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Os gatos e a literatura

Quem tem gatos em casa já viveu esta cena: é só sentar no sofá e puxar um livro que eles chegam perto e se acomodam nos seus pés, no seu colo ou – por que não? – em cima do livro que você pretendia ler. E que atire a primeira enciclopédia quem nunca fraquejou e deixou o livro de lado para se entregar aos ron-rons do bichano! E a relação dos gatos com a literatura vai além da disputa da atenção do dono com os livros. Os felinos foram afetuosos companheiros de vários escritores:

Charles Bukowski

Jack Kerouac

 

Allen Ginsberg

Hunter Thompson

Truman Capote

Patricia Highsmith

Patricia Highsmith

William Burroughs

 

O que eles pensam antes de sair pra balada?

Só uma inquietação profunda e existencial como esta para inspirar a criação de um site colaborativo dedicado a reunir fotos de grandes escritores com cara de “Tô gato?“, simulando aquele momento derradeiro de cumplicidade com o espelho antes de sair de casa para arrasar numa balada.

A legenda das fotos é inspirada nas orelhas dos livros dos próprios escritores, entre eles H. G. Wells, Franz Kafka, Mark Twain, Julio Verne, Charles Dickens, Jack Kerouac, Hunter Thompson, Charles Bukowski, Jane Austen e Virginia Woolf.

H.G. Wells: "E eu, tô gato? Tô mostrando a verdade através do fantástico, fazendo uma reflexão sobre os valores de nossa sociedade e sobre o mundo que construímos hoje?"

Mark Twain: "Tô gato? Haha… Tô sendo o maior humorista da literatura americana, satirizando acidentalmente a sociedade do meu país, pondo a nu as hipocrisias e a retórica oficial?"

William S. Burroughs: "Tô gato? Tô mesclando o realismo exasperado a experiências estilísticas, apresentando imagens e situações a princípio enigmáticas, mas que aos poucos se tornam familiares?"

Jack Kerouac

Jack Kerouac: "Fala sério: tô gato? Tô fundindo ação, emoção, sonho, reflexão e ambiente numa nova literatura que procura captar a sonoridade das ruas, das planícies e das estradas americanas?"

Virgina Woolf: "Tô gata? Tô sendo uma escritora modernista por excelência, reinventando a narrativa de forma a quase sempre fugir da descrição de uma ação linear?"

Se quiser descobrir o que pensam vários outros autores antes de sair para a balada, dê uma olhada no site “Tô gato?”. Divirta-se!

Hunter Thompson com o diabo no corpo

Depois de publicar Medo e delírio em Las Vegas, a L&PM lança Hell´s Angels, a mais famosa obra de Hunter Thompson. Da proximidade do jornalista doidão com a trupe de motoqueiros da pesada, surgiu um retrato  sociológico, antropológico, psicológico e político dessa gangue, os Hell´s Angels. Mas enquanto o livro não chega por aqui, dividimos com você essa “pérola”: durante uma entrevista para um programa da TV americana , Hunter Thompson é surpreendido pela chegada de um dos motoqueiros no estúdio que, raivoso, diz “65% deste livro é lixo!”

De Hunter Thompson para Johnny Depp

O Ricardo Lombardi encontrou três vídeos em que o astro Johnny Depp lê algumas cartas que recebeu de Hunter Thompson. A adaptação para o cinema de Medo e delírio em Las Vegas, uma das obras mais conhecidas do polêmico escritor norte-americano, foi protagonizada por Depp, que agora já trabalha também na adaptação de Rum: diário de um jornalista bêbado. Tanto o lançamento do longa quanto o lançamento do livro pela Coleção L&PM Pocket estão previstos ainda para 2010.

