Arquivo mensais:novembro 2011

Vale a pena conhecer Geoffrey Robertson

Em setembro do ano passado, cerca de 20 mil pessoas marcharam contra a visita do Papa Bento XVI a Londres. Entre os que discursaram durante o protesto, estava Geoffrey Robertson, um dos mais renomados juristas britânicos e autor de O Papa é culpado?, livro que acaba de chegar ao Brasil com o selo L&PM Editores. Robertson também é fundador e diretor da Doughty Street Chambers, a maior organização de direitos humanos do Reino Unido e, no final de 2010, assumiu a defesa de Julian Assange, criador do site Wikileaks, em seu processo de extradição.

Antes do protesto londrino, na Páscoa de 2010, Robertson escreveu um breve comentário para o Guardian e o Daily Beast, no momento que era esperado que o papa comentasse a crise em sua Igreja causada pelas revelações no mundo todo de abusos sexuais realizados por padres. Robertson argumentou que os casos de estupro e assédio sexual cometidos contra crianças de forma ampla e sistemática poderiam ser configurados como crimes contra a humanidade, e que o líder de qualquer organização que proteja seus membros criminosos da justiça poderia ser responsabilizado em um júri internacional. 

A partir deste artigo, nasceu o livro O Papa é culpado? – A responsabilidade do Vaticano por violações de direitos humanos, uma obra polêmica, reveladora e perturbadora que, segundo Helena Kennedy, advogada britânica, é “Um desafio que nenhum católico sensato poderá ignorar”.  

Abaixo, trecho do protesto de Londres que mostra Geoffrey Robertson discursando:

Fila de bestseller é assim…

Uma hora antes do horário marcado, a fila começou a se formar na Praça da Alfândega em Porto Alegre. Às 16h15min de sábado, 05 de novembro, quando Martha Medeiros chegou, já encontrou centenas de pessoas com o livro Feliz por nada nas mãos. Tudo indicava que sua sessão de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre se estenderia por muito tempo. Não deu outra. Mais de três horas (e de muitas assinaturas e fotos) depois, foi preciso “fechar” a fila e pedir para que ninguém mais entrasse mais nela. Ou Martha acabaria com uma tendinite daquelas…

A fila começou bem antes da hora marcada

Alguns aproveitaram para levar outros livros, além de "Feliz por nada"

Outros aproveitaram para ler o livro na fila

Até que chegou a hora de receber a dedicatória

E de tirar a foto que ficará guardada junto com o livro autografado

De Porto Alegre para Curitiba: amanhã, 8 de novembro, às 20h, Martha Medeiros participa de um encontro com os leitores no “Paiol Literário”, no Teatro Paiol, com entrada franca.

Verbete de hoje: Jim Davis

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos um verbete do livro. O verbete de hoje é JIM DAVIS:

Depois de trabalhar por algum tempo como assistente de Tom K. Ryan (o criador da tira Tumbleweeds Kid Farofa, no Brasil), Davis estava pronto para lançar sua série própria. Surgiu, em 1978, através da United Feature Syndicate, Garfield, uma animal strip sem grandes novidades ou aparentes possibilidades de sucesso. Afinal, os felinos já haviam frequentado demais os quadrinhos, desde O gato Felix, de Pat Sullivan (década de 30), A gatinha Princesa, de Ruth Carrol (década de 40) até o Fritz, the Cat (década de 60), de Robert Crumb, isso para citarmos apenas os mais famosos. Garfield (imagem), porém, surpreendeu. Gordo, preguiçoso, hipócrita com o seu dono e o cachorro desse, esse novo gato dos quadrinhos em pouco tempo se tornou o “best seller” da UFS. Veiculado em mais de 2.500 jornais do mundo inteiro, Garfield transformou-se num grande e duradouro sucesso. Seus álbuns vendem como água, assim como as mercadorias diversas com imagens desse gato gorducho. Até no cinema Garfield foi parar (dois longas-metragens, onde se misturam atores reais e o gato feito por animação computadorizada). No Brasil, além dos pockets feitos pela L&PM – já em dez volumes, publicados entre 2005 e 2010 – há uma edição especial, com mais de 600 páginas e 2.582 tiras, na coleção “L&PM Série Ouro” (2009).

Comer fruta com semente pode causar apendicite?

Nos sábados, este blog publica algumas das dúvidas que são esclarecidas em “Fatos & Mitos sobre sua alimentação“, o novo livro do Dr. Fernando Lucchese. O Dr. Lucchese é autor também do bestseller Pílulas para viver melhor, entre outros livros.

Comer fruta com semente pode causar apenditice.

