Jornal Zero Hora – 17/10/2013 – Por Guilherme Mazui
O corpo de João Goulart tem data para deixar o cemitério Jardim da Paz, em São Borja, onde repousa desde dezembro de 1976. No dia 13 de novembro, peritos exumam o ex-presidente, a primeira etapa de uma operação que tentará esclarecer se Jango foi vítima de problemas cardíacos ou se foi envenenado durante o exílio.
Ainda não há previsão para a divulgação dos resultados dos exames toxicológicos, que serão realizados no Exterior e que, diante dos quase 37 anos da morte, podem ser inconclusivos.
A data da exumação foi anunciada na quarta-feira, 16 de outubro, em Brasília, pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Maria do Rosário. A definição saiu após quatro horas de reunião entre peritos da Polícia Federal, Argentina, Uruguai, Cuba e Comitê Internacional da Cruz Vermelha, além da família Goulart e representantes da própria SDH e da Comissão Nacional da Verdade. O grupo debateu a logística, laboratórios para as análises e a lista de substâncias que serão procuradas nos testes – a PF mapeou venenos usados pelas ditaduras do Cone Sul na década de 1970.
– Estamos em plenas condições de realizar o procedimento. João Goulart foi perseguido pela ditadura todos os dias do exílio. Mesmo que os testes não sejam conclusivos, a ditadura brasileira é responsável pelo sofrimento e morte de Jango – disse Rosário.
A exumação é o início da operação, discutida nos últimos meses. De São Borja, o corpo seguirá para os laboratórios da PF em Brasília, onde passará por exames antropológicos e de DNA, a fim de confirmar que a ossada é de Jango. Também serão colhidas as amostras para os testes toxicológicos. A decisão de realizar as análises no Exterior foi tomada pelos peritos para manter a imparcialidade da investigação. Os laboratórios e países não devem ser divulgados.
– O mais comum é que não sejam divulgados, para garantir que as informações não transitem, até para termos uma isenção e uma objetividade maior – justificou o perito Amaury de Souza Jr., coordenador da equipe da PF responsável pela exumação.
Realizadas as coletas, o corpo voltará para São Borja com honras de chefe de Estado. A data prevista é 6 de dezembro, quando a morte completará 37 anos. Neto de Jango e advogado do instituto que leva o nome do ex-presidente, Christopher Goulart ficou satisfeito com o desfecho da reunião:
– Meu avô foi perseguido e caluniado durante décadas. É importante reparar a sua imagem para as novas gerações de brasileiros.
No livro Jango – a vida e a morte no exílio, de Juremir Machado da Silva, o autor explica quando e como nasceu a hipóteses de que Jango foi assassinado.