Arquivo mensais:janeiro 2011

O mito Rimbaud: a dor que fascina

Por Ivan Pinheiro Machado

Nos próximos meses, publicaremos uma biografia de Arthur Rimbaud, por Jean-Baptiste Baronian, na Série Biografias da Coleção L&PM POCKET. Esta série foi produzida originalmente pela editora francesa Gallimard e sua principal característica é a clareza e a qualidade do texto. Todos os “biografados” são retratados de forma a aproximar e cativar o leitor. Alguns destes livros, como os dedicados a Van Gogh, Cézanne, Gandhi e Átila receberam importantes prêmios literários na França.

Verlaine e Rimbaud em detalhe do famoso quadro "Un coin de table" (1872) de Henri Fantin-Latour

Agora chegou a vez de Rimbaud. Com maestria, Jean-Baptiste Baronian traça, em menos de 200 páginas, um perfil realista de Jean-Nicolas Arthur Rimbaud. Ele consegue transportar o leitor ao universo denso e trágico do poeta, mostrando as bases e as causas da existência do “mito Rimbaud”. Porque o grande poeta francês deixou no seu rastro uma longa trilha de mistérios, contradições e indagações que construíram toda uma mitologia que só se amplia com o passar do tempo. Arthur Rimbaud teve uma vida tumultuada e uma obra incomparável. O enigmático divórcio da literatura com pouco mais de 20 anos; um caso de amor com Paul Verlaine, também um grande poeta; onze anos errando pela África Oriental, traficando de tudo, inclusive armas, numa época em que menos de cem europeus aventuravam-se pela Abissínia (hoje Etiópia), quase uma terra de ninguém. O poeta que escreveu toda a sua obra entre os 15 e os 20 anos e é considerado um dos maiores poetas franceses em todos os tempos. Estes são apenas alguns ingredientes irresistíveis para a construção de um mito. E a prova disso são os milhares de livros escritos “sobre” Rimbaud, sua vida e, principalmente, seu périplo africano. O jovem bonito de grandes olhos azuis com apenas 14 anos já havia vencido o concurso de poemas em latim da sua escola. Com 19 anos escreveu “Uma temporada no Inferno”, pouco depois, com 20 anos escreveu “Iluminações”. Além destes dois grandes poemas a obra de Rimbaud é composta de uma centena de poemas entre os quais o célebre “Bateau Îvre” escrito aos 17 anos.

O errante Rimbaud na Abissínia

Adolescente, leu todos os autores fundamentais e, de repente, inconformado com a vida na província e a mãe autoritária, iniciou um rosário de fugas. De Charleville, departamento de Roche, ele ganhou o mundo, deixando no seu rastro histórias de escândalos em Paris, Bruxelas e Londres. Rodou pelo Oriente Médio, na marinha mercante, trabalhou em Chipre, Genova, voltou à França e finalmente sumiu na África. Aden, Harar, Choa, os desertos da Abissína. Onze anos vivendo numa vida terrível, sob 50 graus à sombra, cujo testemunho são as cartas para a família e depoimentos ocasionais de mercadores e europeus que o encontraram ou que trabalharam com ele. Tráfico de armas, suspeitas de tráfico de escravos, Arthur Rimbaud vendia tudo o que era possível vender. Falava mais de 10 línguas, inclusive o árabe. Nunca mais falou em poesia. Nunca mais se referiu a literatura em nenhum relato conhecido a partir dos seus 21 anos. Com 33 anos começou a ter problemas na perna direita. Depois de muito sofrimento foi diagnosticado um câncer. Voltou para a França para morrer depois de imensos sofrimentos. Inclusive a amputação da perna direita.

A história de Arthur Rimbaud intriga e apaixona. Dele, restou o mistério impenetrável. Como um homem abandona um dom no qual era perfeito? Ninguém sabe, nem saberá. Um dos milhares de autores que escreveram com maior ou menor brilhantismo sobre o poeta, Charle Nicholl, finaliza seu brilhante “Rimbaud na África” com um parágrafo que pode definir o grande enigma. Ele refere-se a um registro encontrado em um hotel em Aden:

“A profissão que consta é a de ‘negociante’, e quanto ao endereço, o funcionário escreveu apenas ‘de passage’. Este é o seu verdadeiro epitáfio. Ele é o homem ‘de passagem’, o nômade ou beduíno, o caminhante das grandes estradas. Está – tomando-se a expressão em sua intensidade máxima – apenas de passagem. E mesmo agora, um século depois, em pé diante de seu túmulo em Charleville, não sinto nem um pouco como se estivesse diante de seu último repouso, mas sim batendo à porta de mais uma hospedaria deserta, indagando inutilmente por Monsieur Rimbaud, que já foi ‘traficar no desconhecido’, e não deixou endereço para a posteridade.”

O túmulo de Rimbaud em Charleville, cidade natal do poeta

 

Onde está meu rock’n’roll?

O jornal britânico The Guardian publicou esta semana uma matéria intitulada RIP rock’n’roll, anunciando a morte do gênero musical mais ousado e jovem do mundo. O motivo do óbito, segundo o jornal, é que na lista das 100 músicas mais vendidas no Reino Unido em 2010, há apenas 3 rocks. A notícia deixou em polvorosa os admiradores do gênero e inspirou posts emocionados em blogs e fóruns sobre o assunto.

O site da Blitz, revista portuguesa especializada em música, promoveu uma discussão sobre o tema, que teve intensa participação dos leitores. A maioria, é claro, saiu em defesa do rock’n’roll, questionando os critérios e até a validade do ranking das músicas mais vendidas no Reino Unido. Mas houve também quem concordou com o jornal e defendeu corajosamente que o bom e velho rock’n’roll está mesmo perdendo espaço para outros ritmos como indie ou britpop.

E você, de que lado fica?

Para tirar suas próprias conclusões sobre esta polêmica, leia Mate-me por favor (dois volumes), que narra o nascimento do punk rock, desde a Factory de Andy Warhol até o Max’s Kansas City nos anos 60 e 70, chegando ao Reino Unido nos anos 80.

O livro entra nos camarins e nos apartamentos de astros como Iggy Pop, Patti Smith, Dee Dee e Joey Ramone para reviver os dias de glória do Velvet Underground, Ramones, New York Dolls, Television e Patti Smith Group entre outros.

A verdadeira história do menino que nunca cresce

“Todas as crianças crescem, exceto uma.” Assim Sir James Matthew Barrie começa uma das histórias infanto-juvenis mais belas e conhecidas do mundo ocidental. A ideia de um menino que nunca crescia, que vivia na Terra do Nunca e era perseguido por piratas liderados por “Gancho” foi inspirada nos irmãos Peter, George e Jack Llewelyn Davies, seus vizinhos. Em 27 de dezembro de 1904, a peça Peter Pan estreou em Londres e foi imediatamente um sucesso. Em 1906, Barrie publicou Peter Pan em Kensington Gardens (este texto é, originalmente, o trecho de um romance que ele começara a escrever em 1902 com o nome de The Little White Bird) e, em 1911, transformou sua peça em um romance chamado Peter e Wendy. Em 2004, o filme “Em busca da Terra do Nunca” contou a história de Barrie e sua relação com a família Llewelyn Davies, tendo Johnny Depp no papel principal. Mas tão emocionante quanto assistir ao filme (se você ainda não assistiu, corra para a locadora e prepare-se para chorar com ele) é ver as imagens que o site http://www.jmbarrie.co.uk/ disponibiliza. São 1026 fotos que mostram os garotos Llewelyn nas brincadeiras que inspiraram Barrie. E é de lá, também, que veio este vídeo, na verdade um slide show, montado sobre algumas dessas cenas. Lindo!

A Coleção L&PM POCKET acaba de publicar PETER PAN – Peter e Wendy seguido de Peter Pan em Kensington Gardens com nova tradução.

