Arquivo mensais:novembro 2012

Sem santinho e sem carro de som…

Ivan Pinheiro Machado direto de Nova York

Zero pichações, nenhum santinho sendo distribuído, nem faixas, cartazes, outdoors, muito menos horário político. É assim em Nova York, onde você só percebe que a maior democracia do mundo vai eleger o homem mais poderoso do planeta pelo noticiário dos jornais e TVs. Nem é feriado. Todo mundo tem que trabalhar. Vai votar quem quer. Pelas pesquisas, o jogo está empatado. Ontem à noite, o Gallup dava vantagem de 1 ponto para o candidato republicano, mas existe a famosa margem de 2% de erro para mais ou para menos. A imprensa liberal, tipo New York Times diz que Obama vence. A imprensa de direita tipo Fox News e New York Post diz que Romney já ganhou. Vamos ver nos próximos dias. Porque por aqui o voto é contado um por um. A democracia americana não adotou ainda o milagre das urnas eletrônicas…

Finalizando, passei o dia inteiro na rua, entre o Central Park e o Chinatown a procura de uma imagem para ilustrar esta nota sobre as eleições. Em Times Square, tinha gente distribuindo folhetos de bares, compra de ouro, tours turísticos etc. Mas santinho dos candidatos, nem pensar. A única propaganda eleitoral que eu vi foi na TV. E, obviamente, paga. O que se percebe aparentemente é uma falta de interesse. Mas pensando bem, se justifica. O sistema democrático é tão consolidado por aqui que o presidente, por maior que seja, vai ser sempre bem menor do que a instituição.

David Coimbra e o novo livro de Juremir Machado da Silva

A orquídea e o serial killer    

Por David Coimbra*                          

Todo mundo conhece, ou devia conhecer, a pena ferina, sarcástica, iconoclasta e corrosiva do Juremir Machado da Silva. Ou será que, em tempos de pós-modernidade, deveria dizer o teclado ferino, sarcástico, iconoclasta e corrosivo? Bem. O fato é que é assim que o Juremir escreve, embora pessoalmente ele seja uma moça de gentileza. Agora, nesta Feira, ele está lançando um livro de crônicas pela L&PM, A orquídea e o serial killer, que é tudo isso: ferino, sarcástico, iconoclasta e corrosivo. São 100 crônicas que precisam ser lidas e relidas. Mas, na abertura do volume, o Juremir mostra uma faceta pouco conhecida do seu trabalho: ele mostra que é poeta. Vou reproduzir um naco do poema de apresentação do livro, que também é uma espécie de profissão de fé. O resto? Leia o livro.

Não serei o poeta de um mundo novo.
Tampouco serei o cantor do meu povo.
Não falarei jamais algo sublime.
Praticarei sempre o mesmo crime…
Farei poesia sem poesia
Romance sem personagem,
Teatro sem maquiagem.
Nunca voltarei à Antiguidade,
Nem mesmo à velha modernidade.
Ano depois de ano,
Rasgarei a fantasia,
Em nome do cotidiano.

* Texto originalmente publicado no Jornal Zero Hora, na Coluna “O Código David”, de David Coimbra, em 04 de novembro de 2o12.

Lincoln está em alta

A capa da revista TIME deste mês traz o ator Daniel Day-Lewis caracterizado como Lincoln, seu personagem no próximo filme de Steven Spielberg sobre a vida do 16º presidente dos Estados Unidos, que estreia em 2013.

Já que Lincoln está em alta – e aproveitando que ainda faltam alguns meses para a estreia do filme – a L&PM recomenda a leitura do volume Lincoln da Série Encyclopaedia.

Depois do Sandy, todo mundo correndo em Nova York

Ivan Pinheiro Machado – direto de Nova York

Houve um clamor público aqui em NY quando foi confirmada que a mais popular maratona do mundo não deveria ocorrer hoje, 04 de novembro. O governador e prefeito, que estão em alta absoluta, decidiram suspender a festa. O motivo alegado – e justo – foi o de que a enorme infra que a cidade disponibiliza para a organização da maratona deve ser utilizada para o socorro às vitimas que ainda sofrem na região litorânea, especialmente em New Jersey. Acontece que quando houve a suspensão já estavam aqui mais de 10 mil estrangeiros. E a festa aconteceu de qualquer jeito. Uma multidão reuniu-se no Central Park e todos saíram correndo. São hordas de corredores correndo pela cidade, sendo sistematicamente aplaudidos pelos novaiorquinos. A sensação é a de que todo mundo esta correndo em Nova York. O dia  lindo, um frio de 4 graus amenizado pelo sol brilhante e um céu sem nuvens, propiciaram o belíssimo espetáculo: uma vez proibida a competição, o pessoal não perdeu a viagem – ficou com a diversão, que é exatamente do que a cidade precisa depois de tudo o que passou.

Corredores do mundo inteiro não perderam a viagem e NY / Foto: Ivan Pinheiro Machado

Pose para a posteridade na primeira maratona "não oficial" de Nova York / Foto: Ivan Pinheiro Machado

A rota dos contos de fadas

Que tal viajar pelos contos de fadas dos Irmãos Grimm? Não estamos apenas falando de uma viagem da imaginação, mas de um roteiro turístico de verdade, pela Alemanha, seguido os passos de Wilhelm e Jacob Grimm. Criada em 1975, a Rota dos Contos de Fadas vai de Hanau, próximo a Frankfurt, onde nasceram os irmãos, até a cidade dos músicos de Bremen, no norte do país. Se for possível, vá este ano ainda, pois em dezembro celebra-se a marca dos 200 anos da publicação da primeira edição dos contos dos irmãos.

Na cidade de Hanau, onde a rota começa, há um monumento aos Irmãos Grimm criado em 1895

Ao longo de mais de 600 quilômetros, o itinerário passa por vilarejos e cidades que tiveram um papel importante na vida dos Grimm como florestas, castelos e torres que provavelmente foram inspiração para os cenários de suas histórias. Na pequena cidade de Steinau, pode-se visitar a casa para onde Jacob e Wilhelm se mudaram quando ainda eram jovens e que hoje abriga um museu sobre os Grimm. Em Kassel, onde passaram a maior parte de suas vidas, o museu expõe uma cópia dos contos de fadas escrita à mão pelos irmãos.

Na vila de Bergfreiheit, nas colinas próximas à cidade de Bad Wildungen, a dica é visitar a casa da Branca de Neve. Ou de Margaretha Von Waldeck, uma bela moça que foi obrigada pela madrasta a mudar-se de Bergfreiheit e que morreu em 1554 aos 21 anos, aparentemente envenenada. Também há a casa de Rapunzel, adornada por uma longa trança de cabelos louros que pende da janela de uma torre do hotel Trendelburg. E o castelo de Sababurg, também um hotel, conhecido por ter sido a casa de Bela Adormecida.

O Castelo da Bela Adormecida em Sababurg

Chegando na cidade de Hamelin, é possível passear pelas ruas de pedra, com suas casas de madeira, e mergulhar no clima de fantasia que chega ao auge no museu totalmente dedicado ao flautista de Hamelin, onde os visitantes podem sentar sobre sacos de milho e assistir à encenação da história.

Para completar, vilas encravadas em colinas, rios como Fulda e o Weser, o lado Edersee e, acima de tudo, as florestas. Para os que pretendem viajar com suas crianças, é uma bela dica de roteiro. E não esqueça de levar os contos dos Irmãos Grimm na bagagem. A L&PM tem dois volumes em pocket que vão bem na mala de mão.

Dom Quixote made in China

Que Dom Quixote de La Mancha é um romance universal, a gente já sabia. Mas que os chineses tinham feito uma adaptação cinematográfica em 3D para a grande obra de Cervantes, até hoje era uma novidade pra nós. Vale a pena ver o trailer. Uma pérola dos efeitos especiais!

Dom Quixote é publicado em dois volumes na Coleção L&PM Pocket, na Série Clássicos da Literatura em quadrinhos e também na Série É só o começo.

Adeus Jornal da Tarde

Ontem, 31 de outubro de 2012, circulou o último número do Jornal da Tarde, 46 anos e 15.409 edições depois da sua fundação. O JT era editado pelo Estadão e tem nas suas origens um projeto inovador capitaneado por Mino Carta, o italiano que tornou-se um dos mais importantes e influentes jornalistas brasileiros. Nós, hoje velhos jornalistas, que fomos muito jovens no início dos anos 70, tínhamos como um dos principais paradigmas de modernidade e resistência à ditadura O Estado e S. Paulo e o JT. Com seus títulos ousados, sua diagramação imprevisível, fotos muito abertas, explorando os brancos das páginas, certas edições do JT eram verdadeiras obras de arte como design gráfico. A ideia era essa. Enquanto o Estadão desafiava a ditadura colocando trecho dos “Lusíadas” de Camões no espaço de matérias que eram amputadas pela odiosa censura prévia que foi imposta ao jornais, o Jornal da Tarde inovava, era admirado e reverenciado – e às vezes incompreendido – confundindo censores e, muitas vezes, os leitores. Um de seus principais repórteres, Marcos Faermann, o Marcão, foi nosso amigo próximo e migrou de Porto Alegre para São Paulo para fazer parte da seleta e invejada equipe do JT. Muitas vezes ele narrou para nós as peripécias do jornal, as invenções gráficas e as manchetes incríveis, como a publicada no dia da morte de Tom Jobim: “Brasil perde o Tom”. E sobretudo, o Marcão falava do sacerdócio que era ser coerente o tempo todo numa experiência inovadora, tendo que driblar diariamente os trogloditas da censura. Há uma geração inteira tomada de uma remota melancolia. De certo o JT não vendia mais, não significava economicamente mais do que um sacrifício financeiro para a editora que o mantinha, no caso O Estado de S. Paulo. Acredito até que a lenda tenha dado uma sobrevida para o jornal. Mas os tempos são outros, os meios são outros, as mensagens são outras. O Jornal da Tarde não resistiu à era digital. Mas saiu das bancas para entrar na história. Foi a mais radical experiência de um jornal diário na imprensa brasileira e graças a ele tivemos grandes momentos de excelência, de alegria e a consciência de que, em algum lugar, era possível ter a liberdade de inventar. (Ivan Pinheiro Machado)

A capa da última edição do lendário "Jornal da Tarde"