Para usar uma expressão bem balzaquiana, “pintou” Paris como poucos. Tanto é verdade que uma das partes centrais da Comédia, que inclui cerca de um terço do total dos quase cem títulos é exatamente Cenas da Vida Parisiense. Portanto, a Comédia Humana é um dos mais importantes documentos literários sobre a cidade. Pela primeira vez na literatura, uma cidade é personagem de uma grande obra. Ele a descreveu maravilhosamente e a elevou a proporções quase humanas. A frase final de O Pai Goriot reflete a idéia de Balzac: o jovem Rastignac está chocado e decepcionado com a vida quando enterra seu amigo Goriot. Do alto do cemitério Père-Lachaise ele vê Paris imensa espalhada em volta do Sena e exclama: “Paris, agora é entre nós dois!”

Eugène Rastignac era o alter ego de Balzac. Ambos enfrentaram Paris. Entenderam que era necessário ser cínico, ser duro e ser forte para não serem engolidos pelo turbilhão daquela cidade fascinante. São centenas as passagens em que Balzac fala sobre Paris. Eu escolhi uma, que se não é a mais bonita, nem a mais brilhante, pelo menos fará você entender a relação “literária” dele com a cidade, a ponto de transformá-la em protagonista em muitas de suas tramas:

 “Há aqueles que conhecem tão bem sua fisionomia que percebem nela até mesmo uma verruga, um sinal de nascença, o menor rubor. Para outros, Paris é sempre uma maravilha monstruosa, um espantoso conjunto de acontecimentos, a cidade em que transcorrem cem mil romances, a verdadeira cabeça do mundo. Só que para estes Paris é uma criatura completa: cada ser humano, cada detalhe de prédio são apenas um fragmento do tecido celular dessa grande cortesã (…).”

Leia também:

Balzac e a política: um autor de direita e uma obra de esquerda
O homem que amava as mulheres
Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois
Por que ler Balzac
O monumento chamado Comédia Humana
Balzac: o homem de (maus) negócios
Sexo para todos os gostos
20 de maio: aniversário de Balzac
Ouro e prazer
Balzac e as balzaquianas
O poder das mulheres na Comédia humana

CLIQUE AQUI PARA LER A PARTE 13 DESTA SÉRIE.

O roqueiro Tony Bellotto e o estradeiro Jack Kerouac

O eterno titã Tony Bellotto, roqueiro, escritor e marido de Malu Mader, também é fã dos escritos de Jack Kerouac. Em sua coluna de hoje no blog da Companhia das Letras, fala sobre Satori em Paris e On the road – o manuscrito original, ambos publicados pela L&PM. Em um texto que desliza como um conversível numa highway, Belotto chega ao final falando de seu novo livro, que sairá em outubro pela Companhia: “Conto tudo isso para tentar entender (e explicar) como nasceu meu novo livro, No buraco. A estrada que liga Foz do Iguaçu a Umuarama me fornece algumas pistas não pavimentadas. Eis o que se revelou no meu satori: No buraco, em inglês, é On the hole”. Além dos livros citados, a L&PM publica ainda outras obras de Kerouac, veja aqui.