Arquivo mensais:julho 2010

Garrincha

Algum de seus muitos irmãos batizou-o de Garrincha, que é o nome de um passarinho inútil e feio. Quando começou a jogar futebol, os médicos o desenganaram: diagnosticaram que aquele anormal nunca chegaria a ser um esportista. Era um pobre resto de fome e de poliomelite, burro e manco, com um cérebro infantil, uma coluna vertebral em S e duas pernas tortas para o mesmo lado.

Nunca houve um ponta-direita como ele. No Mundial de 58, foi o melhor em sua posição. No Mundial de 62, o melhor jogador do campeonato. Mas ao longo de seus anos nos campos, Garrincha foi além: ele foi o homem que deu mais alegria em toda a história do futebol. Quando ele estava lá, o campo era um picadeiro de circo: a bola, um bicho amestrado; a partida, um convite à festa. Garrincha não deixava que lhe tomasse a bola, menino defendendo sua mascote, e a bola e ele faziam diabruras que matavam as pessoas de riso: ele saltava sobre ela, ele pulava sobre ela, ele se escondia, ele escapava, ela o expulsava, ela o perseguia. No caminho, os adversários trombavam entre si, enredavam nas próprias pernas, mareavam, caíam sentados. Garrincha exercia suas picardias de malandro na lateral do campo, no lado direito, longe do centro: criado nos subúrbios, jogava nos subúrbios. Jogava para um time chamado Botafogo, e esse era ele: o Botafogo que incendiava os estádios louco por cachaça e por tudo que ardesse, o que fugia das concentraçõs, pulando pela janela, porque dos terrenos baldios longínquos o chamava alguma bola que pedia para ser jogada, alguma música que exigia ser dançada, alguma mulher que queria ser beijada.

Um vencedor? Um perdedor com boa sorte. E a boa sorte não dura. Bem dizem no Brasil que se merda tivesse valor, os pobres nasceriam sem cu.

Garincha morreu sua morte: pobre, bêbado e sozinho.

Até o final da Copa, o blog da L&PM publica diariamente um trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. Leia os anteriores:
O gol
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder

Mecha de cabelo de Napoleão é vendida por US$ 13 mil

Um leilão na Nova Zelândia vendeu cerca de 40 itens da memorabília de Napoleão Bonaparte. Os objetos estavam em posse de descendentes de um oficial britânico que conviveu com Bonaparte durante os últimos anos de sua vida, quando esteve exilado na ilha de Santa Helena.

Um dos itens leiloados foi uma mecha de cabelo do imperador francês, cortada logo depois que ele morreu, em 1821. O comprador, que desembolsou US$ 13 mil, foi um londrino não-identificado pela empresa responsável pelo leilão. O total arrecadado com a venda de todos os itens foi de quase US$ 100 mil.

O gol

O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol está cada vez menos frequente na vida moderna. Há meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0, duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem tempo para fazer nenhum. O entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre goooooooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para o espaço.

Até o final da Copa, o blog da L&PM publica diariamente um trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. Leia os anteriores:
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder 

Diretor de 2012 vai levar às telas teoria de que Shakespeare não teria escrito suas peças

Já não é de hoje que, vez por outra, alguém surge com a teoria (que a maioria considera absurda) de que William Shakespeare não teria escrito suas peças. Tem até quem diga que ele nem existiu. Pois a controversa história será levada às telas por Roland Emmerich, diretor de 2012, Stargate, Godzilla, Independence Day e outros filmes catástrofes. Com esse currículo nas costas, parece um pouco difícil acreditar que Anonymous, nome do filme, faça jus à obra de Shakespeare. Mas provavelmente nem seja esse o objetivo de Emmerich. O roteiro, cercado de suspense, é centrado na ideia de que o verdadeiro autor de Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth, Otelo e todos os clássicos shakespearianos teria sido o 17º Conde de Oxford, Edward de Vere, sucessor da Rainha Elizabeth I. Filmado em Berlim, Anonymus tem estreia prevista para 2011 e traz Vanessa Redgrave como Rainha Elizabeth. Abaixo, uma das fotos já divulgadas.

Roland Emmerich durante gravações de Anonymous / Divulgação