Arquivo mensais:junho 2012

Uma super mulher no novo livro de Galeano

Junho
30

Nasceu uma incomodadora

Hoje foi batizada, em 1819, em Buenos Aires, Juana Manso. As águas sagradas a iniciaram no caminho da mansidão, mas Juana Manso nunca foi mansa. Contra ventos e marés, ela fundou, na Argentina e no Uruguai, escolas laicas e mistas, onde se misturavam meninas e meninos, e o ensino da religião não era obrigatório, e o castigo físico era proibido. Escreveu o primeiro texto escolar da história argentina e várias obras mais. Entre elas, um romance que batia duro na hipocrisia conjugal. Fundou a primeira biblioteca popular do interior do país. E se divorciou quando o divórcio não existia. Os jornais de Buenos Aires se deleitavam insultando-a. Quando morreu, a Igreja negou-lhe sepultura.

Trecho de “Os filhos dos dias”, novo livro de Eduardo Galeano que será lançado no Brasil pela L&PM Editores em julho com tradução de Eric Nepomuceno. “Os filhos dos dias” traz uma pequena história para cada dia do ano, sempre centrada em um fato real que aconteceu naquela data.

As bodas de Marilyn Monroe e Arthur Miller

No dia 29 de junho, cerca de sessenta jornalistas são, pois, “convidados” a ir à casa de [Arthur] Miller em Connecticut. Enquanto o casal almoça em segredo não longe do local, na verdade são mais de quatrocentos que desembarcam na propriedade familiar. No começo da tarde, ao seguir de perto a atriz e o escritor, uma correspondente de Paris Match foi morta por um automóvel. Seu sangue espirrou no suéter amarelo de Marilyn que, alguns minutos depois, com grande esforço de sedativos teve de enfrentar a imprensa. Nessa mesma noite, Miller e ela são casados por um juiz.

A imprensa faz de tudo por uma boa foto ou uma informação exclusiva, ainda que banal, sobre um dos casais mais famosos da época. Cada passo de Marilyn Monroe e Arthur Miller naquele 29 de junho de 1956 foi registrado pelas câmeras, flashes e canetas a postos. Afinal, aquele era o dia em que a maior diva do cinema iria se casar com um dos dramaturgos de maior renome da época.

Mas nem tudo são flores nesta história. Dias antes, Marilyn ficou sabendo pelo rádio (!) que seria pedida em casamento e isso a deixou furiosa! Aconteceu assim: Arthur Miller pleiteava um passaporte para a Inglaterra a fim de acompanhar a atriz nas gravações de “O príncipe encantado”, mas a Comissão de Atividades Antiamericanas descobriu que ele participara, anos antes, de reuniões comunistas. Ao ser questionado: “Por que o senhor quer um passaporte?” ele responde “Para ir a Inglaterra com a mulher com quem eu vou me casar”. A informação passa imediatamente às manchetes e se espalha num piscar de olhos.

Consternada, furiosa mesmo, Marilyn sabe pelo rádio que vai se tornar mrs. Arthur Miller sem que ele tenha formalmente feito o pedido. Como se seu consentimento fosse evidente. Foi pega de surpresa. (…) Às pressas, pede socorro aos assessores habituais e convoca os jornalistas à tarde para uma pequena coletiva na porta de casa. Dessa vez remodelada e preparada para o jogo, uma Marilyn toda sorrisos, cheia de segurança e jovialidade, confirma para uma plateia de repórteres a eminência de seu casamento com Arthur Miller. (…) O anúncio oficial da união da bomba sexual e do intelectual engajado alimenta a crônica internacional.

Para saber mais sobre a vida de um dos maiores mitos da história do cinema, leia Marilyn Monroe da Série Biografias L&PM.

