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O “Dia do Gaúcho” sem fanatismo

Hoje é o “Dia do Gaúcho” ou, para aqueles que vivem mais acima do mapa do Brasil, a data que marca a Revolução Farroupilha, conflito que durou dez anos e que começou em 20 de setembro de 1835 numa oposição ao império de Dom Pedro II.

Neste dia, no Rio Grande do Sul, feriado regional, alguns vestem a bombacha, o lenço vermelho e empunham seu chimarrão pelas ruas. Outros, ao contrário, não são tão fanáticos assim. Como Mario Quintana. Veja a história contada no livro Ora Bolas – O humor de Mario Quintana:

SEM FANATISMO

Os TRADICIONALISTAS, essa turma que acha que inventou o cavalo e o campo, nunca conseguiram cooptar Mario Quintana. Temendo suas tiradas mortais, sempre se mantiveram a uma distância respeitosa. Mas ele não tinha por que pagar imposto ao altar da tradição e escrevia coisas do tipo: “Lembro que certa vez me encontrei com seu Zé na rua. Como bons gaúchos, paramos, relichamo-nos, abraçamo-nos…”

Mesmo assim, não faltavam incautos que vinham cobrar posições. Em um dia de boa paciência, Mario deu a um deles uma explicação sociológica:

– Eu não sou gaúcho fanático. Não sou porque meu pai nasceu no Mato Grosso, estudou no Rio de Janeiro, era farmacêutico e, para ele, o mate de boca em boca era uma coisa anti-higiênica.

Mario Quintana, o poeta das coisas simples

Em 5 de maio de 1994, há exatos 17 anos, morria Mario Quintana, o poeta das coisas simples. Doce e irônico, sua marca foi a irreverência até nos temas mais tristes como a morte ou a própria tristeza. O poema a seguir faz parte do livro Quintana de Bolso:

Eu escrevi um poema triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

No livro Ora bolas – O humor de Mario Quintana, o jornalista Juarez Fonseca resgata histórias engraçadas contadas por amigos, familiares e conhecidos. Mais do que o humor e a irreverência de Quintana, as breves anedotas revelam uma personalidade rica, forte e marcante:

Dor de dente

Três dias antes de morrer, no Hospital Moinhos de Vento [em Porto Alegre], ele achou inspiração para escrever uma frase e dá-la de presente às enfermeiras. Ao contrário da letra grande e quase ilegível dos últimos meses, mesmo tremida desta vez ela está miúda e nítida: “A maior dor do mundo é pente com dor de dente”.

Mario Quintana trabalhou como jornalista por quase toda a vida. No jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, onde manteve uma coluna de cultura, de 1953 a 1977, ele conheceu a pequena Maria Claudia, para quem escreveu uns versinhos. Maria Claudia cresceu, virou escritora e passou a assinar Claudia Tajes. Ela conta esta história e recita de cor os tais versinhos no vídeo abaixo:

Nossa estante de poesia

O dia do aniversário de Castro Alves, 14 de março, é também o Dia Nacional da Poesia no Brasil. O autor de Espumas flutuantes e Os escravos divide não só o aniversário, mas também a nossa estante de poesia com diversos outros autores do gênero como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Olavo Bilac, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Martha MedeirosPaula Taitelbaum e Affonso Romano de Sant’Anna.

Junto com os brasileiros, os portugueses Fernando Pessoa e Florbela Espanca e o chileno Pablo Neruda também marcam presença. Mas estes a gente deixa pra homenagear na próxima segunda, 21 de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Poesia.

O poema roubado

No dia em que se completam 16 anos da morte de Mario Quintana, resolvemos fazer uma homenagem bem descontraída  em nosso blog. Para isso, separamos um trecho do programa Palavra de escritor, com Claudia Tajes. A autora de Dez quase amoresSó as mulheres e as baratas sobreviverão,  entre outros, conta, de um jeito super divertido, que quando era criança, Mario escreveu um poema só para ela. Claudia recita os versos exclusivos e fala que, ao levar o presente do poeta para a escola, a professora o pegou e nunca mais devolveu. “Dona Didia, se vocês estiver  ouvindo, devolva o meu poema” diz a escritora.