Arthur Rimbaud viveu apenas 37 anos, mas foi o suficiente para influenciar uma turma enorme de artistas e intelectuais. A produção literária e musical do século 20 deve muito ao poeta francês: de Bob Dylan e Patti Smith (só para citar alguns) a T. S. Eliot, J. D. Salinger, Henry Miller, Anaïs Nin passando pelos poetas e escritores da geração beat, vários artistas “estamparam” a influência de Rimbaud em seus textos e letras de música.
Uma das homenagens mais escancaradas foi feita por Jack Kerouac com o poema “Rimbaud”, que faz parte da coletânia “Scattered Poems” e foi publicado pela L&PM no Brasil no livro Alma beat, de 1984. Clique sobre a imagem e leia o poema na íntegra:
“O encontro estava marcado para a hora do nascer da lua. Quando o cavalo deslizou pela ribanceira, derrubando moitas e arbustos retorcidos, os primeiros raios de um luar amarelado refletiam-se na correnteza serena do rio Pecos como os pedaços de um espelho partido. O homem que usava a estrela desmontou, caminhou pela areia branca da margem e olhou ao redor. Cactos lançavam uma estranha sombra ao solo. O vento cálido do verão soprava de montanhas distantes. O homem tinha as espáduas largas e vestia um traje negro. Era alto, quase 1,95m. Dois revólveres Colt 44 lhe pendiam da cintura. O rifle Winchester estava na bainha da sela. Seus olhos brilhavam insondáveis acima do bigode de “matador” (…)”
Assim começa a introdução de Eduardo Bueno para Billy the Kid, livro narrado por Pat Garrett. Pat, antigo companheiro de Billy, virou xerife e, com uma estrela no peito e dois revólveres em punho, caçou e duelou com o ex-amigo, considerado o “mais temido e sanguinário desperado do sudoeste dos Estados Unidos, cuja cabeça estava a prêmio há mais de dois anos”. O duelo mortal (e real) entre Pat Garret e Billy the Kid é, sem dúvida, a mais célebre história de um bandido do velho Oeste. Além de livro, Billy the Kid virou lenda, transformou-se em cult e foi filmado por grandes diretores. Em 1973, Sam Peckinpah dirigiu “Pat Garret & Billy the Kid” que tem trilha sonora e participação especial de Bob Dylan no elenco (veja aqui o trailer). Mas Bob Dylan não foi o único a se inspirar nesta incrível história. Antes e depois dele, outros músicos narraram Billy the Kid em suas canções. Separamos aqui algumas delas.
Woody Guthrie, cantor e compositor folk, é um dos ídolos de Bob Dylan. Nos anos 1940, Woody foi o primeiro a cantar Billy the Kid em uma guitarra onde estava escrita a frase “essa máquina mata fascistas”:
Em 2009, o rapper holandês Keizer fez a sua versão de Billy the Kid. Imagine se o pessoal do velho Oeste ouvisse isso:
Tom Petty (que já tocou com Bob Dylan) não resistiu à tentação e também escreveu e cantou o seu Billy the Kid que está no álbum Echo, de 1999:
Para terminar, aqui está a música tema que Bob Dylan compôs para o filme “Pat Garret & Billy the Kid”. Esta é faixa instrumental, mas a trilha do filme traz outras canções com letras que contam toda história da dupla, entre elas, as chamadas Billy 1, Billy 2, Billy 3 e Billy 4:
A notícia do fechamento da última fábrica de máquinas de escrever mecânicas do mundo causou certo pesar por aqui. Não por nostalgia, mas pela reverência que qualquer amante das letras tem pelas geringonças barulhentas que ajudaram nossos escritores a dar forma a algumas das maiores obras da literatura mundial.
“Desde que Mark Twain estreou como o primeiro escritor a batucar seus textos em quatro fileiras de teclas, a literatura adotou o invento como companheiro inseparável”, diz o texto da jornalista Dorrit Harazim para a revista Piauí deste mês. Desde então, vários outros autores foram flagrados “barulhando” textos geniais por aí:
Jack Kerouac
Millôr Fernandes
Uma sincera demonstração de afeto de Bukowski por sua máquina de escrever
John Fante
Hunter Thompson
Não só a literatura, mas também a música tem muito a agradecer às Olivettis, Remingtons, Hammonds, Olympias e Underwoods da vida…
Bob Dylan sete vezes dez. “Like a Rolling Stone Age”. Setenta anos na ativa. Altivo: Forever Young. Bob Dylan que nasceu Robert Allen Zimmerman em 24 de maio de 1941. Mas mudou. Inventou fases e faces. Fez, tez, não perdeu a vez. Bob Dylan nos anos setenta. Oitenta. Noventa. Cem. Sem máscaras, sem mordaças, sem…pre mordaz. Bob Dylan americanamente desamericano. Talvez insensato, mas jamais insano. Bob Dylan declaradamente leitor influenciado por Arthur Rimbaud, Thoreau, Baudelaire, Jack Kerouac. Amigo de Allen Ginsberg. E amante de Joseph Conrad, Franz Kafka, Mark Twain, John Steinbeck, Lawrence Ferlinghetti, William Shakespeare e até Sun Tzu. Bob Dylan que é L&PM: Lyric, Poet, Master. E que por isso, com certeza, aqui se sentiria em casa… E não apenas na casa dos setenta – esta na qual ele entra hoje como uma pedra que rola.
Bob Dylan e Allen Ginsberg junto ao túmulo de Jack Kerouac em 1976
* Paula Taitelbaum é escritora, coordenadora do Núcleo de Comunicação da L&PM e fã confessa de Bob Dylan.
William Bonney tinha apenas 21 anos quando ficou conhecido em todo o velho oeste dos Estados Unidos pelos crimes, assassinatos e fugas espetaculares que cometeu sob o codinome Billy the Kid. Sua fama se espalhou pelo mundo e sua história já serviu de inspiração para trabalhos de Bob Dylan, Jorge Luis Borges, Sam Peckimpah e Arthur Penn.
Se com tão pouca idade ele fez tanto mal, há de se admitir também algo de heróico em sua trajetória. Pois junto com a fama de matador, Billy the Kid carrega uma aura de Robin Hood americano, que usava armas de fogo no lugar de arco e flecha.
As personas de bandido e herói se revezam de acordo com a fonte da história. Billy é apontado como culpado por cerca de 20 mortes, mas estima-se que algumas delas tenham sido cometidas por homens de seu bando e atribuídas a ele por engano – ou por comodidade.
O perdão
Em 1879, o então governador do Novo México, Lew Wallace, teria prometido perdoar os crimes de Billy em troca de seu testemunho em outro caso. O bandido teria aceitado o acordo e cumprido sua parte, mas quem faltou com a palavra foi o governador. Billy teve que fugir e no ano seguinte foi capturado pelo xerife Pat Garrett, que o matou e contou sua história no livro The Authentic Life of Billy the Kid, imortalizando a saga de uma das maiores lendas do velho oeste.
Eis que em 2010, uma advogada que vive na região onde os crimes aconteceram resolveu resgatar a história e cobrar o perdão prometido à Billy the Kid, ainda que póstumo. As famílias de alguns dos mortos se envolveram no caso para tentar impedir. Na última semana, o então governador do Novo México, Bill Richardson, recusou o pedido da advogada alegando que não cabe a ele “reescrever este capítulo proeminente” da história de seu país.
Para conhecer a história do bandido mais célebre do velho oeste, contada pelo homem que o matou, vale ler Billy the Kid, publicado pela L&PM em 1986 e reeditado na Coleção L&PM Pocket.