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A última testemunha da Geração Beat

Carolyn Cassady, como o próprio sobrenome indica, foi a segunda esposa do ícone beat que influenciou personagens importantes da obra de Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Pois no livro Off the road, Carolyn conta a sua versão da história. Nunca publicada no Brasil, a obra retrata um Neal Cassady trabalhador e comprometido com a família, bem diferente da conhecida figura que inspirou Jack Kerouac a criar o Dean Moriarty de On the road.

Só o que não muda são as famosas histórias sobre drogas e triângulos amorosos, que estão presentes também na versão de Carolyn. Além de LuAnne, a primeira esposa de quem ele nunca se separou completamente, Neal Cassady se envolveu também com Jack Kerouac e Allen Ginsberg.

Carolyn conviveu 20 anos com Neal Cassady e foi testemunha ocular da cultura beat, sendo hoje a última representante viva daquela geração. Mas ao mesmo tempo, ela faz questão de enterrar algumas passagens. Certa vez, quando estava grávida do primeiro filho, ela não recebeu bem a notícia de que Neal sairia em viagem com Kerouac e LuAnne, os três em clima de romance. “Foi muito traumático”, diz ela. “Eu não queria e não quero saber como eles se divertiam juntos. Eu ainda era tão convencional, e aquilo era uma deserção.” Neste vídeo, amigos de Neal contam como era o beatnik mais “agitado” da turma.

Até aí nenhuma surpresa, pois é este o Neal Cassady que conhecemos. O mais impressionante, no entanto, é que Carolyn sustenta a versão de que o “verdadeiro Neal” era um homem de família e trabalhador, que cuidou de três filhos e sempre tinha um emprego para sustentá-los. E mais: após a separação do casal, em 1963, Neal entrou num processo de auto-destruição, pelo qual Carolyn se sente culpada. “Na época, eu não compreendi que os dois pilares da sua vida eram o trabalho na estrada de ferro e a família. Quando ele percebeu que as coisas não eram mais assim, ele quis morrer”, diz.

Para conhecer melhor a vida e a obra de Neal Cassady, vale ler O primeiro terço, em que o beat mais genuíno de todos narra as desventuras de um garoto desamparado, criado entre vagabundos no árido Oeste americano, às voltas com reformatórios e pequenos furtos.

Jack Kerouac escreveu a Marlon Brando propondo que filmassem “On the road”

Na segunda-feira, 10 de janeiro, o site inglês Collectors Weekly, especializado em Memorabília, publicou um texto assinado por Helen Hall, onde ela conta que, em 2005, mudou-se para Nova York para chefiar o departamento de Memorabilia na Christie´s. Um de seus primeiros trabalhos foi ir até a casa de Marlon Brando, em Mulholland Drive, para selecionar objetos para um leilão. Depois de muitas descobertas, faltava apenas verificar o escritório de Brando. Quando Helen achava que não podia encontrar mais nada, puxou uma velha carta de dentro de uma gaveta, datilografada e assinada em tinta azul: “Jack Kerouac”. “Eu quase desmaiei, enquanto lia a carta” conta ela. “A carta terminou trazendo 33.600 dólares no leilão, mas a minha lembrança de encontrá-la naquele dia quente da Califórnia não tem preço.” Abaixo, você pode ver a carta original que foi leiloada em 2005 (clique nela para aumentar a imagem) e também ler uma tradução (sem compromisso) que fizemos dela. Após a notícia de que Walter Salles terminou sua versão de ON THE ROAD, é emocionante descobrir como o próprio Kerouac havia imaginado seu filme.

Querido Marlon,

eu estou rezando para que você compre ON THE ROAD e faça um filme dele. Não se preocupe com a estrutura, eu sei como condensar e rearranjar um pouco a trama para torná-la mais aceitável para o cinema: transformando todas as viagens em uma só, todas as viagens que no livro são muitas numa única jornada de ida e volta de Nova York para Denver, para Frisco, para o México, para Nova Orleans e de volta a Nova York. Eu já visualizei belas tomadas que poderiam ser feitas com uma câmera no banco da frente do carro, mostrando a estrada (de dia e de noite)… enquanto ela vai se desenrolando pelo para-brisa e Sal e Dean vão tagarelando. Eu quero que você interprete Dean (como você sabe). Eu quero que você faça o Dean porque ele não é um babaca da estrada, mas uma pessoa realmente inteligente (na verdade um jesuíta), um irlandês. Você será Dean e eu serei Sal (a Warner Bros. já mencionou que eu seria Sal) e eu vou lhe mostrar como Dean era na vida real, você não tem ideia de como ele era sem uma boa imitação. Na verdade, a gente poderia ir visitá-lo em Frisco ou poderia ir até L.A. Ele é uma espécie de gato frenético, mas atualmente foi domesticado pela sua última mulher e reza o Pai Nosso todas as noites para seus filhos… como você pode ler em BEAT GENERATION.

