No Palácio das Laranjeiras, Jango merece a confirmação de que, em São Paulo, seu compadre, o general Amaury Kruel, aderiu à revolta. Com isso, também o governador Adhemar de Barros se pronuncia “a favor de Minas Gerais e contra o comunismo”. Na manhã de 1º de abril, tudo é rápido e muda em minutos. O coronel Rui Moreira Lima, comandante da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, também poderia ter mudado tudo em minutos. Após vencer a tempestade e a chuva, localizou os revoltosos de Mourão na estrada e fez um voo rasante sobre eles, de segundos, com seu jatinho desarmado.
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No Rio, o brigadeiro Francisco Teixeira, comandante da III Zona Aérea, insiste em resistir, mas precisa de “ordem superior”. No início da tarde de 1º de abril, o ministro da Aeronáutica reúne seus principais comandados e dá a notícia:
– Tristonho, o ministro nos informou que tudo tinha terminado. ‘O presidente saiu do Rio, onde tinha nosso apoio, foi para Brasília e de lá irá a Porto Alegre. Disse que não quer derramamento de sangue e que tudo está terminado. Vamos voltar para nossos portos e entregá-los a quem nos suceda.’ E assim foi feito! – recordou o então comandante da Base Aérea de Santa Cruz, Rui Moreira Lima, 46 anos depois.
A situação se repetiu no Exército e na Marinha.
Por que Jango deixou o Rio assim tão inesperadamente? Só muitas décadas após 1964 – com a difusão da documentação secreta dos EUA sobre o golpe no Brasil – aparece um detalhe que ajuda a explicar muito do que esteve oculto naqueles dias. Uma mensagem “urgente” do embaixador Gordon a Washington, expedida às 12 horas de 1º de abril, informa que “o ministro da Guerra Jair Dantas Ribeiro, notificou o presidente Goulart que sua colaboração constante e direta com os sindicatos e com os comunistas é insuportável.”
(trecho do livro 1964: O Golpe, de Flávio Tavares)