Arquivo mensais:fevereiro 2012

O adeus de Stefan Zweig

Foto dedicada aos leitores brasileiros

Stefan Zweig amou o Brasil que o acolheu. O escritor austríaco já era famoso no mundo inteiro quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1936. Esperava encontrar “uma daquelas repúblicas sul-americanas que não distinguimos bem umas das outras, com clima quente e insalubre, situação política instável e finanças em desordem…”, como escreveu em seu livro Brasil, um país do futuro. Mas ao desembarcar, a sensação foi outra: “Fiquei fascinado e, ao mesmo tempo, estremeci. Pois não apenas me defrontei com uma das paisagens mais belas do mundo, esta combinação ímpar de mar e montanha, cidade e natureza tropical, mas ainda com um tipo completamente diferente de civilização”. Em 1941, sem poder voltar a Europa por causa da II Guerra, mudou-se para Petrópolis, no Rio, com sua segunda esposa, Lotte. Ao lançar Brasil, um país do futuro, foi acusado por alguns de ter feito o livro por encomenda do governo Vargas, o que ele fez questão de desmentir em sua última entrevista: “Em quarenta anos de vida literária, me orgulho de nunca ter escrito um livro por outra razão que a da paixão artística, e jamais visando uma qualquer vantagem pessoal ou interesse econômico.”

Em 23 de fevereiro de 1942, depois de uma alta dose de barbitúricos, Stefan Zweig e sua esposa foram encontrados já sem vida pelos empregados da casa. Abraçados na cama, eles preferiram deixar a vida “de cabeça erguida” a continuar vendo os horrores do nazismo. Sobre a mesa de cabeceira, estava uma declaração em que Zweig agradecia ao Brasil e explicava o porquê de estar indo embora tão cedo.

O último texto escrito por Stefan Zweig

Declaração

Stefan Zweig

Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação me é imposta: agradecer profundamente a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida.  A cada dia fui aprendendo a amar mais e mais este país, e em nenhum outro lugar eu poderia ter reconstruído por completo a minha vida, justo quando o mundo de minha própria língua acabou-se para mim e meu lar espiritual, a Europa, se auto-aniquila. Mas depois dos sessenta anos precisa-se de forças descomunais para começar tudo de novo. E as minhas se exauriram nestes longos anos de errância sem pátria.  Assim, achei melhor encerrar, no devido tempo e de cabeça erguida, uma vida que sempre teve no trabalho intelectual a mais pura alegria, e na liberdade pessoal, o bem mais precioso sobre a terra.

Saúdo a todos os meus amigos!  Que ainda possam ver a aurora após a longa noite! Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes.

Stefan Zweig
Petrópolis, 22. II. 1942

Mergulhados na leitura

Enquanto isso, em Aruba, o pessoal não larga o seu leitor digital nem na hora de se refrescar. Estes aqui foram flagrados por Paulo Lima, diretor da L&PM, durante uma recente viagem que ele fez ao Caribe. São os novos tempos…

E por falar no assunto, você já conhece o catálogo de e-books da L&PM?

Um quarto de século sem Andy Warhol

Quando Andy Warhol foi hospitalizado, em 20 de fevereiro de 1987, não havia grandes preocupações no ar. Apesar de magro e anêmico, o pop artista seria submetido a uma cirurgia relativamente simples, considerada rotineira. Realizado no dia seguinte, o procedimento de remoção da vesícula  (e de uma velha hérnia) durou pouco menos de três horas e foi considerado um sucesso. Andy foi para o quarto e, sob os cuidados de uma enfermeira particular, ele assistiu televisão, telefonou para casa, falou com os empregados e, por volta da meia-noite, adormeceu. Não acordaria mais. Às 6h31min, do dia 22 de fevereiro de 1987,  Andy Warhol foi declarado morto. Segundo o hospital, a causa foi um ataque cardíaco. Mas o porquê de seu coração ter entrado em colapso ainda é um mistério.

