Arquivo mensais:março 2012

Millôr e L&PM: uma parceria de décadas

Uma vez, num verão muito quente em 1975, quatro jovens pegaram um ônibus em Porto Alegre e foram ao Rio de Janeiro falar com Millôr Fernandes. O encontro havia sido marcado por telefone. A famosa secretária eletrônica do Millôr registrara nosso interesse em conversar com ele. E foi com grande emoção que recebemos sua ligação de volta, com o dia e a hora para aparecermos no seu estúdio na rua Gomes Carneiro, bem no comecinho de Ipanema. E lá fomos nós, Paulo Lima e eu, donos da raquítica e recém fundada L&PM Editores (4 livros em catálogo na época), o desenhista Edgar Vasques e o humorista Fraga, co-editores da futura “Antologia Brasileira de Humor” a ser publicada pela L&PM em dois volumes. A visita era exatamente para convidá-lo para participar desta antologia. No dia combinado, lá chegamos e fomos recebidos magnificamente por Millôr. A conversa estava tão boa que ele cometeu a suprema gentileza de nos convidar para almoçar em seu apartamento na Vieira Souto esquina com Aníbal de Mendonça. De frente para o mar de Ipanema. Foi a primeira de tantas vezes que desfrutei dos magníficos almoços dirigidos pela poderosa assessoria gastronômica da Dona Wanda, a esposa de Millôr.

Assim começou nosso longo convívio e nossa parceria editorial. Millôr Fernandes e Josué Guimarães foram os primeiros grandes autores de renome nacional publicados pela L&PM.  Millôr nos deixou no dia dia 27 de março de 2012 e parte fundamental de seu legado foi (e ainda é) editado por nós. A seguir, os títulos e os respectivos anos das edições L&PM:

Antologia brasileira de humor (em 2 vols. com vários autores)  – 1975
Devora-me ou te decifro – 1976
Liberdade, Liberdade (teatro, com Flávio Rangel)  – 1977, reeditado na Col. L&PM Pocket em 1998
É… (teatro) – 1977
A história é uma história (teatro)  – 1978
Orfãos de Jânio (teatro) – 1979
Flávia cabeça tronco e membros (teatro) – 1979, reeditado na Col. L&PM Pocket em 2001
Bons Tempos Hein? (teatro) –  1979
Um elefante no Caos (teatro) –  1979, reeditado na Col. L&PM Pocket em 1998
Vidigal: memórias de um Sargento do Milícias (música de Carlinhos Lira) – 1982
Duas Taboas e uma paixão (teatro) – 1982
Homem do princípio ao fim (teatro) – 1982, reeditado na Col. L&PM Pocket em 2000
Poemas –  1984, reeditado Col. L&PM Pocket 2001
Diários da Nova República 1 – 1985
Diários da Nova República 2 – 1988
Diários da Nova República 3 – 1988
Humor nos tempos de Collor (com Jô Soares e Luis Fernando Veríssimo) – 1991
Millôr Definitivo – A Bíblia do Caos – 1994 (edição brochura, formato 16 x 23cm); 2000 (9ª edição especial em capa dura com sobre-capa); 2002 – reeditado na Col. L&PM Pocket; 2007 – 15ª edição em capa dura com sobre-capa (formato 16 x 23cm), ampliada em 157 frases.
Kaos (teatro) – 1995, Col. L&PM Pocket em 2008
Hai kais  – 1997, Col. L&PM Pocket
O livro vermelho dos pensamentos do Millôr –  2005, Col. L&PM Pocket
Crítica da razão impura ou O primado da ignorância – Sobre Brejal dos Guajas, de José Sarney, e Dependência e Desenvolvimento na América Latina, de Fernando Henrique Cardoso – 2002
Viúva imortal (teatro) – 2009, Col. L&PM Pocket

Traduções e adaptações teatrais:

