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“On the road” pela França

Não é de hoje que a famosa viagem de Jack Kerouac pelos Estados Unidos inspira fãs e seguidores pelo mundo. O fotógrafo Arnaud Contreras (fã confesso dos beats) colocou uns livros na mochila (mais especificamente os livros de Kerouac), chamou o amigo Alain Dister (que faz as vezes de Neal Cassady, também é fotógrafo e carrega um exemplar de On the road na mochila) e colocou o pé na estrada numa viagem semelhante à que deu origem à bíblia dos beats. A diferença é que Contreras e seu fiel escudeiro viajaram pela França – e não pelos Estados Unidos, mas isso não fez com que a dupla perdesse o foco da viagem. Afinal, Jack Kerouac está presente em diversas ruas na França:

Os registros da viagem estão disponíveis no blog de Arnaud Contreras e fazem parte do documentário “Kerouac, l’obsession bretonne” realizado pelo fotógrafo e lançado no início deste ano.

Se você ainda não leu o clássico beat On the road, de Jack Kerouac, ainda é tempo! Além do livro em formato pocket, a L&PM publica também o manuscrito original.

O resgate de uma trip beat

Uma viagem lisérgica, libertária, lendária, hippie, beat… “Magic Trip” é isso. Na verdade, mais do que isso. O filme de Alex Gibney e Alison Ellwood é o resgate de uma viagem real, liderada por Ken Kensey, autor de “One Flew Over the Cuckoo’s Nest (Voando Sobre Um Ninho de Cucos)”. Em 1964, Kensey botou o pé na estrada, num ônibus embalado por LSD, e na companhia de “The Merry Band of Pranksters”, um grupo de renegados da contracultura que estava em busca da “verdade”. O grupo incluía Neal Cassady, o companheiro de Jack Kerouac em On the road. Cassady não apenas ajudou a pintar o ônibus psicodélico, como também dirigiu o veículo. Kesey e os Pranksters gravaram toda a viagem com uma câmera 16mm, pois pretendiam fazer um documentário. Mas o filme nunca foi terminado e as imagens ficaram praticamente perdidas. Até agora. Gibney e Ellwood tiveram acesso exclusivo a este material bruto através da família de Kesey. Eles trabalharam com a Fundação de Cinema e História da “UCLA Film Archives” para restaurar mais de 100 horas de filme e áudio e conseguiram moldar um documento de valor inestimável. O filme “Magic Trip“, que conta ainda com a participação de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, estreou no circuito underground americano em agosto deste ano. Vamos ficar torcendo pra que ele participe de algum festival de cinema alternativo por aqui também.

Clique sobre a imagem e assista ao trailer legendado pela L&PM WebTV:

As viagens de William Burroughs

William S. Burroughs foi mais longe do que os outros beats. Não que tenha feito mais sucesso, mas viveu mais do que  seus amigos Allen Ginsberg e Jack Kerouac. Morreu de ataque cardíaco em 2 de agosto de 1997 aos 83 anos. Um verdadeiro sobrevivente a oito décadas de vida junky. Se foi para o céu, ninguém sabe, já que além de um séquito de fãs e amigos famosos, seu currículo incluía relações com garotos menores de idade e o assassinato da esposa (que ele matou sem querer ao brincar de Guilherme Tell).

Dois anos após a controversa morte acidental da mulher, que aconteceu em 1951, Burroughs se lançou em uma viagem pelo Peru e Colômbia, em busca do yage, ou ayahuasca, uma droga usada pelos índios da nascente do rio Amazonas à qual se atribuem poderes sensoriais e anestésicos. Dessa aventura, nasceu Cartas do yage, que traz a correspondência trocada entre ele e Allen Ginsberg. A seguir, alguns trechos:

Querido Al:

De volta a Bogotá. Tenho um caixote de yage. Tomei-o e sei mais ou menos como é preparado. Outra coisa, talvez você veja minha foto no Exposure. Encontrei um repórter chegando quando estava saindo. Certamente veado, mas tão degustável quanto um cesto de roupa suja (…) Todas as noites vou a um bar, peço uma garrafa de Pepsi e derramo dentro um pouco de álcool do laboratório. (…) Fui roubado outra vez. Meus óculos e meu canivete. Perdendo todos os meus fodidos valores em serviço. Esta é uma nação de cleptomaníacos. Em toda minha experiência como homossexual, nunca tinha sido vítima de roubos tão idiotas de artigos sem uso possível para outra pessoa. Até agora, óculos e cheques de viagem. O problema é que compartilho com o falecido padre Flanagan, o da Cidade dos Meninos, da profunda convicção de que não existem garotos maus. Tenho que largar a droga. Minhas mãos tremem tanto que mal posso escrever. Preciso parar.

Amor,
Bill

William Burroughs adorava armas e gatos

De William Burroughs, além de Cartas do yage, a Coleção L&PM publica O gato por dentro.

Um tour Jack Kerouac pela Big Apple

Vai para Nova York? Que tal fazer um tour Jack Kerouac pela cidade? Sugerido pelo kerouacsnewyork.tripod.com, a lista inclui bares, restaurantes, parques e igrejas. O roteiro traz apenas locais que ainda existem e alguns deles estão aqui para que você possa colocar o pé na estrada e viajar pelo mundo de Kerouac. Mas sem esquecer de levar seus livros na bagagem, é claro.

White Horse Tavern –  567, Hudson St.
Kerouac morou em frente a esta taverna do século 19. A sala de madeira do bar ainda é a original e eles oferecem uma boa seleção de cervejas, incluindo Ale White Horse. Outros grandes escritores que costumavam frequentar o White Horse: Dylan Thomas, Norman Mailer e Hunter S. Thompson.

Saint Patrick´s Cathedral – 5th Ave. com 49th St.
Localizada em Midtown, a poucos passos do Rockefeller Center, esta bela catedral costumava receber a visita de Kerouac. Pegue a sua cópia de “Visões de Cody” e veja se você consegue encontrar o vitral citado por Jack no livro.

The former Hurley’s Saloon – 6th Ave. com 49th St.
Jack Kerouac costumava frequentar este lugar, principalmente nas noites de sexta-feira, algumas vezes para ver o jazzista Lee Konitz tocar. Só que agora, no lugar do bom e “Velho Saloon”, há um restaurante chique. Então resta fazer algumas fotos da fachada – que é igual a que Jack conheceu.

Manny´s Music Store – 156 W 48th St
Jack seguiu Lee Konitz até esta “loja de música dos hipsters e Symphony Sid”. Vale a visita para comprar uma palheta personalizada ou apenas para conhecer a parede de fotos autografadas.

Washington Square Park – no final da 5 ª Avenida
O parque onde Kerouac costumava ir é um dos principais marcos do Greenwich Village e um espaço famoso por sua tradição de inconformidade. Além da estátua de George Washington, ali também está uma escultura de Garibaldi.

Statue of Samuel Cox – 7th St. perto da esquina com a Avenue A
Em uma cidade repleta de monumentos, as pessoas facilmente passam despercebidas pela estátua de Samuel Cox, no East Village. No entanto, ela é notável para os fãs de Kerouac por causa da famosa fotografia que Allen Ginsberg fez de Jack onde ele aparece de boca aberta com esta estátua ao fundo.

Minetta Tavern – 113 MacDougal St.
Este velho restaurante italiano ainda continua funcionando. Certamente, a atmosfera não deve ser mais a mesma do tempo em que William Burroughs levava Kerouac e outros beat para jantares finos por lá.

Gas Light Cafe – 116 MacDougal St.
A Gas Light foi berço dos saraus poéticos do Village. Jack e todos os grandes leram seus textos por lá. Bob Dylan também tocou por lá no começo de sua carreira (e inclusive morou no andar de cima).

Para completar, ainda há o Café Reggio na MacDougal St., 121; o Kettle of Fish também na MacDougal, mas no número 114; a “Our Lady of Guadalupe”, uma das igrejas favoritas do escritor que fica na 229 W 14th St. e o Glen Patrick´s que era um pub frequentado por Kerouac quando ele morava em Richmond Hill.