O primeiro a saber da morte foi Fred Hughes, o braço direito de Andy, que somente no dia seguinte avisou os dois irmãos do artista, Paul e John Warhola. Os irmãos, junto com Hughes, herdaram 250 mil dólares cada um, quantia irrisória diante da fortuna de Andy.  

O elemento central do testamento de Warhol dizia respeito, de fato, ao conjunto de seus bens materiais – que logo se perceberia imenso. Esse conjunto, segundo a vontade de Andy Warhol, se destinaria à criação de uma fundação, a Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, com o fim de sustentar financeiramente jovens artistas. O posto de presidente coube a Fred Hughes. John Warhola, e não Paul, foi designado membro do conselho de administração, com um salário anual de 100 mil dólares. Essa desigualdade de tratamento foi evidentemente uma fonte de tensão entre os irmãos Warhola. Mas essas tensões foram secundárias em relação ao ponto principal de litígio referente à herança: os irmãos não herdaram nenhuma obra de Andy Warhol. Nem um esboço. Paul não conseguia acreditar que “seu próprio irmão” não quisera lhe deixar nenhuma tela, e deixara tão “pouco” dinheiro. Ele se lembrava de que Andy lhe dissera várias vezes para pegar o que ele quisesse, mas ele deixava para mais tarde: era “orgulhoso” demais. Ele percebia agora que teria “gostado bastante” de uma Marilyn. No entanto, talvez haja razão para se colocar em dúvida “a intimidade” dois irmãos Warhola. Em 17 de maio de 1984, Andy mencionava nos seus Diários que vira entrar na Factory, com a maior surpresa, seu irmão Paul, que ele não via há… vinte anos. (trecho de Andy Warhol, de Mériam Korichi, Série Biografias L&PM)

Seu enterro aconteceu em 26 de fevereiro, um velório de corpo vestido com um terno de caxemira preta, gravata de seda, peruca platinada e óculos escuros. Estava vestido de festa. Sua última festa.

68. Um comovente relato de amor

 

No outono de 1993, a L&PM Editores lançou um livro que trazia as cartas de amor trocadas entre duas escritoras. A correspondência que Violet Trefusis enviou para Vita Sackville-West entre os anos de 1910 e 1921. Editado pro Mitchell A. Leaska e John Phillips, o livro “De Violet para Vita” foi publicado com 304 páginas e um caderno de fotos. A introdução escrita por Leaska conta um pouco da vida de ambas e de como esta paixão acabou vindo à público, somente após a morte do marido de Vita, Harold Nicolson e de Violet em 1971. 

“Como se podia esperar, o marido de Violet, Denys Trefusis, queimou todas as cartas de Vita para Violet quando seu casamento atingiu seu grau mais destrutivo e, obliterado o lado de Vita da correspondência, restou apenas a confissão em si para iluminar seu papel no caso, tornando-a, em essência, a história de Vita. Agora, dezoito anos após a morte de Violet, as cartas aqui publicadas, a sua maioria pela primeira vez, documentam seu lado desta paixão infortunada. Essa é a única justificativa para este volume.” escreveu Leaska na introdução. 

O livro publicado pela L&PM em 1993, hoje esgotado

Vita Sackville-West mais tarde seria confidente e amante de Virginia Woolf, como mostra a biografia de Virginia, publicada na Coleção L&PM Pocket.

Verbete de hoje: Nani

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o brasileiro Nani (1951) que, em meados de 2012, lança novo livro pela L&PM: “Humor mais grosso, humor menos grosso”.

