Arquivo mensais:fevereiro 2014

Memórias do fogo norueguês

Se você colocar as palavras “incêndio” e “Noruega” no Google, vai ver a enorme quantidade de notícias sobre incêndios no país. São dezenas de cidades e vilarejos destruídos, casas de madeira, prédios modernos, edificações tombadas como patrimônio histórico: as chamas não escolhem local, não poupam nada e fortes ventos ajudam a alastrar a destruição.

Os incêndios ajudaram a formar geográfica e politicamente a Noruega. Ao longo dos anos, constantes incidentes destruíram peças arquitetônicas importantes da cidade, principalmente na época em que muitos edifícios eram inteiramente de madeira e, assim, facilmente consumidos pelo fogo. Foi após um incêndio histórico que durou 3 dias, em 1624, que o rei Cristian IV decidiu que a cidade velha não deveria ser recuperada novamente e ordenou a construção de uma rede de estradas em Akershagen perto da Fortaleza de Akershus. Ele exigiu que todos os cidadãos saíssem de suas antigas residências, lojas e locais de trabalho para se instalarem na nova cidade de Christiania, que mais tarde seria rebatizada de Oslo – hoje, capital da Noruega.

Por muito tempo, os incêndios não tinham causa conhecida: eram uma fatalidade, geralmente resultado da combinação de forças implacáveis da natureza. Mas o impacto dessas fatalidades sobre as pessoas começou a adquirir, com o passar do tempo, certos ares de mistério…

capa_antes_queime2.inddEm 1978, diversos incêndios começaram a atingir o pequeno vilarejo  de Finsland, no sul da Noruega. Logo a polícia constata que um incendiário está a solta, e o medo se instaura entre os moradores da região. Nesse turbulento cenário nasce o menino Gaute Heivoll, que anos mais tarde funde este enredo policial a uma reflexão sobre o ofício da escrita em meio às chamas do romance Antes que eu queime, uma das obras mais instigantes da literatura escandinava contemporânea, que acaba de chegar ao Brasil pela L&PM em tradução direta do original, feita por Guilherme da Silva Braga.

 

“Memórias de Salinger” estreia em São Paulo

O filme Memórias de Salinger, que explora a intimidade do autor de Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e O apanhador no campo de centeio, estreou em São Paulo na última sexta, dia 7 de fevereiro. Dirigido por Shane Salerno, o longa remonta a trajetória do autor a partir  de suas conturbadas relações amorosas e de suas publicações. Há declarações de ex-amantes, de especialistas em sua obra e de atores como Edward Norton e Philip Seymour Hoffman.

Além das entrevistas, o filme exibe fotos e imagens inéditas de Salinger, que fugia dos holofotes e viveu por décadas isolado numa casa no meio das montanhas. Outro assunto bastante explorado é a obsessão do escritor em publicar seus contos na revista The New Yorker, onde foi rejeitado muitas vezes durante anos até conseguir. Nos depoimentos, amigos e colegas de Salinger comentam a obra do autor dando detalhes sobre o contexto em que foram escritas.

salinger

Salinger durante a 2ª Guerra Mundial

O filme está em exibição no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca com sessões às 14h30, 17h, 19h20 e 21h40.

2014 é o “Ano Cortázar”

Motivos não faltam para fazer de 2014 o “Ano Cortázar”, pois ele marca os 100 anos do nascimento de Júlio Cortázar, 30 anos de sua morte e 50 anos da publicação de O jogo da amarelinha. Devido a coincidência de datas comemorativas, o governo argentino prepara uma intensa programação de atividades culturais de fevereiro (mês da morte) a agosto (mês do nascimento).

cortazar

A capital argentina, onde o escritor passou boa parte de sua vida e com a qual teve uma contraditória relação, assim como com Chivilcoy, onde viveu por cinco anos como professor de literatura, sediarão as principais comemorações:

– Em junho, o Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires receberá pela primeira vez, uma coleção pessoal do escritor, com mais de 5 mil peças fotográficas, documentação em papel e vários filmes em super 8.

– No Museu do Livro e da Língua, será exibido “Rayuela: uma mostra para armar”, uma proposta interativa e lúdica sobre uma das obras mais relevantes da literatura latino-americana.

– Na Casa Nacional do Bicentenário, a relação de Córtazar com o cinema e a música será revisitada com uma mostra de histórias baseadas em sua obra.

– O auge da programação acontece em agosto, mês do nascimento do autor de A autoestrada do sul & outras histórias, quando acadêmicos e escritores argentinos de outras partes do mundo vão se reunir para desvendar seu universo literário nas jornadas “Leituras e releituras de Cortázar”, na Biblioteca Nacional de Buenos Aires.

– Em Chivilcoy, onde o autor viveu de 1939 a 1944, será aberto o Museu Cortázar, um espaço cultural que receberá mostras permanentes e oficinas e cursos relacionadas a sua obra.

Além disso, a cidade de Paris, onde ele viveu seus últimos anos, também presta a sua homenagem: no Salão do Livro de Paris deste ano, a Argentina é o país convidado de honra. O evento literário francês, que acontece em março, será palco de uma mostra fotográfica com 15 imagens inéditas realizadas por Sara Facio, autora dos retratos mais conhecidos de Cortázar, e de outros personagens ilustres da cultura argentina. Também no Salão do Livro, o desenhista Miguel Rep pintará um mural, ao vivo por dois dias, em que ilustrará a linha de tempo da vida e da obra de Cortázar.

 

Diários de Andy Warhol, parte II

Por Antonio Bivar*

No número passado da J.P [revista Joyce Pascowitch] esta coluna deu, com o título “Brasileiros nos Diários de Andy Warhol”, os dias em que Andy comentava seus encontros com brasileiros nas festas nova-iorquinas na década de 1970 e primeiros anos dos 80s. Pelé era o mais citado, mas bem citados também eram Elizinha Gonçalves, Florinda Bolkan, Santos [Dumont] (o relógio de pulso da Cartier) e outros. São pérolas como de resto todo o au jour le jour warholiano. Segundo o jornal inglês The Guardian, “os Diários são sua última grande obra de arte”. E são mesmo. Todas as manhãs, religiosamente Andy Warhol por telefone ditava à Pat Hackett o que rolara na véspera. Hackett gravava e depois editava. Warhol morreu em 1987 e com sua morte o diário parou. Dois anos depois, em 1989, os Diários de Andy Warhol saíram num único volume de mais de mil páginas. No Brasil foi publicado no mesmo ano, pela L&PM, traduzido por Celso Loureiro Chaves. Em 2012, 23 anos depois, a editora lançou os Diários em dois volumes populares L&PM Pocket. Mês passado aqui na revista compilei preciosidades do primeiro volume e agora passo aos do Volume II, que pegam os dias de 1982 a 1987. Não preciso dizer mais sobre os dias agora compilados porque o au jour le jour de Andy Warhol vai direto ao ponto. Gênio. Têm todo o charme de “antigamente a vida era assim”. Vintage.

Quarta-feira, 17 de março, 1982. Jon veio me buscar às 8 da noite e fomos para a casa de Diane von Furstenberg, que estava dando uma festa sem motivo específico, mas acho que talvez fosse para alguém rico da Indonésia.

Domingo, 4 de abril, 1982. Havia um coquetel que Henry estava dando na casa de Anna Wintour, onde ela mora com aquele Michael Stone. Estou começando a achar que talvez Henry não saiba o que seja uma festa elegante, que talvez não tenha ido a muitas. Porque esta festa – quer dizer, nem serviram comida. Era das 6h30 às 8h30 e só serviram bolachinhas. Havia três empregadas, mas e daí? Não tinha comida!

Sábado, 11 de setembro, 1982. Decidi fazer um livro fotográfico de verdade de apartamentos de verdade. Não casas fotográficas como a Architectural Digest faz, mas só mostrando como as pessoas realmente moram. Não é uma boa ideia? Bianca acaba de conseguir um apartamento de dez quartos no El Dorado. Parece um lugar tipo Barbra Streisand.

Segunda-feira, 20 de setembro, 1982. Saí mais cedo para chegar a tempo de ver Lana Turner na Bloomingdale’s. Comprei um de seus livros. E ela disse, “Não sei se quero falar com você, tirei você das minhas orações, você disse que eu era melhor quando não tinha encontrado Deus”. Fiquei num estado de nervos terrível, disse “Ah, não, Lana, você tem que rezar por mim, por favor me coloque de volta nas suas orações!” Finalmente ela autografou o livro e escreveu “Para um amigo?”, com um ponto de interrogação. Lana, seu cabelereiro bicha e eu estávamos todos com o mesmo penteado.

Quarta-feira, 27 de setembro, 1983. Bianca ligou e me convidou para o almoço para o ministro de cultura sandinista da Nicarágua. Era uma mulher. Quer dizer, e aí ela ficou dizendo que a revolução verdadeira está vencendo, que “está chegando a hora do povo”. E, sei lá, é tudo tão abstrato, mas aí aquela noite na festa dos Heinz com todos aqueles ricaços republicanos também fiquei com uma sensação de medo. É como qualquer pessoa que tem poder, não vai querer que ninguém mais tenha.

Domingo, 4 de dezembro, 1983. Depois fomos para o Four Seasons. Apertei a mão de Jackie O., ela nunca mais me convidou para sua festa de natal, é uma cretina. E agora eu nem iria se me convidasse. Eu a mandaria cuidar de seu nariz. Quer dizer, temos a mesma idade, portanto posso dizer-lhe algumas verdades. Embora eu ache que ela seja mais velha do que eu. Mas, aí, acho que todo mundo é mais velho que eu.

Quarta-feira, 2 de maio, 1984. Estou com nojo da maneira como tenho vivido, de todo esse lixo, de levar sempre mais coisas para casa. Tudo o que quero são só paredes brancas e um chão limpo. Não ter nada é a única coisa chique. Quer dizer, por que é que as pessoas possuem coisas? É realmente idiota.

Segunda-feira, 4 de junho, 1984. Tinha que embarcar a “Marilyn”, foi um pouco deprimente. Para aquele tal Saatchi na Inglaterra. Vai ajudar no nosso pagamento da hipoteca e coisas assim, mas não sei se foi uma boa ideia vender.

Domingo, 24 de junho, 1984. Comprei maquiagem na Patricia Field (maquiagem $28,70, táxi $7.50). Comprei vermelho japonês. Mas gosto daquelas coisas da Fiorucci que são apenas uma mancha que dá aos lábios da gente um marrom natural. Porque meus lábios eram tão carnudos e agora não são, desapareceram. Para onde terão ido?

Domingo, 5 de agosto, 1984. Enfim, Jean Michel [Basquiat] queria que eu fosse ver suas pinturas na Great Jones Street, então fomos lá e é um chiqueiro. O amigo dele, Shenge, o negro, mora com ele e deveria estar tomando conta daquilo, mas é um chiqueiro. E tudo cheira a maconha. Me deu algumas pinturas para eu trabalhar. Fui embora (táxi $8).

Terça-feira, 9 de outubro, 1984. Aniversário de Sean Lennon. E fomos para o Dakota. Vigília na frente do prédio porque o dia 9 é aniversário de Sean e de John. Yoko correu para chamar Sean. Fomos para o quarto de Sean – havia um garoto lá instalando o computador Apple que Sean ganhou de presente, o modelo MacIntosh. Eu disse que uma vez alguém tinha me ligado querendo me dar um, mas eu nunca liguei de volta, e aí o garoto me olhou e disse, “Claro, era eu, sou Steve Jobs”. E tem um ar tão jovem, como um universitário. Ele disse que ainda quer me dar um computador. E que vai me ensinar a desenhar com ele. Ainda vem apenas em preto e branco, mas logo vão fazer a cores.

Sábado, 23 de março, 1985. E fiquei seguindo [Greta] Garbo pelas ruas. Tirei fotos dela. Tenho certeza de que era ela. Estava de óculos escuros, um casaco enorme, calças compridas e aquela boca, e ela entrou na loja Trade Horn para conversar com uma mulher sobre TVs. Exatamente o tipo de coisa que ela faria. Aí tirei fotos dela até achar que ela ficaria furiosa e então fui a pé para downtown. Eu também estava sozinho (risos). Sábado, 13 de julho, 1985. Vi aquela coisa, Live Aid, na TV. Jack Nicholson apresentou Bob Dylan e o chamou de “transcendental”. Só que para mim Dylan nunca foi realmente de verdade – sempre copiou pessoas de verdade e as anfetaminas fizeram com que parecesse mágico. Com as anfetaminas ele conseguia copiar todas as palavras certas e fazê-las parecer verdadeiras. Mas aquele garoto nunca sentiu absolutamente nada – (risos) a mim ele nunca enganou.

Segunda-feira, 22 de julho, 1985. Fui à pré-estreia de Beijo da Mulher Aranha (táxi $5). É o filme que Jane Holzer produziu com David Weisman, aquele cara do Ciao Manhattan. Não o suporto, portanto odeio ter que dizer que gostei do filme. Acho que agora as pessoas estão querendo mais filmes de arte, ou algo assim, é a hora certa.

Sexta-feira, 16 de agosto, 1985 – Los Angeles. Foi mesmo o fim de semana mais excitante da minha vida. Fomos de limusine até Malibu e quando vimos os helicópteros lá longe desconfiamos que era por causa do casamento. Uns dez helicópteros estavam ali por cima, era igual Apocalypse Now. Olhei para Madonna bem de perto e ela é linda. E a única celebridade chata mesmo era Diane Keaton. Sean veio nos cumprimentar e a família bonita de Madonna estava lá, todos os irmãos. E dá para perceber que Madonna e Sean se amam muito, foi a coisa mais excitante do mundo. Ah, e quando estávamos indo embora não consegui acreditar: Tom Cruise pulou para o nosso carro para fugir dos fotógrafos. Tirei uma foto dele. Fred e eu achamos que o casamento de Marisa [Berenson] foi mais glamuroso, mas este foi espetacular por causa dos helicópteros.

Sábado, 17 de agosto, 1985 – Los Angeles. E Cher foi divertida. E nos contou que durante o casamento Madonna pediu a ela que lhe ensinasse a cortar o bolo. Cher disse, “Como se eu soubesse”. E aí Madonna ficou passando as fatias com a mão. Sabe, estava sendo “bem terra”.

Quarta-feira, 9 de outubro, 1985. E eu matei uma barata e foi um trauma. Um trauma enorme mesmo. Fiquei me sentindo horrível.

Sábado, 19 de outubro, 1985. Encontrei Bill Katz, que se rasgou em elogios sobre minha exposição conjunta com Jean Michel [Basquiat] na galeria de Tony Shafrazi. Encerra esta semana. Jean Michel está ganhando todos os elogios, não eu. E Tony não está muito contente, parece que não vendeu muita coisa.

Domingo, 3 de novembro, 1985. Ah, e como é que a gente se livra de ficar velho? Minha mãe tinha a idade que tenho agora quando veio para Nova York. Naquela época eu achava que ela era realmente velha. Mas aí ela chegou aos oitenta. Tinha muita energia.

Domingo, 9 de março, 1986. Dizem no Times que Imelda Marcos deixou 3 mil pares de sapatos nas Filipinas. Talvez ela fosse trash. E encontraram material pornô no quarto de Marcos. [E em 16 de março:] E os Marcos ainda estão no noticiário. Agora encontraram 3 mil calcinhas pretas. E a conta deles no Bulgari chegava a $1 milhão.

Sexta-feira, 25 de abril, 1986. Li nos jornais que Grace Jones vai me levar ao casamento Schwarzenegger-Shriver no seu avião, aí acho que Grace ligou para o seu assessor de imprensa e pediu para divulgar. Portanto acho que estamos mesmo indo. Trabalhei nos desenhos de Maria Shriver que vou dar de presente de casamento.

Sábado, 26 de abril, 1986 – Nova York-Hyannis, Massachusetts-Nova York. E apreciando aquele casamento de conto de fadas não dava para deixar de pensar em como vai ser quando chegar a hora do divórcio. Jackie comungou e por isso caminhou por toda a igreja com John-John só para se mostrar. Estava linda. A missa durou uma hora e o casamento levou quinze minutos. Uma mulher cantou “Ave Maria”.

Terça-feira, 14 de outubro, 1986. Briguei com Fred [Hughes]. Ele está ficando cada dia mais parecido com Diana Vreeland. Eu digo que Interview é uma revista pequena e ele diz não não, não é. E não me deixa dar opiniões sobre o assunto. Eu digo, “Fred, Time é uma ‘revista grande’. Eles cobram $75 mil por página. Nós cobramos 3 mil.” E ele diz, “Não, não, nós cobramos $3.1 mil”. Quer dizer, …

Domingo, 25 de janeiro, 1987. Kenny Scharf ligou tentando me convencer a comprar terras no Brasil e eu estava pronto para lhe enviar um cheque, mas daí Fred gritou comigo por causa desse assunto quando estávamos na França, insistindo que são apenas vendas de mercado negro, sem contrato algum e nenhuma prova de que a gente é realmente o dono. Mas é muito barato. E a Paige queria entrar nisso comigo e até iria lá durante uma semana para verificar as coisas. A gente ganha (risos) um coqueiro só pra gente. Mas dizem que há muitas mortes por lá e que podem tirar a terra da gente a qualquer momento. Mas, ei, é muito barato.

* Texto escrito para a edição de fevereiro de 2014 da revista Joyce Pascowitch, em breve nas bancas.

Professor da USP escreve sobre “O idiota da família” na Folha de S. Paulo

A convite da Folha de S. Paulo, o professor da USP Franklin Leopoldo e Silva escreveu um texto sobre o recente lançamento de “O idiota da família” ( L&PM Editores), de Jean-Paul Sartre. Professor de história da filosofia contemporânea na USP, Franklin é autor do livro “Ética e literatura em Sartre” (Unesp, 2004). Clique na imagem para ler seu texto, publicado no caderno Ilustríssima em 9 de fevereiro:

Clique para ampliar.

Clique para ampliar.

Drácula chega ao Brasil em março

Estreia em março, no Brasil, a série Drácula no canal Universal, que adapta o clássico romance do escritor irlandês Bram Stoker para a TV, com o também irlandês Jonathan Rhys Meyers no papel principal.

dracula

A série se passa no final do século 19, com a chegada do misterioso Drácula a Londres. No velho continente, ele assume a identidade de Alexander Grayson, um empresário americano que deseja levar a ciência moderna para a sociedade vitoriana. Porém, outros interesses levam Drácula à Inglaterra: o desejo de vingança por aqueles que o amaldiçoaram com a imortalidade. Durante sua trajetória, ele acaba se apaixonando por uma mulher que parece ser a reencarnação de sua falecida esposa.

Antes de entrar para o mundo das séries, Jonathan Rhys Meyers atuou em grandes filmes como Match PointO Som do CoraçãoDriblando o DestinoMissão Impossível 3Alexandre – O Grande e Identidade Paranormal. Além dele, fazem parte do elenco os atores Jessica Gouw, Katie McGrath e Oliver Jackson. A série teve sua estreia mundial em 25 de outubro de 2013.

Allen Ginsberg, fotógrafo

Além de poeta, autor do Uivo e ícone da geração beat, Allen Ginsberg era um exímio fotógrafo, que registrou como ninguém a vida urbana e cultural de Nova York e também de outros lugares por onde passou. Suas fotos retratam cenas de sua própria vida e do convívio com outros escritores e artistas, entre eles Bob Dylan, Jack Kerouac, John Cage, William de Kooning, Paul McCartney, Patti Smith, William Burroughs e Iggy Pop.

Boa parte deste material (cerca de 8 mil fotos feitas entre 1944 e 1997) foi reunido pela Larry & Cookie Rossy Family Foundation e está sendo doado para a biblioteca de “special collections” do Centro de Artes da Universidade de Toronto (UTAC), famoso por seu grande acervo de manuscritos, fotos e outros materiais e por ser a maior biblioteca de livros raros do Canadá e uma das maiores do mundo. Várias imagens já foram digitalizadas e estão no Flickr da Thomas Fisher Rare Book Library do UTAC, veja algumas:

allen_paulmclinda

Linda e Paul McCartney

allen_patti

Patti Smith

allen_allen

Auto-retrato

allen_iggy

Iggy Pop

“Guerra e paz” na abertura dos Jogos de Inverno 2014

A abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia, na última sexta-feira, dia 7 de fevereiro, foi um verdadeiro espetáculo. E as referências culturais foram um show à parte, inspirado no legado de artistas, músicos e escritores russos. Circo, ballet, música e literatura estavam bem representados com cenas de O lago dos cisnes de Tchaikovsky até cenas de baile do épico Guerra e Paz, de Leon Tolstói, que foram lembradas com uma performance do Russian Ballet:

warandpiece

warandpeace2Clique aqui e veja alguns dos melhores momentos da cerimônia de abertura.

Claudia Tajes ataca novamente

Claudia Tajes está com tudo em 2014! Depois da estreia de A vida sexual da mulher feia no teatro e a notícia da adaptação do livro para o cinema, agora é a vez de Por isso eu sou vingativa virar série no canal Multishow. Produzido pela Zola, do cineasta José Henrique Fonseca, o projeto prevê 13 capítulos com Camila Morgado no papel de Sara, a personagem principal, e um ator convidado a cada episódio para ser o alvo da fúria que nasce da dor de cotovelo de Sara. Marcelo Serrado já está entre os escalados para viver uma das “vítimas”.

capa_po_isso_sou_vingativa.inddSara é uma mulher que largou o curso de arquitetura para cuidar da lavanderia da família. E é no meio de roupas sujas que ela resolve arquitetar a sua vingança. Com crueldade e cinismo, ela resolve se vingar de cada um dos seus ex-namorados que a fizeram sofrer nessa vida.  Os ex-namorados vão desde o cara mais bonito da escola, capaz de partir qualquer coração, até um fiel e compreensivo (demais) companheiro.

A série Por isso eu sou vingativa tem estreia prevista para o segundo semestre. Até lá dá tempo de ler o livro de Claudia Tajes para ficar por dentro das histórias.

“O idiota da família” no jornal O Globo

Leia matéria do jornalista Fernando Eichenberg sobre o lançamento de O idiota da família, escrita diretamente de Paris e publicada no Caderno Prosa e Verso do jornal O Globo em 8 de fevereiro de 2013. Clique nas imagens para ampliá-las.

sartrenogloboCAPA

(clique para ampliar)

sartrenoglobo

(clique para ampliar)

‘O idiota da família’: uma vida passada a limpo, por Ivo Barroso

Por Ivo Barroso*

Razão tinha Flaubert quando declarou “Madame Bovary sou eu”. O comportamento dúbio, as reações sentimentais da personagem, seu modo de agir e raciocinar eram todos reflexos de condições psíquicas a que ele se impunha para analisá-las com cuidado e detença. É sabida a morosidade com que compunha seus livros, não só no que respeita à elaboração do estilo, cujas frases revia incansavelmente, mas também no ajuste final de cada gesto e de cada palavra dos seres que animava.

Sua biografia não revela grandes lances: solteirão de muitos amores mas poucas ligações permanentes, arredio da grande cidade, avesso a qualquer tipo de convenções (“As honrarias desonram, os títulos degradam, os empregos entorpecem”), Gustave Flaubert havia se refugiado na literatura, em sua propriedade rural de Canteleu-Croisset, para vencer sua aversão pela tolice humana. Esse recolhimento campestre teve, no entanto, outros determinantes. Flaubert sofria de epilepsia psicogênica, e seu pai, cirurgião-chefe no hospital de Rouen, achou conveniente que o jovem trancasse matrícula no curso de Direito em Paris e se recolhesse à província, onde seria mais bem assistido pela família. Ideal para ele, que só pensava em escrever. Mas alguns infortúnios domésticos iriam marcá-lo: o irmão mais velho, Achille, médico-cirurgião como o pai, acabou louco; a irmã Caroline, por quem tinha manifesta afeição, casou-se em 1845 com Emile Hamard e teve uma filha de mesmo nome, morrendo em seguida; Flaubert assumiu a criação da menina, pois Hamard, desesperado, enlouqueceu após a morte da esposa. O pai, seu grande esteio, morreu no ano seguinte. Restou-lhe a sra. Flaubert, descrita por ele como sua carcereira, confidente, ama, paciente, banqueira e crítica.

Contudo, muitos são os amigos fieis que o cercam, como Louis Bouilhet e Maxim du Champ, este com quem viaja para o Egito, Palestina, Grécia etc., dilapidando boa parte da herança que lhe coubera com a morte do pai. E grande é o número de correspondentes e confidentes, aos quais escreve montanhas de cartas (hoje reunidas em cinco volumes), comentando projetos literários e afãs amorosos. Visto como o “carrasco de si mesmo”, esse cultor do mot juste tornou-se um dos maiores estilistas da literatura francesa do século XIX. Seus livros mais conhecidos (“Salambô“, “Madame Bovary”, “Bouvard e Pécuchet”) trouxeram-lhe grande fama e sucesso financeiro, embora outros, como “A educação sentimental” e “A tentação de Santo Antão” não alcançassem o grande público, e, neste último caso, houvesse até a insistência dos amigos para que o jogasse fora.

Por sua importância literária era natural que Flaubert despertasse a atenção de muitos biógrafos, alguns dos quais da importância de Henry James, Guy de Maupassant, Emile Faguet e Jules Goncourt, interesse que persiste mesmo em nossos dias com a premiada biografia de Frederick Brown (2006).

Em 1971, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre surpreendeu seus leitores com a publicação do primeiro volume de uma biografia de Flaubert intitulada “O idiota da família”. O livro tinha cerca de 1000 páginas, anunciava-se um segundo tomo já para o ano seguinte e havia o plano da publicação de mais outros dois volumes que sairiam em datas não muito distantes. Indagado sobre seu interesse por Flaubert, Sartre respondeu que via nele o seu antípoda, mas que o admirava exatamente por isso, em vez de desprezá-lo. A novidade maior do empreendimento, além de seu indubitável apelo épatant, estava (segundo o autor) na aplicação de um método investigativo que conjugava existencialismo, psicanálise e crítica literária, a fim de tratar o assunto (a vida de um autor) em sua globalidade definitiva. O objetivo foi sem dúvida obtido e a análise de fato vasculha da adega ao sótão, mas depreende-se igualmente da leitura que Sartre quis fazer uma “revisão” completa de Flaubert, como escritor e como ser humano, talvez para “aproximá-lo” um pouco mais de si. Dessa forma, poderíamos imaginar que Sartre quis fazer com Flaubert o que este fazia com seus personagens: incorporar-se neles.

Logo no início, por exemplo, Sartre se vale de um depoimento de Caroline, a sobrinha querida de Flaubert, e embora lhe dê todo o crédito, disseca-lhe as palavras como que para redesenhá-las de modo a que signifiquem a mesma coisa, mas insinuando outras mais. Cada momento da vida de Flaubert é, assim, passado a limpo, ou melhor, reanalisado de modo a aproximá-lo de seu biógrafo, aqui transformado num deus todo-poderoso capaz de reformular o destino. Sem dúvida, um trabalho de amor, de aprimoramento, talvez um impulso de fazer por outrem o que não foi possível (ou desejável) fazer para si mesmo. O resultado final é uma obra-prima do enfoque biográfico, a transformação do reflexo no espelho na imagem mental do refletido. Sartre conseguiu com esta obra assemelhar-se literariamente ao mestre amado a quem odiava no princípio.

*Ivo Barroso é tradutor e poeta