Já não resta a menor dúvida de que o diretor Joe Wright possui um apreço especial por adaptar grandes romances para a grande tela do cinema. Depois de dirigir Orgulho e preconceito, baseada na obra de Jane Austen e Desejo e reparação, a partir do livro de Ian McEwan, Wright resolveu investir em Tolstói e filmou Anna Karenina, o grande romance russo. Tendo no papel principal a mesma Keira Knightley que ele dirigiu nos filmes anteriores, Anna Karenina já aparece como grande cotado para o Oscar mesmo antes de ter estreado. No Brasil, o lançamento está previsto para 1º de fevereiro de 2013.
De Leon Tolstói, a Coleção L&PM Pocket publica, entre outros, Guerra e Pazem quatro volumes. Ainda em 2012, do escritor russo, será lançado também Infância, adolescência e juventude.
Sabe aqueles dias em que você prefere ver um filme passatempo do que um filme “de penso”? Pois sábado eu queria isso. E escolhi “Abraham Lincoln: caçador de vampiros” em 3D já imaginando o que me aguardava. Há tempos, tinha lido sobre o livro que deu origem a essa produção e, como a maioria dos mortais, tinha achado a ideia um tanto quanto bizarra e hilária – aliás, foi a mesma reação que tive com “Orgulho e Preconceito e Zumbis”, livro inspirado no romance de Jane Austen que inclui mortos-vivos na história. E adivinhem? Ambas as obras literárias são do mesmo autor: Seth Grahame-Smith.
Eis que hoje, curiosa para saber o que a trama vampiresca tinha a ver com os fatos reais da vida de um dos mais famosos presidentes dos EUA, peguei o livro Lincoln, da Série Encyclopaedia para dar uma lida. E o segundo parágrafo da página 18 causou-me arrepios de medo (ok, estou exagerando). Mas leiam o que eu li: “O assentamento dos colonos do Kentucky foi organizado originalmente por um grupo de especuladores, a Transylvania Company, que, para começar a vender terra de grande valor de mercado para os ávidos fazendeiros da Virgínia, como os Lincoln, se valeu de uma série de medições feitas sem nenhum critério.”
Transylvania Company! Diretamente da terra de Drácula! Será que foi daí que Grahame-Smith teve a ideia para sua história? No filme, que tem produção de Tim Burton e direção de Timur Bekmambetov, os vampiros são os malvadões escravagistas que mandam no pedaço e se alimentam principalmente dos negros e brancos rebeldes como a mãe de Abe (como era chamado Abraham Lincoln). Também no livro da Série Encyclopaedia, encontrei algo suspeito sobre a morte da matriarca: “Em outubro de 1818, Nancy Janks Lincoln contraiu a ‘doença do leite’, por beber leite de vacas que ingeriram plantas da espécie Eupatarium rugosum, e morreu”.
No filme diz que o pai de Abe morreria pouco tempo depois, o que não aconteceu. Lincoln aparece como filho único, mas ele tinha uma irmã mais velha. Ele trabalha como lenhador e como comerciante, o que foi de fato, mas foi caixeiro-viajante e não atendente de loja. Casa-se com Mary Tood, que realmente foi sua esposa – mas enquanto na trama eles têm apenas um filho, na vida real eles tiveram dois.
É claro que o filme é propositalmente exagerado, mas a produção e a maquiagem são ótimas, bem ao estilo Tim Burton. Eu realmente achei um ótimo passatempo e gostei bastante do amigo de Lincoln, Henry (Dominic Cooper) que é uma espécie de imitação de Robert Downey Jr. em Sherlock Holmes.
No final de “Abraham Lincoln: caçador de vampiros” (não se preocupe, isso não vai estragar as surpresas), o herói aparece saindo para ir ao teatro. E se você não sabe o que aconteceu com Lincoln no teatro na noite de 14 de abril de 1865, é mais um motivo para não deixar de ler Lincoln da Série Encyclopaedia…
Coincidência ou não: estava terminando de escrever este texto quando me disseram que 17 de setembro de 1862 foi o dia em que aconteceu a Batalha de Atietam, considerada a mais sangrenta da Guerra da Secessão (que durou durante todo o mandato de Lincoln), quando cerca de 23 mil americanos morreram. E por falar no assunto, a Série Encyclopaedia L&PM também publica o livro Guerra da Secessão.
*Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.
Manuel Maria l’Hedoux Barbosa du Bocage nasceu em 15 de setembro de 1765. Foi romântico antes do romantismo, escrevia poemas eróticos, satíricos, nostálgicos, altamente confessionais, cheios de angústia, referências ao amor e à morte, fazendo pouco do Estado e da religião. Foi uma espécie de pré-Rimbaud: assim como este foi para a África, lançou-se numa expedição ao Oriente, sempre à procura de um bálsamo para sua inquietação emocional. De volta à Portugal, acabou preso por causa de seus versos e morreu com apenas 40 anos.
Retrato Próprio
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno.
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo, de moças mil) num só momento
E somente no altar amando os frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento.
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou mais pachorrento.
A primeira vez que foi encenada, em 1611, a peça Macbeth, de Shakespeare, tinha só homens em seu elenco, incluindo aí o papel da perversa Lady Macbeth. Não que o grande dramaturgo fosse misógino. Ao contrário. Mas naquela época era assim: às mulheres não era permitido subir ao palco (lembram do filme “Shakespeare apaixonado”?). Pois eis que agora, 400 anos depois de sua montagem original, Macbeth ganhou versão brasileira exatamente como na Inglaterra do Século XV: com um elenco totalmente masculino.
A concepção e direção deste Macbeth – que tem Marcello Antony no papel principal e Claudio Fontana como Lady Macbeth – é de Gabriel Vilella, experiente em textos shakespearianos. A adaptação do texto foi feita por Marcos Daud que reduziu os 20 personagens originais para oito e introduziu a figura de um narrador.
Na opinião de Villela, Macbeth é um espetáculo formal, sóbrio, contido, voltado para a experiência da voz e da palavra. Para compor o figurino da peça, a produção adquiriu mais de 30 malas antigas de couro e papelão em brechós e antiquários que depois foram recortadas e transformadas em indumentárias de guerra pelo artesão potiguar Shicó do Mamulengo e pelo próprio Gabriel Vilella. O diretor também trouxe tapeçarias antigas de diversos lugares do mundo para complementar o figurino.
Após terminar temporada na capital paulista, a peça segue agora em turnê nacional. Neste final de semana estará em Vinhedo, cidade próxima a Campinas. Em novembro, terá apresentações em Porto Alegre.
Marcello Antony e Claudio Fontana, o casal Macbeth
Serviço
Espetáculo: Macbeth Local: Teatro Municipal Sylvia de Alencar Matheus. Rua Monteiro de Barros, 101, Vinhedo. (19) 3826-2821 Data: 15 e 16 de setembro
Horários: sábado, 21 horas; domingo, 19 horas Entrada: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Outra famosa montagem de Shakespeare feita por Gabriel Vilella foi um Romeu e Julietaadaptado para teatro de rua, considerado um marco da década de 90 e ganhador de diversos prêmios internacionais. Aliás, se você estiver em São Paulo nesta sexta-feira, 14 de setembro, poderá assistir justamente a esta montagem, que está sendo apresentada para comemorar os 30 anos do Galpão. Romeu e Julieta poderá ser vista no Parque da Independência (próximo ao SESC Ipiranga) às 19h. E como todo bom teatro de rua, é grátis.
A 19ª edição do Porto Alegre Em Cena está a todo vapor. Diferentemente das outras vezes, não madruguei na fila para comprar os melhores ingressos, o que deve ser um indício de alguma coisa, mas isso não vem ao caso. O fato é que mesmo assim consegui comprar uma boa seleção de espetáculos, incluindo montagens uruguaias e argentinas, as minhas preferidas (talvez em função das minhas raízes, diretamente da terra do dulce de leche).
Uma das que destaco é Humores que matan (Central Park West), texto de Woody Allen adaptado por Fernando Masllorens e Federico González del Pino. O diretor, o uruguaio Mario Morgan, que já trabalhou com Ricardo Darín e Norma Aleandro, havia dirigido uma montagem da peça nos anos 90, com o mesmo casal de protagonistas, formado por Laura Sánchez (Phyllis, a psiquiatra) e Franklin Rodríguez (Sam, o advogado).
Woody Allen escreveu o texto durante a turbulenta separação da atriz Mia Farrow, e é possível sentir essa turbulência em cada linha do texto. Ambientado num belo apartamento em Manhattan (mais uma ponte com a realidade), Central Park West é a história da dolorosa separação de um casal bem-sucedido profissionalmente. Phyllis, a psiquiatra, acaba de ser abandonada pelo marido. Para dividir as dores, liga para a melhor amiga, Carol. Logo o jogo de aparências é revelado, e valores como fidelidade e amizade escorrem pelo ralo. A chegada dos respectivos maridos apimenta ainda mais a situação, que – típico Woody Allen – beira a tragédia, mas sempre arrancando aquele riso nervoso.
Já tinha assistido Laura Sánchez num famoso programa humorístico que passava na televisão uruguaia (Plop!) e pude comprovar aqui sua versatilidade como atriz. Também já tinha lido o texto de Woody Allen, que é delicioso. Mas a experiência do teatro é incomparável. Em um cenário enxuto, esses quatro personagens se digladiam como ferozes leões. Verdades são atiradas como balas. Apesar de vivos, ninguém sai inteiro do palco. A chegada de um quinto elemento leva a situação ao limite e aí sim é disparado um tiro, que explode de vez a situação. Woody Allen expia suas culpas, ao mesmo tempo que o espectador expia as suas. Um verdadeiro banho de sangue.
Em tempo: o teatro do CIEE, um belo teatro aqui de Porto Alegre, estava – sendo otimista – com a lotação pela metade. Mas, quando fui comprar o par de ingressos, consegui a muito custo dois lugares lado a lado, na plateia. Para quem são vendidos esses ingressos que lotam os assentos de fantasmas? Essa é uma pergunta que já me faço há diversas edições.
O elenco de "Humores que matan"
* Janine Mogendorff é jornalista, editora da L&PM e uruguaia (mas fala português sem nenhum sotaque).
Central Park West é uma das peças que está no livroAdultérios, publicado na Coleção L&PM Pocket.
Um belo dia, almoçando no Corner House, fiquei encantada com uma conversa sobre estatísticas que ouvi de uma mesa logo atrás da minha. Virei o pescoço e consegui enxergar de relance uma cabeça calva, um par de óculos e um sorriso bem aberto; ou seja, avistei o sr. Parker Pyne. Nunca antes havia dado atenção a estatísticas (e, de fato, ainda hoje raramente lhes dou importância!), mas o entusiasmo com que elas estavam sendo discutidas aguçou meu interesse. Estava recém começando a desenvolver a ideia de uma nova série de histórias curtas e decidi, naquele instante, qual seria a linha geral e a abrangência dos contos e, mais tarde, me diverti ao escrevê-los. Meus favoritos são O caso do marido descontente e O caso da mulher rica; a temática deste último me foisugerida dez anos antes, quando uma desconhecida meabordou enquanto eu admirava a vitrine de uma loja.Ela falou com extrema virulência: “Gostaria de saber oque fazer com todo o meu dinheiro. Enjoo demais parater um iate, já possuo alguns automóveis e três casacosde pele e comida pesada demais me revira o estômago”. Pega de surpresa, sugeri: “Que tal os hospitais?” Ela bufou: “Hospitais? Não estava falando em fazer caridade. Quero fazer o meu dinheiro valer a pena”, e partiu enfurecida. Isso, é claro, aconteceu há 25 anos. Hoje, qualquer problema dessa ordem seria resolvido pelo agente fiscal do imposto de renda, e ela provavelmente ficaria ainda mais enraivecida! ( Agatha Christie no prefácio de O detetive Parker Pyne, livro que acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket)
Depois de 35 anos compilando estatísticas em uma repartição pública, o detetive Parker Pyne decidiu empregar seu conhecimento de forma inovadora: salvando casamentos, acrescentando aventura ou dando sentido à vida de seus clientes. No lugar de crimes insolúveis, ele se dedica a investigar os recônditos do coração humano. Mas engana-se quem pensa que ele só de conselhos sentimentais vive este personagem de Agatha Christie. O consultor sentimental também enfrenta ladrões e até mesmo desvenda assassinatos.
A primeira edição com as histórias do detetive Parker Pyne, publicada em 1934
A capa do livro que a Coleção L&PM Pocket acaba de lançar
Sempre é terrível para um escritor revisar seu próprio texto. Escrito às vezes num jorro de emoção, sem interrupções nem autocrítica, muitos anos depois corre-se o risco de rejeitar o filho crescido, independente, talvez feio, deformado. Perdão e amor, então, são os únicos sentimentos capazes de atenuar a crítica que, inevitavelmente impiedosa, não deverá jamais ser estéril ou esterilizante.
Assim Caio Fernando Abreu abre o livro Triângulo das águasque, em 1984, lhe rendeu o prestigiado Prêmio Jabuti.
De todos os meus livros,Triângulo das águas é certamente o mais atípico. Eu simplesmente posso dizer que não o escrevi: fui escrito por ele. Ao contrário de todos os outros, não seguiu nenhum seguro plano prévio. Eu simplesmente não sabia ao certo o que queria dizer ou contar. Para saber, foi preciso aceitar escrevê-lo como pedia, foi preciso abandonar temporariamente São Paulo para viver um ano num quarto de hotel em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Ele exigia liberdade, solidão, desprendimento, descobri depois.
Caio nasceu em Santiago do Boqueirão, cidade do Rio Grande do Sul quase na fronteira com a Argentina. Chegou na manhã de 12 de setembro de 1948, em casa, pelas mãos de uma parteira, filho mais velho de Zaél Menezes de Abreu e Nair Loureiro de Abreu. Cresceu nessa cidadezinha com ruas de chão batido, pomar no quintal, animais soltos. Ele mesmo contava que havia começado a escrever ficção aos 6 anos, estimulado pela avó que era professora de português. Morreu precocemente em 25 de fevereiro aos 1996 aos 47 anos. Deixou muitas histórias e uma imensa saudade. Feliz Aniversário Caio!
Caio Fernando Abreu (à direita) aos sete anos e seu irmão José. Nessa época, ele já escrevia ficção.
Além de Triângulo das águas, a Coleção L&PM Pocket publica O ovo apunhalado, Ovelhas negras e também Fragmentos, uma coletânea de contos que traz um texto inédito, cedido por seu amigo Luciano Alabarse.
Os Correios acabam de colocar em circulação dois novos selos que homenageiam os poetas Fernando Pessoa e Cruz e Sousa, um português e outro brasileiro. O lançamento marcou o início do Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal que ocorreu em um evento na sexta-feira, 7 de setembro, em Brasília e que contou com autoridades e representantes dos correios dos dois países. A emissão conjunta, com o tema “A Força da Língua Portuguesa”, é composta por se-tenant (conjunto de selos no qual o desenho transcende o picote dando continuidade à imagem) de dois selos, que apresentam as imagens em aquarela dos poetas, em arte de Luiz Duran, acompanhadas por versos dos poemas “Mar Português”, do livro Mensagem e “Ser Pássaro”, do Livro derradeiro. Os selos tem valor facial de R$ 2,00 cada e podem ser comprados na loja virtual ou nas agências dos Correios.
“A febre revolucionária é uma doença terrível (Nicolas Ruault)
Max Gallo conseguiu uma proeza em 2009. Colocar seu livro Revolução Francesa, divido em dois volumes, “O povo e o rei” e “Às armas, cidadãos”, em primeiro lugar na lista dos bestsellers parisienses, disputando posições com Stephenie Meyer (Eclipse), J. K. Rowling (Harry Potter), William Young (A Cabana) e, ça va sans dire, Amelie Nothomb, Paulo Coelho e outros blockbusters franceses e internacionais.
Foram milhares os livros escritos sobre a grande revolução que mudou o mundo. Por que, de repente, esta história que foi contada exaustivamente durante mais de 200 anos volta às paradas de sucesso?
Porque Revolução Francesa de Max Gallo é um livro excepcional.
Ele consegue de forma mágica transformar um evento histórico numa grande saga humana. Os personagens têm sangue nas veias. Como num romance ele faz com que o leitor viva o drama das ideias e das paixões em conflito. O heroísmo e a traição. A busca por liberdade a qualquer preço.
A nobreza e o rei Luis XVI de um lado, e do outro os libertários Robespierre, conhecido como o “Incorruptível”, Marat, Danton e dezenas de deputados radicais que implantam o regime do “Terror”. Primeiro, eles mandam o rei, a rainha Maria Antonieta e milhares de monarquistas para a guilhotina. Um ano depois, são eles que têm suas cabeças cortadas no frenético processo político que culminou no fim da monarquia e na Proclamação da República. Este processo alucinante durou 10 anos e termina seu ciclo com a chegada de Napoleão como protagonista da cena política francesa.
Revolução Francesa de Max Gallo descreve a emoção, o perigo, o tumulto, o choque e o drama que circulavam pelas ruas de Paris a partir da tomada da Bastilha em 1789. É uma versão surpreendente do maior acontecimento da Idade Moderna, definidor do mundo atual. Preciso do ponto de vista histórico, ágil como uma reportagem e emocionante como um romance. (Ivan Pinheiro Machado)
* A Série “Relembrando um grande livro” estreia hoje no Blog L&PM e toda semana trará um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.