Arquivo mensais:junho 2012

São João no novo livro de Galeano

Junho
23

Fogos

À meia-noite de hoje, ardem os fogos. A multidão se reúne ao redor das altas fogueiras. Nesta noite, limpam-se as casas e as almas. São jogados no fogo os trastes velhos e os velhos desejos, coisas e sentires gastos pelo tempo, para que o novo nasça e encontre lugar. Do norte do mundo, esse costume se difundiu por todo lado. Sempre foi uma festa pagã. Sempre, até que a Igreja Católica decidiu que essa seria a noite de São João.

Trecho de “Os filhos dos dias”, novo livro de Eduardo Galeano que será lançado no Brasil pela L&PM Editores em julho com tradução de Eric Nepomuceno. “Os filhos dos dias” traz uma pequena história para cada dia do ano, sempre centrada em um fato real que aconteceu naquela data.

Falta pouco para a estreia do novo filme de Woody Allen

Estreia na próxima sexta-feira, 29 de junho, o novo filme de Woody Allen, “Para Roma com Amor”, uma comédia ambientada na capital italiana e que traz Allen novamente no elenco depois de seis anos afastado das telas (seu último papel foi em “Scoop – O grande furo” de 2006). Em “Para Roma com Amor”, ele vive um diretor de ópera recém-aposentado que viaja à Roma com a mulher para conhecer o noivo italiano da filha. Enquanto isso, do outro lado da cidade, um jovem casal americano tem a relação abalada com a chegada de uma amiga, ao mesmo tempo em que um outro casal, dessa vez de italianos, se envolve com uma prostituta e um galã de TV. Para completar, há um burocrata que vira celebridade e passa a ser perseguido por papparazzi.

No elenco, estão ainda Jesse Eisenberg (de “A rede social”), Penélope Cruz e Roberto Benigni. Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo de hoje, o diretor/ator disse que tem vontade de filmar no Rio de Janeiro, mas admite ter medo da violência: “Fico assustado. A publicidade e torno de lá é ruim. Nova York teve o mesmo problema anos atrás, mas, para quem morava em NY, não tinha nada, ninguém via nada, nada acontecia…”. Quando o repórter pergunta o que ele gostaria de filmar no Rio a resposta é: “Como um turista americano que nunca foi ao Rio, a impressão que tenho é de fotos, mitologias, bossa nova, coisas que cresci ouvindo, vendo. E as imagens da praia. (…) para mim o Rio é uma daquelas cidades românticas”. Na entrevista, Woody Allen diz ainda que as ideias lhe vem mais facilmente quando está no chuveiro. Ainda bem que, pelo que tudo indica, ele toma bastante banho.

Se você ainda não viu o trailer legendado de “Para Roma com Amor”, aqui está ele:

De Woody Allen, a Coleção L&PM Pocket publica os livros Adultérios, Cuca Fundida, Sem Plumas e Que loucura!

As anotações no roteiro de “On the Road”

A Revista Trois Couleurs, que foi distribuida durante o Festival de Cannes, é uma verdadeira preciosidade para os amantes dos beats. Editada pela Mk2, produtora do filme On the Road (“Sur la Route” na França e “Na Estrada” no Brasil) ela traz, em suas 240 primorosas páginas, um “quem é quem” dos personagens, uma cronologia que mostra até os antepassados de Jack Kerouac, muitas fotos, documentos, desenhos, música e detalhes sobre o filme dirigido por Walter Salles como croquis e anotações no roteiro. Nestas anotações, feitas pelo diretor, há até algumas escritas em português. “Muito bom isso vai antes da morte do pai” escreveu ele junto a uma locução em off de Sal Paradise, que aparece logo no início do roteiro.

A capa da Revista "Trois", uma preciosidade que temos aqui na editora.

Uma das anotações de Walter Salles está escrita em português - Clique sobre a imagem para ampliá-la

Mais anotações. "Excellent star" escreveu o diretor ele no roteiro de José Rivera

Mais duas páginas cheias de comentários

O roteirista portorriquenho José Rivera, que também trabalhou com Walter Salles em “Diários de Motocicleta” fez várias versões de roteiros até chegar na final. Em alguns momentos, ele optou por seguir a descrição de Jack Kerouac em On the Road – o manuscrito original. Um das primeiras cenas do filme, por exemplo, mostra o enterro do pai de Sal Paradise e a locução em off diz “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que meu pai morreu…”, enquanto no livro On the road – Pé na estrada a frase é “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que minha mulher e eu nos separamos”.