Tudo o que eu quero é garantir um futuro para mim e para minha mãe para o resto da vida. Eu realmente quero viajar pelo mundo, escrever sobre o Japão, Índia, França, etc… Eu quero ser livre para alimentar meus companheiros quando estiverem com fome e não ter mais que me preocupar com minha mãe.

Incidentalmente, meu próximo romance é OS SUBTERRÂNEOS que sairá em NY em março próximo e é sobre um caso de amor entre um cara branco e uma garota negra e é uma história muito hip. Alguns dos personagens você poderia ter conhecido no Village. E este livro também poderia virar uma peça (ou um filme), mais fácil do que ON THE ROAD.

O que eu queria fazer era escrever para o teatro e o cinema na América, e dar a essa obra um tom espontâneo e remover as pré-concepções das “situações” para que as pessoas se pareçam como na vida real. É assim que a atuação deve ser: sem um sentido em particular, nenhuma “intenção” em particular, somente como as pessoas são na vida real. Tudo o que eu escrevo, escrevo nesse espírito. E me imagino como um anjo voltando para a Terra. Eu sei que você aprova essa ideia, e incidentalmente o novo show de Frank Sinatra também tem essa base “espontânea” que eu acho que é o único jeito de lidar com o show business ou com a vida. Os filmes franceses dos anos 30 são muito superiores aos nossos porque os franceses realmente deixam seus atores e escritores atuarem sem concepções pré-concebidas com relação às inteligências e eles conversam entre suas almas e todo mundo se entende de imediato. Eu queria fazer grandes filmes franceses na América, finalmente, quando eu for rico… O teatro e o cinema americanos do momento são um dinossauro fora de moda que não se modificou para se adaptar ao melhor da literatura americana.

Se você realmente quer ir adiante com isso, faça arranjos para me ver em Nova York da próxima vez que vier à Flórida e eu estiver aqui, mas o que nós faríamos era conversar sobre isso porque eu acho que isso pode marcar o início de algo realmente grande. E ando entediado ultimamente e estou procurando algo para fazer no vazio, pois, de qualquer maneira – escrever novelas está ficando fácil demais, mesmo com as peças, eu escrevi a peça em 24 horas.

Vamos lá, Marlon, arregace as mangas e escreva!

Sinceramente, até mais tarde,

Jack

Chelsea is dead?!

“El olvido está lleno de memórias” escreveu o uruguaio Mario Benedetti em um de seus poemas. Pois é assim que ficará o local que, por anos, abrigou artistas, músicos, escritores, poetas e muitos casais apaixonados. O Chelsea Hotel, em Nova York, será vendido por falta de verbas. Se o brilho de seus hóspedes tivesse algum valor, o hotel certamente não fecharia suas portas. Na lista de hóspedes famosos estão Bob Dylan, que chegou a viver em várias suites durante os anos 60 – Jim Morrison, Patty Smith, Arthur Miller, Marilyn Monroe e até Mark Twain, que viveu num dos quartos de Chelsea durante anos. Também Sid Vicious, Robert Mapplethorpe e outros nomes ligados a Andy Warhol conheceram bem os seus corredores.

O Chelsea Hotel nasceu como a primeira cooperativa privada de apartamentos da cidade. Passou a funcionar como hotel em 1905. Foi por lá que alguns dos escritores publicados pela L&PM escreveram suas obras. Allen Ginsberg e Charles Bukowski vivenciaram estadias prolongadas pela “velha casa dos artistas”.

Abaixo a música feita por Leonard Cohen…Chelsea Hotel. Foi num dos quartos do Chelsea que Cohen viveu sua paixão com Janis Joplin.

A biblioteca virtual de Paul McCartney

Finalmente foram confirmados os shows de Paul McCartney no Brasil. Os fanáticos seguidores do ex-Beatle estão ansiosos pela chegada do grande dia.  Serão dois shows: dia 7 de novembro em Porto Alegre e no dia 21 em São Paulo.

Foi divulgando recentemente que a empresa HP, junto com a companhia do ex-Beatle Paul McCartney, vai digitalizar a biblioteca do músico. Coleção de imagens, ilustrações, pinturas, filmes e vídeos, assim como algumas das canções mais populares da história, vão estar disponíveis nesta biblioteca virtual.

Aproveitamos para compartilhar algumas fotos do músico em momentos de leitura. Tentamos encontrar o que ele está lendo agora. Não descobrimos, mas em uma entrevista ao site Clash Music Paul afirma ser “leitor de nivel A” .

Será que os meninos de Liverpoool devoravam livros?

The Beatles em momento de leitura/Flickr.com

Estreia amanhã, nos EUA, filme sobre o Uivo de Allen Ginsberg

Atenção  fãs de Allen Ginsberg, o tão esperado Howl (Uivo) está prestes a entrar em cartaz nas telas de cinema dos Estados Unidos. Para os que não leram nossos posts anteriores sobre o filme, ele gira em torno do profético Uivo, de Allen Ginsberg,  lançado em 1956 e que, sob a acusação de se tratar de uma obra obscena,   foi apreendido pela polícia de San Francisco. Depois de um tumultuado julgamento, o poema foi liberado pela Suprema Corte americana e vendeu milhões de exemplares. Dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, o filme conta esse trecho da vida de Ginsberg e mostra o surgimento da cultura beat. No elenco estão, entre outros,  James Franco (Homem Aranha e Milk) no papel do poeta, Jon Hamm,  Mary-Louise Parker e Jeff Daniels. Torcemos para que o filme venha “uivar” no Brasil. Veja aqui seu trailer oficial.

Na Coleção L&PM POCKET, o longo poema Uivo é acompanhado do também famoso e magistral “Kaddish” e de outros poemas. Na edição em formato convencional, há um ensaio do tradutor e poeta Claudio Willer sobre Uivo que é, sem dúvida, o melhor texto de iniciação ao célebre poema. Willer dissecou os versos com a ajuda do próprio  Allen Ginsberg com quem manteve intensa correspondência.

Kristen Stewart na pele de Marylou Moriarty

A Bella da Saga Crepúsculo de repente se transforma na beat Marylou de On the Road. Kristen Stewart está loira, com cabelos mais volumosos, fumando e quase sempre de óculos escuros anos 50. Sob o comando de Walter Salles, a atriz gravou cenas no Canadá e foi fotografada fumando e comendo banana no set de filmagem. Em uma entrevista recente, Kristen afirmou: “Eu interpreto Marylou e eu estou enlouquecendo graças a isso. Ninguém nunca tentou fazê-la (…). On the Road é meu livro favorito, um amigo me apresentou a ele quando eu tinha 14 anos e eu já li um monte de vezes.” Mesmo assim, os amantes do clássico beat de Jack Kerouac torceram o nariz para a atriz. Se ela foi (ou não) uma boa escolha para viver a insaciável mulher de Dean Moriarty só o filme poderá dizer. Façam suas apostas.

Para Jack Kerouac, não havia diferença entre Buda e Jesus.

Jack Kerouac nasceu católico apostólico romano. Mas ao descobrir o budismo no início dos anos 50, não apenas interessou-se pelo assunto como inspirou-se nele para escrever alguns de seus livros. Teve origem assim o “budismo beat”. Em Despertar: uma vida de Buda, escrito em 1955, dois anos antes do lançamento de On the Road, Kerouac refaz o caminho de Sidarta Gautama, de seu nascimento em um rico palácio à busca pela iluminação. Não é de se espantar, portanto, que as crenças de Kerouac fossem tema recorrente nas perguntas feitas por jornalistas. Foi assim, por exemplo, em uma entrevista conduzia por Ted Berrigan em 1967 e publicada no Brasil em 1989 pela Companhia das Letras no livro “Os escritores 2: as históricas entrevistas da Paris Review”. Leia o trecho inicial.

Apresentação:

       Jack Kerouac tem hoje 45 anos. Seu décimo terceiro livro, Vanity of Duluoz, foi publicado no início do ano (1967). Casado há um ano, mora com a esposa, Stella, e a mãe – inválida -, num bairro residencial de Lowell, Massachusetts, a cidade onde passou a infância. Os Kerouac não têm telefone. Havia entrado em contato com Kerouac há alguns meses, quando então o convencera a dar a entrevista. Quando senti que a hora do encontro tinha chegado, simplesmente apareci na casa de Kerouac. Dois poetas amigos me acompanharam, Aram Saroyan e Duncan McNaughton. Kerouac atendeu a porta. Apresentei-me e expliquei o motivo da visita. Kerouac cumprimentou os poetas, mas, antes que pudéssemos entrar, sua mulher, uma pessoa muito decidida, segurou-o por trás e disse ao grupo que fôssemos embora imediatamente. Jack e eu começamos a falar ao mesmo tempo, dizendo Paris Review! Entrevista! etc. Nisso, Duncan e Aram já estavam voltando para o carro. Tudo parecia perdido, mas continuei falando, num tom de voz que tentava ser o mais civilizado, razoável, calmo e cordial possível. A sra. Kerouac acabou deixando a gente entrar, por vinte minutos, com a condição de não beber nada.  Lá dentro, quando ficou claro que nosso propósito era sério, a sra. Kerouac tornou-se mais amistosa, e deu para começar a entrevista. Pelo jeito as pessoas ainda aparecem com freqüência na casa de Kerouac, à procura do autor de On the road, e ficam por vários dias, acabando com a bebida e distraindo Jack de suas atividades mais sérias. O clima mudou muito no decorrer da noite. Stella, a sra. Kerouac, revelou-se uma anfitriã agradável e charmosa. A coisa mais incrível em Jack Kerouac é a voz, mágica, que parece saída de seus livros, capaz das mudanças mais assombrosas e desconcertantes num piscar de olhos. Ela tem a capacidade de dominar tudo, a começar por esta entrevista (…).

PERGUNTA: De que maneira o zen influenciou seu trabalho?
KEROUAC: O que realmente influenciou meu trabalho foi o budismo maaiana, o budismo original de Gautama Sakyamuni, o próprio Buda, da lndia de velhas… O zen foi o que sobrou de seu budismo, ou Bodhi, quando passou para a China, e de lá para o Japão. A parte do zen que influenciou minha obra foi o zen presente nos haicais, como já falei, os poemas de três versos e dezessete sílabas escritos há séculos por gente como Bashô, Issa e Shiki, e mestres mais recentes. Uma frase curta e suave, com uma mudança brusca do pensamento, é uma forma de haicai, e há muito prazer e liberdade quando a gente é surpreendido por ela, deixando a mente pular, solta, do galho para o pássaro. No entanto, meu budismo sério, aquele da lndia antiga, influenciou a parte da minha obra que você pode chamar de religiosa, fervorosa ou piedosa, quase tanto quanto o catolicismo. O budismo original pregava a compaixão consciente, permanente, a fraternidade, a dana paramita, quer dizer, a perfeição da caridade, não fazer mal a uma mosca e tudo mais, humildade, mendicância, o rosto suave sofrido do Buda (que era de origem ariana, por falar nisso, de uma casta guerreira persa, e não oriental, como o pintam) …. No budismo original nenhum menino que chegasse a um mosteiro seria advertido que ali “enterram gente viva”. Apenas o encorajavam, com suavidade, a meditar e ser gentil. O zen começou, na verdade, quando Buda reuniu todos os monges para fazer um sermão e anunciar o primeiro patriarca do culto maaiana: em vez de falar, ele simplesmente mostrou uma flor. Todo mundo ficou surpreso, menos Kasyapa, que sorriu. Kasyapa foi escolhido para ser o primeiro patriarca. Esta idéia encantou os chineses, como no caso do sexto patriarca, Hui-Neng, que disse: “Desde o princípio nunca existiu nada”, e queria destruir os registros das palavras do Buda, conservadas nos sutras; os sutras eram “fiapos de sermões”. De certo modo, portanto, o zen é uma forma suave e simplória de heresia. Mesmo assim, deve haver alguns bons velhos monges de verdade, em algum lugar, mas nós só temos ouvido falar dos malucos. Nunca fui ao Japão. O Maha Roshi Yoshi não passa de um seguidor de tudo isso, e nunca o fundador de qualquer coisa nova, é claro. No programa de Johnny Carson ele nem citou o nome do Buda. Talvez o Buda dele seja Mia.
PERGUNTA: Por que você nunca escreveu sobre Jesus? Já escreveu sobre Buda, não? Jesus não foi um cara incrível, também?
KEROUAC: Como não escrevi nunca sobre Jesus? Quer dizer que você é um impostor maluco que veio na minha casa… e … eu só escrevo sobre Jesus. Sou Everhard Mercurian, general do exército jesuíta.
SAROYAN: Qual a diferença entre Jesus e Buda?
KEROUAC: Esta é uma boa pergunta. Não há diferença.

Desenho de Kerouac: “Face of the Buddha”, Pencil on paper, 1956 (?), NYPL, Berg Collection

A cabana de Jack Kerouac no Desolation Peak

“Hozomeen, Hozomeen, most beautiful mountain I ever seen.” Assim Jack Kerouac definiu o Desolation Peak, onde passou pouco mais de 60 dias como vigia de incêndios. Dessa experiência, nasceu Anjos da desolação, agora publicado pela L&PM. A cabana que Jack morou nesses dois meses ainda está lá, aberta aos visitantes.

Para ler um trecho de Anjos da desolação, clique aqui.

Adiós, Piva

Ivan Pinheiro Machado

Em 1984,o Eduardo Bueno, vulgo Peninha, veio trabalhar na L&PM. Naquela época, ele era mais ou menos o que é hoje, só que sem a fortuna que acumulou nestes últimos anos, graças ao seu talento e sua incrível capacidade de trabalho (não é ironia). Era o tradutor do On the road, de Jack Kerouac, e trouxe para a L&PM a cultura beat. Nós, na época, editávamos uma coleção anarquista e já publicávamos Bukowski. Foi atraído por este clima transgressor que Peninha foi parar lá na rua Nova York, 306, sede da L&PM. Fizemos coisas maravilhosas com pouquíssimo dinheiro e muitas ideias. No começo dos anos 80, conhecemos Claudio Willer (autor da antológica tradução de Uivo de Allen Ginsberg) que nos apresentou o poeta Roberto Piva, um estranho maluco genial, cultuado nas rodas radicais de São Paulo.  Nesta época mesmo, criamos uma coleção chamada “Olho da Rua”, com projeto gráfico do grande pintor Caulos. Publicamos Reinaldo de Moraes, Pepe Escobar, Jorge Mautner, Antonio Bivar, Sergio Faraco, os beats Gregory Corso, Allen Ginsberg, Neal Cassady, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti. Lançamos também no Brasil Sam Shepard, Isadora Duncan e o clássico Luna Caliente de Mempo Giardinelli. A coleção tinha grande prestígio nos meios alternativos e Roberto Piva submeteu, para nosso exame, a sua Antologia Poética que então saiu nesta coleção com capa desenhada por mim. Ele adorava a capa, porque era a representação de uma montanha de lixo com um latinha de Coca-Cola que – segundo ele – ordenava a desordem… Na verdade, encontramos poucas vezes Roberto Piva, pois ele era paulista e nossa sede era –  e é –  em Porto Alegre.

Pois o Piva morreu sábado, dia 3 de julho, aos 72 anos. Ele era a representação física dos seus poemas. Trepidante, delirante e brilhante. Encerro com um trecho da apresentação da nossa edição de 1985 de Antologia Poética escrita pelo Peninha: “A vida de Piva – poética, maldita, conturbada – fornece o material bruto que ele lapida e transpõe para seus poemas. (…) Ele é o mais indômito, o mais rebelde e um dos mais inspirados poetas brasileiros das últimas décadas”.

O roqueiro Tony Bellotto e o estradeiro Jack Kerouac

O eterno titã Tony Bellotto, roqueiro, escritor e marido de Malu Mader, também é fã dos escritos de Jack Kerouac. Em sua coluna de hoje no blog da Companhia das Letras, fala sobre Satori em Paris e On the road – o manuscrito original, ambos publicados pela L&PM. Em um texto que desliza como um conversível numa highway, Belotto chega ao final falando de seu novo livro, que sairá em outubro pela Companhia: “Conto tudo isso para tentar entender (e explicar) como nasceu meu novo livro, No buraco. A estrada que liga Foz do Iguaçu a Umuarama me fornece algumas pistas não pavimentadas. Eis o que se revelou no meu satori: No buraco, em inglês, é On the hole”. Além dos livros citados, a L&PM publica ainda outras obras de Kerouac, veja aqui.