Em 1984, quando a Record editou um álbum com as tiras de Vereda Tropical, criação de Nani, publicadas originalmente em O Bicho e depois no Jornal do Brasil, Luis Fernando Verissimo escreveu: “O desenho de Nani tem um jeito inexplicavelmente brasileiro. É um desenho deliberadamente simples, que, no entanto, escapa do ‘faux naif’, como dizem na Praça Mauá, malandramente. Diz tudo o que quer dizer com economia, mas não tão rapidamente que falte o detalhe, que pode não ser essencial, mas é engraçado. O humor de Nani também é o humor do Brasil do nosso infortúnio: irreverente e perplexo, impaciente e pacífico. O humor de quem olha o que se passa nesta vereda tropical com uma mistura de espanto, divertimento, impotência, revolta e resignação, mas não se entrega”. Ernani Diniz Lucas é de Esmeralda, Minas Gerais, nascido em 27 de fevereiro. Desde 1972 colaborou profissionalmente em O Pasquim, Ovelha Negra, Status Humor e Ele & Ela (onde criou a divertida página mensal de Aspone) Participou das edições do Almanaque do Humordaz (seção de cartuns e quadrinhos humorísticos do Estado de Minas) e teve as histórias de seu personagem Zé Zebrinha reunidas num miniálbum da Codecri (editora de O Pasquim). Até hoje é figura constante nas revistas nacionais de humor, quer como cartunista ou quadrinista. Nani chegou a ter uma revista só dele, chamada (muito apropriadamente) Onanista. Trabalhou para a publicação de Ota, Cerol Quadrinhos Urgentes. Para Ota também colaborou nas edições da Mad (Vecchi e Record). Seu traço também esteve na Megaquadrinhos e, a partir de 1999, na revista Bundas, onde fez as páginas (charges, HQs e textos) Nani pinta e borda. Na coleção “L&PM Pocket ”, publicou Humor politicamente incorreto (2002), Foi bom prá você? (2004), É grave, doutor? (2005), Orai pornô (2005) e Batom na cueca (2008). Na Desiderata, teve editados dois livros de charges e HQs, Humor 100% sexual (2006) e Humor de bar (2007).

Lá fora, a voz do vento ulule rouca!
Tu, a cabeça no meu ombro inclina,
E essa boca vermelha e pequenina
Aproxima, a sorrir, de minha boca!

Que eu a fronte repouse ansiosa e louca
Em teu seio, mais alvo que a neblina
Que, mas manhãs hiemais, úmida e fina,
Da serra as grimpas verdejantes touca!

Solta as tranças agora, como um manto!
Canta! Embala-me o sono com teu canto!
E eu, aos raios tranquilos desse olhar,

Possa dormir sereno, como o rio
Que, em noites calmas, sossegado e frio,
Dorme aos raios de prata do luar!…

De Olavo Bilac, Antologia Poética

Sérgio Capparelli é homenageado na Feira de Bolonha

Sérgio Capparelli, autor de Os meninos da Rua da Praia111 poemas para crianças, é o homenageado deste ano na Feira do Livro de Bolonha, na Itália, um dos eventos sobre livros infantis mais importantes do mundo. A honraria é um oferecimento da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil da Itália (FNLIJ), que divulgou nesta semana as obras selecionadas para o catálogo da entidade. Capparelli, que é mineiro, mas fez toda a sua carreira literária no Rio Grande do Sul, teve seu livro A lua dentro do coco incluído na seleta Lista de Honra da FNLIJ. Outra brasileira que ganhou destaque no evento é a gaúcha Lygia Bojunga, que comemora 30 anos de carreira este ano.

Capparelli nasceu em Minas, fez carreira no RS e hoje mora na China

Não há dúvidas de que a homenagem ao grande Capparelli na Feira do Livro de Bolonha é mais do que merecida. Além da literatura infantil, Sérgio Capparelli é um grande conhecedor da literatura chinesa e organizou, em parceria com Márcia Schmaltz, os livros Contos sobrenaturais chineses e Fábulas da China fabulosa. Para abril, está prevista a chegada do livro Poemas clássicos chineses, organizado por ele e Sun Yuqi.

Além de Capparelli, a L&PM marca presença com outro autor: A. S. Franchini, que teve o seu As 100 melhores lendas do folclore brasileiro entre os escolhidos para compor o catálogo da FNLIJ.

Dicas de leitura no Dia do Repórter

Além de Hunter Thompson, que já foi citado por aqui hoje, no Dia do Repórter, temos outras dicas de leituras para quem curte uma reportagem emocionante com clima de aventura. Dá só uma olhada:

1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares – Testemunha e participante do Movimento da Legalidade, o jornalista Flávio Tavares escreveu este belo romance reportagem, onde a memória é o fio condutor que desnuda detalhes e revela a face oculta de tudo, com uma surpresa a cada passo. Colunista político nos anos 1960 da Última Hora, do Rio de Janeiro, Flávio foi preso e banido do Brasil pela ditadura em 1969. Á volta do exílio, trabalhou nos maiores jornais do país e publicou, antes do recém lançado “1961”, os livros Memórias do Esquecimento e o Dia em que Getúlio matou Allende.

10 dias que abalaram o mundo, de John Reed – Considerada a primeira grande reportagem moderna, este livro é uma minuciosa descrição da revolução comunista de 1917 na Rússia. Em 1914, John Reed, um norte-americano do Oregon foi para a Europa cobrir, pela Metropolitan Magazine, a Primeira Grande Guerra, recém iniciada. Ele e a esposa acabaram chegando em Moscou no auge do movimento revolucionário. Em 1981, Warren Beatty dirigiu e estrelou “Reds” como Reeds.

Um trem para a Suíça, de David Coimbra – Repórter esportivo, David Coimbra escreve no jornal com a mesma paixão que dedica a seus romances e novelas. Este livro reúnem crônicas e relatos de viagens. A Olimpíada da China e três Copas do mundo são o pano de fundo para histórias em países como Coreia, Japão, China, Malásia, África do Sul, Bolívia, Venezuela, Alemanha e Suíça. Entre as histórias/reportagens está um perigoso contato com os guerrilheiros das Farc nas selvas bolivianas.

Operação Condor: o seqüestro dos uruguaios, de Luiz Cláudio Cunha O sequestro de um casal de uruguaios, em 1978, numa ação dos órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil, expôs as vísceras da sinistra Operação Condor à opinião pública brasileira e internacional. Alertados por um telefonema anônimo, o repórter Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J.B. Scalco foram conduzidos até um apartamento em Porto Alegre, onde surpreenderam militares uruguaios e policiais brasileiros na fase final do sequestro do casal. Pela primeira vez no continente, jornalistas testemunhavam a Condor em pleno vôo.

O Smurf Repórter, de Peyo – Ok, este não é exatamente um livro sério e de reportagem como os outros que indicamos. Mas para quem quer descobrir, de forma divertida e colorida, um pouco mais sobre a vida do repórter, tá valendo. Fica a dica para as crianças. Em formato convencional e pocket.

Um repórter como nenhum outro

No dia do Repórter, 16 de fevereiro, lembramos de Hunter Thompson, jornalista cujas matérias deram origem ao gonzo jornalismo. Norte-americano nascido em Kentucky, Hunter Stockton Thompson inovou na forma e no conteúdo de suas reportagens. Mergulhando dentro de cada uma de suas pautas, acompanhado de muito álcool e turbinado por alguma substância ilícita, ele criou um jeito próprio de escrever que o elevou à categoria de celebridade “Cult”.

Hunter Thompson em seu "escritório"

A criação do estilo gonzo aconteceu quase que por acidente, numa tentativa de orbitar entre o mundo do novo jornalismo de Tom Wolfe e Gay Talese e as liberdades ilusórias poéticas de William Burroughs e Jack Kerouac. Gonzo designa um estilo de grande reportagem marcada pela participação do jornalista no âmago da reportagem, cuja redação é feita em primeira pessoa, com uso de sarcasmo e digressões, onde é muito difícil diferenciar ficção e realidade.

“Se os praticantes do Novo Jornalismo seguiam uma série de regras e se mantinham fiéis ao mais elementar dos paradigmas jornalísticos (a distância entre o observador e o que é observado), Thompson queria transpor a barreira essencial que o separava da ficção: o compromisso com a verdade. Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero inventado por Thompson tinha sua força baseada na desobediência de padrões e no desrespeito das normas estabelecidas, o que contribuiu para que o seu criador logo se tornasse um dos principais ícones da contracultura. Enquanto Truman Capote esmiuçava os mais secretos pormenores de um assassinato com pretensa neutralidade, Thompson foi morar durante dezoito meses com os Hell’s Angels para fazer de sua própria experiência um raio-x preciso de uma das mais perigosas gangues de motoqueiros dos Estados Unidos. Foi o jornalista Bill Cardoso quem cunhou o termo gonzo em uma carta que escreveu ao amigo: ‘Eu não sei que porra você está fazendo, mas você mudou tudo. É totalmente gonzo’. Segundo Cardoso, a palavra originou-se da gíria franco-canadense gonzeaux, que significaria algo como ‘caminho iluminado.’.” escreveu sobre Hunter Thompson o jornalista André Czarnobai, o Cardoso.

Hunter Thompson incorporou e adotou o termo gonzo pouco antes de aceitar cobrir uma corrida no deserto de Nevada, para a revista Sports Illustrated. Em um conversível vermelho, ele partiu para Las Vegas na companhia de seu advogado, um samoano nada confiável. O resultado dessa aventura cercada de viagens alucinantes e alucinógenas acabou virando seu principal livro: Medo e Delírio em Las Vegas.

Dele, a Coleção L&PM Pocket publica ainda Rum – Diário de um jornalista bêbado, seu único livro de ficção. Mas que, claro, é baseado na sua própria experiência como jornalista e… bêbado.

Marilyn Monroe por Cartier-Bresson

No set de filmagem de Os desajustados (The misfits), em 1960, as lentes do fotógrafo Henri Cartier-Bresson flagraram uma moça de ar melancólico e olhar distante. Cabisbaixa, nem parecia a estonteante musa do cinema, que despertava a cobiça dos homens mais poderosos do mundo com sua beleza irresistível. Altiva, nunca decepcionou diante das câmeras. Mas os instantes precisos capturados pelo mestre da fotografia deixam transparecer uma Marilyn Monroe que poucos conheciam. Seu brilho radiante era, às vezes, só uma fachada para o público quando, na verdade, seu estado de espírito era sombrio.

Em Cartier-Bresson: o olhar do século, o biógrafo Pierre Assouline comenta este episódio da gravação de Os desajustados:

Mesmo ao cobrir um evento muito bem organizado, também acompanhado por vários colegas, Cartier-Bresson sempre consegue tirar pelo menos uma foto com a sua marca pessoal. É o que acontece em 1960, quando John Huston filma “Os desajustados”, e seus fotógrafos da Magnum revezam-se nas filmagens, dois a dois. Apesar do excesso e da superabundância de imagens, tanto em qualidade quanto em quantidade, ele consegue tirar uma foto de Marilyn sob os olhares dos demais, única por sua composição, sua ironia e sua ternura. Talvez a atriz não estivesse totalmente alheia à magia do momento. Durante o jantar da equipe, o fotógrafo coloca sua Leica sobre uma cadeira vazia à sua direita. A atriz chega atrasada. Um olhar à máquina, outro a Cartier-Bresson, o tempo de associar um ao outro e ele já tira proveito da ocasião:

– Você gostaria de conceder-lhe sua bênção?

Ela faz que senta sobre a Leica, roça-a de leve com as nádegas, esboça um sorriso malicioso e pronto…

As fotos de Cartier-Bresson e sua Leica “abençoada” fazem parte da exposição “Quero ser Marilyn Monroe” que entra em cartaz na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a partir de 04 março. Serão 125 obras de 50 artistas distribuídas nos 500 m² da mostra. Uma oportunidade imperdível para ver de perto, além das fotografias de Cartier-Bresson, o trabalho de artistas como Andy Warhol, Douglas Kirkland, Cecil Beaton, Milton H. Greene, Richard Lindner, Kim Dong-Yoo, entre outros.