O filme estreia no Brasil em 13 de julho.

O monstruoso fantasma da Ópera

Quem nunca ouviu falar no fantasma da Ópera? Mesmo que você não tenha assistido à peça na Broadway, nem visto uma das tantas adaptações para o teatro ou cinema, mesmo assim o nome provavelmente lhe soa familiar. Romance escrito pelo francês Gaston Leroux em 1910, O Fantasma da Ópera conta uma história de suspense, terror e paixão, envolvendo três personagens: a bela cantora lírica Christine, o frágil noivo da moça, Raoul, e o gênio da música que habita os porões da Ópera de Paris, Erik. Desfigurado por um acidente, Erik “assombra” o teatro parisiense, apaixona-se por Christine e fica obcecado por ela. Tudo movido a tensão.

A primeira adaptação para o cinema foi feita em 1925 com o ator Lon Chaney no papel do fantasma. Considerado o número 1 dos sucessos dos estúdios Universal, o filme mudo apresentou um dos primeiros monstros de Hollywood e foi considerado o precursor dos filmes de terror. Por causa da assustadora maquiagem de Chaney, a projeção causava verdadeiro horror na plateia. A ponto de pessoas cardíacas enfartarem dentro do cinema.

Em 1925, o ator Lon Chaney encarnou um Fantasma da Ópera monstruoso

Vale a pena assistir ao trailer deste filme:

Em 1986, O Fantasma da Ópera estreou na Broadway e tornou-se o espetáculo de maior sucesso da famosa avenida, permanecendo em cartaz até hoje. A boa notícia é que, para conhecer a obra-prima de Gaston Leroux, você não precisa viajar até Nova York, pois ela está na Coleção L&PM Pocket, fiel ao original, e com tradução de Gustavo de Azambuja Feix.

Jean-Paul Sartre veio ao mundo com atraso

A mãe, Anne-Marie Sartre (nascida Anne Marie Schweitzer), e o pai Jean-Baptiste Sartre, esperavam seu primeiro filho para fins de maio e início de junho. Oficial da marinha francesa, Jean Baptiste não pode esperar pelo nascimento da criança em Paris e partiu em missão. A criança nasceria bem depois do esperado – provavelmente por um erro de cálculo –  em 21 de junho de 1905. A ele, seria dado o nome de Jean-Paul Sartre.  

O ano de 1905 ia começar e, poucos meses depois, Anne-Marie daria à luz “uma pequena Annie” ou “um pequeno Paul”, como dizia, com flagrante predileção para que fosse menina. O ano de 1905 ia começar e, pela futura mamãe e pela criança, o oficial da Marinha decidiu renunciar à viagem ao Japão com que tanto sonhava. Guerras coloniais, doenças e pressões hierárquicas contribuíram bem depressa para a desistência: desde então, Jean-Baptiste só pensa em voltar para a terra firme. Percorre ministérios, gabinetes, candidata-se a um cargo de “redator da Marinha”, recorre até a pistolões oficiais, contempando as soluções mais absurdas.

A pequena Annie (ou o pequeno Paul) vai nascer nos primeiros dias de junho, lá por fins de maio talvez, com um pouco de sorte, espera Jean-Baptiste, cuja licença sem soldo expira impreterivelmente no dia 15 de maio; o regulamento é muito severo: qualquer falta será punida. Ocorre, então, uma espécie de corrida contra o tempo para encontrar emprego em terra antes da data fatal, talvez com o desejo secreto de que a criança nasça prematura. (…) No dia 14 de maio, contrariado, J.-B. deixa Paris e vai para Toulon. No dia 29, desesperado, embarca no torpedeiro La Tourmente, como segundo-oficial que parte primeiro rumo a Sicília, depois Creta, com escalas em Messina, Palermo e Canea. De cada um desses portos, ele telegrafa à mulher; e durante todos esses primeiros dias no mar espera a participação do nascimento. (…) Todo mundo, então, em Creta, em Thiviers, em Paris, começa a esperar. Os Schweitzer alugaram um casarão no Mâconnais e o “erro de cálculo” traz muitos transtornos: quanto mais a criança demora a nascer, menores as chances de poder ser levada para fora de Paris. Enfim, esse contratempo é realmente lamentável. “Continuamos sem notícias do nosso marinheiro”, escreve de Thiviers a futura vovó Sartre em 21 de junho. Poucas horas depois, o vovô Schweitzer expede dois telegramas, um para Creta, outro para Thiviers: comunica o nascimento de um menino.