A megera domada – 1979, reeditado na Col. L&PM Pocket em 1998
Rei Lear, de W. Shakespeare 1980, reeditado na Col. L&PM Pocket em 1997
O jardim das cerejeiras, de Anton Tchekov – 1981, reeditado na Col. L&PM Pocket em 2006
As lágrimas amargas de Petra Von Kant, de Rainer W. Fassbinder  – 1982
Hamlet, de W. Shakespeare  – 1984, reeditado na Col. L&PM Pocket em 1997
Tio Vânia, de Anton Tchekov  – 1984, reeditado na Col. L&PM Pocket em 1997
Fedra, de Racine  – 1985, reeditado na Col. L&PM Pocket em 2002
Pigmaleão, de Bernard Shaw  – 1985, reeditado na Col. L&PM Pocket em 2006
Don Juan, o convidado de pedra, de Molière  – 1994, reeditado na Col. L&PM Pocket em 2004
As alegres matronas de Windsor, de W. Shakespeare 1995, Col. L&PM Pocket
Lisístrata, de Aristófanes  –  2002, Col. L&PM Pocket
A Celestina, de Fernando de Rojas – 2008

Para ver os livros de Millôr no nosso catálogo, clique aqui.
Para ver as obras traduzidas por ele, clique aqui.

As mulheres de “On the road”

E a contagem regressiva para a estreia de On the road continua! Cada teaser compartilhado pela produtora mk2 nos deixa mais ansiosos para conferir a adaptação de Walter Salles para a obra mais famosa de Jack Kerouac para o cinema. Hoje foi o dia das mulheres de On the road. Vejam como ficaram as personagens Terry (Alice Braga), Galantea Dunkel (Elisabeth Moss) e Jane (Amy Adams).

Alice Braga como Terry

Elisabeth Moss como Galantea Dunkel

Amy Adams como Jane

 

O cartaz do novo filme de Woody Allen

Ainda nem nos despedimos do apaixonante Meia-noite em Paris (que estreou nesta mesma época no ano passado) e Woody Allen já anunciou a data do lançamento de mais um filme. Os italianos serão os primeiros a ver To Rome with love com Roberto Benigni e Penelope Cruz, Allec Baldwin, Ellen Page e Jesse Eisenberg no elenco, no dia 20 de abril (sim, daqui a pouco!). O cartaz oficial do filme foi divulgado ontem pela produtora:

Inspirado no Decamerão de Boccaccio, To Rome With Love conta diversas histórias que se passam na capital italiana. Mas, na verdade, parece só um pretexto para explorar as ruas, a arquitetura e os símbolos de uma das cidades mais lindas e românticas do mundo. Pra sentir um gostinho do que vem por aí, veja algumas cenas do filme e de making of (em italiano):

Tchékhov, Goethe e Shakespeare em Curitiba

Todo ano, o Festival de Teatro de Curitiba reúne peças de todo o Brasil nos palcos da capital paranaense. A programação 2012 traz textos baseados em autores publicados por aqui como Tchékhov, Goethe e Shakespeare. Aí vão alguns deles, com a respectiva descrição disponível no site do festival.

Salada Russa – “União de duas peças cômicas de Anton Tchékhov, O Urso e Os Males do Tabaco, que têm como característica uma abordagem sutil do riso, tratando de questões profundas com comicidade e inteligência, proporcionando ao expectador a reflexão e o riso.” – Dias 30 e 31 de março no Teatro José Maria.

Como a gente gosta – “Rosalinda se disfarça de homem e foge da corte para a floresta onde encontra seu enamorado Orlando, fazendo-o imaginar que ela (travestida de homem) fosse de verdade sua amada. Lições de como curar a febre do amor, inspiradas na obra As you like it, de Shakespeare.” – Dias 3, 4 e 5 de abril na Praça Osório.

Werther – “Monólogo adaptado no romance de Goethe, Werther traz à tona os sofrimentos e anseios pulsantes e ardidos do jovem protagonista, que não enxerga mais motivos razoáveis na vida sem ser correspondido na paixão que tanto alimenta por Carlota. Um espetáculo ambiguamente cru e encantador sobre a dor vívida que persiste.” – Dias 3 e 4 de abril no Teatro Lala Schneider.

Licht+licht – “A nova produção da Cia de Ópera Seca, que faz sua estreia nacional no Festival de Teatro de Curitiba, mostra Goethe em seu leito de morte ao pronunciar suas últimas palavras: “Licht, mehr Licht” (Luz, mais Luz). Em seu delírio, o autor alemão vê seus personagens (Fausto/Mephisto, Werther/Willelm Meister e Margarida/Charlotte) em relações bem diferentes das imaginadas por ele. Depois de “Travesties”, de Tom Stoppard, sucesso no Festival de Curitiba em 2009, esta é a segunda direção de Caetano Vilela para a Cia. de Ópera Seca, que traz também para esta edição um espetáculo do núcleo inglês, capitaneado por Gerald Thomas.” – Dias 4 e 5 de abril no Teatro Guairinha.

Monalisa em dose dupla

Uma novidade anunciada pelo Museu do Prado, na Espanha, promete revolucionar o mundo das artes: uma pintura muito semelhante à Monalisa de Leonardo da Vinci foi encontrada no depósito do museu, em Barcelona, e a autoria da obra é atribuída a um dos ajudantes do pintor italiano, que provavelmente fez a cópia ao mesmo tempo em que Da Vinci pintava sua Gioconda.

A tela retrata a mesma mulher pintada por Da Vinci, com a mesma pose e o mesmo sorriso enigmático, só que mais jovem, com o rosto mais claro e roupas em cores mais vivas. Após um cuidadoso processo de restauração, foram removidas várias camadas de tinta escura do fundo do quadro, revelando uma paisagem de colinas e rios quase igual à pintura original.

A descoberta vai ajudar a entender melhor um dos quadros mais famosos do mundo, desde detalhes sobre como ele foi feito até as intervenções que o alteraram de alguma forma ao longo do tempo. Acredita-se, por exemplo, que o aspecto envelhecido da mulher representada no célebre quadro de Da Vinci pode ser resultado da ação do verniz na tela e não da vontade do pintor.

Quer saber mais sobre o quadro mais famoso do mundo? A dica é ler “Roubaram a Mona Lisa!” um livro que relata, de forma envolvente e dinâmica, o maior roubo de arte da história.

E não é que ele ficou parecido com Ginsberg?

Em dezembro do ano passado, escrevi aqui mesmo, neste blog, o texto “Socorro! Harry Potter virou poeta beat” em que eu expressava todo o meu preconceito e descontentamento com a escolha do ator Daniel Radcliffe (Harry Potter) para o papel de Allen Ginsberg no filme Kill Your Darlings. Pois eis que hoje, 28 de março, foram divulgadas as primeiras fotos do moço no papel do autor de Uivo. E… preciso dizer que ele não apenas me parece bem convincente, como está deveras parecido com Ginsberg. Ponto para os que discordaram de mim na época. Só que agora, claro, ainda falta vê-lo em ação. Mas isso vai ficar pra 2013, quando o filme estrear. Daí volto a me manifestar. (Paula Taitelbaum)

E não é que ele está parecido mesmo?

Parece que Harry Potter ficou mesmo para trás

O ator Jack Hudson faz o papel de Kerouac

Dane Dehaan é Lucien Carr

Kill Your Darlings conta a história de como Ginsberg e Kerouac se aproximaram, através do amigo em comum e editor, Lucien Carr. A trama gira em torno de um assassinato cometido por Carr em Nova York no ano de 1944. Além de Radcliffe, o filme apresenta o ator Jack Huston como Kerouac e Dane Dehaan como Carr. O longa é dirigido pelo iniciante John Krokidas.

Millôr Fernandes (1923 – 2012)

Ivan Pinheiro Machado

Primeiro, eu fazia parte da imensa legião dos admiradores de Millôr. O mágico das palavras e do traço. Depois fui seu editor, seu amigo e passei a admirá-lo mais ainda. Foi meu padrinho de casamento no começo da década de 80. Foi a única vez que o vi engravatado. Millôr falava muito e dizia coisas brilhantes. E se calava para ouvir seu interlocutor atentamente. Era delicado, gentil e amigo. Muitos de seus bilhetes acabavam com a saudação, “fra-paternalmente, o Millôr”. O Paulo Lima e eu tivemos o privilégio de uma convivência de quase 40 anos com Millôr Fernandes.  Ele era bem mais velho do que nós. E a partir de um certo tempo passamos a temer este momento. E Millôr se foi ontem às 21 horas, aos 88 anos, depois de uma longa agonia. Seu filho, Ivan Fernandes, me disse que no final ele se foi suavemente, sem sofrimento. Esta é a dura e terrível realidade da vida; ela acaba. Leva os queridos e ficamos nós. Com esta dor no peito, este nó na garganta e esta saudade do homem, do amigo e do imenso artista que se foi.

Segundo informou a família de Millôr, o velório está marcado para quinta-feira, dia 29 de março, das 10h às 15h no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju.