Arquivo mensais:julho 2012

A busca de uma jovem mulher pelo orgasmo

A jornalista norteamericana Mara Altman perdeu a virgindade aos 17 e, depois de dois namoros sérios e outras transas esporádicas, aos 26 anos percebeu que nunca tinha chegado lá. Para descobrir – e experimentar – o tão famoso orgasmo, ela foi atrás de profissionais que pudessem ajudá-la. Psiquiatras, sexólogos, gurus e por aí vai atravessaram seu caminho. As aventuras e descobertas dessa espécie de périplo em torno do orgasmo virou um livro que, breve, será lançado pela L&PM. “Thanks for Coming: One Young Woman’s Quest for an Orgasm” ganhou o título de  “O prazer é meu: a busca de uma jovem mulher pelo orgasmo” com tradução de Ana Luiza Lopes. Leia aqui, com exclusividade, um trecho deste livro cheio de humor e verdades.

Meu projeto não teve um início promissor. Há algumas semanas, marquei consulta com uma sexóloga chamada Melinda. Ao entrar no seu consultório, estava extremamente ansiosa. Suava como se tivesse atravessado uma floresta – poças d’água se formavam sob meus braços, assim como pequenos redemoinhos sobre meu lábio superior.

Melinda me disse que ficasse à vontade no seu sofá florido, que era totalmente inadequado. Caso me sentasse na borda, meus pés balançavam; se me apoiasse no encosto, minhas pernas ficavam esticadas como as de uma criancinha numa camionete. Melinda não podia falar sobre sexo comigo enquanto estivesse sentada daquele jeito. A sensação seria de algo quase pedófilo. Decidi pelas pernas cruzadas em posição de ioga e tentei ficar zen.

Ela lembrava a Bette Midler, porém mais inchada. Imagine a Bette Midler com cabelos mais compridos e metida num uniforme de futebol americano. Agora, imagine que, em vez de deslizar num palco cantando sobre amor, ela está à sua frente incitando você a cantar sobre seus entraves sexuais. “Nunca tive um orgasmo”, desabafei.

Comecei a detalhar minhas teorias – talvez estivesse me rebelando contra meus pais, um casal de hippies que ama o sexo; talvez estivesse me definindo por comparação com a minha melhor amiga, que respira orgasmos; talvez meu problema fosse causado pelo muçulmano que namorei na Índia, um cara que não sabia nem o que era punheta –, mas ela me cortou e começou a discorrer sobre o que acontece com o corpo quando nos excitamos.

“A genitália se enche de sangue… lateja.”

“Espere aí”, exclamei. “Dá para voltar um pouquinho?” Senti como se estivesse no nível três e ela tivesse pulado direto para o dez.

“Vá pra casa e estimule o seu clitóris”, continuou.

CLI-tóris? É assim que se fala? Eu tenho dito cli-Taurus, como se fosse um modelo de Ford sedan que precisa ser acionado por uma chave especial antes que eu possa levá-lo para dar uma volta pela cidade.

Racionalmente, eu sabia que bastava enfiar nas minhas partes baixas um desses vibradores em formato de coelho de que todo mundo fala e acabar logo com aquilo. Mas eu não via a questão como um problema meramente físico. Queria entender por que, apesar dos inúmeros vibradores que ganhara ao longo da vida, eu ainda não havia tentado usá-los.

Para mudar de assunto, disse a ela que estava pensando em escrever um livro sobre o processo. Até aquele momento, estivera tão envolvida com o trabalho, tão obcecada em fazer algo importante na vida, que era totalmente possível minha vagina ter sumido sem que eu notasse. A única maneira de levar aquilo a sério seria fazer do orgasmo o foco do meu trabalho, tornar aquela odisseia parte do meu cotidiano de escritora e jornalista.

“Péssima ideia”, declarou a sexóloga.

Segundo ela, escrever sobre o orgasmo seria a pior atividade para alguém que desejasse experimentá-lo.

“Você não pode pensar sobre o orgasmo”, afirmou. “Quanto mais ponderar sobre o orgasmo, mais improvável se tornará. É preciso relaxar.”

Em outras palavras, ela continuava a cantar seu mantra: Deixe de drama e estimule o seu clitóris!

(Trecho de  O prazer é meu: a busca de uma jovem mulher pelo orgasmo, de Mara Altman, com previsão de lançamento no Brasil em novembro de 2012)

Em 2009, quando seu livro foi lançado nos EUA, a Revista Marie Claire conversou com Mara Altman. Clique aqui para ler a entrevista. 

É Dia do Orgasmo!

31 de julho é o Dia Mundial do Orgasmo. A data foi criada em 1999 por diversas redes de sex shops britânicas para aquecer as vendas de produtos eróticos e incentivar debates sobre o prazer sexual feminino. Mas é sempre bom lembrar que livros podem ser tão estimulantes quanto produtos de sex shops. A L&PM tem uma série que inclui o Kama Sutra mais poemas, contos, romances e até quadrinhos. Tudo para você comemorar que a leitura da noite combine com o dia de hoje. Clique aqui e conheça os títulos desta série.

Pra personagem Aline, de Adão Iturrusgarai, todo dia é "Dia do Orgasmo"

O que vale mais, o escritor ou o livro?

Por José Roberto Torero* 

O que é mais importante, o criador ou a criatura?

Eu prefiro a criatura. Não me importa muito se um autor tem 18, 68 ou 118 anos, se é um office-boy, um acadêmico ou uma striper, se nasceu na Mooca, em Londres ou em Pokhara, a cidade-lago do Nepal.

O que me importa é o livro. Mas muitos preferem o escritor.

É claro que tem o seu sabor saber quem escreve uma obra. Eu mesmo, quando pego um livro na livraria, dou aquela olhada na orelha para ver a foto do autor e ler sua biografia. Mas isso deve ser apenas a cereja do bolo, não seu recheio; deve ser apenas uma nota de rodapé, não a cabeça da reportagem.

O culto à personalidade tem crescido tanto que em várias resenhas você fica sabendo onde nasceu o escritor, com quem ele é casado e o escândalo que deu em sua adolescência, mas quase nada sobre a obra.

A orelha está sendo mais valorizada do que as páginas do livro.

O cartunista Laerte, por exemplo, é brilhante desde os tempos da editora Oboré, quando fazia ilustrações para sindicatos, mas nunca ganhou tanto destaque quanto depois de praticar o crossdressing.

João Ubaldo é provavelmente nosso melhor romancista vivo, mas nos últimos anos lembro mais de reportagens sobre seu problema com álcool do que críticas a seus livros. Uma imensa injustiça.

Dalton Trevisan e Rubem Fonseca são escritores excelentes, dois dos nossos melhores contistas. Mas sempre são lembrados pelo fato de não darem entrevistas, de serem um tanto reclusos. Ou seja, não quererem ser notícia os transforma em notícia.

É como se a crítica estivesse mais para revista Caras do que para Jornal de Resenhas.

Este culto à personalidade do autor não é exclusividade do Brasil. Lá fora acontece o mesmo. Talvez até mais. Um bom exemplo é JT LeRoy. Ou Jeremiah “Terminator” LeRoy.

A história é a seguinte: Laura Albert, uma ex-punk, já passada dos trinta anos, queria ser escritora. Mas percebeu que sua persona era pouco interessante. Então inventou JT LeRoy para assinar seus livros. Ele seria um jovem de quinze anos, ex-viciado em heroína, que teria sofrido abuso sexual na infância e se prostituído para sobreviver.

Os dois primeiros livros de JT fizeram bastante sucesso. No começo, ele (ou melhor, Laura) só dava entrevistas por telefone. Mas logo ela arranjou uma modelo (sua cunhada Savannah Knoop) para se passar por JT. Assim a personagem passou a aparecer em público, a falar com celebridades e a ir em festas, muitas festas. Até para a Flip JT foi convidado.

Dez anos depois, quando a farsa foi descoberta, um diretor de cinema que tinha comprado os direitos para filmar um de seus livros quis desfazer o negócio. Seu argumento foi de que, mais importante que a história, era a persona de seu autor que traria sucesso à produção. E ele ganhou a causa.

Claro que se trata de um caso extremo. Mas os casos extremos servem para evidenciar o que é um tanto sutil, um tanto subterrâneo.

Creio que muito deste culto ao autor é culpa dos autores românticos, que buscavam o mito de escritor maldito, de serem bafejados pelos deuses (ou pelos demônios). Eles devem ter conquistado muitas senhoritas assim. Mas, de quebra, deram ao escritor uma aura que o deixa diferente dos outros mortais. Uma bobagem.

Não se quer saber a biografia do médico que nos opera, do marceneiro que fez nossa mesa, nem do professor que ensina nossos filhos (o que seria bem mais importante). Mas do escritor, sim. E ela não tem a menor importância. Pelo menos, não literariamente.

De qualquer forma, se você está escrevendo seu primeiro livro, aconselho a gastar menos tempo com o texto e mais com sua autobiografia. Invente algo bem criativo. Diga que tem dois sexos, que é especialista em magia negra, que sua mãe assassinou seu pai e que foi amamentado por lobos.

E, se der uma entrevista, não esqueça de uivar no final.  

*José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado

O texto acima foi publicado originalmente em sua coluna da agência Carta Maior em 17 de julho de 2012.

Simon’s Cat: amor à primeira vista

Em menos de três meses do seu lançamento, o primeiro álbum do Simon’s Cat já teve três reimpressões. Devido ao sucesso, foi antecipada a edição em livro de bolso e ele acaba de sair na Coleção L&PM POCKET em dois volumes que conviverão nas livrarias com o álbum de luxo recém lançado. Nos próximos seis meses serão lançados dois álbuns inéditos com mais de 200 histórias do “Simon’s Cat” em cada um. O sucesso é total e o Brasil aos poucos vai entendendo porque as animações do gato de Simon Tofield tem mais de 220 milhões de fãs no Youtube.

Nova Casa de Cultura Stefan Zweig abre suas portas para o público

Stefan Zweig não é um nome muito popular no Brasil. Mas merecia ser. Famoso escritor austríaco que visitou o Brasil em 1936, Zweig era romancista, contista, ensaísta e biógrafo de personalidades como Maria Antonieta, Montaigne, Américo Vespúcio e Balzac. Ligou-se eternamente ao Brasil quando, em 1941, já morando em Petrópolis no Rio de Janeiro, lançou o clássico ufanista Brasil, um país do futuro, livro que fez grande sucesso na época. Sensível e emotivo, ficou tão deprimido pela guerra, pelo avanço do nazismo e da intolerância contra os judeus, principalmente na Áustria que, em 1942, suicidou-se junto com sua mulher na casa de Petrópolis.

Agora, finalmente, o imóvel onde Zweig passou seus últimos tempos reabriu neste domingo, 29 de julho, como um moderno centro cultural. A inauguração da Casa Stefan Zweig é o principal evento comemorativo de uma série de efemérides que se sucedem desde o ano passado: o lançamento de Brasil, um país do futuro, os 130 anos do nascimento de Zweig (que aconteceu em novembro de 1881) e os 70 anos de sua morte.

O projeto, orçado em R$ 1,2 milhão, foi financiada por amigos e admiradores do escritor. “Um bando de loucos”, segundo declarou à Folha de S. Paulo o diretor do Centro Cultural Stefan Zweig, Alberto Dines. Mais do que um museu, as pessoas encontrarão um moderno centro de memória interativo. O quarto em que o escritor se envenenou ao lado da mulher está lá e as pessoas poderão ler, em alemão, o texto de despedida de Zweig em que ele agradece a “este maravilhoso país, o Brasil”. O presidente da casa destaca como peça mais importante a máscara mortuária de Zweig, feita por um escultor amador de Petrópolis e doada pelos herdeiros.

Se você estiver passando pela cidade, não deixe de visitar.

A recém inaugurada Casa Stefan Zweig em Petrópolis

SERVIÇO

O que: Exposição Stefan Zweig e Memorial do Exílio
Quando: A partir do dia 29 de julho, sexta a domingo das 11h às 17h
Onde: Casa Stefan Zweig – Rua Gonçalo Dias, 34, Petrópolis, RJ – Fone: 24-2245-4316

De Stefan Zweig, a Coleção L&PM Pocket publica Brasil, um país do futuro, 24 horas na vida de uma mulher e Medo e outras histórias.

A longa estrada de Jack Kerouac

Por André Bernardo*

Jack Kerouac foi o primeiro a reconhecer que seu livro, o semiautobiográfico On the Road, daria um ótimo filme. Tanto que, em 1957, escreveu uma carta para Marlon Brando, propondo a ele que comprasse os direitos de adaptação para o cinema. E mais: sugeria também que Brando interpretasse Dean Moriarty e ele, Sal Paradise. “Vamos lá, Marlon, arregace as mangas e responda”, instigava. Em vão. Kerouac morreu em 1969, sem ter recebido uma resposta sequer do ator. Dez anos depois, em 1979, Francis Ford Coppola comprou os direitos da obra. De lá para cá, vários cineastas, como Jean-Luc Godard, Joel Schumacher e Gus Van Sant, se revezaram na direção, mas o projeto nunca vingou. Tudo começou a mudar em 2004, quando Coppola assistiu a Diários de Motocicleta no Festival de Sundance e resolveu convidar Walter Salles para adaptar a obra-prima de Kerouac. “Li On the Road pela primeira vez quando tinha 18 anos e lembro que ele me marcou profundamente. É um livro que fala da necessidade de explorar o mundo e viver a vida à flor da pele. Quando rodei Diários de Motocicleta, tornei a lê-lo porque queria estar impregnado daquela ânsia por liberdade. A cada nova leitura, eu tinha uma reação diferente”, descreve Walter Salles, que levou seis anos para pesquisar o filme e 69 dias para rodá-lo.

Walter Salles durante as filmagens de Na Estrada

On the Road narra a busca por liberdade e a quebra de tabus. Embora tudo parecesse bem, nada estava realmente bem nos EUA do pós-guerra”, sintetiza o cineasta, que convidou os ainda pouco conhecidos atores Sam Riley e Garrett Hedlund para interpretarem os papéis de Sal Paradise e Dean Moriarty, os dois jovens amigos que, movidos a sexo, drogas e jazz, resolvem desbravar os EUA, de Costa a Costa.

MITO LITERÁRIO OU IMPULSO CRIATIVO?

Nos seis anos que levou para pesquisar sobre o filme, Walter Salles refez – “umas cinco vezes”, calcula o diretor – o trajeto que Sal e Dean percorrem no livro; conheceu pessoalmente contemporâneos de Kerouac, como o escritor Lawrence Ferlinghetti, hoje com 93 anos; e viu de perto o manuscrito de On the Road, um “pergaminho” de 37 metros de comprimento e cerca de 175 mil palavras.

Biógrafo de Jack Kerouac – King of the Beats, o inglês Barry Miles confirma a lenda de que a primeira versão de On the Road teria sido escrita em inacreditáveis 20 dias: de 2 a 22 de abril de 1951. “Para realizar essa façanha, Kerouac contou com a ajuda extra de algumas doses de benzedrina e café. Para não perder tempo colocando folhas de papel na máquina de escrever, redigiu o livro num enorme pergaminho feito de papel de teletipo”, afirma Miles.

Sim, a primeira versão de On the Road levou apenas três semanas para ser escrita. Mas, até a obra ser publicada, em 5 de setembro de 1957, Kerouac teve que reescrevê-lo algumas vezes. O livro é quase que um diário de bordo dos sete anos em que Kerouac e Neal Cassady passaram na estrada, vivendo de carona e sem destino certo. Em On the Road, Kerouac e Cassady foram rebatizados de Sal e Dean. Outras figuras importantes do movimento beat, como o poeta Allen Ginsberg e o romancista William Burroughs, ganharam os nomes de Carlo Marx e Old Bull Lee. Em Na Estrada, de Walter Salles, o autor de Uivo foi interpretado por Tom Sturridge e o de Almoço Nu, por Viggo Mortensen. Já LuAnne Henderson, mulher de Neal Cassidy, foi vivida pela atriz Kristen Stewart, mais famosa pelo papel de Bella na saga Crepúsculo.

CLÁSSICOS DA GERAÇÃO BEATNIK

No Brasil, On the Road foi publicado, pela primeira vez, ainda na década de 80, com tradução de Eduardo Bueno. E logo cativou uma legião de admiradores, como o músico Jorge Mautner, o poeta Paulo Leminski, entre outros intelectuais de vanguarda.

Atualmente, a L&PM publica 18 títulos de Kerouac, como Cidade Pequena, Cidade GrandeOs SubterrâneosOs Vagabundos IluminadosViajante Solitário, entre outros. Além de outros clássicos da geração beat, como Uivo, de Ginsberg, e Um Parque de Diversões da Cabeça, de Ferlinghetti.

Só On the Road, calcula Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM, já vendeu mais de 100 mil exemplares. “Kerouac passou uns 20 anos no limbo, sem procura e sem repercussão. Foi revivido pela coleção L&PM Pocket em 2004 e, aos poucos, tornou-se um dos livros mais lidos entre os 1.100 títulos da coleção”, orgulha-se Ivan.

Por aqui, um dos maiores “beatnólogos” que existem é o jornalista Roberto Muggiati. Autor de Blues – Da Lama à Fama, Improvisando SoluçõesNew Jazz – De Volta para o Futuro, ele leu On the Road em 1958, um ano depois de sua publicação.

No dia 5 de dezembro de 1959, Muggiati publicou um artigo intitulado Jack Kerouac e as Crianças do Bop no suplemento dominical do Jornal do Brasil e enviou uma cópia para o então agente de Kerouac, Sterling Lord. Três semanas depois, Muggiati recebeu um postal datilografado e assinado à mão pelo próprio Kerouac. Nele, o autor de On the Road dizia: “Eu lhe asseguro que a geração beat é um movimento honesto e, se a crítica é ‘Para onde vocês estão indo?’, a resposta é ‘Chegaremos lá’”. “Neal Cassady morreu em 1968, aos 42 anos, e Kerouac em 1969, aos 47. No caso deles, o que contou foi a intensidade, não a longevidade”, sublinha Muggiati.

Para o editor da L&PM, Ivan Pinheiro Manchado, não é difícil explicar o motivo do sucesso editorial de On the Road. “O livro de Kerouac reflete uma realidade que é o contraponto ao ‘american way of life’. Foi o primeiro de uma série de grandes livros que contestaram a sociedade americana pós-guerra e iniciaram uma nova estética transgressora. Transgressão, aliás, é uma boa palavra para definir o que foi o movimento beat”, opina Ivan. Walter Salles concorda. “De vez em quando, algumas pessoas me perguntam: mas, por que o movimento beat acabou? Nessas horas, só tenho a responder que o movimento beat não acabou; ele apenas se transformou em outra coisa. Não teria existido Bob Dylan se ele não tivesse lido On the Road, colocado a mochila nas costas e ido até Nova Iorque. Até hoje, ele seria apenas o Robert Allen Zimmerman”, reflete.

UMA VIAGEM QUE RESISTE AO TEMPO

Bob Dylan não foi o único. Johnny Depp é outro notório admirador de Kerouac. Em 1991, o astro desembolsou US$ 50 mil para comprar alguns itens do espólio do escritor, como uma capa de chuva, uma mala de viagem e um cheque sem fundos, entre outros itens. Dez anos depois, o famoso manuscrito de On the Road foi arrematado, em um leilão na Christie’s de Nova Iorque, por US$ 2,4 milhões. Curiosamente, quando morreu, em 21 de outubro de 1969, vítima de cirrose hepática, Kerouac tinha apenas US$ 19 em sua conta bancária. Mas o autor estava longe de ser uma unanimidade. Dos que atacavam seu estilo verborrágico de escrever, Truman Capote, de A Sangue Frio, foi um dos mais ácidos: “Isso não é literatura, é datilografia!”. Mas, e se Kerouac não tivesse sucumbido à bebida? Como estaria hoje, aos 90 anos, o ídolo da geração beat? Bem, para começo de conversa, Kerouac, provavelmente, detestaria a alcunha de “o ídolo da geração beat”. “O que sabemos é que ele não aceitava, no fim da vida, o rótulo de grande revolucionário”, pondera Ivan. Barry Miles confessa que se surpreendeu com o que descobriu sobre seu biografado. Ao longo dos anos, Kerouac criticou o movimento hippie, apoiou a Guerra do Vietnã e só votou em candidatos republicanos. “Acho que Kerouac odiaria o mundo de hoje”, opina Miles. Já Walter Salles pensa diferente. Ele pode até não saber ao certo como estaria hoje Kerouac, mas, a exemplo de alguns de seus contemporâneos, como Ferlinghetti e Gary Snyder, desconfia que o escritor continuaria “jovem de espírito”. “A coisa mais bacana de fazer o filme foi conhecer as pessoas de 80 anos mais jovens que já conheci na vida”, explica o cineasta.

*Matéria publicada no portal Saraiva Conteúdo em 15 de julho de 2012.

Ora bolas, é aniversário de Mario Quintana

Mario Quintana Nasceu em Alegrete, RS, “filho do Freud com a rainha Vitória”, segundo ele mesmo disse, com a proverbial síntese e graça. O fato, acontecido num “solar de leões”, com sótão, porão, corredores e escadarias, mais assustador do que o mundo, foi comemorado pelos irmãos com a compra de duas rapaduras de quatro vinténs. Começava a noite de 30 de julho de 1906. Fazia um grau abaixo de zero.

Assim o escritor Ernani Ssó começa seu “Ensaio bio-bibliográfico” sobre Mario Quintana, publicado no livro Ora bolas (Coleção L&PM Pocket). Ora bolas é uma bem humorada coletânea de 130 histórias protagonizadas por Quintana e registradas pelo jornalista Juarez Fonseca que entrevistou amigos, familiares e conhecidos do poeta. São histórias como esta:

Gagá

Festas pelos setenta anos. A TV Globo mandou do Rio de Janeiro uma repórter para entrevistá-lo. Ingênua e desinformada, tratou-o como um velho gagá, cheia de diminutivos e perguntas bobas. Mario ficou uma fera. Mais tarde, conversando com a amiga Madalena Wagner, desabafou:

Veio aqui hoje uma moça me entrevistar. Não entendeu que estou meio surdo mas que minha cabeça está ótima. E ela, em plena posse de suas faculdades mentais, nem desconfia que já nasceu morta…

Mario Quintana desenhado por Santiago

Cauã Reymond e “O anticristo” de Nietzsche

Cauã Reymond chegou bem-humorado a uma gravação da novela “Avenida Brasil”, na tarde desta sexta-feira, 27, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O ator, o Jorginho da  trama, levava em punho um livro da Coleção L&PM Pocket,   “O anticristo“, do filósofo alemão Nietzsche. Qual será o papel do livro na trama, só vendo a novela pra descobrir.

“O anticristo” é uma das mais afiadas análises de que o cristianismo já foi objeto. Nele,  Nietzsche mostra como o cristianismo – ao qual chama de maldição – é a vitória dos fracos, doentes e rancorosos sobre os fortes, orgulhosos e saudáveis, persuadindo e induzindo a massa por meio de ideias pré-fabricadas.

Claudia Tajes chegou para ficar. Mais um livro seu lançado em pocket

Claudia Tajes escreve muuuuuuito bem. E, melhor ainda, tem humor, muito humor. O grande Montaigne, filósofo francês, dizia que você deve desconfiar daquelas pessoas que se levam muito a sério… Não é o caso da Claudia. Ela tem talento até para rir de si mesma. Embora, paradoxalmente, sua temática seja muito séria, afinal, são as misérias, as mesquinharias, as mesmices e as pequenas (e poucas) grandezas do cotidiano em que (todos nós) vivemos. Uma literatura tão verdadeira que não tem heróis. É o personagem que não é “personagem” – se é que me entendem. Aliás, assim é a vida. Um dia-a-dia banal onde escondemos nossas idiossincrasias até chegar a Claudia Tajes e expor o ridículo, o grotesco, o cômico e o tragicômico de que somos protagonistas ou coadjuvantes. Temática à parte, tudo é escrito com talento, hoje reconhecido nacionalmente. Claudia vende seus livros em todo o Brasil e está permanentemente no time de escritores que trabalham para a TV Globo. Em seu livro de estreia “Dez (quase) amores” ela contava 10 histórias de (quase) amor do ponto de vista feminino, com cabeça de mulher. Depois veio “As pernas de Úrsula”, uma história contada do ponto de vista masculino, com cabeça de homem… Depois foi uma sucessão de sucessos (!): “Dores, amores e assemelhados”, “A vida sexual da mulher feia”, “Louca por homem”, “Vida dura”, “Só as mulheres e as baratas sobreviverão” e “Por isso eu sou vingativa”. Com a recém lançada edição em livro de bolso de “Só as mulheres e as baratas sobreviverão”, quase todos estão disponíveis na coleção L&PM POCKET.
Claudia está aí. Chegou para ficar e assumiu seu espaço particularíssimo na literatura brasileira. E como convém à uma grande escritora, ela imprime nos seus livros a sua marca particular. Reconhecível à distância. E com talento, ironia, muito humor, ela vai garimpando o cotidiano da cidade grande para produzir alta literatura. (Ivan Pinheiro Machado)

Direto de Londres…

E por falar em Olimpíadas, nossa gerente de marketing, Fernanda Scherer, acaba de mandar notícias fresquinhas de Londres, onde passa suas férias, para dividirmos com os leitores do blog L&PM:

The Olympics are coming

Desde que cheguei em Londres, no início de julho, vi por todos os lados cartazes com a mensagem “The Olympics are coming”. A cidade estava preparando seus moradores para esse grande evento, principalmente em função do grande número de visitantes esperado (1 milhão de pessoas a mais na cidade por dia!). As mensagens traziam o clima dos jogos e, mais do que isso, dicas para “enfrentar” o tumulto nas ruas e no transporte público neste período. 

Um dos cartazes londrinos

Na minha segunda semana aqui todos os jornais e telejornais só falavam em Olimpíadas: a preparação da cidade, os pontos turísticos, a segurança, os atletas e se William e Kate participariam da cerimônia de abertura (e, sim, eles vão). Mas até então parecia que os jogos iam acontecer em lugar distante, que só assistiríamos na TV.

Já na terceira semana as coisas começaram a ficar mais reais. De um dia para o outro bandeiras começaram a surgir pelas ruas, vias olímpicas demarcadas nas avenidas, pessoas com crachás “London 2012” por todos os lados. Nessa semana todo mundo já estava combinando onde assistir à cerimônia de abertura dos jogos (muitos pubs estarão abertos, além de festas no Hyde Park e outros parques da cidade). Pra quem quer fazer sua própria festa, o site oficial oferece ideias e download de artes para uma festa temática (demais isso, precisamos copiar isso nas Olimpíadas no Brasil #ficaadica). 

E foi ontem, na véspera da abertura dos jogos, que a ficha realmente caiu: eu finalmente vi a tocha olímpica passando nas ruas. E junto com ela eu vi dezenas de voluntários, eu vi pessoas batendo palmas e fazendo barulho enquanto o corredor levava a tocha pela Oxford Street. Eu vi a imensa estrutura por trás disso tudo , vi o bandeiras da Inglaterra pelas janelas eu vi policiais orgulhosos por fazerem parte desse momento. E vi que eu também estava muito feliz por poder participar dessa festa.

A tocha olímpica passando (está nas mãos do corredor de branco)

Hoje o dia é quase feriado na cidade, todos já foram pra casa ou para um pub para assistir ao mega show de abertura. Parece bobagem, mas o clima de olimpíadas vai crescendo dentro da gente, vai crescendo pelas ruas, nos moradores e nas pessoas do mundo todo que estão aqui. Amanhã é meu último dia em Londres e estou ansiosa para finalmente visitar o Parque Olímpico e assistir o jogo de basquete feminino entre Turquia e Angola, pouco antes de embarcar de volta para o Brasil. Afinal, “the Olympics are coming!” (Fernanda Scherer)

Fernanda no Parque Olímpico de Londres

Fernanda no Parque Olímpico de Londres