Arquivo mensais:outubro 2011

Depois de ser Michael Jackson, Machado de Assis vira Morgan Freeman

Por Paula Taitelbaum*

A Caixa Econômica Federal refilmou o comercial em que Machado de Assis aparecia tão branco quanto o Michael Jackson. Mas parece que agora, talvez para evitar novos protestos, o pessoal não teve dúvida: escolheu um ator negro. Não mulato, como  Machado era de fato – filho de mãe açoriana com pai também mulato -,  mas preto mesmo, da cor do Morgan Freeman. Aliás, se o novo Machado da Caixa tivesse talento, a gente até poderia dizer que ele era uma versão brasileira do oscarizado ator norteamericano. Mas o coitado parece ter sido dublado pelo ex-presidente Lula: tem a língua presa! Alguém sabe me dizer se Machado de Assis tinha a língua presa? Sei que ele era epilético, mas nunca ouvi nada a respeito de problemas de fala.

A iniciativa da Caixa Econômica Federal de, nos seus 150 anos, fazer uma campanha publicitária embasada na  história, com certeza é elogiável. Resgatar episódios e personagens do Brasil é um gesto nobre. O problema é que, em suas produções de apelo histórico, a Caixa (na verdade, a agência de propaganda que criou os roteiros), não parece ter se preocupado muito com os detalhes. Fora o caso da cor do nosso maior escritor (branco demais, preto em exagero…), há outros deslizes que, para um espectador desavisado, acabam passando despercebidos. Mas que, na verdade, fazem toda a diferença.

Por exemplo: a data que aparece no início do comercial é “Setembro de 1908”. Basta consultar qualquer biografia básica de Machado de Assis (até a Wikipedia!) para descobrir que ele morreu em 29 de setembro daquele ano e que, no mês anterior,  já estava convalecendo em casa. Em setembro de 1908, o escritor jamais iria à Caixa fazer depósito em sua caderneta de poupança. Aliás, para que ele guardaria dinheiro se já suspeitava que iria morrer (tanto era assim que escreveu cartas de despedida aos amigos)?

Mais uma coisa: a cena que mostra ele escrevendo seu testamento também é uma falácia. A caderneta de poupança de Machado estaria na primeira versão de seu testamento, escrito em junho de 1898. E mesmo que essa cena se referisse ao seu último testamento, datado de 1906, a impressão que temos é de o episódio mostrado se passa também em 1908.

Mesmo com licenças poéticas, estes são detalhes que não deveriam e não poderiam ter passado despercebidos por uma instituição do porte e da importância da Caixa Econômica Federal. Até porque, no lugar de servir de exemplo para os alunos de nossas escolas, o banco vai acabar sendo motivo de piada dentro da sala de aula. Isso se o pessoal perceber os erros, é claro.

Leia também o meu post anterior: “O dia em que Machado de Assis virou Michael Jackson“.

* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.

Alexandre, o Grande no Museu do Louvre

A história é viva e nem mesmo o nosso passado – tal qual o conhecemos, pelo menos – pára de se modificar. Uma prova disso é a exposição No reino de Alexandre, o Grande – Macedônia Antiga que foi inaugurada esta semana no Museu do Louvre, na França. São 500 objetos encontrados ao longo das últimas três décadas (em sua maior parte inéditos para o grande público) que ajudam a recontar a história da Macedônia do século 15 até o império romano.

As novas descobertas ajudam também a entender melhor, e de forma mais precisa, as origens de um dos maiores líderes que o mundo já conheceu – pois antes de ser “o Grande”, Alexandre era macedônio. Mas não só isso. Tudo o que conhecemos hoje sobre a produção artística, a educação, o cotidiano e a religião de homens e mulheres que viveram naquela região está sendo revisitado.

A máscara de ouro que sorri

Entre os objetos encontrados, esculturas, vasos e cerâmicas atestam a extraordinária e refinada produção artística da época. Máscaras  e capacetes de bronze sublinham a presença e a importância da guerra no cotidiano e no imaginário daquele povo. Mas ao mesmo tempo, alguns achados supreendem, como uma máscara de guerra inteiramente esculpida em ouro que retrata os contornos e relevos de um rosto que sorri. É aí que entra em cena o desafio de interpretar estes sinais aparentemente paradoxais deixados para a posteridade.

