Arquivo mensais:fevereiro 2013

Instituto Moreira Salles negocia acervo de Millôr Fernandes

A Revista Veja desta semana informa que o Instituto Moreira Salles está negociando a compra do extenso acervo deixado por Millôr Fernandes. Originais, manuscritos e a biblioteca do “filósofo do Méier”, que faleceu no ano passado, estão sendo avaliados.

Pensamento final, de todo mundo: “Mas já? E por que eu? Por que tão cedo? Por que assim? Por que pra sempre? (Millôr Fernandes em Millôr definitivo – A Bíblia do Caos)

110 anos do nascimento de Georges Simenon

Georges Joseph Christian Simenon nasceu nas primeiras horas do dia 13 de fevereiro de 1903, uma sexta-feira, na cidade de Liège na Bélgica. Mas por serem superticiosos, seu pais, Desiré e Henriette, não gostaram da ideia de ter o primogênito nascido numa sexta-feira 13 e registraram seu filho como nascido às 23 horas e 30 minutos do dia 12 de fevereiro. Se foi isso que deu sorte à carreira literária de Georges Simenon, não se sabe. Mas que seu principal personagem, o comissário Maigret, até hoje é um sucesso, isso não se discute.

Simenon lançou seu primeiro romance, Au pont des arches, em 1921 com o pseudônimo de Georges Sim. Em meados dessa década, ele mudou-se para Paris, foi estudar Belas-Artes, casou-se pela primeira vez, foi trabalhar como secretário particular e conheceu o marquês Raymond d’Estutt de Tracy, dono de Paray-le-Frésil, propriedade que depois tornou-se, na ficção, Saint-Fiacre, local de nascimento do comissário Maigret.

Para sobreviver, Simenon escreveu romances populares – histórias melosas ou relatos de aventuras – em ritmo industrial e sob os mais diversos pseudônimos: Jean du Perry, Georges Sim, Christian Brulls, Luc Dorsan, Gom Gut, Georges Martin-Georges, Georges d’Isly, Gaston Vialis, G. Vialo, Jean Dorsage, J. K. Charles, Germain d’Antibes, Jacques Dersonne.

Em 1929, o comissário Maigret fez sua primeira aparição, na história Train de nuit, ainda num papel secundário, e ainda escrito sob pseudônimo (Christian Brulls). Mas em 1930, no folhetim La maison de l’inquiétude, Maigret foi responsável por um inquérito do início ao fim. A partir daí, viriam 75 histórias com o comissário considerado o mais humano dos detetives da literatura.

Na vida pessoal, Simenon foi uma figura polêmica. Enfureceu ex-esposas, teve várias amantes e declarou em uma entrevista a Frederico Fellini que chegou a ter relações com 10.000 mulheres. Mesmo que este número não passe de fantasia, não se pode dizer que Simenon não tenha aproveitado os seus mais de 80 anos de vida.

O sedutor Georges Simenon e seu inseparável cachimbo

A Coleção L&PM Pocket publica mais de 60 títulos do comissário Maigret, assinados por Georges Simenon.

Autor de “O papa é culpado?” diz que o papa Bento XVI poderá ser indiciado

Em 2011, a L&PM Editores lançou o polêmico livro O papa é culpado?, do jornalista britânico Geoffrey Robertson. Agora, com a renúncia do Papa Bento XVI, a obra de Robertson voltou à mídia e todos querem saber sua opinião sobre o caso. Veja abaixo uma matéria publicada no Portal Terra a partir de um artigo publicado escrito por ele no jornal britânico The Independent:

Portal Terra – 12/02/2013

Especialista: Bento XVI pode responder na Justiça por crimes da Igreja

Autor do livro O Papa é o Culpado? (L&PM – 2011), que discute supostos crimes cometidos pelo Vaticano, o jornalista britânico Geoffrey Robertson, especialista em temas relacionados ao catolicismo, acredita que, ao renunciar ao pontificado, Joseph Ratzinger poderá responder na Justiça por abusos que a Igreja Católica teria cometido durante sua gestão.

“Como um chefe de Estado – o que, na prática, é o Vaticano – o papa Bento XVI tem imunidade. Mas isso mudará após sua renúncia. Muitas vítimas molestadas por padres protegidos pelo Cardeal Ratzinger gostariam de processá-lo pelos estragos de sua negligência. Ao sair do Vaticano, um tribunal cuidará desses casos”, escreveu Robertson em artigo publicado no jornal The Independent

O texto, entitulado “O Papa pode renunciar, mas não apagará sua cumplicidade com os crimes da Igreja”, aponta que  Ratzinger teria responsabilidade em “crimes contra a humanidade” desde 1981, quando passou a comandar a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão do Vaticano que fiscaliza a conduta dos padres. De acordo com o jornalista, embora os arquivos daquele tempo sejam sigilosos, cartas do alemão surgiram em vários processos judiciais nos Estados Unidos, sempre defendendo padres pedófilos e estupradores. 

“Não há como negar o fato de que o sistema mundial de encobrir casos de crimes sexuais cometidos por clérigos foi arquitetado pela CDF sob Cardeal Ratzinger”, disse o teólogo suíço Hans Kung, em carta aberta divulgada em 2010, mencionada no artigo de Robertson.​

O texto denuncia como pior caso o do padre americano Maciel, descrito como bígamo, pedófilo e viciado em drogas, que teria tido seus crimes encobertos por se tornar um amigo próximo do então papa João Paulo II. Ratzinger teria em suas mãos provas contundentes na época, mas as omitiu. Quando se tornou Papa, ele teria toda a autoridade para puni-lo, mas preferiu sugerir apenas que Maciel se aposentasse. 

Entre outros ataques, o jornalista britânico classifica o papa Bento XVI como “inimigo dos direitos humanos” por “trinta anos de ‘vistas grossas’ a violações contra milhares de crianças”. Para ele, a renúncia apenas seria positiva se assumida como uma compensação por seus crimes. 

Na Páscoa de 2010, Geoffrey Robertson escreveu um breve comentário para o Guardian e o Daily Beast, no momento que era esperado que o papa Bento XVI comentasse (embora não o tenha feito) a crise em sua Igreja causada pelas revelações no mundo todo de abusos sexuais cometidos por padres. Robertson argumentou que os casos de estupro e assédio sexual cometidos contra crianças de forma ampla e sistemática poderiam ser configurados como crimes contra a humanidade, e que o líder de qualquer organização que proteja seus membros criminosos da justiça poderia ser responsabilizado em um júri internacional. Explicou também que a tese de inimputabilidade do papa por ser um chefe de Estado – da Santa Sé, no caso (uma ideia usada recentemente em sua defesa pelo governo Bush em tribunais dos Estados Unidos) – estava aberta a sérios questionamentos, uma vez que tem como base o parco acordo feito com Mussolini em 1929, o que não se compara à soberania das nações independentes.

Antes da publicação do artigo, o próprio Robertson acreditava que suas palavras passariam despercebidas e que logo cairiam no esquecimento. Mas um ousado subeditor decidiu publicar seu texto com a manchete “Colocando o papa na mira“. Foi uma ideia corajosa que transformou imediatamente o artigo em notícia internacional. E de notícia internacional, ele virou livro. The case of the pope é o título original de O papa é culpado?, o polêmico, revelador e perturbador livro de Geoffrey Robertson. 

Robertson não é o único que, através de seu trabalho, luta a favor dos direitos humanos e tenta mostrar que o Vaticano tem sua parcela de culpa. Em 1933, Diego Rivera retratou o papa pró-fascista Pio XI abençoando Mussolini, enquanto seu esquadrão da morte assassina o parlamentar democrata Matteotti.

Vale a pena ler "O papa é culpado?"

Angeli e as fantasias pro Carnaval

Em 1986, quando publicava textos, cartuns, sacadas e quadrinhos avulsos na revista Chiclete com banana, Angeli sugeriu algumas fantasias de Carnaval aos leitores. Sempre com aquela ironia que o caracteriza, claro. Fantasias que depois foram parar nas páginas do livro Os broncos também amam (Coleção L&PM Pocket) e que agora compartilhamos aqui. Vá que você ainda não tenha fantasia e esteja precisando de uma sugestão…

Quadro de Amadeo Modigliani leiloado por cerca de R$ 80 milhões

Um retrato pintado pelo mestre modernista italiano Amadeo Modigliani em 1919 foi leiloado nesta quarta-feira (6 de fevereiro) em Londres por 26,9 milhões de libras na Christie”s. A quantia equivale a 42,1 milhões de dólares – ou quase R$ 80 milhões de reais. A venda superou as expectativas da famosa casa de leilões. Um porta-voz da Christie´s não indicou em um primeiro momento quem havia adquirido esta obra, que desde 2006 pertencia a um grande colecionador de Nova York, que a tinha obtido por 16,3 milhões de libras (cerca de 30 milhões de dólares ao câmbio da época).

O quadro em questão é “Jeanne Hebuterne (de chapéu)”, um retrato da grande musa de Modigliani, Jeanne Hébuterne que, grávida, suicidou-se logo após a morte do pintor. A obra foi feita em 1920, ano em que o pintor morreu, aos 35 anos.

No fim do ano [1919], sua saúde piora de maneira alarmante, a febre o consome, ele não para mais de tossir, às vezes cospe sangue. Devastando seu peito, a tuberculose escava seu impiedoso caminho. Apesar disso, ele não descansa e continua a trabalhar, encadeando quadros. Telas e desenhos de Jeanne, o retrato de Paulette Jourdain, a pequena criada dos Zborowski, mais um último retrato de Jeanne e depois seu único auto-retrato pintado, o único desde a infância, a carvão, de 1899. Ele se apresenta com a paleta de pincéis na mão direita, esgotado, o rosto muito magro, os traços abatidos e sem expressão, sem olhar, ou melhor, com o olhar virado para si mesmo, como que desprendido, como se pressentisse o fim. Seu último quadro será o retrato do músico grego Mario Varvogli. Segundo os historiadores da arte e os biógrafos, sem contar os desenhos, os esboços, Modigliani pintou aproximadamente 120 telas entre 1918 e 1919.  (Trecho de Modigliani, de Chistian Parisot, Série Biografias L&PM)

“A maldição do espelho” reflete um mistério da vida real

A trama de A maldição do espelho, de Agatha Christie, tem como figura central uma atriz de cinema americana chamada Marina Gregg. Quando Marina vai morar no pacato vilarejo de St. Mary Mead, Miss Marple assiste tudo de sua janela e fica curiosa em saber porque uma estrela de Hollywood foi parar ali. A curiosidade aumenta quando, em uma festa na mansão da atriz, uma das convidadas morre envenenada. Marina tem certeza de que ela era o alvo – mas quem poderia querer matá-la? Um mistério que só Miss Marple, ao embrenhar-se no passado dos envolvidos, poderá desvendar.

A maldição do espelho foi lançado originalmente em 12 de dezembro de 1962. E logo depois de sua chegada às livrarias, a editora Collins recebeu uma carta indignada de um leitor americano reclamando que Agatha Christie teria se baseado na tragédia pessoal da famosa atriz Gene Tierney para criar esta novela. Os editores responderam que Agatha só soube da tragédia pessoal de Tierney muito depois de ter escrito seu livro. Mas ainda hoje há gente que defende o contrário.

E realmente as coincidências entre realidade e ficção são grandes. O drama pessoal que ocorreu com Gene Tierney e que está descrito em sua autobiografia (Auto-Retrato, New York: Wyden, 1979) aconteceu em junho de 1943. Ela estava grávida de sua primeira filha quando contraiu rubéola durante uma única aparição em um nightclub chamado “A Cantina Hollywood”. Por conta disso, sua bebê, que recebeu o nome de Daria, nasceu prematura, surda, parcialmente cega e com uma deficiência mental séria, o que levou a atriz à depressão. Algum tempo depois, em uma festa, Tierney foi abordada por uma fã que pediu-lhe um autógrafo e revelou que, em 1943, havia escapado de sua quarentena de rubéola só para ir à “Cantina Hollywood” ver Tierney de perto. Ou seja… Estava ali a culpada de tudo.

Agora cabe a você ler A maldição do espelho, que acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket, investigar e tirar suas próprias conclusões sobre se Agatha Christie teria ou não usado este fato real para compor sua trama – que, aliás, é considerado um dos mistérios mais psicologicamente intensos da Rainha do Crime.

Gene Tierney era considerada uma das mais lindas atrizes de Holywood

Inspirados em Lutzenberger, manifestantes protegem árvores

Na quarta-feira, 6 de fevereiro, a Smam (Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre) iniciou a remoção de 115 árvores de uma praça no centro da cidade, localizada em frente à Usina do Gasômetro. Até o início da tarde, 14 árvores haviam sido derrubadas, mas moradores da região iniciaram uma série de protestos que suspenderam temporariamente o trabalho. Eles subiram nas árvores para impedir que elas fossem ao chão. Uma das moradoras contou que os residentes souberam, por assembleia, que a rua seria duplicada, mas nada foi dito sobre o corte das árvores.

Um dos manifestantes foi fotografado lendo o livro Manual de Ecologia – Do jardim ao poder (Coleção L&PM Pocket), de José Lutzenberger, ecologista brasileiro de projeção mundial que faleceu em 2002. A foto ganhou destaque nas redes sociais.

Manifestante lê livro de Lutzenberger

Em 25 de fevereiro de 1975, um jovem estudante de engenharia elétrica da Universidade Federal do RS foi o primeiro a lançar esse tipo de protesto no Brasil. Ao ver que funcionários da Secretaria Municipal de Obras estavam cortando dezenas de árvores para construir um viaduto, o mineiro Carlos Alberto Dayrell subiu em uma grande árvore em frente à Faculdade de Direito da UFRGS, em uma das principais vias da cidade, a avenida João Pessoa. Dayrell, que era sócio da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), subiu numa Tipuana e lá permaneceu durante o dia inteiro. O protesto funcionou, pois a árvore segue linda e frondosa até hoje.

José Lutzenberger, que foi o primeiro presidente da Agapan, declarou em 1998 que “O protesto do Dayrell foi o fato que mais sacudiu a opinião pública na época”. Naquela época, o manifestante foi parar na delegacia de polícia política, pois impedir o corte de árvores era crime contra a segurança nacional. A foto de Dayrell foi para em muitos jornais e ganhou destaque de capa de O Estado de São Paulo. Considerada a mais importante manifestação ecológica de Porto Alegre, esta história ainda hoje é lembrada e serve de exemplo.

Dayrell em 1975

A mulher que queimava poesia

Foi em meio à ditadura de Stálin na Rússia que Anna Akhmátova criou seus poemas mais célebres. Depois de dois maridos mortos e um filho preso pelo regime, ela encontrou no próprio sofrimento e na agonia da espera a inspiração para seus versos.

O contexto socio-político conturbado influenciou não só o conteúdo da literatura produzida naquela época, mas também a técnica: para não ser descoberta pela polícia secreta, ela anotava seus versos em pedaços de papel apenas como um recurso de memorização e, quando o poema estivesse decorado, queimava as anotações num cinzeiro. É por isso que “Réquiem”, uma das peças mais comoventes de sua Antologia poética, é composta por uma porção de poemas curtos. E o mesmo aconteceu com vários escritores da época.

Durante alguns anos, o “Réquiem” foi se formando e sendo guardado de memória até o dia que fosse possível colocá-lo no papel. Sobre a prisão do filho, ela escreve:

Levaram-te embora ao amanhecer
Atrás de ti, como quem acompanha um carro fúnebre, eu segui.
No quarto às escuras, as crianças soluçavam
e a vela gotejava diante do ícone.
Teus lábios estavam gelados como uma medalhinha.
Do suor mortal em tua fronte nunca me esquecerei.
Como as viúvas dos Striéltsi, eu também
irei gritar diante das torrers do Kremlin.

(…)

Há dezessete meses choro,
chamando-te de volta pra casa.
Já me atirei aos pés do teu carrasco.
És meu filho e meu terror.
As coisas se confundem para sempre
e não consigo mais distinguir, agora,
quem a fera, quem o homem,
e quanto rerei de esperar até a sua execução.
Só o que me resta são flores empoeiradas
e o tilintar do turíbulo e pegadas
que levam de lugar nenhum a parte alguma.
E bem nos olhos me olha,
com a ameaça de uma morte próxima,
uma estrela enorme.

(…)

A L&PM publica uma Antologia poética de Anna Akhmátova, com tradução direto do russo feita por Lauro Machado Coelho, na Coleção L&PM Pocket.

“Memórias do Esquecimento” será publicado na China

A coluna de Ancelmo Gois, no Jornal O Globo desta quarta-feira, 6 de fevereiro, conta que o livro Memórias do esquecimento, de Flávio Tavares, relançado há pouco na Coleção L&PM Pocket, vai ser publicado na China.

Memórias do esquecimento recebeu o Prêmio Jabuti 2000 na categoria melhor reportagem. O livro é um relato descarnado e cru sobre a prisão e a tortura após o golpe militar de 1964 no Brasil. Flávio Tavares participou da resistência à ditadura e foi preso. Acabou libertado com outros catorze presos políticos em troca do embaixador dos Estados Unidos, em 1969, iniciou longo exílio no qual foi vítima (e sobrevivente) da chamada Operação Condor.

Nos bolsos do sobretudo eu carregava “segredos militares” e, daí em diante, tudo mudou. Na manhã seguinte, o Exército uruguaio enviou um emissário a Brasília para me oferecer ao governo brasileiro, “vivo ou morto”, como quisessem. Era, porém uma sexta-feira e em Brasília não havia ninguém para decidir. (Trecho de Memórias do esquecimento)