Durante a Feira do Livro de Paris, no início de 2017, os quatro livros mais vendidos na França eram todos livros de bolso. Este está longe de ser um caso isolado. Em 2016, os pockets ocuparam quatro das seis melhores posições de todo o ano e venderam, cada um, entre 380 mil e 650 mil cada um.
Nascidas na França nos anos 1930, as edições compactas se popularizaram para valer nos anos 1950, com a invenção da coleção Le Livre de Poche. O formato oferece uma segunda vida às obras, tornando-as acessíveis a todos os bolsos, com preços que representam metade ou até um terço do formato convencional. Hoje o formato de bolso representa uma venda de livro em cada três, com mais de 100 milhões de exemplares comercializados por ano. “É uma particularidade do mercado editorial francês”, diz Anne Assous, diretora da Folio, um dos principais players do setor, junto com a Pocket e Le Livre de Poche. Esse formato reduzido realiza também um tour de force ao transformar em fenômeno comercial obras que passaram mais ou menos despercebidas quando de seu lançamento inicial.
O sucesso literário do momento, L’Amieprodigieuse, de Elena Ferrante, também deve muito ao formato de bolso. O primeiro volume só havia vendido 10 mil exemplares na Gallimard. Sua passagem para o pequeno formato na coleção Folio se traduziu em 420 mil exemplares vendidos. “A partir daí, a coisa engrenou. Os três volumes chegam hoje a 1,3 milhão de exemplares vendidos, incluídos aí todos os formatos”, salienta Anne Assous.
Como explicar que um texto idêntico tenha desempenhos comerciais tão diferentes? Há, é claro, a questão do preço. O bolso também está presente em um número elevado de pontos de venda, como o varejo especializado ou alimentar, as estações de trem ou os postos de gasolina. Isso o torna acessível aos leitores que se sentem intimidados pelas livrarias. Mesmo que o boca a boca seja pequeno, as vendas se encadeiam. Alguns gêneros, que visam o grande público, parecem ter desempenho ainda melhor no formato pequeno. Mas não é a única explicação. “Há hoje um verdadeiro trabalho de marketing que havíamos deixado um pouco de lado”, afirma Vincent Monadé, presidente do Centre Nationaldu Livre. “O bolso não é mais a versão mini de uma obra. É um lançamento por si só, com um verdadeiro trabalho editorial.”
COMPRA POR IMPULSO
Esqueça o papel de baixa gramatura e a tinta que suja os dedos. O livro de bolso subiu a escala da gramatura e se distingue por capas muito trabalhadas. “Tentamos favorecer a compra de impulso”, indica Marie-Christine Conchon, presidente da UniversPoche (Editora Pocket). Os resumos também podem ser modificados, em relação aos resumos do formato convencional, para seduzir um público mais amplo. Os editores de livro de bolso não hesitam a fazer grandes campanhas para promover seus lançamentos.
As capas são alteradas a cada cinco anos, em média. Pois, se livros de formato convencional não ficam mais que alguns meses na linha de frente, o livro de bolso será comercializado durante anos. “É a versão que vai ficar no catálogo dos editores. Os autores tomaram consciência disso e reconhecem a importância dessas edições”, sublinha VeroniqueCardi. Prefácios inéditos e bônus se multiplicam para fazer desses lançamentos verdadeiros acontecimentos. À mídia se solicita que fale novamente sobre essas obras. Os editores de livros de bolso gozam, aliás, de um fundo editorial sólido que lhes permite não depender unicamente das novidades. Certos clássicos podem repentinamente voltar a ser populares, como 1984,da coleção Folio, que vendeu 90 mil exemplares desde a eleição de Donald Trump.
Via Jornal Le Figaro