O sonho de consumo do tradutor de “On the road”

Foi ao entrar na famosa e tradicional livraria londrina Foyles que Eduardo Bueno, o tradutor de On the road, viu seu lado consumista ser consumido pelo desejo. Lá estava uma linha inteira de acessórios para quem quer colocar o pé na estrada junto com Jack Kerouac: agenda, capa de passaporte, garrafa térmica, caderno, eco bag, chaveiro, identificador de bagagem e necessaire de On the road.

Kit completo da Penguin para quem quer colocar o pé na estrada.

Obviamente, Eduardo não se conteve e comprou cinco dos itens oferecidos:

Eduardo Bueno e seus objetos de desejo.

Os objetos são um oferecimento da editora Penguin e ocupam um canto inteiro da Foyles, livraria que tem tudo a ver com o livro de Kerouac, já que tem a maior sessão de livros e de literatura de viagem do Reino Unido. A Foyles ocupa cinco andares de um prédio de tijolos à vista na Charing Cross Road, rua que foi eternizada no filme Nunca te vi, sempre te amei (cujo título original é 84 Charing Cross Road).

Mas é bom dizer que a rua e a região inteira sofreram o impacto da chegada dos e-books e as pequenas livrarias estão todas fechando suas portas. Felizmente, a Foyles persiste e resiste no mesmo endereço desde 1903, no número 121 e, em 2010, foi eleita a melhor livraria da Inglaterra. (Paula Taitelbaum, direto da Charing Cross Road)

“On the road” no iPad

A editora Penguin Classics lançou neste fim de semana uma edição ampliada do clássico On the road, de Jack Kerouac, para iPad. Além do texto integral da obra (na versão original, em inglês), o aplicativo traz diversas notas históricas e biográficas, mapas interativos com três rotas possíveis para a road trip de Sal Paradise e Dean Moriarty, links externos com informações sobre os lugares por onde a história passa, além de fotos inéditas, gravações raras em áudio do próprio Kerouac lendo alguns trechos e documentos intactos até então.

Screenshots da versão ampliada de "On the Road"

Screenshots da versão ampliada de "On the Road", da Penguin Classics

E para reafirmar a gradiosidade deste clássico que nunca perde a majestade e nem espaço na lista de desejos dos amantes da literatura de todo o mundo, o aplicativo traz um slideshow com as capas de On the road em diversos países, da Argentina à China – juntando com as imagens deste post, dá pra ter uma visão bem completa do caráter universal da obra mais célebre da literatura beat. O aplicativo está à venda na App Store da Apple por US$ 12,99.

Mas se você ainda não leu On the road, sempre é tempo: a L&PM publica no Brasil a tradução de Eduardo Peninha Bueno em formato pocket.

O fim das máquinas de escrever

A notícia do fechamento da última fábrica de máquinas de escrever mecânicas do mundo causou certo pesar por aqui. Não por nostalgia, mas pela reverência que qualquer amante das letras tem pelas geringonças barulhentas que ajudaram nossos escritores a dar forma a algumas das maiores obras da literatura mundial.

“Desde que Mark Twain estreou como o primeiro escritor a batucar seus textos em quatro fileiras de teclas, a literatura adotou o invento como companheiro inseparável”, diz o texto da jornalista Dorrit Harazim para a revista Piauí deste mês. Desde então, vários outros autores foram flagrados “barulhando” textos geniais por aí:

Jack Kerouac

Millôr Fernandes

Uma sincera demonstração de afeto de Bukowski por sua máquina de escrever

John Fante

Hunter Thompson

Não só a literatura, mas também a música tem muito a agradecer às Olivettis, Remingtons, Hammonds, Olympias e Underwoods da vida…

Bob Dylan

As namoradas de Jack Kerouac

Aproveitando que o Dia dos Namorados está chegando, separamos aqui algumas namoradas de Jack Kerouac. Mulheres que o acolheram e o inspiraram a criar algumas de suas personagens.

bea_francoBea Franco – Foi a “Mexican Girl” de Jack Kerouac. A personagem Terry, de On the Road, foi inspirada nela. Os dois se conheceram no outono de 1947 na Califórnia e tiveram um affair. Mas o suficiente para ela ir parar no livro e apaixonar-se por Kerouac. Em uma das cartas que enviou a ele, diz que, se não fosse seu filho, “teria ido com ele mesmo que fosse de carona”. No filme On the Road, de Walter Salles, a Mexican Girl foi interpretada por Alice Braga.

