Arquivo mensais:abril 2012

Verbete de hoje: José Luis Salinas

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o argentino José Luis Salinas (1908 – 1985).

Salinas é não só um dos maiores nomes dos quadrinhos argentinos, mas um mestre mundial nessa arte. Foi o primeiro artista platense da especialidade a ter seus trabalhos publicados em muitas partes do mundo, firmando ainda mais o seu conceito quando passou a colaborar para o King Features Syndicate. Mas vamos mais devagar. É relevante contar toda a história desse buenairense do Bairro de Flores, autodidata completo, que costumava afirmar: “O desenho não se aprende, apenas aperfeiçoamos aquilo que já nasce com a gente”. Começou sua carreira como ilustrador e publicitário. Embora estivesse esporadicamente nas páginas pioneiras da revista de Ramon Columba, El Tony, foi em 1936 que ele realmente marcou sua presença nos quadrinhos. Sua primeira história em série, “Hérnan El Corsário” (publicada por Patozuzú, de Dante Quinterno), marcou o início da moderna tradição de aventuras nas historietas argentinas. Desde o primeiro quadrinho, essa narrativa de oitenta páginas saiu redonda, perfeita, uma beleza em detalhes, anatomia e expressividade dramática. A América do Sul já tinha o seu Harold Foster, que provou talento ainda maior ao adaptar, também em série, para a revista El Hogar, clássicos da literatura internacional. Para essas adaptações, Salinas não utilizou os balloons, tornando as imagens mais limpas, criando verdadeiras obras de arte em cada página. E foram várias as versões que desenhou: Miguel StrogoffO Capitão TormentaA Costa de MarfimEllaa feiticeiraAs minas do Rei SalomãoPimpinela EscarlateOs três mosqueteirosO último dos moicanos O livro da Jangal. Em 1949, a convite do King Features Syndicate, que queria transpor para os quadrinhos um personagem criado originalmente por O. Henry – Cisco Kid –, ele viajou aos Estados Unidos. Fechou contrato com uma curiosa cláusula: continuaria morando no seu país e remeteria o trabalho para os Estados Unidos, a partir dos roteiros que lhe mandava Rod Reed. Assim, entre 1950 e 1968, Salinas desenhou Cisco Kid (imagem) para a meca dos comics norte-americanos, sentado no seu estúdio em Buenos Aires. Clássico dos westerns, Cisco Kid constantemente ganha reedições no mundo inteiro (aqui no Brasil através da revista Eureka e em álbum na coleção “Quadrinhos L&PM”). Em 1973, depois de um período trabalhando em ilustração e criação de livros sobre a História dos trajes e uniformes no século XIX, Salinas voltou ao King. Com roteiros do seu compatriota Alfredo Grassi, desenhou, entre 1973/75, Dick the Gunner (Dicoo artilheiro, no Brasil, em revista própria editada pela RGE). A história, quando Salinas a deixou, ainda teve continuidade, algum tempo, por Lucho Olivera (veja em O). Terminam por aqui as experiências de Salinas nos quadrinhos. Ganhador de todos os prêmios possíveis na Argentina, ele também foi galardoado, em 1976, em Lucca, com o troféu Yellow Kid, o máximo em distinção mundial. Deixou principalmente uma obra a ser admirada através dos anos pelo invariável traço limpo, sereno, expressivo em cada quadrinho, em cada detalhe que ele nunca cansou de desenhar.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

15 de Abril
Segunda-feira

2h20h

Com um rugido monstruoso, a popa começa a mergulhar. As ondas sacodem os botes mais próximos. Aquele prodígio sobre as águas, insígnia da opulência eduardiana, não existe mais, e a deformada carcaça de uma era de esplendor viaja para seu túmulo, num ângulo de 30º e à espantosa velocidade de 75km horários, a 1.600 km da cidade em que Ismay queria aportar na terça-feira.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

15 de Abril
Segunda-feira

2h05h

O naufrágio pode ocorrer a qualquer momento. Toda sorte de objetos desliza na direção da proa. Dos salões, das cabines, das cozinhas, sobem aos conveses superiores o estalejar da louça, vidros, metais, e as detonações do mobiliário ao chocar-se contra as paredes de vante, atribuindo uma cadência apocalíptica ao estridor das válvulas de segurança.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

15 de Abril
Segunda-feira

0h

Ismay conversa com o engenheiro Bell. Os problemas são sérios, diz o técnico, mas as bombas de esgoto vão manter a flutuação. Boxhall desce outra vez. Na sala do correio, já com meio metro de água, os agentes ainda tentam salvar a correspondência. São cinco os funcionários, e um deles, Oscar Woody, comemora hoje seu 44º aniversário.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

14 de Abril
Domingo

23h40min

Fleet vê, a menos de 500m, a massa escura de um enorme iceberg, elevando-se a quase 20m da superfície, e de pronto bate o sino três vezes. Apanha o telefone e espera que alguém atenda na sala de navegação. (…) Já de volta à sala de navegação, gira a manivela do telégrafo, determinando à casa de máquinas parada dos motores e reversão a toda potência. Pelo sistema hidráulico, fecha todas as portas estanques. Deveria acionar previamente o respectivo alarme e esperar dez segundos para fechar. A precipitação o leva a fazer as duas coisas ao mesmo tempo, pois decorrem apenas 15 segundos entre o aviso do vigia e o fechamento das portas. Boxhall, que em seu alojamento ouviu o sino, larga a xícara de chá, levanta-se e dirige-se à sala de navegação 26m adiante. (…) 37 segundos após o aviso do vigia, o Titanic colide em seu costado de estibordo, abaixo da linha d´água e três metros acima da quilha, com a montanha de gelo. Boxhall, a meio caminho da sala de  navegação, sente o baque. Um ligeiro tremor sacode o navio e, durante dez segundos, um surdo rangido assusta quem ainda não dormiu ou desperta quem já o fez. Amassadas, as placas da carena têm as cabeças de seus rebites arrancadas e cedem em vários pontos, ao longo de mais de 90m. As fendas são de alguns centímetros ou escassos milímetros, mas permitem que os quatro primeiros compartimentos de colisão estejam abertos para o mar. Duas toneladas de gelo sujo se desprendem da grimpa do iceberg e tomam despedaçados entre o castelo da proa e a ponte de comando, e também na seção de vante do convés A.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

14 de Abril
Domingo

23h

Recebida do Californian a sétima advertência de gelo. O Capitão Lord informa que seu cargueiro, carcado pelo gelo em  42º 5´N – 50º7´O, vai passar a noite ali.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

14 de Abril
Domingo

21h30min

Recebida do Mesaba, a serviço da Red Star Line, a sexta advertência de gelo, reportando vastos campos gelados e enormes icebergs em  42º a 41º25´N – 49º a 50º30´O, precisamente na rota do Titanic. Atarefado com o tráfego e considerando que avisos smelhantes já são conhecidos, Phillips não a encaminha à sala de navegação, deixando-a numa bandeja em sua mesa, sob um peso de papel. A temperatura é de 0º C. O Titanic avança na máxima velocidade que até agora empregou: 22,5 nós = 41,6km/h.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

14 de Abril
Domingo

20h55min

O capitão pede licença para ausentar-se da festa e visita a ponte. Boxhall o informa sobre a posição do navio, tirada às 20h. Noite estrelada, sem lua. O capitão conversa com Lightoller sobre o tempo, a visibilidade e a navegabilidade nessa área crucial da travessia. O segundo oficial ignora que já chegaram cinco advertências de gelo – tampouco o alerta do capitão – e comenta que, tendo chegado apenas uma, a do Caronia, às 9h, é possível que haja gelo pela frente, mas não muito. Acredita também que, se houver icebergs, serão vistos à claridade das estrelas, mas ambos convêm em que um obstáculo de certa magnitude pode ser melhor detectado através da arrebentação do que pela luz refletida pelas suas partes superiores. O mar, no entnato, plácido qual um lago, minimiza a arrebentação.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

14 de Abril
Domingo

20h

No salão de refeições da Segunda Classe, o reverendo Ernest Carter, 54, dirige um serviço religioso, que se estenderá até às 22h. No restaurante à la carte, o banqueiro Wiedener, na companhia da esposa Eleanor e do filho Harry, oferece ao Capitão Smith um sofisticado jantar, com a presença de seleto grupo de convidados: John Borland Thayer com a mulher Marian e o filho Jack Jr., Lucile e Willian Carter e o assessor presidencial Major Butt. O restaurante pertence ao Ritz Hotel, de Londres. O gerente é o italiano Luigi Gatti, 37, embarcado no Titanic a despeito dos protestos de sua mulher, que teve um mau pressentimento.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.

Enquanto isso, há 100 anos no Titanic…

14 de Abril
Domingo

19h30min

Tempo bom, mar calmo. Já anoiteceu. A temperatura baixa rapidamente: 4º C. A queda indica aproximação de campos de gelo. Na Sala Marconi, o turno é de Phillips, mas Bride o substitui para que possa jantar. Ele ouve e anota a quinta advertência de gelo, expedida pelo cargueiro Californian, navegando de Liverpool para Boston, e dirigida ao Antillian: três grandes icebergs em 42º3´N – 49º9´O, posição 146km à frente do Titanic. O Californian repete a mensagem, agora para o Titanic. Bride responde:
Ok, ouvi quando você a passou ao Antillian.
A mensagem é encaminhada à ponte. Aparentemente, quem a recebe não é Lightoller, mas o Quarto Oficial Boxhall, cuja reação é meramente burocrática: assinala os icebergs na carta náutica. O capitão não toma conhecimento, ele está no restaurante à la carte, no convés B, onde será homenageado. Ismay, por sua vez, ainda se encontra no salão de refeições da Primeira Classe, jantando com o médico William O´Loughlin.

Cardápio do último jantar dos passageiros da Primeira Classe:
Hors-d´ceuvre do bufê
Sopas: Consomé Olga e creme de cevada
Pratos principais: salmão com molho mousseline e pepino, frango salteado com molho lyonnaise, pato assado com molho de maçã, pernil de carneiro assado com molho de menta, filé-mignon Lili, contrafilé grelhado com batatas chateau, prato misto Romana, abobrinha amassada com agrião e aspargos frios à vinagrete, paté de fígado de ganso e talos de salmão.
Sobremesas: pudim inglês Waldorf, pêssegos em geléia de licor, carolinas de chocolate e baunilha e sorvete francês.

Trecho de O Crepúsculo da Arrogância – RMS Titanic Minuto a Minuto, de Sergio Faraco.