Rio de Janeiro, Brasil, 1839 – † Rio de Janeiro, Brasil, 1908
De origem humilde, era tímido, pobre, mulato e órfão de mãe. Trabalhou muito cedo como aprendiz de tipógrafo e estreou como poeta no jornal A Marmota, empregando-se, logo a seguir, na Imprensa Nacional. Convidado por Quintino Bocaiúva, passou a colaborar no Diário do Rio de Janeiro, no qual publicou contos e crônicas. Produziu ainda poemas, peças teatrais, ensaios e romances. O público e a crítica, desde cedo, consagraram o escritor, que foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o seu primeiro presidente. Suas obras são perpassadas por um fino humor e uma ironia amarga. Nelas a elegância do estilo se completa com a correção da linguagem. Em suas narrativas encontra-se a tendência à análise psicológica das personagens, aliada à visão dos costumes da época e à introspecção. Leitor dos grandes autores, sua obra documenta a presença do homem na sociedade brasileira do Segundo Império.
OBRAS PRINCIPAIS: Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881; Papéis avulsos, 1882; Quincas Borba, 1891; Várias histórias, 1896; Dom Casmurro, 1900; Memorial de Aires, 1908
MACHADO DE ASSIS por Patrícia Lessa Flores da Cunha
A vida repleta de dificuldades e conquistas de Joaquim Maria Machado de Assis registra a trajetória, até certo ponto típica, do escritor do século XIX: autor de uma profusão de romances, novelas, contos, obras teatrais, ensaios, poesias, resenhas, crônicas políticas, que foi também tipógrafo, repórter, diretor de uma revista, candidato a cargo público, fundador e primeiro presidente da academia de letras de seu país. A atividade literária profissional de Machado de As sis estendeu-se de 1858 a 1906, distribuída entre os vários jornais e semanários da cidade do Rio de Janeiro em que teve atuação jornalística regular.
Em seus escritos, Machado foi um observador implacável e determinado das injustiças – sociais, econômicas, culturais – e, sobretudo, das misérias humanas que formavam o cotidiano da sua época. Um realista, engajado com a realidade, que mostrou por inteiro, utilizando-se, paradoxalmente, da ambiguidade e da dissimulação para produzir um texto surpreendente e marginal, revelando um mundo bifronte e enigmático, sob a aparente neutralidade das histórias convencionais, que todos podiam ler.
Fiel à disposição de não abusar da cor local, soube expressar um brasileirismo interior, discreto, di verso daquele que grassava, de modo ostensivo, em obras de artistas seus contemporâneos, mas, nem por isso, menos autêntico, e com certeza mais original. Sem desprezar o passado, olhou atentamente o presente, detendo-se e inspirando-se na realidade social e psicológica que o cercava para atingir a sensibilidade das gerações futuras, entre leitores e escritores que viessem a perceber, com maior acuidade, as nuances do seu projeto de literatura e pensamento nacional. Nesse sentido, cabia demonstrar, para si e para o seu caro leitor, transformado em peça-chave para a cabal realização desse empreendimento ficcional, qual era o sentimento íntimo que determinava a nacionalidade do fazer literário.
Lidando preferencialmente com situações e caracteres, fórmula genérica que buscou sempre aperfeiçoar a cada incursão sua na matéria ficcional, Machado de Assis compôs, através de sua escritura, um retrato progressivo, porém indefectível, da formação da sociedade brasileira, a partir do momento histórico da sua afirmação como entidade supostamente autônoma. Conseguiu, assim, fixar a cara cambiante do cidadão brasileiro, diante da virada do século, expondo-o nos instantes banais e corriqueiros do dia – e da noite – de um Rio de Janeiro que se metamorfoseava em capital dos trópicos, de modelo europeu, mas de face e fundo bem brasileiros. Optando pela sugestão irônica e sutilmente complacente como modo de escrever, revelou, na dubiedade da farsa, todas as mazelas, misérias, sonhos e esperanças próprias do indivíduo que precisava e queria, enfim, sobreviver intelectual, física e culturalmente, em meio a uma realidade desafiante, em processo de autoconstituição.
Entre suas obras, destacam-se o ensaio “Instinto de Nacionalidade – Notícia de Literatura Brasileira”, publicado inicialmente em Nova York em 1972, e as edições dos romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876), Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Memorial de Aires (1908), e dos livros de contos Histórias da meia noite (1873), Papéis avulsos (1882), Várias histórias (1896), Páginas recolhidas (1899), Relíquias da casa velha (1906), entre outros.
Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.
Simplesmente o melhor escritor de toda a história brasileira.