Entre centenas de outros objetos, foram encontrados também duas estátuas. Uma delas está segurando uma lança e acredita-se que seja uma representação do deus Pan caçando leões. A outra retrata um jovem rapaz de traços delicados, mas com o olhar seguro, mirando ao longe. Aí ficou fácil: segundo os pesquisadores, seria a imagem do próprio Alexandre, o Grande.

A exposição No reino de Alexandre, o Grande – Macedônia Antiga vai até o dia 16 de janeiro de 2012 no Museu do Louvre. Mas se você não tem planos de ir a Paris nos próximos meses e quer conhecer um pouco mais sobre a história de um dos maiores líderes que o mundo já conheceu, vale ler o volume sobre Alexandre, o Grande da Série Encyclopaedia.

Frankfurt começa em clima frio

A gelada Islândia (Iceland!) é o país homenageado deste ano na Feira Internacional do Livro de Frankfurt (Frankfurter Buchmesse 2011 em alemão ou Frankfurt Book Fair em inglês), que começou ontem, 12 de outubro, e vai até domingo, 16 de outubro. Ironicamente, as coisas parecem andar meio frias pelos corredores dos pavilhões alemães. Segundo informações quentinhas que acabam de chegar, vindas de nossos editores que se encontram por lá – Ivan Pinheiro Machado, Caroline Chang e Janine Mogendorff – a crise européia parece ter respingado sobre as páginas e pelos corredores da Feira. Este ano, há menos gente circulando e, provavelmente menos negócios a serem fechados. Dezenas de agentes e editores europeus andam desanimados e um deles inclusive anda dizendo pelos quatro cantos dos estandes que, se não fossem os turcos e os brasileiros, o encontro literário deste ano estaria fadado ao fracasso. Ou seja: a Feira de Frankfurt 2011 reflete a Europa deprimida.

Mas obviamente, nem tudo é depressão e há excelentes livros a serem negociados e trazidos por nossos editores. Ontem, entre um encontro e outro, um senhor de cabeça raspada e boné estava conversando com Caroline e Janine quando Ivan se aproximou. O homem, bastante simpático, elogiou as edições de Simenon da Coleção L&PM POCKET e entregou o seu cartão de visitas. Só depois, Ivan (que precisou colocar os óculos para ler o nome do sujeito) percebeu que o cartão trazia o nome de John Simenon. Ninguém menos do que o filho do criador do comissário Maigret.

É por essas e por outras que, com crise ou sem crise, a Feira do Livro de Frankfurt segue sendo um programa imperdível para as editoras do mundo.

Este ano, os corredores mais vazios da Feira de Frankfurt refletem a Europa economicamente deprimida

O aniversário da primeira leitura de “Uivo”

No início de outubro de 1955, um convite simples, datilografado à máquina, chamava para um encontro que aconteceria no dia 13 daquele mês, na Six Gallery, galeria de arte que antes havia abrigado uma oficina mecânica. O convite trazia uma promessa bastante tentadora: “Seis poemas na Six Gallery. Notável coleção de anjos, todos reunidos ao mesmo tempo, no mesmo lugar. Vinho, música, garotas dançando, poesia séria, satori grátis. Pequena coleta para vinho e folhetos. Evento charmoso. Kenneth Rexroth, M.C. (mestre de cerimônias).

Quando o dia chegou, lá estavam a nata da cultura alternativa novayorquina reunida para uma noite memorável. Kerouac não quis declamar, alegando timidez. Ferlinghetti, que já havia decidido publicar Uivo por sua editora, a City Lights, estava na plateia. A sessão começou com Philip Lamantia apresentando poemas de John Hoffman, prosseguiu com Michael McClure e seu poema de protesto contra o morticínio de baleias e, animada pelo vinho distribuído por Kerouac e por seus gritos, atingiu o clímax com a leitura, por um jovem e embriagado Allen Ginsberg, da primeira parte de Uivo.

A partir da leitura do pulsante poema de Ginsberg, em 13 de outubro de 1955, o movimento beat ganharia voz, força e fãs. Não havia dúvida de que os presentes se encontravam diante de uma manifestação notável: “…quando Allen leu Howl (Uivo), foi como se o céu caísse sobre nossas cabeças. Um efeito inimaginável. Pois, seguramente, ele dizia tudo o que aquele público desejaria ouvir, e dizia isso na linguagem deles, rompendo radicalmente com o estilo estabelecido.” disse o mestre de cerimônias Kenneth Rexroth. 

O impacto provocado pela leitura transformou Allen Ginsberg em celebridade local. Para sentir o clima, veja o vídeo legendado em que James Franco interpreta Ginsberg no filme Howl. Os trechos do poema são da tradução que Claudio Willer fez para a edição de Uivo da L&PM:

Quem inventou o Smiley?

Afinal, qual a origem do Smiley? Quem teve a ideia de, sobre um círculo amarelo, desenhar dois olhos e um sorriso que, atualmente, é conhecido e reconhecido em todos os cantos do planeta? A versão mais aceita e difundida é a de que a autoria original seja do artista gráfico norte americano Harvey Ball. Em 1963, Harvey foi contratado para criar um símbolo para uma empresa de seguros de Massachusetts. O objetivo era que os funcionários fossem estimulados a sorrirem mais para os clientes. A partir de então, o designer afirmou ter criado a famosa carinha sorridente em menos de dez minutos. Mas nem ele, nem a empresa que o contratou, registraram a marca na época. E, em 2001, Harvey morreu sem ter lucrado nem um centavo com sua mais famosa criação.  

Em seguida, os hippies teriam descoberto o Smiley e, apaixonados por ele, o colocaram em pôsters e adesivos. Até que, em 1971, o francês Franklin Loufrani teve a ideia de utilizar o ícone em uma campanha promocional de um jornal para sinalizar as notícias mais alegres do periódico. Foi Loufrani que batizou o Smiley de Smiley e que registrou a marca. Nasceu assim a Smiley Company, uma verdadeira indústria fabricante de… Smileys.

O site da Smiley Company conta que o primeiro Smiley feito pelo homem remonta do período Neolítico (2500 aC) e é uma pedra perfeitamente redonda com dois olhos e uma boca em forma de arco. Na verdade, mesmo parecendo uma batata sorriso queimada, ela tem seu valor histórico e atualmente está em exposição no Museu de Ciências Naturais da cidade francesa de Nimes.

Do tempo das cavernas para o tempo da internet foi um pulinho e, hoje, o Smiley virtual é o mais popular Emoticon da web. 😉

Agora, cá entre nós, você não acha que o Smiley ficou assim famoso e conquistou todo mundo porque ele tem essa cara de quem está “Feliz por nada”? Aliás, por falar nisso, o livro Feliz por nada, de Martha Medeiros, continua no topo dos mais vendidos da Revista Veja desta semana. O pessoal aqui da editora até já abriu um Smiley pra comemorar! 🙂

49. A arte literária de Iberê Camargo

Em outubro, o “Era uma vez… uma editora” será dedicado a relembrar alguns livros que marcaram não apenas a nossa memória, como toda uma época. São obras que atualmente estão esgotadas, mas que permanecem na lembrança, no imaginário e na prateleira de muita gente. O escolhido de hoje é “No andar no tempo”, de Iberê Camargo.  Iberê era amigo de Ivan Pinheiro Machado* que, além de editor da L&PM, também é artista plástico. Ivan poderia contar melhor esta história, mas como no momento ele está na Alemanha, onde amanhã tem início a Feira Internacional do Livro de Frankfurt, vamos nos limitar a falar do livro.

Era Outono de 1988 quando mais uma obra de Iberê Camargo foi concluída. Desta vez, no entanto, sua arte não estava impressa na tela, mas em um livro publicado pela L&PM Editores. No andar do tempo ­– 9 contos e um esboço autobiográfico era o nome da obra que, em pouco mais de 100 páginas, trazia além do que o título prometia, mais dez ilustrações do pintor gaúcho de renome internacional (duas delas estão logo abaixo).

Os cinco primeiros textos de No andar do tempo, escritos na década de 80, eram marcados pela ironia e segundo escreveu o jornalista Antonio Hohfeldt na orelha do livro “Atingem certa dimensão metafísica por trás da brincadeira aparente”. “Ao fazer a barba pela manhã, vejo pelo espelho um mosquito pousado na parede do banheiro, às minhas costas. É apenas um traço vertical, minúsculo risco a creiom, na alvura vítrea do azulejo. Vou aniquilá-lo, penso comigo, com um golpe de toalha. Concedo-te a vida somente o tempo que necessito para fazer a barba. Devo usar a lâmina com cuidado, devagar, para não cortar o lábio superior já chupado pela idade. Torno a fitar o mosquito. Ele continua imóvel na imagem do espelho, à espera, sem o saber, de sua morte, como todos os viventes.” escreveu Iberê em “O mosquito”, conto que abre o livro.

Há outros quatro contos escritos por Iberê na década de 1950. Mais densos e dramáticos do que os primeiros, eles às vezes trazem os mesmo elementos de suas pinturas, como mostra um trecho de “O relógio”: “Sobre a enxada enrola-se estranha serpente: um suspensório. Ele o desenlaça e com a arte o estende por terra, desenhando um ipsilone. Encontra também um soldadinho de chumbo com a perna quebrada, uma cornetinha e carretéis…”

Já em “Um esboço autobiográfico”, que fecha o livro, Iberê Camargo conta desde seu nascimento: “Nasci em 18 de novembro de 1914, no Rio Grande do Sul, em Restinga Seca, onde meu pai era o agente da Estação da Viação Férrea” até sua visão de mundo: “Vejo o mundo ameaçado pela insanidade. Em 1984, em Porto Alegre, pintei um cartaz de rua que dilacerou na chuva e no vento, e escrevi um texto em solidariedade àqueles que se opõem ao holocausto nuclear. É preciso criar no Brasil uma consciência ecológica. Talvez um partido. Tenho sempre presente que a renovação é uma condição da vida. Nunca me satisfaz o que faço. Vejo nisso um estímulo permanente à criação. Ainda sou um homem à caminho.”

Este era Iberê Camargo. Eternizado em palavras e pinturas.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo nono post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Andy Warhol para explorar, seguir e copiar

Quem é fã de pop art certamente já desejou ser Andy Warhol ou pelo menos conhecer de perto as referências, as inspirações e os processos criativos de um dos maiores ícones da arte do século 20. Para estas pessoas, nós temos uma boa notícia: com uma ajudinha das novas tecnologias de distribuição de conteúdos, geolocalização e mobilidade, isso já é possível!

Esta semana, o Andy Warhol Museum anunciou a criação de três aplicativos que possibilitam explorar materiais inéditos de Andy Warhol, “segui-lo” por meio de um mapa que marca os lugares que o artista frequentava em Nova York e até vestir o personagem e produzir os seus próprios retratos estilizados a la Andy Warhol.

O aplicativo the warhol: art disponibiliza uma série de materiais inéditos como cartas, imagens, áudios, filmes e clipes de vídeo e coloca tudo isso ao alcance de qualquer pessoa que tenha em mãos um iPhone, um iPad ou um aparelho que rode o sistema Android, do Google. Assista ao vídeo explicativo para ter um gostinho do que ele oferece:

Mas se a ideia é mergulhar de cabeça na experiência do artista, você pode brincar de ser Andy Warhol. É só baixar o aplicativo The Warhol: D.I.Y. POP e sair customizando suas fotos com o toque característico do rei da pop art:

E para vestir de vez o personagem, que tal saber mais sobre a vida, o cotidiano e a rotina de Andy Warhol? Por onde ele andava, o que via no caminho de casa para o estúdio, quais a referências de sua cidade natal? Até isso foi feito pelo aplicativo The Andy Warhol Museum Layar, que usa mapas, geolocalização e realidade aumentada para mostrar os principais pontos de referência na vida e na rotina de Andy Warhol. Boa parte de Nova York e Pittsburgh, sua cidade natal, já estão mapeadas pelo Layar:

E as novidades não param por aí! A L&PM está preparando três surpresas para os fãs de Andy Warhol: em breve, vamos publicar os famosos e polêmicos diários do artista em dois volumes na Coleção L&PM Pocket, Andy Warhol na Série Biografias L&PM e o livro de fotos América, que expõe diversas celebridades em bastidores e momentos descontraídos. Tá bom ou querem mais? 😉

Não basta ser loira, tem que ser Marilyn

Já tínhamos visto as fotos em que a atriz Michelle Williams aparece no papel de Marilyn Monroe nas cenas do tão aguardado My Week with Marilyn, de Simon Curtis. No fim da semana passada, o filme, que conta os bastidores da gravação de O príncipe encantado, em 1956, ganhou trailer oficial: Michelle ficou ainda mais loira, ganhou olhos azuis e uma pinta no rosto, mas será que isso é suficiente para ser Marilyn? Assista ao trailer e tire suas próprias conclusões:

Assim que pisaram em Londres, em 13 de junho de 1956, Marilyn e seu marido, Arthur Miller, foram recepcionados pelo assistente de Laurence Olivier, Colin Clark, que ciceroneou o casal em sua estadia nas terras da rainha. My week with Marilyn é baseado no livro em que Clark conta suas memórias destes dias privilegiados. E é claro que esta passagem não ficou fora do livro Marilyn Monroe, da Série Biografias L&PM:

No dia 13 de julho de 1956, o mais célebre casal do mundo chega à Inglaterra, onde é acolhido com todas as honras e inevitável alvoroço por sir Laurence Olivier, Vivien Leight e centenas de jornalistas saídos por uma vez de sua fleuma lendária. Os recém-casados vão se esconder em um castelo suntuoso, em Parkside House, propriedade de cinco hectares vizinha à da rainha, cercada de muros altos, que dispõe de uma boa dúzia de quartos e de uma meia dúzia de empregados.

My week with Marilyn tem estreia prevista para o dia 4 de novembro nos Estados Unidos, mas ainda não tem data para chegar ao Brasil. Enquanto isso, dá tempo de ler Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet, na Série Biografias L&PM, um livro emocionante e intenso, como foi a vida de uma das maiores estrelas do cinema de todos os tempos.

Ó pá: Jack Kerouac em português de Portugal

Nós fomos descobertos e colonizados por eles, herdamos a sua língua e alguns de seus hábitos. Mas, mesmo assim, há um oceano de diferenças que separam os brasileiros dos portugueses. Prova disto são os títulos dos livros de Jack Kerouac na versão “luso beat”. 

Cá entre nós, Pela estrada fora parece música da Chapeuzinho Vermelho, não? Pois este é o título que Portugal escolheu para On the road que, aqui no Brasil, virou Pé na estrada. Abaixo, a edição deles do manuscrito original:

O que para nós é algo suave como Despertar: uma vida de Buda para os portugueses virou uma ordem: Acorda! A vida de Buda:

Este não chega a ser tão diferente, mas o nosso Os vagabundos iluminados soa bem melhor do que Os vagabundos do Dharma, você não acha?

E por falar em Jack Kerouac, não esqueça que, em breve, On the road – O manuscrito original será lançado em versão pocket.

Autor de hoje: Edgar Allan Poe

Boston, EUA, 1809 – † Baltimore, EUA, 1849

Filho de atores, órfão aos dois anos, foi adotado por um comerciante abastado, de quem recebeu esmerada educação. Matriculou-se na Academia Militar de West Point, de onde foi expulso por indisciplina. A partir de então, passou a viver como nômade, exercendo o jornalismo na Filadélfia. Depois disso, mudou-se para Nova York, onde trabalhou como editor de importantes periódicos. Sua vida pessoal foi marcada pela morbidez e pelo alcoolismo. Além de contos, Poe escreveu poemas e ensaios. Devido à melancolia, ao mistério e às sugestões temáticas, sua obra é considerada simbolista e fantástica. Dentre seus temas, destacam-se as alucinações e a fantasmagoria, as neuroses e as inquietações do homem, o duplo, a introspecção na alma, a morte e a fatalidade. É considerado o precursor do moderno romance de mistério ou policial, além de criador dos contos de efeito. Escritor “maldito”, sua obra definiu os rumos da contística contemporânea.