Alene Lee – Afro-americana com ares de cantora de jazz, Alene fazia parte do círculo beat e foi namorada de Kerouac em 1953. Mardou Fox, personagem de Os Subterrâneos, na verdade é ela, assim como Leo Percepeid é o alterego de Kerouac. Outra personagem dele, Irene May, do Livro dos Sonhos, também teria sido inspirada em Alene. Essa ex-namorada de Jack preferiu ser discreta e não contou muito sobre a relação entre os dois.

 

Helen Weaver – Trabalhava em uma editora e conheceu Jack Kerouac em 1956, quando ele e Allen Ginsberg bateram na porta de sua casa. Apaixonou-se por Kerouac à primeira vista. Em 2009, publicou um livro contando suas memórias com Kerouac, que tem o título de “The Awakener (O despertador). “Eu soube que ia escrever este livro desde aquele dia, em novembro de 1956, quando ele entrou na minha sala, meu quarto, e minha vida” escreveu ela no prólogo.

Joyce Glassman (Joyce Johnson) – Começou a namorar Jack Kerouac quando tinha 21 anos e pouco antes do lançamento de On the road. Foi ela que acompanhou o escritor até a banca de jornal, na madrugada de 5 de setembro de 1957, para que comprassem a edição do New York Times e lessem a crítica do livro. Publicou, em 2000, Door Wide Open: A Beat Love Affair In Letters, 1957-1958, com as cartas trocadas entre ela e Kerouac ao longo de um ano.

E estas não foram as únicas mulheres na vida de Jack Kerouac. Edie Parker, a namorada que virou a primeira esposa (apesar de terem ficado casados por apenas dois meses), também escreveu um livro contando sua vida ao lado de Jack. Esperanza Villanueva o encantou e o inspirou a escrever Tristessa. Carolyn Cassady, esposa de Neal Cassady, foi sua amante. E Stella Sampas, uma namorada da adolescência, acabou se casando com ele nos anos 1960.

Múltiplos olhares sobre Allen Ginsberg

Pelo jeito, o Howl Festival 2011 realizado de 3 a 5 de junho em Nova York para comemorar o aniversário de Allen Ginsberg foi um sucesso! Basta dar uma olhada nas notícias e fotos da festa que circularam na internet desde o primeiro dia. Como de costume, o festival abriu com uma leitura em grupo de Howl (Uivo), o longo e célebre poema de Ginsberg que dá nome ao evento. Ainda na programação, vários shows de música, apresentações de dança, performances, poesia e até um carnaval infantil.

Ao longo do Tompkins Square Park, que fica no East Village, bairro em que Allen Ginsberg morou até o fim da vida, diversos artistas gráficos também prestaram sua homenagem ao poeta. Fazendo uma busca simples por “Howl Festival 2011” no Flickr, você encontra uma verdadeira cobertura fotográfica colaborativa do evento:

(passe o mouse sobre as fotos para ver os créditos ou clique para ir direto ao perfil do fotógrafo no Flickr)

howl festival 2011

Art Around the Park, Howl Festival 2011, East Village, New York City - 3

ginsburg, allen at Howl

P1050565

P1050556

P1050563

P1050551

Quer ver mais fotos? No Flickr há centenas delas! Clique aqui e sinta o clima do que foi o Howl Festival 2011.

Uma noite dedicada aos beats em Paris

A banda franco-americana Moriarty, inspirada no principal personagem do livro On the road, de Jack Kerouac, é uma das principais atrações da “soirée beatnik” no Centquatre, em Paris, neste sábado, 28 de maio. Performances, instalações e projeções de filmes sobre o universo beat completam a programação da festa que começa às 21h e vai até as 3h do dia seguinte. Uma verdadeira overdose de cultura beat!

Imagem de divulgação do "soirée beatnik" no Centquatre, em Paris

Mas se você não tem planos de ir a Paris neste fim de semana, aproveite o som da banda Moriarty no MySpace ou no clipe abaixo: