A jornalista norteamericana Mara Altman perdeu a virgindade aos 17 e, depois de dois namoros sérios e outras transas esporádicas, aos 26 anos percebeu que nunca tinha chegado lá. Para descobrir – e experimentar – o tão famoso orgasmo, ela foi atrás de profissionais que pudessem ajudá-la. Psiquiatras, sexólogos, gurus e por aí vai atravessaram seu caminho. As aventuras e descobertas dessa espécie de périplo em torno do orgasmo virou um livro que, breve, será lançado pela L&PM. “Thanks for Coming: One Young Woman’s Quest for an Orgasm” ganhou o título de “O prazer é meu: a busca de uma jovem mulher pelo orgasmo” com tradução de Ana Luiza Lopes. Leia aqui, com exclusividade, um trecho deste livro cheio de humor e verdades.
Meu projeto não teve um início promissor. Há algumas semanas, marquei consulta com uma sexóloga chamada Melinda. Ao entrar no seu consultório, estava extremamente ansiosa. Suava como se tivesse atravessado uma floresta – poças d’água se formavam sob meus braços, assim como pequenos redemoinhos sobre meu lábio superior.
Melinda me disse que ficasse à vontade no seu sofá florido, que era totalmente inadequado. Caso me sentasse na borda, meus pés balançavam; se me apoiasse no encosto, minhas pernas ficavam esticadas como as de uma criancinha numa camionete. Melinda não podia falar sobre sexo comigo enquanto estivesse sentada daquele jeito. A sensação seria de algo quase pedófilo. Decidi pelas pernas cruzadas em posição de ioga e tentei ficar zen.
Ela lembrava a Bette Midler, porém mais inchada. Imagine a Bette Midler com cabelos mais compridos e metida num uniforme de futebol americano. Agora, imagine que, em vez de deslizar num palco cantando sobre amor, ela está à sua frente incitando você a cantar sobre seus entraves sexuais. “Nunca tive um orgasmo”, desabafei.
Comecei a detalhar minhas teorias – talvez estivesse me rebelando contra meus pais, um casal de hippies que ama o sexo; talvez estivesse me definindo por comparação com a minha melhor amiga, que respira orgasmos; talvez meu problema fosse causado pelo muçulmano que namorei na Índia, um cara que não sabia nem o que era punheta –, mas ela me cortou e começou a discorrer sobre o que acontece com o corpo quando nos excitamos.
“A genitália se enche de sangue… lateja.”
“Espere aí”, exclamei. “Dá para voltar um pouquinho?” Senti como se estivesse no nível três e ela tivesse pulado direto para o dez.
“Vá pra casa e estimule o seu clitóris”, continuou.
CLI-tóris? É assim que se fala? Eu tenho dito cli-Taurus, como se fosse um modelo de Ford sedan que precisa ser acionado por uma chave especial antes que eu possa levá-lo para dar uma volta pela cidade.
Racionalmente, eu sabia que bastava enfiar nas minhas partes baixas um desses vibradores em formato de coelho de que todo mundo fala e acabar logo com aquilo. Mas eu não via a questão como um problema meramente físico. Queria entender por que, apesar dos inúmeros vibradores que ganhara ao longo da vida, eu ainda não havia tentado usá-los.
Para mudar de assunto, disse a ela que estava pensando em escrever um livro sobre o processo. Até aquele momento, estivera tão envolvida com o trabalho, tão obcecada em fazer algo importante na vida, que era totalmente possível minha vagina ter sumido sem que eu notasse. A única maneira de levar aquilo a sério seria fazer do orgasmo o foco do meu trabalho, tornar aquela odisseia parte do meu cotidiano de escritora e jornalista.
“Péssima ideia”, declarou a sexóloga.
Segundo ela, escrever sobre o orgasmo seria a pior atividade para alguém que desejasse experimentá-lo.
“Você não pode pensar sobre o orgasmo”, afirmou. “Quanto mais ponderar sobre o orgasmo, mais improvável se tornará. É preciso relaxar.”
Em outras palavras, ela continuava a cantar seu mantra: Deixe de drama e estimule o seu clitóris!
(Trecho de O prazer é meu: a busca de uma jovem mulher pelo orgasmo, de Mara Altman, com previsão de lançamento no Brasil em novembro de 2012)
Em 2009, quando seu livro foi lançado nos EUA, a Revista Marie Claire conversou com Mara Altman. Clique aqui para ler a entrevista.