Jack Kerouac escreveu a Marlon Brando propondo que filmassem “On the road”

Na segunda-feira, 10 de janeiro, o site inglês Collectors Weekly, especializado em Memorabília, publicou um texto assinado por Helen Hall, onde ela conta que, em 2005, mudou-se para Nova York para chefiar o departamento de Memorabilia na Christie´s. Um de seus primeiros trabalhos foi ir até a casa de Marlon Brando, em Mulholland Drive, para selecionar objetos para um leilão. Depois de muitas descobertas, faltava apenas verificar o escritório de Brando. Quando Helen achava que não podia encontrar mais nada, puxou uma velha carta de dentro de uma gaveta, datilografada e assinada em tinta azul: “Jack Kerouac”. “Eu quase desmaiei, enquanto lia a carta” conta ela. “A carta terminou trazendo 33.600 dólares no leilão, mas a minha lembrança de encontrá-la naquele dia quente da Califórnia não tem preço.” Abaixo, você pode ver a carta original que foi leiloada em 2005 (clique nela para aumentar a imagem) e também ler uma tradução (sem compromisso) que fizemos dela. Após a notícia de que Walter Salles terminou sua versão de ON THE ROAD, é emocionante descobrir como o próprio Kerouac havia imaginado seu filme.

Querido Marlon,

eu estou rezando para que você compre ON THE ROAD e faça um filme dele. Não se preocupe com a estrutura, eu sei como condensar e rearranjar um pouco a trama para torná-la mais aceitável para o cinema: transformando todas as viagens em uma só, todas as viagens que no livro são muitas numa única jornada de ida e volta de Nova York para Denver, para Frisco, para o México, para Nova Orleans e de volta a Nova York. Eu já visualizei belas tomadas que poderiam ser feitas com uma câmera no banco da frente do carro, mostrando a estrada (de dia e de noite)… enquanto ela vai se desenrolando pelo para-brisa e Sal e Dean vão tagarelando. Eu quero que você interprete Dean (como você sabe). Eu quero que você faça o Dean porque ele não é um babaca da estrada, mas uma pessoa realmente inteligente (na verdade um jesuíta), um irlandês. Você será Dean e eu serei Sal (a Warner Bros. já mencionou que eu seria Sal) e eu vou lhe mostrar como Dean era na vida real, você não tem ideia de como ele era sem uma boa imitação. Na verdade, a gente poderia ir visitá-lo em Frisco ou poderia ir até L.A. Ele é uma espécie de gato frenético, mas atualmente foi domesticado pela sua última mulher e reza o Pai Nosso todas as noites para seus filhos… como você pode ler em BEAT GENERATION.

Tudo o que eu quero é garantir um futuro para mim e para minha mãe para o resto da vida. Eu realmente quero viajar pelo mundo, escrever sobre o Japão, Índia, França, etc… Eu quero ser livre para alimentar meus companheiros quando estiverem com fome e não ter mais que me preocupar com minha mãe.

Incidentalmente, meu próximo romance é OS SUBTERRÂNEOS que sairá em NY em março próximo e é sobre um caso de amor entre um cara branco e uma garota negra e é uma história muito hip. Alguns dos personagens você poderia ter conhecido no Village. E este livro também poderia virar uma peça (ou um filme), mais fácil do que ON THE ROAD.

O que eu queria fazer era escrever para o teatro e o cinema na América, e dar a essa obra um tom espontâneo e remover as pré-concepções das “situações” para que as pessoas se pareçam como na vida real. É assim que a atuação deve ser: sem um sentido em particular, nenhuma “intenção” em particular, somente como as pessoas são na vida real. Tudo o que eu escrevo, escrevo nesse espírito. E me imagino como um anjo voltando para a Terra. Eu sei que você aprova essa ideia, e incidentalmente o novo show de Frank Sinatra também tem essa base “espontânea” que eu acho que é o único jeito de lidar com o show business ou com a vida. Os filmes franceses dos anos 30 são muito superiores aos nossos porque os franceses realmente deixam seus atores e escritores atuarem sem concepções pré-concebidas com relação às inteligências e eles conversam entre suas almas e todo mundo se entende de imediato. Eu queria fazer grandes filmes franceses na América, finalmente, quando eu for rico… O teatro e o cinema americanos do momento são um dinossauro fora de moda que não se modificou para se adaptar ao melhor da literatura americana.

Se você realmente quer ir adiante com isso, faça arranjos para me ver em Nova York da próxima vez que vier à Flórida e eu estiver aqui, mas o que nós faríamos era conversar sobre isso porque eu acho que isso pode marcar o início de algo realmente grande. E ando entediado ultimamente e estou procurando algo para fazer no vazio, pois, de qualquer maneira – escrever novelas está ficando fácil demais, mesmo com as peças, eu escrevi a peça em 24 horas.

Vamos lá, Marlon, arregace as mangas e escreva!

Sinceramente, até mais tarde,

Jack

Vá de ônibus até o MoMA em Nova York

Ok, uma viagem de ônibus do Brasil até o Museu de Arte Moderna de Nova York pode ser um pouco cansativa. Mas se você não vai até o museu, ele vem até você: o MoMA colocou uma exposição inteira dentro de um aplicativo para iPad e/ou iPhone, que está disponível para download gratuito na Apple Store.

Durante uma viagem de ônibus, trem ou metrô, naquele tempo ocioso do transporte entre a sua casa, o trabalho ou a escola, é possível visitar a exposição Abstract Expressionist New York que está em cartaz no MoMA até abril. São esculturas e pinturas de artistas como Jackson Pollock e Barnett Newman ao alcance do seu touchscreen. Além das imagens, o aplicativo oferece informações completas sobre as obras e vídeos com depoimentos dos curadores. É possível ainda compartilhar as suas obras preferidas com a sua rede de amigos por meio do Twitter.

“Carregue o MoMA com você”

Além do aplicativo da exposição Abstract Expressionist New York, o MoMA possui um app de serviços e conteúdos para iPad, iPhone e Android, que disponibiliza gratuitamente o calendário das exposições, informações sobre obras e artistas e conteúdos em áudio e vídeo. Veja a apresentação do aplicativo:

Da mesma forma que as exposições de arte estão sendo adaptadas das galerias – meios tradicionais de exibição e consumo das artes visuais – para gadgets como iPad e iPhone, a literatura também vai pelo mesmo caminho. Os livros da Coleção L&PM Pocket estarão disponíveis em breve para leitura no iPad e outros leitores de livros digitais. Saiba mais aqui.

10. Bukowski levanta o tapete e mostra a sujeira

Por Ivan Pinheiro Machado*

Charles Bukowski é publicado pela L&PM há quase três décadas. É por isso que o velho safado é super-identificado com a editora que publicou até agora quinze livros seus, incluindo “Delírios Cotidianos”, a bela adaptação de seus contos para HQ feita pelo desenhista alemão Mathias Schultheiss. Nesse ano de 2011, vamos publicar finalmente os seus primeiros romances, “Cartas na rua” e o incensado “Mulheres”. Aí teremos em nosso catálogo todos os seus romances, os principais livros de contos, alguns de suas melhores obras de poemas e o antológico “diário” publicado postumamente: “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Bukowski conquistou a admiração dos jovens de várias gerações; daqueles que são jovens há muito tempo e daqueles que são jovens recentemente. Esta permanência no coração dos leitores se deve a uma obra descarnada, sobre a qual paira a irresistível aura de transgressão. Há malucos que se tornam santos com o passar do tempo como Van Gogh, Rimbaud, Baudelaire, Artaud, Thoureau, Kerouac, Bukowski, entre dezenas de outros. E esta maravilhosa capacidade da juventude de cultuar aqueles que descarrilham dos trilhos do sistema transforma artistas marginalizados em clássicos. Desde que morreu, em 1994, a obra de Heinrich Karl Bukowski, dito Charles Bukowski, tem corrido o mundo. O bêbado inconveniente capaz de performances desastrosas, completamente embriagado em frente às câmeras da TV, passou a ser respeitado.

O lado sombrio do sonho americano

Nasceu na Alemanha e criou-se nos EUA, filho de um militar de origem alemã que lhe aplicava surras terríveis. Sua prosa e seus poemas “cortam como aço de navalha” e sua obra sistematicamente é o contraponto brutal ao “american way of life”. Foi 1982 que ouvimos falar de Charles Bukowski aqui na L&PM. Curiosamente, ele começava a fazer sucesso na Itália e a agente literária Ana Maria Santeiro, que representava a agência Carmen Balcells no Brasil, me passou um exemplar do livro “Erections, ejaculations, exhibitions and general tales of ordinary madness”. Fiquei perplexo com o título e fascinado com a violência dos contos. Na mesma época, o cineasta italiano Marco Ferreri fez um filme baseado no livro que chamava-se “Crônica de um amor louco”(em italiano “Storie di Ordinaria Folia”), com Ben Gazzara e a maravilhosa Ornella Muti que fazia o papel da “mulher mais linda da cidade”, um dos contos do livro. Rapidamente, a fama do filme espalhou-se e ele virou um verdadeiro “cult” da contra-cultura. Nós compramos os direitos do livro para o Brasil e o publicamos em dois volumes; o primeiro com o título do filme “Crônica de um amor louco” e no segundo adaptamos o título original para “Fabulário geral do delírio cotidiano”. Até hoje publicamos estes livros, agora na Coleção Pocket.

Em 1986, eu estava na Feira Internacional de Frankfurt com o dublê de jornalista e historiador Eduardo Bueno (que na época trabalhava na L&PM) quando conhecemos John Martin, o dono da legendária Black Sparrow, que publicou todos livros do velho Buk, com exceção de “Erections, ejaculations…” que saiu pela editora e livraria City Lights de San Francisco, pertencente até hoje ao poeta beat Lawrence Ferlinghetti. Martin era um grande editor. Foi ele que percebeu o talento de Bukowski e estimulou-o a largar o emprego nos correios e dedicar-se a literatura. Hoje, quase todos os seus livros estão na Coleção L&PM POCKET e o baixo preço é um apelo a mais para que os jovens o leiam. Bukowski não perdoa, não alivia. É sempre violento, irreverente, não tem nenhuma ilusão. É bom que os jovens o leiam. Ele é uma alternativa ao mundo idealizado que virou moda depois da vitória final da civilização do dinheiro e da globalização. Bukowski escancara o lado sombrio da nossa sociedade. Ele levanta o tapete e mostra a sujeira. É a voz dos desvalidos, dos perdedores, dos desempregados, dos doentes, dos falidos, dos feios, das putas, dos bêbados. Não tem nenhum charme, mas a violência que jorra das suas páginas é tão verdadeira que não tem como ficar indiferente.

Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.

Islã, um mundo muito distante do nosso

A notícia corre por todos os cantos do planeta: Paulo Coelho foi informado de que seus livros estão proibidos de serem publicados e vendidos no Irã, em uma censura imposta pelo Ministério da Cultura e das Diretrizes Islâmicas. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o escritor disse suspeitar que a origem da proibição esteja no fato de, em 2009, ele ter ajudado seu editor iraniano, Arash Hejazi, a deixar o Irã depois das eleições. “Minha obra é publicada no Irã desde 1998, já vendeu milhares de exemplares e, em 2000, eu estive naquele país, sendo esperado por aproximadamente 5 mil pessoas no aeroporto”, disse ele. “O mais surreal é que até as edições piratas estão vetadas. Não sei como vão controlar isso”, completou.

Ontem, também foi divulgada a notícia de que regras mais rígidas foram impostas nas vestimentas das universidades iranianas. As jovens alunas estão proibidas de usar unhas compridas, roupas com brilho e lenços coloridos, além de piercing e tatuagens. Os rapazes também não podem tingir o cabelo, aparar as sobrancelhas, usar jóias ou camisas com “mangas muito curtas”. Tais regras, como sabemos, são só um grão de areia no meio do deserto de radicalismo que envolve o Irã e os outros países árabes-muçulmanos seguidores do islamismo. Mas, afinal, nos perguntamos todos: o que é o Islã? É uma religião? Uma lei? Uma moral? Um estilo de vida? Ou uma cultura?

Na verdade, como explica Paul Balta no livro Islã, da Série Encyclopaedia, ele é tudo isso. Balta, que é especialista no assunto, nos ajuda a entender um pouco melhor como se formou e como funciona esse povo seguidor do Alcorão e que, segundo ele, não é “um todo monolítico, imutável através dos tempos e estático no espaço.” Melhor ler para (tentar) compreender…

Walter Salles termina de filmar “On the road”

No caderno Ilustrada da edição de hoje (10 de janeiro) da Folha de S. Paulo, o diretor Walter Salles fala sobre o término das gravações do filme On the road, inspirado na obra homônima de Jack Kerouac. Em maio de 2010, cerca de 6 anos após o convite para filmar o clássico da geração beat, Salles falou à L&PM sobre as incertezas que ainda rondavam o projeto:

A exemplo de “Diários de Motocicleta”, o projeto de On the Road já teve tantas encarnações que uma resposta definitiva só poderá ser dada quando a claquete do último plano da filmagem for batida. O que pode tornar o filme possível é a paixão de uma produtora independente francesa, a MK2, pelo projeto, e a fidelidade dos atores que convidei para fazer parte do processo em 2008. Mas novamente, certeza mesmo, só quando as filmagens forem terminadas e o filme for projetado na tela do cinema. (clique para ler a entrevista completa)

O caminho até a tão sonhada finalização do projeto já está mais perto do fim. Na última quinta, o filme começou a ser montado. Na entrevista concedida à Folha, Salles ressalta que, devido ao orçamento apertado, não foi possível montar em paralelo à filmagem. “Não víamos o que filmávamos”, relembra. A data do lançamento ainda não está definida, mas a previsão é de que On the road, o filme, fique pronto até o final deste ano ou no início de 2012.

Ainda em maio, quando o jornalista Marcos Strecker lançou a biografia de Walter Salles, o cineasta se mostrava cético sobre o futuro das filmagens recém começadas do clássico de Jack Kerouac (veja o vídeo abaixo). Para o biógrafo, On the road é o “road movie por definição” e vai ser o filme mais ousado da carreira de Walter Salles. Afinal, não é por coincidência que sua biografia se chama “Na estrada”:

Historiadora italiana revela uma nova cidade e até um novo nome para a Mona Lisa

Há uma nova cidade e um novo nome envolvendo a mais famosa obra de arte do mundo. Segundo pesquisas recém reveladas da historiadora italiana Carla Glori, a paisagem atrás da Mona Lisa não foi fruto da imaginação prodigiosa de Leonardo Da Vinci, mas sim inspirada em uma pequena e medieval cidade do norte da Itália. A ponte, o caminho e as montanhas vislumbradas por cima dos ombros da Gioconda seriam da cidadezinha de Bobbio, cuja abadia, inclusive, já serviu de inspiração para Umberto Eco em “O Nome da Rosa”. “A estrada sinuosa da pintura pode ser encontrada lá, bem como a ponte em arco que Da Vinci teria visto das janelas do castelo da cidade” disse Carla ao jornal inglês The Guardian. Para completar, a historiadora defende que a Mona Lisa é, na verdade, Giovanna Bianca Sforza, filha de Ludovico Sforza, duque de Milão do século XV. “Ludovico controlava Bobbio e Da Vinci provavelmente visitou a famosa biblioteca da cidade na época” diz a historiadora que ainda reforça sua tese defendendo que, dentro dos olhos da Mona Lisa, é possível ver as iniciais S e G. Não bastasse isso, Carla ainda cruzou suas teorias com as descobertas realizadas no ano passado por um outro grupo de pesquisadores. Eles perceberam  que, sob o arco da ponte, Leonardo Da Vinci pintou o número 72 em algarismos minúsculos. Carla Glori afirmou que isso seria uma referência ao ano de 1472 quando a ponte de Bobbio quase foi destruída por uma cheia do Rio Trebbia.

Mas claro que nem todos concordam com essas novas descobertas. O chefe desse grupo de pesquisadores, Silvano Vinceti, afirmou que o número teria sido apenas uma referência velada às teorias místicas de Da Vinci: “Não há nenhum código de Dan Brown aqui, apenas as mensagens que revelam o seu pensamento”, disse ele. “Ambos os números sete e dois são muito importantes no cabalismo”, completou. Quanto ao fato de que a Mona Lisa seria na verdade Giovanna Bianca Sforza, Vinceti acha pouco provável, já que ela morreu aos 15 anos e o quadro mostra uma mulher na casa dos 20. Carla Glori, no entanto, acredita que o mestre pode ter envelhecido o rosto de Sforza em uma tentativa de esconder a sua identidade após a queda de seu pai. Já Martin Kemp, um renomado estudioso de Da Vinci, afirmou não estar convencido das descobertas da historiadora: “É quase certo que o retrato é de Lisa Del Giocondo, porém essa ideia ainda soa pouco romântica e pouco misteriosa” disse Kemp, que também tem dúvida sobre Bobbio: “Leonardo refez uma paisagem arquetípica com base em seu conhecimento do ´corpo da terra´”. Entre polêmicas e olhares desconfiados, em 2011, Carla Glori pretente publicar suas descobertas sobre a pintura renascentista.

É ou não é? A cidade de Bobbio hoje, descrita por Ernest Hemingway como uma das mais bonitas do mundo

Para descobrir mais mistérios e encantos da Mona Lisa, sugerimos que você comece lendo o excelente Roubaram a Mona Lisa! e depois complete seus conhecimentos com Leonardo Da Vinci da Série Biografias.

Você é um turista ou um viajante?

Por Angélica Seguí*

Nestes dias de “folga” descobri a obra Teoria da Viagem, de Michel Onfray. Uma maravilhosa leitura para este começo de ano, para este tempo de férias. Onfray, a geografia poética, uma forma diferente de ver o mundo, de ver a viagem. O escritor descreve as características de um nômade, de um desbravador de culturas, de um viajante:

Viajar supõe, portanto, recusar o emprego do tempo laborioso da civilização em proveito do lazer inventivo e alegre. A arte da viagem induz uma ética lúdica, uma declaração de guerra ao espaço quadriculado e à cronometragem da existência. A cidade obriga ao sedentarismo através de uma abscissa espacial e de uma ordenada temporal: estar sempre num  determinado lugar num momento preciso. Assim o indivíduo é controlado e facilmente identificado por uma autoridade. Já o nômade recusa essa lógica que permite transformar o tempo em dinheiro, e a energia singular, único bem de que dispõe, em moeda sonante e legal.

Você é um turista ou um viajante? Quando viaja faz o que os guias lhe indicam ou sai desbravando as cidades, pessoas, culturas? Depois de ler TODO o livro em uma tarde de ondas bravas e sol queimante, descobri que sou nômade, viajante. Não sou turista, mas nem por isso ignoro uma boa dica de viagem. Para os viajantes que vão desbravar o Brasil, tenho três sugestões.

São Paulo – Até 20 de fevereiro, você pode visitar a exposição “Entre Tantos”, que reúne a obra do artista Geraldo de Barros. A mostra pretende ampliar a noção de arte para além da pintura e escultura.  Geraldo de Barros, pintor e fotógrafo brasileiro, criava imagens a partir da desconstrução. O efêmero, o fragmento, o tempo, o descontínuo, a ação estão presentes em suas obras. A partir da reordenação de elementos, criava uma nova composição. Em seus trabalhos estão sempre presentes as questões sociais e urbanas, além da inquietude diante da relação entre a arte e a sociedade. Foi fundador e membro de grandes e importantes movimentos e associações artísticas como o Grupo 15, a Galeria Rex, o grupo Ruptura, o grupo FormInform. Geraldo faleceu em 1998. Imperdível.

Belo Horizonte – Entre os dias 15 de janeiro e 20 de fevereiro de 2011, Belo Horizonte terá uma programação que ocupará 24 espaços culturais com apresentações de mais de 42 grupos ou artistas. É o VAC 2011 (Verão Arte Contemporânea) , festival de arte que chega a 5ª edição. Diversidade de linguagens é o que você vai encontrar na capital mineira nesses dias. Teatro, dança, música, artes visuais, cinema, literatura, moda, gastronomia e ecologia. Tudo isso a preços populares ou de grátis.  De 15 de janeiro a 20 de fevereiro de 2011. Informações: www.veraoarte.com.br

Vai para outra cidade? Não tem paciência para exposições ou shows? Aproveite praças e parques para tirar o mofo que restou de 2010. Leia, caminhe, conheça. Crie sua geografia poética, seja um viajante. É possível viajar mesmo sem sair do lugar onde se mora. Basta querer. Feliz ano novo!

* Angélica Seguí é jornalista, blogueira, curiosa e viajante.