Jean-Paul Sartre chega ao mundo com atraso e, desde o início, atrapalha uma porção de planos familiares. Mas sua chegada coincide com certo número de acontecimentos políticos que vão marcar o século: 1905 é o ano das primeira revolução bolchevique, da guerra entre a Rússia e o Japão, ou, mais próxima ainda, da lei nacional que decreta a separação entre a Igreja e o Estado.

Trecho de Sartre – Uma biografia, de Annie Cohen-Solal

Jean-Baptiste Sartre morreria no ano seguinte em sua terra natal, Thiviers, por complicações advindas de uma doença crônica adquirida em uma missão na Conchinchina. Órfão de pai com pouco mais de um ano de idade, Jean-Paul foi criado pela família mãe e pelos avós maternos, a família Schweitzer.

De Jean-Paul Sartre a Coleção L&PM Pocket publica Esboço para uma teoria das emoções e A imaginação.

Whoopi Goldberg na introdução do novo Peanuts Completo

Peanuts Completo / 1959 a 1960 acaba de chegar na L&PM e já está sendo distribuído às livrarias. O volume 5 traz, na introdução, a transcrição de uma entrevista com a atriz Whoopi Goldberg, feita por Gary Groth, editor da série Peanuts Completo. Publicamos aqui um pequeno trecho desse bate-papo animado para você sentir o clima:

Você lia Peanuts quando era menina?
Eu lia de tudo quando era menina. Eu era obrigada, porque nenhum menino se interessava por mim! Mas, enfim, sim, a vida inteira. Foi a minha mãe quem me apresentou a Peanuts – entre tantas outras coisas maravilhosas que ela me ensinou. E os especiais de tevê começaram a passar quando eu era adolescente, popularizando Peanuts ainda mais. É por isso que até hoje eu sei fazer a dancinha do Snoopy em O Natal de Charlie Brown. Fui apresentadora de um talk show e tive a alegria e o privilégio de entrevistar Charles Schulz no meu programa. Eu mostrei os meus peitos para o Charles Schulz, para que ele pudesse ver minha tatuagem do Woodstock, feita 28 anos atrás. Ele perguntou se eu gostaria que ele a colorisse. Você sabe como é, quando Charlie Schulz pergunta “Você quer que eu pinte a sua tatuagem?”, você responde “É claro”.

E ele pintou?
Isso eu não vou dizer!

Por que o Woodstock?
Porque havia algo de maravilhoso naquele passarinho que vivia à toa, sem preocupação nenhuma na vida. E ele tinha um ótimo amigo, o Snoopy. Achei que seria sensacional carregar comigo aquele piado dele, aquele monte de tracinhos. Não cheguei a fazer os tracinhos, mas sempre que olho para a tatuagem eu o imagino falando comigo, do mesmo jeito como ele fazia com o Snoopy. É um negócio meio bobo, mas eu adoro.

Será que Charles Schulz pintou o Woodstock de Whoopi?

Jardim de inverno

Chega o inverno. Um esplêndido ditado
dão-me as lentas folhas
vestidas de silêncio e de amarelo.
Sou um livro de neve,
uma larga mão, uma pradaria,
um círculo que espera,
que assim pertenço à terra e a seu inverno.

Cresceu o rumor do mundo na folhagem,
ardeu depois o trigo constelado
por flores rubras como queimaduras,
logo chegou o outono estabelecendo
a escritura de vinho:
e tudo passou, foi céu passageiro
a taça do estio,
e se apagou a nuvem navegante.

Eu esperei no balcão, tão enlutado
como ontem nas heras da minha infância,
que a terra estendera
suas asas no meu amor desabitado.

Eu soube que a rosa feneceria
e este caroço do transitório pêssego
voltaria para dormir, germinar:
e me embebedei com a taça do ar
até que todo o mar se fez noturno
e o amanhecer foi convertido em cinza.

Vive a terra agora
tranquilizando o seu interrogatório,
estendida a pele do seu silêncio.
Volto a ser agora
o taciturno que chegou de longe
envolto em chuva fria e pelos sinos:
devo para a pura morte da terra
a intenção das minhas germinações.