Quem não leu “Misto-quente”, não leu Bukowski

Depois de passar um bom tempo esgotado, Misto-quente  está de volta – uma nova reedição acaba de chegar. Um livro que, segundo o tradutor e especialista em Bukowski, Pedro Gonzaga, talvez devesse se chamar Pão com mortadela visto a pobreza do cenário em que a história se desenvolve. Mas Misto-Quente é mais sonoro, mais aberto a significados, mais “americanizado” diriam alguns. Pedro manteve o título escolhido na antiga tradução brasileira de Luís Antônio Sampaio Chagas, mas realizou um novo trabalho nesta edição da Coleção L&PM Pocket que foi lançada pela pela primeira vez em 2005: “Tentei estabelecer uma tradução que mantivesse os abismos abertos, que mantivesse o frescor ainda presente no original, mais de vinte anos depois de sua publicação, uma tradução que resistisse o máximo possível ao dobrar de esquina das décadas que ainda hão de vir”.

Misto-quente é um romance com toques autobiográficos que cativa o leitor pela  aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século XX. Apesar de ser o quarto romance dos seis que o autor escreveu e de ter sido lançado quando ele já contava mais de sessenta anos, o livro ilumina toda a obra de Bukowski. Pode-se dizer: quem não leu Misto-quente, não leu Bukowski.

“A primeira coisa de que me lembro é de estar debaixo de alguma coisa.” É a frase de abertura de Misto-Quente.

A Coleção L&PM Pocket publica todos os romances de Bukowski.

40.630 libras por um livro de Agatha Christie

A Rainha do Crime realmente tem súditos dispostos a mostrar-lhe reverência. E não só isso: dispostos, também, a pagar um preço alto por um livro seu. Um exemplar do livro “Poirot Investiga”, de Agatha Christie, foi leiloado por um valor recorde de 40.630 libras. Acredita-se que este é o valor mais alto já alcançado por um livro de Christie. Em 2009, um exemplar de  “O Misterioso Caso de Styles” havia sido vendido por foi de 10 mil libras.

A coletânea de contos, de 1924, foi leiloada pela casa Dominic Winter e tinha um preço estimado entre 3.000 e 5.000 libras. Mas depois de muitos lances, foi arrematada por Christian Jonkers, da Jonkers Rare Books. Segundo Chris Albury, que comandou o leilão, o livro era particularmente atrativo a colecionadores porque contém a primeira imagem do famoso detetive belga Hercule Poirot e tem uma sobrecapa de papel por cima da capa dura.

“A sobrecapa é a chave”, disse. “Está perfeita e geralmente sobrecapas dessa época tem pedaços faltando. Nessa o Poirot está completamente intacto. Sobrecapas de antes da Segunda Guerra são muito menos comuns do que as de depois da guerra.”

Já por aqui, você vai encontrar Os primeiros casos de Poirot por 19 reais.

O tricentenário de Rousseau

Filósofo, pedagogo, músico e viajante, Jean-Jacques Rousseau nasceu em 28 de junho de 1712 em Genebra, na Suíça. Litaralmente genial, entre outra coisas, inventou um sistema de notação musical e compôs óperas como As musas galantes e, em 1750, foi premiado pela Academia de Dijon pelo Discurso sobre as ciências e as artes. Apaixonado pelo saber e pelos ideiais de liberdade, Rousseau elaborou uma doutrina segundo a qual o homem é um ser naturalmente bom, cuja bondade foi corrompida pela sociedade. Figura central do iluminismo, influenciou os líderes da Revolução Francesa e, nos últimos anos de vida, amargurado, refletiu sobre a natureza e o homem em Os devaneios do caminhante solitário (Coleção L&PM Pocket).

Desde o ano passado, a cidade de Genebra está em festa pelo tricentenário de Rousseau, seu mais ilustre filho. Hoje, na capital suíça, será apresentado, dentro da programação de  “2012 – Rousseau pour tous”, no Parc de la Grange, o show “The Shadow of Light”, uma ficção histórica que combina teatro, música e “filme instantâneo”. Outro destaque será a estreia mundial, em setembro, da ópera de Philippe Fénelon “JJR (cidadão de Genebra)” com direção de Ian Burton e encenada por Robert Carsen. O programa do evento é o resultado da participação de uma ampla gama de agentes culturais internacionais.

Abaixo, um vídeo em animação feito pela Univesp sobre a vida e obra de Rousseau.

 

Rousseau é um dos mais recentes títulos da Série Encyclopaedia e, de sua autoria, a Coleção L&PM Pocket publica, além de “Os devaneios do caminhante solitário“, “O Contrato Social” e “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens“.

Será Viggo Mortensen o próximo Drácula?

Estreia em 2013 mais um filme baseado na história do lendário Drácula de Bram Stoker. Em The Last Voyage of the Demeter, o conde embarca no navio Deméter rumo a Londres e, durante a viagem, os tripulantes começam a desaparecer misteriosamente. Ninguém a bordo desconfia, no entanto, que há entre os passageiros um vampiro faminto.

E a pergunta que não quer calar é: quem vai interpretar o personagem principal? Rumores do mundo cinematográfico apontam Viggo Mortensen como forte candidato. Já que a produção do filme desconversou quando foi questionada sobre o assunto, a expectativa continua.

Imagem ideal pra gente ir se acostumando com Viggo no papel de Drácula

Pra quem não lembra, Viggo Mortensen fez o lendário Aragorn de Senhor dos Anéis, viveu Sigmund Freud no filme Um método perigoso e estreia em julho como William Burroughs no filme Na Estrada, de Walter Salles. Consegue imaginá-lo como Drácula?

O “vinho” antes do vinho

No princípio era o verbo. E o nome do vinho precedeu a cultura da vinha. A pré-história do vinho remonta a vários milênios antes do início da era cristã, com o Soma, bebida sacrificial fermentada da Índia védica, que além de uma mistura mágica era um deus poderoso. Essa “poção da imortalidade” não era um vinho de uvas, mas o suco de uma planta sacrificial (ao que tudo indica, a Asclepias acida) que provavelmente tinha propriedades psicotrópicas ou psicodélicas. E o licor do Soma tinha o nome de Vena. Do Vena (amado, em sânscrito) se originaram  os nomes que designam o vinho em quase todas as línguas e povos da Europa: é o caso do russo (vino), do grego (woinos, depois oinos), do latim (vinum), do italiano e do espanhol (vino), do português (vinho), do alemão (wein), do inglês (wine) e do francês (vin). De origem mítica, de essência mística, de natureza santificada, de consumo francês, europeu e mundial, o vinho sempre foi uma bebida civilizatória. O vinho é muito mais do que “vinho”: é um patrimônio da humanidade. (Introdução do livro Vinho, de Jean-François Gautier, Série Encyclopaedia)

Vinho combina com um bom livro. E, como mostram as fotos abaixo, também com bons escritores:

O poeta português Fernando Pessoa em uma adega

Pablo Neruda e Vinicius de Moraes entre garrafas de vinho

Charles Bukowski bem agarrado em uma garrafa de vinho

Livros vão diminuir tempo de prisão

Livros libertam. O que antes poderia soar metaforicamente, agora virou realidade no Brasil. Isso porque foi publicada em 22 de junho, no Diário Oficial da União, uma portaria conjunta do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Justiça Federal que estabelece a diminuição de quatro dias de prisão a cada obra lida. Isso mesmo: os detentos de presídios federais poderão reduzir suas penas lendo livros. Caso o preso leia 12 obras ao longo de um ano, e comprove a leitura por meio de resenhas, ele deixará de passar 48 dias no presídio.  

O projeto chama-se “Remição pela Leitura” e a inscrição é voluntária. Cada participante terá entre 21 e 30 dias para ler a obra que, pela Portaria Conjunta nº 276, poderá ser literária, científica ou filosófica. Nas resenhas, serão avaliados estética (uso de parágrafos e de letra cursiva), limitação ao tema e fidedignidade (não serão permitidos plágios). A análise das resenhas e o acompanhamento dos participantes ficarão a cargo de uma comissão nomeada pelo diretor de cada penitenciária.

O projeto será aplicado apenas nos quatro presídios federais do país. Poderão participar detentos em regime fechado e presos provisórios, que ainda não foram a julgamento. Ainda de acordo com o texto da portaria, as resenhas deverão ser enviadas posteriormente a um juiz, que decidirá se haverá remissão da pena. Os presídios garantem que possuem biblioteca e que têm um bom acervo a oferecer. É o mínimo que se espera para a ideia vingar…

A notícia parou na mídia internacional e foi publicada hoje no jornal inglês The Guardian.

Michael Jackson por Andy Warhol

Andy Warhol tinha verdadeiro fascínio por celebridades. Tanto que, entre os anos 70 e 80, o papa da pop arte fotografou todos os famosos que andavam pela Big Apple. Entre eles, claro, estava Michael Jackson, o jovem astro da música que andava pela cidade para anunciar a nova turnê de seu grupo The Jacksons numa grande e disputadíssima coletiva de imprensa no Central Park.

Sempre com sua câmera fotográfica a postos, ele estava lá e fez várias imagens no dia. Algumas destas fotos estão no livro America, que deve chegar às livrarias do Brasil em julho pela L&PM.

The Jacksons durante coletiva de imprensa no Central Park

Michael Jackson no livro "America" de Andy Warhol

Mais tarde, depois que o grupo The Jacksons se desfez e Michael partiu rumo aos píncaros do sucesso em carreira solo, ele foi tema das famosas séries de serigrafias de Andy Warhol. O retrato feito em 1984, que estampou uma das capas da revista Time daquele ano, foi vendido em 2009, pouco depois da morte do cantor, por um valor que até hoje não foi revelado.

Michael Jackson por Andy Warhol (1984)

Michael Jackson também é personagem de Diários de Andy Warhol. No dia 2 de fevereiro de 1977, ele contou à amiga Pat Hackett como eles se conheceram:

(…) às 11h Catherine e eu fomos até o Regine’s para entrevistar Michael Jackson, do Jackson 5. Agora ele está muito alto e com uma voz  realmente aguda. (…) Toda a situação era engraçada, porque na verdade Catherine e eu não sabíamos nada sobre Michael Jackson e ele não sabia nada sobre mim – ele pensou que eu fosse um poeta ou algo assim. Por isso ele me fez perguntas que alguém que me conheça jamais faria – por exemplo, se eu era casado, se eu tinha filhos, se minha mãe está viva… (risos) Eu disse “Ela está num asilo”.

A vertigem de Michelangelo

Michelangelo e o aprendiz encarregado do gesso galgam a escada de plataformas que conduz à “ponte”, vinte metros acima. O menino coloca o emboço, depois estende o carvão sobre o teto. Com o punção, depois com o carvão, Michelangelo traça os contornos como onze anos antes, quando trabalhava com seu mestre Ghirlandaio nos afrescos de Santa Maria Novella. Enquanto espera que as cores sejam moídas embaixo, ele olha fixamente o labirinto, a seus pés, e suas pernas vacilam… Como confessará por diversas vezes em suas Cartas, Michelangelo sente uma vertigem. Contudo, o labirinto da Sistina o fascina. É um dos locais sagrados da cristandade, os peregrinos devem percorrê-lo de joelhos para a própria edificação e penitência… Sim, mas como alcançar o quadrado sagrado que segue os seis círculos consecutivos (como os seis dias da Criação) do trajeto a descobrir, sem saltar nele? Para alcançar a espiritualidade é preciso saltar de um espaço para outro, reflete Michelangelo, como fez Platão, do sensível ao inteligível. Mas quem pode dar conta desse salto? Ele se sente sugado para o vazio e se mantém erguido com dificuldade… Reunindo toda a sua energia, o “Divino” está de pé, agarrando sem delicadeza o pincel que lhe estende o ajudante. Começa a pintar com a cabeça inclinada, a pintura escorrendo sobre seu rosto, sobre a barba apontada para o teto a menos de trinta centímetros da abóboda, o gesso entrando pelos olhos. Ele só descerá do andaime à noite, extenuado, e despertará sobressaltado para vestir às pressas suas camisas de lã na luz fraca de uma vela e voltar para a “ponte” glacial de madrugada.

(Trecho de Michelangelo, Série Biografias L&PM)

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