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Pais da literatura

Nem todos foram como Machado de Assis que, sem filhos, “não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. Houve escritores que formaram grandes famílias, os que deixaram apenas um herdeiro e também alguns que nem tiveram muito contato com a prole – como Jack Kerouac, por exemplo, que nunca se relacionou com a filha Jan. 

E é pra mostrar diferentes tipos de pais “das palavras” que separamos aqui algumas fotos:

O pai de todos: Mark Twain teve quatro filhos, três meninas e um menino que morreu ainda bebê

O pai amoroso: Georges Simenon fazendo pose com os filhos Jean e Marie

O pai safado: Charles Bukowski teve uma única filha, Marina

O pai desenhista: Charles Schulz, criador de Peanuts, aqui com a filha Amy

O pai gonzo: Hunter S. Thompson mostra seu alvo para o filho Juan

O pai de criação: Robert Louis Stevenson adotou o enteado Lloyd Osbourne (em primeiro plano, abaixado) e para ele escreveu "A ilha do tesouro"

A omelete do Comissário Maigret

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM. A receita de hoje é especialíssima e vem de um livro que se encontra esgotado em nosso catálogo: À Mesa com Simenon e Maigret (Receitas de Madame Maigret). Lançado em 1999, ele traz, como o título sugere, receitas que são citadas nos livros de Georges Simenon por seu principal personagem, o Comissário Jules Maigret.  A receita escolhida, Omelete com ervas finas é citada em dois livros de Maigret: O mistério das jóias roubadas (“O que você vai comer? Uma omelete com ervas finas?”) e em O amigo de infância de Maigret (“Havia uma omelete com ervas finas, bem apetitosa, e Maigret não prestava mesmo atenção…)

OMELETE COM ERVAS FINAS

Ingredientes:

6 ovos, 50g de manteiga, 3 colheres de sopa cheias de ervas finas (salsa, cerefólio, estragão e cebolinha em partes iguais)

Modo de fazer:

Quebre os ovos separando as gemas das claras, em duas tigelas. Bata as gemas com um garfo juntando 10g de manteiga em pedaços bem pequenos, sal e pimenta. Bata as claras em neve ligeira. Misture o conteúdo das duas tigelas. Derreta 30g de manteiga em uma frigideira grossa. Quando começar a dourar, jogar, de uma só vez, no meio da figideira, os ovos batidos. Segurar o cabo da frigideira com uma mão e, com outra, ir mexendo os ovos com o garfo, soltando as beiradas. Logo que os ovos estiverem com a consistência de ovos mexidos, agitar levemente a frigideira para desgrudar o fundo. Deixar cozinhar por mais alguns segundos. Desmanchar as ervas e espalhar pela superfície da omelete. Com dois garfos, dobrar um terço da omelete sobre o centro e depois dobrar o outro lado por cima, como se dobra um guardanapo, em três partes sobrepostas. Levantar ligeiramente a omelete dobrada e deslizar por baixo um pouquinho de manteiga. Pegar com um garfo um outro pedaço de manteiga e passar por cima da omelete para que fique brilhante. Servir.

Com esta omelete francesa, Maigret bebe um vinho branco seco Vouvray.

10.000 mulheres na cama de Simenon

Quantas mulheres você conheceu biblicamente?
SIMENON – Falaram em dez mil.

E você, o que diz?
SIMENON – Talvez uma a mais, ou uma a menos.

Profissionais ou amadoras?
SIMENON – Muitas jovens atrizes e bailarinas.

As perguntas e respostas acima fazem parte de uma entrevista que o escritor Georges Simenon concedeu ao italiano Roberto Gervaso e que foi publicada na íntegra pela Revista Oitenta, editada pela L&PM em 1984. Anos antes, em uma outra conversa com o cineasta Frederico Fellini, Simenon já havia declarado publicamente que dormira com dez mil mulheres (Renato Gaúcho morreria de inveja!). Um comportamento que, cá entre nós, é inversamente proporcional ao de Maigret, o famoso personagem criado pelo escritor. Bem-comportado e fiel à sua esposa, o comissário Maigret  pulou a cerca apenas uma vez e só teria feito isso para conseguir uma informação importante de uma prostituta. Criador e criatura, portanto, não poderiam ser mais diferentes.

E não restam mesmo dúvidas de que Simenon era um conquistador (um garanhão?) e que amava o sexo oposto. Tanto que, no final da década de 40, viveu com três mulheres sob o mesmo teto: a oficial e mais duas amantes. Uma delas, Denise Ouimet, viria a ser sua segunda esposa. E foi Denise que, décadas mais tarde, ao se divorciar de Simenon, declararia que o ex-marido não era tudo isso: “Georges não dormiu com 10.000 mulheres, foram apenas 1.200” disse ela. Como um autor que escreveu centenas de livros conseguiu ter tempo para tantas aventuras é a pergunta que não quer calar.

Simenon e Denise que, após o divórcio, declararia: "Foram apenas 1.200 mulheres"

Um tour pela vida de Simenon

Nas primeira horas da sexta-feira dia 13 de fevereiro de 1903, nascia em Liège, na Bélgica, Georges Joseph Christian Simenon, filho do contador Desiré Simenon e Henriette. Quem visita Liège já tem passeio garantido: fazer um tour para conhecer um pouco da vida de Georges Simenon. O passeio começa na Place St. Lambert e segue por diversos pontos turísticos da cidade. “Deguste” um pouco deste tour nas fotos abaixo.

Simenon nasceu aqui, logo acima da palavra "Georges" na 24 rue Leopold

Simenon teve um caso escandaloso com a cantora de jazz afro-americana Josephine Baker. Comerciantes aproveitaram a biografia para juntar o casal no edificio...

A igreja de St. Pholien, frequentada por Simenon e em que aparece em algumas histórias de Maigret

Selos marcam os lugares do tour

Para fazer um tour pelos livros de Simenon, leia os livros da  Série Simenon, publicados pela L&PM.

Um corpo aos pedaços… mas sem cabeça. E o gênio de Simenon

Por Ivan Pinheiro Machado

Robert e seu irmão estavam intrigados. O motor fazia um barulho diferente e a barcaça curiosamente não saía do lugar. Parecia que a hélice girava no vazio. O diagnóstico era fácil: a embarcação levava um carregamento de pedras e, com o peso, o casco estava próximo ao lodo no fundo do canal. Naquele ponto, no Sena, as pessoas jogavam de tudo no rio e algo havia se enroscado na hélice. Desligaram o motor e cada um dos irmãos pegou um arpão. Depois de várias tentativas, um deles conseguiu firmar o objeto intruso e finalmente Robert o arrancou das engrenagens. Para espanto dos irmãos, na ponta do arpão havia um braço humano. Este é o mote. Mais um problema para o comissário Maigret. Ou melhor, dois problemas. Chamada a polícia, foram retirados do fundo do rio mais uma perna, um tronco, outro braço… e nada da cabeça. Portanto, era preciso descobrir, primeiro, quem viria a ser o morto e, depois, quem o matou.

Inédito no Brasil Maigret e o corpo sem cabeça é, entre todos o “Maigrets”, um dos mais verdadeiros e emblemáticos do célebre comissário.

O gênio de Georges Simenon resplandece nesta história que ultrapassa o gênero policial. É um livro tão profundo que pode até decepcionar os mais ortodoxos amantes do gênero. Pois ele se eleva a um patamar maior, que é a grande literatura e mergulha nas profundezas da condição humana. Desesperança, desamor, solidão, tristeza, fraquezas e incertezas são mazelas próprias do homem e que estão, frequentemente, na origem do mal e do crime.

Nesta história genial o leitor verá, até o ponto final na página 171, que foi guiado pela mão de um mestre que questiona, diverte e, sobretudo, emociona milhões de leitores em todo o mundo.