Mais Hunter Thompson na coleção de bolso e no cinema

A L&PM acaba de lançar Medo e delírio em Las Vegas, e, ainda para esse ano, estão previstos mais dois títulos do gonzo jornalista Hunter Thompson. Primeiro, Hell’s Angels, que deve chegar à Coleção POCKET em setembro, e Rum: diário de um jornalista bêbado, em dezembro.
Rum… irá também ao cinema. O lançamento está previsto ainda para 2010, nos Estados Unidos. No elenco está Johnny Depp, que volta às telas em mais uma adaptação de Thompson (ele foi o protagonista da versão cinematográfica de Medo e delírio) .
Os trailers ainda não estão disponíveis, mas já algumas fotos já estão por aí, como essa aí embaixo:


Via Trabalho Sujo

As influências para os pequenos

Sexo e drogas não são preocupações da Turma do Charlie Brown. Mas não é que alguém colocou o Linus citando Hunter Thompson?

Em uma tradução livre “Eu não recomendo sexo, drogas e loucura para todo mundo, mas sempre funcionou para mim”.

Via Trabalho Sujo.

O que há em Hunter Thompson?

A L&PM acaba de lançar na coleção de bolso Medo e delírio em Las Vegas,  marco do gonzo jornalismo. Para falar sobre o autor do livro, Hunter Thompson, convidamos o jornalista André Czarnobai, o Cardoso*.

“Na semana que seguiu o domingo trágico em que o escritor norte-americano Hunter Thompson encerrou sua trajetória alucinada enfiando uma bala na cabeça aos 67 anos de idade, o que mais
surpreendeu foi o destaque que a notícia recebeu na imprensa brasileira. É, para dizer o mínimo, curioso, que um autor estrangeiro que foi praticamente ignorado pelas editoras durante tantos anos tenha arrebanhado um número tão expressivo de fãs e merecido tamanha comoção, especialmente quando o próprio mercado faz estimativas nada animadoras do número potencial de leitores existentes no país. O fenômeno reforça a pergunta levantada na época pelo jornalista Pedro Doria, em artigo publicado no site No Mínimo. Afinal de contas, o que há em Hunter Thompson?

Nascido durante a depressão norte-americana no estado sulista do Kentucky, Hunter Stockton Thompson desenvolveu sua obra em torno de algumas das obsessões mais familiares ao yankee médio. Bebedor inveterado e usuário das mais variadas substâncias ilícitas, Thompson tinha fortes convicções políticas e era um aficionado por armas e esportes. Crítico contumaz dos maus costumes e vícios de sua própria sociedade, ele era acima de tudo um reprodutor eficiente dos mesmos defeitos que apontava, misturando de forma quase indissociável o crítico e o objeto da crítica, o que lhe garantiu uma espécie de imunidade soberana na terra do Tio Sam.

Se fosse apenas isso, certamente Thompson não encontraria admiradores além dos limites dos 50 estados da grande nação do norte, mas, a seu favor, ele ainda possuía um grande trunfo, comum a todo grande artista da palavra: Thompson tinha estilo. Tão peculiar que foi o principal (senão único) responsável pelo surgimento do seu culto, dentro e fora dos Estados Unidos.

Como muitos escritores de sua geração, Thompson iniciou a carreira escrevendo para jornais e revistas na década de 60. Enquanto Wolfe e Talese deliciavam-se com as liberdades ilusórias propostas pelo Novo Jornalismo e Burroughs e Kerouac estreitavam os limites entre a poesia e a prosa em suas pessoalíssimas narrativas beatniks, Thompson surgiu como o elo entre os dois mundos, criando, quase por acidente, o que se convencionou chamar de gonzo jornalismo. O termo designa um estilo de grande reportagem cuja captação de informações é feita de forma participativa, e cuja redação é apresentada em primeira pessoa, com largo uso de digressões e sarcasmo, e na qual é muito difícil discernir a ficção da realidade.

Se os praticantes do Novo Jornalismo seguiam uma série de regras e se mantinham fiéis ao mais elementar dos paradigmas jornalísticos (a distância entre o observador e o que é observado), Thompson queria transpor a barreira essencial que o separava da ficção: o compromisso com a verdade. Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero inventado por Thompson tinha sua força baseada na desobediência de padrões e no desrespeito das normas estabelecidas, o que contribuiu para que o seu criador logo se tornasse um dos principais ícones da contracultura. Enquanto Truman Capote esmiuçava os mais secretos pormenores de um assassinato com pretensa neutralidade, Thompson foi morar durante dezoito meses com os Hell’s Angels para fazer de sua própria experiência um raio-x preciso de uma das mais perigosas gangues de motoqueiros dos Estados Unidos.

Foi o jornalista Bill Cardoso quem cunhou o termo gonzo em uma carta que escreveu ao amigo: “Eu não sei que porra você está fazendo, mas você mudou tudo. É totalmente gonzo”. Segundo Cardoso, a palavra originou-se da gíria franco-canadense gonzeaux, que significaria algo como “caminho iluminado”. Thompson adota o termo pouco antes de aceitar o convite de cobrir a Mint 400, uma corrida de motos no deserto de Nevada, para a Sports Illustrated. Na companhia de um amigo advogado, ele parte em direção a Las Vegas, mas logo deixa de lado a corrida para concentrar-se em uma profunda análise sociológica dos viciados em jogo e drogas e todo o tipo de degenerado que se reúne em volta dos cassinos. O artigo é recusado pela Sports Illustrated, mas ganha destaque em duas edições da Rolling Stone, em novembro de 1971. Logo, é editado como livro e transforma-se em sua principal obra, sob o título de Fear and Loathing in Las Vegas: A Savage Journey to the Heart of the American Dream. Sua popularidade é tamanha que, em 1998, a história ganha as telas de cinema com Johnny Depp no papel principal.

Traduzido para o português pela Brasiliense em meados dos anos 80 sob o título Las Vegas na Cabeça, o livro não atrai muitas atenções e logo acaba saindo de catálogo. Sua obra amargaria cerca de vinte anos de ostracismo para, somente em 2004, voltar ao mercado brasileiro através da Conrad, atendendo uma demanda crescente de leitores, em sua grande maioria muito jovens, nas faixas inferiores aos 30 anos. Mas como esse público foi formado? O que explica esse fascínio pela obra de Thompson entre os leitores brasileiros?

Em primeiro lugar, não é toda a sua obra que convence os leitores tupiniquins. Na verdade, apenas seus primeiros livros, escritos há mais de 30 anos, em pleno auge da contracultura, cativam as atenções abaixo do Equador. Por estar tão associado ao nome do autor, gonzo jornalismo virou sinônimo de relatos inconseqüentes de grandes excessos – comportamento errático, desobediência, descrição extrema dos efeitos dos mais variados tipos de entorpecentes. É uma literatura confessional e sem censura, que fala a um público mais jovem, ainda respirando os nervosismos e os brios adolescentes – e que combina perfeitamente com as linguagens praticadas atualmente na Internet, onde o gonzo encontra maior respaldo. Outra possível explicação para a popularidade tardia do autor está diretamente ligada ao momento cultural que vive não só o Brasil como o mundo, e que podemos definir como a voyeurização da realidade. Numa sociedade em que os paparazzi, reality shows e weblogs são vistos como ícones representativos, não é de se estranhar que um estilo narrativo que ponha em primeiro lugar a experiência pessoal do seu autor seja sucesso. Mas, sobretudo, Thompson era, como dizia George Plimpton, uma “persona literária”, alguém dotado de um inegável carisma, e com uma grande capacidade de seduzir seus leitores.

O que há, portanto, em Hunter Thompson? Para o público brasileiro, não muito além da figura que representa a  quintessência do gonzo, esta forma malcriada de falar sobre tudo, direto de nossos umbigos, sem precisar se preocupar em levar nada muito a sério – e olha que isso não é assim tão pouca coisa.”

* Se você ainda quer saber mais sobre o Cardoso, clique aqui para ver a página pessoal dele e aqui para asssitir uma entrevista ao programa Lado C na L&PM WebTV.