João Goulart morreu em 1976 no exílio, sonhando em voltar para o Brasil. Anos depois, dois uruguaios, Foch Diaz e Ronald Mario Neira Barreto, surgiram do nada para levantar suspeitas sobre as condições da morte do ex-presidente. E enquanto Foch foi o primeiro a sustentar a hipótese de “morte duvidosa”, Neira apresentou-se como “réu confesso”, afirmando ter sido agente secreto no Uruguai e participado da Operação Escorpião para eliminar Jango por meio de uma ardilosa troca de medicamentos. O detalhe de como surgiu esta tese de assassinato e de como ela despertou o pedido de exumação do corpo de Jango está contada em detalhes no recém lançado Jango – A vida e a morte no exílio, o mais recente livro de Juremir Machado da Silva.
Esta semana, ao mesmo tempo em que o livro chegava às livrarias, novidades sobre o caso foram divulgadas. Leia o texto abaixo, publicado no site G1:
Família e governo definem etapas que antecederão exumação de Jango
A família de João Goulart (1919-1976) e o governo federal definiram nesta terça-feira (9), em Brasília, as etapas que antecederão a exumação do corpo do ex-presidente, sepultado em São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. O reconhecimento do cemitério foi marcado para o dia 8 de agosto, quando serão tomadas as providências necessárias para desenterrar o caixão. Uma nova reunião será realizada em 3 de setembro, dia em que será selada a data oficial da exumação, prevista para ocorrer até o fim do ano.
Em contato com o G1, o neto de Jango e advogado da família, Christopher Goulart, adiantou os próximos passos do processo e revelou que todos os peritos estrangeiros já foram selecionados. “Ficou acertado que a Polícia Federal vai participar de todo procedimento e que a coordenação geral será realizada pela Comissão da Verdade, com o apoio do governo federal. Designamos técnicos da Polícia Federal para a exumação, além dos peritos internacionais. Serão dois argentinos, dois uruguaios, dois cubanos, além de toda estrutura da Cruz Vermelha”, detalhou Christopher. “Também teremos um outro perito que a família vai indicar para acompanhar de perto os trabalhos”, acrescentou.
Participaram da reunião a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, a presidente da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, técnicos da Policia Federal e os peritos estrangeiros selecionados, além de representantes do Ministério Público Federal (MPF). “Frisamos que todas as provas documentais já estão reunidas para o início das atividades. Foi muito bom, muito produtivo. A sensação é de que mais um passo foi dado desde 2007. Não diz respeito somente à família, mas a todo país, que precisa conhecer a verdade.”
Após a exumação, os restos mortais de Jango serão levados a Brasília para serem periciados no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal.
O corpo do ex-presidente João Goulart será exumado devido à suspeita de que ele foi assassinado, possivelmente em uma ação da Operação Condor (uma aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes). Segundo Christopher, a investigação apontou a possibilidade de que o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão do governo militar, tenha enviado um homem ao Uruguai para matar o político.
“Uma testemunha que era agente a serviço da repressão do Uruguai traz uma história de fundamental importância como linha investigativa, e trazendo fatos novos é obrigação da família pedir a investigação. Mas essa questão transcende o interesse da família. É interesse do Brasil saber como um presidente faleceu, até porque estamos nos aproximando do cinquentenário do golpe militar”, diz o advogado.
Juremir Machado da Silva autografa Jango – A vida e a morte no exílio no dia 17 de julho, às 19h, na Saraiva do Moinhos Shopping em Porto Alegre.