OBRAS PRINCIPAIS: A queda da casa de Usher, 1838; Contos do grotesco e do arabesco, 1838; O relato de Arthur Gordon Pym, 1838; Assassinatos da rua Morgue, 1841; O escaravelho de ouro, 1843; O mistério de Marie Roget, 1842; O barril de amontillado, 1846

EDGAR ALLAN POE por Patrícia Lessa Flores da Cunha

Edgar Allan Poe, escritor norte-americano, talvez seja, ainda hoje, um dos autores mais lidos e conhecidos fora dos limites geográficos da literatura de seu país. Situado nevralgicamente nos limites de um Romantismo exaurido, que já se mostrava impregnado pela atmosfera mecanicista que floresceria no Realismo da segunda metade do século XIX, Edgar Allan Poe, como personalidade literária, é uma figura intrigante. Mesmo os seus desafetos críticos não deixam de lhe reconhecer lances e especulações geniais que, todavia, atribuem quase sempre aos percalços de sua atribulada trajetória de vida pessoal, evitando enquadrá-los como fruto de uma consciência artística superior.

Edgar Allan Poe não é uma unanimidade em termos de crítica. Porém, resta evidente a atuação de um escritor vigoroso e inquietante que, apesar de imperfeições artísticas e técnicas e de uma formação intelectual deficiente, soube atingir e envolver a intelligentsia de seu tempo com a força de uma produção literária que segue questionando os caminhos da investigação crítica da atualidade.

A esse respeito, Poe pode ser visto como a figura de transição no panorama da moderna literatura, e não só norte-americana, por ter descoberto o seu grande filão temático e expressional, qual seja, o da desintegração da personalidade humana, através da insistência com que aborda, por exemplo, a duplicidade latente no indivíduo, tornando-se assim, a todos os leitores contemporâneos, um escritor potencialmente familiar.

A ideia central do pensamento de Poe, oriunda da noção de brevidade na emoção e na contemplação da beleza, leva-o a compor, por caminhos travessos, o que talvez seja a sua mais permanente contribuição ao pensamento teórico-crítico contemporâneo, a teoria do efeito, que se realiza, por excelência, no domínio do conto, alçado a partir e, sem dúvida, por causa de Poe à condição de gênero da literatura moderna. A narrativa curta em prosa, aquela que exigiria, no máximo, duas horas de atenta leitura, propicia um vasto campo de produção literária, adequando-se sobremaneira ao exercício dos conceitos de brevidade, totalidade e intensidade que estruturam a teoria do efeito, tornando Poe, desde então, o mais instrumental dos escritores no gênero. Se a popularidade de sua poesia foi considerável – o poema “The Raven” (1845) é exemplo disso –, os contornos do prestígio de sua ficção têm sido maiores e mais abrangentes.

Não é à toa que pode ser considerado como o fundador da moderna narrativa de ficção científica e do conto policial detetivesco, vertentes originárias da publicação de muitos dos seus contos, notadamente a série dos relatos criminosos solucionados por Arsène Dupin e as experiências fantásticas contidas em A aventura sem par de um certo Hans Pfall e Mellonta Tauta, entre outros.

Ainda chama a atenção, para o sentido de modernidade implícito na proposta narrativa inovadora de Poe, a sua absoluta consciência sobre a importância do leitor – mesmo que anônimo e perdido na multidão dos leitores de um jornal – como elemento receptor e co-criador, em um sentido inegavelmente participativo, da utopia do seu texto poético-ficcional.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores. Veja os outros autores já publicados neste blog.