Certas sementes, como as de laranja e melancia, principalmente, não são destruídas pelo aparelho digestivo e pessam intactas. Alguns casos de apendicite podem ser causadfos pela presença de uma semente no apêndice, causando inflamação e infecção. Mas isso não é comum. Claro que, quanto mais sementes você ingerir, maiores serão as chances de isso acontecer.

Cenas de “A abadia de Northanger”

Um novo livro de Jane Austen acaba de chegar à Coleção L&PM POCKET. A abadia de Northanger foi o primeiro romance a ser concluído pela escritora, em 1803, mas que acabou sendo publicado um ano após a sua morte, em 1818. Ele é considerado a mais leve e cômica obra de Jane Austen e conta a história de Catherine Morland, uma menina de dezessete anos que acaba vivendo uma série de desventuras, ao mesmo tempo em que mistura realidade e ficção.

Ao longo dos anos, A abadia de Northanger já foi ilustrado por diferentes desenhistas. Vale dar uma olhada na riqueza de estilos pelo qual este livro passou:

De William C. Cooke - 1895

De Hugh Thomson - 1897

De C. E. Brock (Charles Edmund Brock) - 1907

DE H. M. Brook (Henry Matthew Brock - irmão de C. E. Brock) - 1915

De Berkeley Sutcliffe - 1950

Tempos modernos: de Julian Tedesco para a Marvel - 2011

Por isso eu sou Claudia Tajes

Ontem, 03 de novembro, Claudia Tajes fechou a Feira do Livro de Porto Alegre. Literalmente. A imensa fila de pessoas que foram até lá em busca de um autógrafo no livro “Por isso eu sou vingativa” perdurou das 19h30min às 22h15min. E só parou porque o pessoal que trabalha na feira queria ir pra casa. Hoje, Claudia publicou no seu Facebook: “Aqui vai um agradecimento aos queridos que tiveram paciência de esperar por mim na Feira do Livro de ontem. Foi um dos melhores dias/noites da minha já longa vida. Supervaleu pra todo mundo e um beijo com carinhos nada vingativos!”. Ela vai pro trono ou não vai?

Aqui não dá pra ver, mas a fila para autografar o novo livro de Claudia Tajes era enoooooorme

Crazy Love: um filme raro que faz jus à obra de Bukowski

Charles Bukowski jamais poderia imaginar que uma das mais fiéis adaptações de sua obra para o cinema nasceria das mãos de um diretor belga. Pois foi exatamente o que aconteceu com “Crazy Love”. Realizado em 1987, “Crazy Love” é o primeiro longa-metragem de Dominique Deruddere, diretor que ficou conhecido mundialmente ao ser indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2001, por “Fama para Todos”.

Inspirado em diversos contos de Bukowski, principalmente “A Sereia que Copulava em Veneza, Califórnia”, do livro “Crônica de um amor louco“, a trama se desenrola através de três momentos da vida do trágico e patético personagem Harry Voss e sua incessante busca por amor e aceitação: da adolescência conturbada até um homem amargo e solitário.

Apesar de ser falado em francês, “Crazy Love” é considerado pelos fãs de Bukowski como sendo uma das mais fiéis adaptações do universo de desesperança e degradação criado pelo velho Buk.

Se você estiver em Porto Alegre e ainda não arrumou programa para amanhã à noite, o projeto Filmes Raros da Sala P. F. Gastal (Usina do Gasômetro, 3º andar) vai exibir “Crazy Love” nesta sexta-feira, 04 de novembro, às 20 horas com entrada franca! A duração do filme é de 90 minutos.

Abaixo, um trecho do filme para você sentir o clima “Bukowskiano”:

Angeli e o cinema brasileiro

O cartunista Angeli, que criou alguns dos personagens de HQ mais famosos do Brasil como Rê Bordosa e Wood & Stock, prestou uma bela homenagem ao cinema brasileiro durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A convite da Petrobrás, que apoia o evento, Angeli criou 15 peças inéditas, entre charges e tirinhas, inspiradas em filmes como “Meu Tio Matou um Cara“, “Carlota Joaquina”, “Tropa de Elite”, “Meu Nome não é Johnny”, “Cidade de Deus”, “As Melhores Coisas do Mundo” e “Tainá”.

A mostra de Angeli correu na paralela dos longas-metragens patrocinados pela Petrobras que estiveram na 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começou no dia 21 de outubro e termina hoje, 3 de novembro. Ou seja: se você correr ainda dá tempo de ver as obras de Angeli que ficaram expostas em quatro espaços da Mostra: Espaço Unibanco Augusta, Arteplex Frei Caneca, Shopping Bourbon e no Conjunto Nacional.

No início desta semana, Fernanda Scherer, gerente de marketing da L&PM Editores, no Conjunto Nacional, visitando a exposição e fez algumas fotos que agora compartilhamos com vocês:

“Adorei esse desafio pela novidade de lidar com personagens que não são meus e de um universo tão rico como o cinema, que sempre me inspirou bastante”, disse Angeli sobre este trabalho. Um dos mais respeitados chargistas brasileiros, desde os anos 80, Angeli vem desenvolvendo uma galeria de personagens que se tornaram famosos (Além de Rê Bordosa, Wood & Stock, ainda tem os Skrotinhos, Los Três Amigos e Bob Cuspe). Em 1983, ele foi um dos fundadores da revista Chiclete com Banana, sucesso com inquestionável influência no mercado editorial.

Angeli teve suas tiras publicadas na Alemanha, França, Itália, Portugal, Espanha e Argentina e já recebeu diversas homenagens, entre elas, foi nomeado comendador da República pelo Ministério da Cultura Brasileiro na Ordem do Mérito Cultural.

52. Sebastian B. Dangerfield: o vagabundo iluminado

Por Ivan Pinheiro Machado*

Todos têm aqueles cinco livros da sua vida. Eu até tenho dúvida sobre os outros quatro. Teria de escolher entre dez, quinze. Mas sei bem qual é o primeiro da lista: Ginger Man, de J. P. Donleavy. A primeira vez que eu li tinha 18 anos. A segunda vez, eu já estava com 40 anos. Agora, quatro décadas depois de ter lido pela primeira vez, eu mantenho intacta a emoção, o fervor que as frases elípticas, barrocas, transgressoras e debochadas me causaram no primeiro encontro. Procuro, procuro e não me lembro de um livro cujo impacto tenha sido igual com tanta diferença de tempo entre a primeira e a segunda leitura.  Tudo porque este é um livro genial.

A primeira edição que li chamava-se, na edição brasileira, Sexta-feira triangular, lançado pela editora Civilização Brasileira. Meu exemplar, comprado pelo meu pai em 1970 é um dos 30 ou 40 livros que eu conservo daquela época. Colado com durex na lombada e no miolo, meu velho Sexta-feira triangular resistiu ao tempo, a várias leituras e chegou combalido ao começo da segunda década do século 21. E o mais impressionante é que este desgrenhado, rasgado, velho e amarelado livro contém um texto de divina vanguarda, refinada loucura e deslumbrante beleza quando trata das vicissitudes, das misérias e das grandezas da condição humana.

A edição colada com durex, a primeira lida por Ivan Pinheiro Machado

Certa vez, com pouco mais de 20 anos de idade, convidado pelo meu amigo Fernando Gasparian, eu fui a um jantar na sua casa. Sentei ao lado de Enio Silveira, o dono da Civilização Brasileira. Era um homem em torno dos 55 anos, cuja dignidade e postura de resistência à ditadura militar serviam de exemplo para todos nós. Sua grande livraria no centro do Rio de Janeiro fora incendiada pelo famigerado CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Enfim, eu o admirava profundamente e estava tenso sentado ao seu lado quando ele me olhou, me examinou de alto a baixo e perguntou: “E você, tão jovem, o que você faz?”. Eu não tive coragem de dizer que era editor e balbuciei que era jornalista, amigo do Gasparian. A seguir eu disse a ele: “Eu li Sexta-feira Triangular, que o senhor editou e achei um livro incrível, um dos mais impressionantes que eu já li”. O Enio afastou a cadeira e me olhou de novo de alto a baixo: “Você leu este livro?”. Eu confirmei com a cabeça. Ele sorriu e me disse que eu tinha sido um dos poucos que tiveram esta grande experiência, pois este livro “tinha sido um dos maiores fracassos de venda da Civilização Brasileira”.

J. P. Donleavy, seu autor, firme e forte com 80 anos hoje, publicou Ginger Man com pouco mais de 29 anos e é sua obra-prima. Americano, filho de pais irlandeses, morou nos EUA, em Dublin e hoje reside em Londres. Uma vez, trabalhando como fotógrafo para o jornal Zero Hora, antes da existência da L&PM, fui fotografar Erico Verissimo em sua casa no bairro Petrópolis em Porto Alegre. O repórter era o saudoso Marcos Faermann, criador de vários jornais alternativos, entre eles o famoso “Versus”. Terminada a sessão de fotos, eu perguntei ao Erico, que era um homem extraordinariamente gentil e generoso: “Erico, tu já ouviste falar de um tal de J. P. Donleavy? Eu li um livro dele que eu adorei, mas ninguém conhece este cara”. O Erico abriu um sorriso e disse “Ginger Man!”. Eu fiquei paralisado e bradei “Este mesmo!”. “É um livro belíssimo – ele disse -, louco, mas belíssimo”.

Por anos a fio eu dizia (de sacanagem) “este livro que só eu e o Erico Verissimo lemos no Brasil, é um livro genial…” Passou-se o tempo, muito tempo… Em 2006, estávamos eu e Caroline Chang, editora aqui da L&PM, numa reunião na Bienal de São Paulo com a agente inglesa-brasileira Tassy Bahran, quando ela falou: “tenho um livro aqui que o Johnny Deep  comprou os direitos para filmar, chama-se ‘Ginger Man’”. Eu, que estava distraído, dei um pulo. “O quê????”. A Tassy arregalou seus belos olhos verdes e perguntou no seu sotaque british-carioquês: “O que houve?”. Eu respondi apenas “Eu quero publicar este livro”. E contei toda esta história acima.

Pois bem. Compramos os direitos e a Cacá (como é conhecida mundialmente a Caroline Chang), num trabalho de detetive, localizou os herdeiros do tradutor Mario Mascherpe e comprou os direitos de utilizar sua tradução feita para a Civilização Brasileira. Cabe aqui uma homenagem a este grande tradutor, pois este trabalho é quase intransponível pela velocidade na narrativa, pelas expressões de gíria e basicamente por ser um livro falado o tempo todo por desqualificados, vagabundos, miseráveis e personagens muito estranhos. Tudo isso em Dublin. Num clima joyceano de neblina, uísque, chuva fina, em meio à desesperança característica dos anos que sucederam a 2ª Grande Guerra. Pois Mario Mascherpe conseguiu a proeza de traduzir e manter intacta a linguagem e a magia do livro.

Capa de "Um safado em Dublin", que deve chegar à Coleção L&PM Pocket no fim de novembro

O grande Enio Silveira que me perdoe, mas mudamos o título, já que “Ginger Man” é praticamente intraduzível (homem-gengibre) no seu sentido irlandês. Optamos por Um safado em Dublin. Achamos que tem mais sex appeal. O livro sairá no final de novembro. A saga de Sebastian B. Dangerfield. E continua sendo um dos poucos livros geniais que eu li na minha vida.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo segundo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Uma pequena leitura de “A pele que habito”

Por Paula Taitelbaum*

Seriam os cirurgiões plásticos os Doutores Frankensteins da nova era? No lugar de juntar pedaços, agora eles mudam, moldam, delineiam, esculpem… Usam os corpos como matéria-prima de sua arte. Criam novas existências. Dão vida a novas experiências.

Em “A pele de habito”, novo filme de Pedro Almodóvar, o Dr. Robert Ledgard é um cirurgião plástico incansável na busca pela perfeição. Seu objetivo, no entanto, vai muito além do que apresenta a sinopse dos jornais: “Cirurgião plástico cria uma pele sintética que resiste à qualquer dano”. O Dr. Ledgard quer e faz muito mais do que isso. Mas não condene os jornalistas pelo simplismo de seus story lines, pois resumir esta trama de Almodóvar é praticamente impossível.

Mas voltemos ao médico em questão. Consumido por um sentimento de vingança, o Dr. Ledgard dá início a um trabalho que realmente o faz virar uma espécie de Dr. Frankenstein. Ele cria um monstro que passa a habitar sua mente e o consome de paixão. Por fim, torna-se o Deus de sua amargura. Infeliz e solitário em seu castelo high tech.

Como sempre, ninguém no filme de Almodóvar é menos do que intenso. Tão dramático quanto uma novela mexicana – e totalmente genial em tornar seus exageros factíveis – o diretor espanhol vai e volta no tempo, dançando entre os anos 2000 e 2012 (vez por outra vai mais longe do que isso). Sem deixar nenhuma cicatriz em seu roteiro, ele costura as cenas com a maestria de um cirurgião das películas.

No final, a nós meros espectadores, resta a certeza de que não gostaríamos de habitar a pele de nenhum dos personagens criados por Almodóvar. Ao mesmo tempo, sabemos que o mundo não seria tão interessante sem eles (talvez nem tão bizarro). Portanto: Ave Almodóvar!

Antonio Banderas vive o Dr. Ledgard, uma espécie de Frankenstein moderno

* Paula Taitelbaum é escritora, coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM, fã de Pedro Almodóvar e assistiu “A pele que habito” em sua pré-estreia.