Pablo Neruda em Jardim de Inverno (edição bilíngue), Coleção L&PM Pocket

Caulos e o primeiro livro a denunciar crimes ambientais

Era 1976 quando a L&PM Editores lançou o livro “Só dói quando eu respiro” de Caulos. Foi o primeiro livro de um intelectual brasileiro importante a abordar com um humor quase trágico a questão da ecologia – do desmatamento, da poluição, do crescimento urbanístico desenfreado. E isso em um tempo em que ninguém pensava em meio ambiente ou “sustentabilidade”. Só uns poucos, como José Lutzenberger e seus pares, que geralmente eram acusados de “malucos”, se preocupavam com a natureza.

A primeira capa de "Só dói quando eu respiro", edição de 1976

Caulos é um grande artista brasileiro. Pintor, cartunista, deixou a sua marca na imprensa defendendo a causa da ecologia e – na época da ditadura – da democracia. Seus trabalhos eram publicados no legendário “O Pasquim” (onde além de publicar cartuns, fazia com Ivan Lessa a coluna “Gip gip nheco nheco”) e no Jornal do Brasil, quando este jornal era o mais influente no país. Caulos era o mais importante cartunista do JB.

Um dos cartuns do livro

Outro cartum de "Só dói quando eu respiro"

Pois o principal dos seus trabalhos que saiu no JB e no Pasquim foi publicado em “Só dói quando eu respiro”, este livro admirável. A L&PM Editores está preparando uma nova edição para o começo de julho.

A realização da “Rio + 20” é a ocasião ideal para apreciar este trabalho magnífico. E entender o que é um “clássico”: um livro genial que resiste incólume na sua incrível qualidade gráfica e atualidade temática, 36 anos depois de ter sido publicado pela primeira vez. (Ivan Pinheiro Machado)

Em 2001, o livro foi relançado com esta capa que, em breve, chegará novamente às livrarias

Feliz aniversário Garfield!

Ele nasceu faminto e sarcástico (e mais gordo do que atualmente) no dia 19 de junho de 1978. Neste dia, a primeira tirinha de Garfield foi publicada em 41 jornais dos EUA. Jim Davis escolheu seu nome em homenagem a John Garfield Davis, seu avô, que segundo ele era “ranzinza por fora” e “um coração mole por dentro”. Exatamente como o gato criado por Jim.

A tirinha número 1 de Garfield (clique para aumentar)

A segunda tirinha de Garfield (clique para ampliar)

Estas e mais 2.850 tiras estão em Garfield – 2.582 tiras da Série Ouro L&PM. Pra completar, tem mais Garfield na Coleção L&PM Pocket.

“Meninos, eu vi” On the Road, o filme

*Por Paula Taitelbaum

Como diria Gonçalves Dias em I-Juca Pirama: “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme verdadeiro, íntegro e profundo. Centrado na capacidade humana de ir em busca da sua essência. Ou de se distanciar dela. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme baseado em um livro, mas não escravizado por ele. Que escreve sua própria história não só com palavras, mas principalmente cores, ritmo, música e… silêncio. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme em que Garrett Hedlund recebe o espírito de Dean Moriarty/Neal Cassady e se entrega a ele como só os grandes atores são capazes de fazer. Como Viggo Mortensen, encarnando Old Bull Lee/William Burroughs, fez em cada sílaba sua. “Meninos, eu vi”. Eu vi o filme que eu não sabia que veria, que uma parte de mim nem esperava gostar, cujo trailer nem havia me empolgado. Mas que quando pegou a estrada não a abandonou jamais, honrando cada quilômetro percorrido por Jack e Neal, rodado com a paixão que só os amantes da obra original poderiam ter. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme sobre a sensação universal de ter vinte anos, que me fez chorar no final, assim que a voz do verdadeiro Jack ecoou no cinema e logo que as palavras dele tingiram a tela – I think of Dean Moriarty… “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme que tem alma –  e nem importa se ela é beat. E que, em seus 140 minutos, passou a muitas milhas por hora sem negar carona aos que algum dia já se deixaram levar por On the road.

Garrett Hedlund como Dean Moriarty em um dos cartazes do filme que estreia no Brasil em 13 de julho de 2012

*Paula Taitelbaum e Eduardo Bueno (tradutor de On the Road) assistiram ao filme On the Road/Na estrada em uma sessão fechada, na sexta-feira, 15 de junho. Ambos adoraram. Eduardo também chorou no final.