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Pablo Neruda e o mar

Pablo Neruda amava o mar. Tanto que, em seus últimos poemas, é com o mar que Neruda conversa. São versos cheios de melancolia e nostalgia que nos fazem viajar nas ondas da emoção.

INICIAL

O dia não é hora por hora,
é dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.
E só
seu sino
está ali entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá
quando levante sua língua de metal
onda após onda.

De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia
do mar, e um sino.

Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.

Isto acontece para todo o mundo,
continua o espaço.

E vive o mar.

Existem os sinos.

(De Últimos poemas, de Pablo Neruda, publicado em edição bilíngue na Coleção L&PM Pocket)

Pablo Neruda e sua mulher Matilde e o mar do Chile

Pablo Neruda e sua mulher Matilde contemplam o mar no Chile

Os escritores e seus amores

Neste Dia dos Namorados, compartilhamos algumas fotos de escritores e seus amores. E que elas inspirem todos os apaixonados. Hoje e sempre.

Bukowski e Linda

Bukowski e Linda

Peter Orlowski e Allen Ginsberg

Peter Orlowski e Allen Ginsberg

Neal Cassady e Carolyn

Neal Cassady e Carolyn

Gertrude Stein e Alice Toklas

Gertrude Stein e Alice Toklas

Pablo Neruda e Matilde

Pablo Neruda e Matilde

Oscar Wilde e Lorde Alfred Douglas

Oscar Wilde e Lorde Alfred Douglas

Sartre e Simone

Sartre e Simone

Virginia Woolf e Vita

Virginia Woolf e Vita

Divulgadas as primeiras conclusões sobre a exumação de Pablo Neruda

neruda_foto

Nesta quinta-feira, 2 de maio, foram divulgados as primeiras conclusões a respeito dos exames que estãos sendo feitos nos restos mortais do poeta Pablo Neruda, que morreu em 11 de setembro de 1973.

A decisão de exumar Neruda foi tomada desde que um assessor do poeta passou a defender que ele recebeu uma injeção letal por ordem do ditador – e presidente do Chile na época – Augusto Pinochet.

Mas conforme fontes ligadas ao processo, os primeiros exames concluíram que o escritor sofria mesmo de um câncer de próstata avançado e metastático que, na época, foi divulgado como a causa do falecimento de Neruda.

A Coleção L&PM Pocket tem uma série inteira dedicada a Pablo Neruda.

Exumação de restos mortais de Neruda deverá acontecer em abril

neruda_perfilHá quem desconfie que o grande poeta chileno Pablo Neruda não morreu em decorrência de um câncer de próstata como conta a história oficial. Prêmio Nobel de Literatura em 1971, Neruda era filiado ao Partido Comunista Chileno e morreu 12 dias após o golpe militar que colocou o general Augusto Pinochet no poder. Em 2011, o partido do poeta, decidiu investigar a possibilidade de assassinato, depois que o ex-motorista de Neruda anunciou que o poeta havia morrido com uma injeção letal por ordem dos militares. O juiz Mario Carroza, que é responsável pelo caso, deve anunciar a data da exumação no dia 8 de março. Ela provavelmente vai acontecer em abril.

A Fundação Pablo Neruda se colocou à disposição para colaborar com a pesquisa de Carroza e informou confiar que a perícia será conduzida com o maior respeito e cuidado possível.

O corpo de Neruda está enterrado ao lado de sua terceira mulher, Matilde Urrutia, no pátio de sua casa em Isla Negra, no litoral do Chile, a 129 quilômetros de Santiago, onde hoje é o Museu Neruda.

Escritores que assinam embaixo

Quem não sonha em ter uma primeira edição assinada de próprio punho por um escritor famoso? Mesmo que algumas dessas assinaturas sejam praticamente ilegíveis, elas são pra lá de especiais, você não concorda? Veja aqui algumas delas e tente reconhecer os nomes (todos eles publicados pela L&PM). Caso tenha alguma dúvida, a resposta está no final do post.

Na ordem: James Joyce, Charles Bukowski, Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, Francis Scott Fitzgerald, J. D. Salinger, Jorge Luis Borges, Leon Tolstói, Mark Twain, Oscar Wilde, Pablo Neruda, Rainer Maria Rilke.

O dia que Galeano visitou Neruda

Fui a Isla Negra, à casa que foi, que é, de Pablo Neruda.

Era proibido entrar. Uma cerca de madeira rodeava a casa. Lá as pessoas tinham gravado seus recados para o poeta. Não tinham deixado nenhum pedacinho de madeira descoberta. Todos falavam com ele como se  estivesse vivo. Com lápis ou pontas de pregos, cada um tinha encontrado sua maneira de dizer-lhe: obrigado.

Eu também encontrei, sem palavras, a minha maneira. E entrei sem entrar. E em silêncio ficamos conversando vinhos, o poeta e eu, caladamente falando de mares e amares e de alguma poção infalível contra a calvície. Compartilhamos camarões ao pil-pil e uma prodigiosa torta de jaibas e outras dessas maravilhas que alegram a alma e a pança, que são, como ele sabe muito bem, dois nomes para a mesma coisa.

Várias vezes erguemos taças de bom vinho, e um vento salgado golpeava nossas caras, e tudo foi uma cerimônia de maldição da ditadura, aquela lança negra cravada em seu torço, aquela puta dor enorme, e foi também uma cerimônia de celebração da vida, bela e efêmera como os altares de flores e os amores passageiros.

(Trecho de O livro dos abraços, de Eduardo Galeano, que escolhemos para homenagear Pablo Neruda no dia de seu aniversário. O poeta nasceu em 12 de julho de 1904)

O “vinho” antes do vinho

No princípio era o verbo. E o nome do vinho precedeu a cultura da vinha. A pré-história do vinho remonta a vários milênios antes do início da era cristã, com o Soma, bebida sacrificial fermentada da Índia védica, que além de uma mistura mágica era um deus poderoso. Essa “poção da imortalidade” não era um vinho de uvas, mas o suco de uma planta sacrificial (ao que tudo indica, a Asclepias acida) que provavelmente tinha propriedades psicotrópicas ou psicodélicas. E o licor do Soma tinha o nome de Vena. Do Vena (amado, em sânscrito) se originaram  os nomes que designam o vinho em quase todas as línguas e povos da Europa: é o caso do russo (vino), do grego (woinos, depois oinos), do latim (vinum), do italiano e do espanhol (vino), do português (vinho), do alemão (wein), do inglês (wine) e do francês (vin). De origem mítica, de essência mística, de natureza santificada, de consumo francês, europeu e mundial, o vinho sempre foi uma bebida civilizatória. O vinho é muito mais do que “vinho”: é um patrimônio da humanidade. (Introdução do livro Vinho, de Jean-François Gautier, Série Encyclopaedia)

Vinho combina com um bom livro. E, como mostram as fotos abaixo, também com bons escritores:

O poeta português Fernando Pessoa em uma adega

Pablo Neruda e Vinicius de Moraes entre garrafas de vinho

Charles Bukowski bem agarrado em uma garrafa de vinho

Jardim de inverno

Chega o inverno. Um esplêndido ditado
dão-me as lentas folhas
vestidas de silêncio e de amarelo.
Sou um livro de neve,
uma larga mão, uma pradaria,
um círculo que espera,
que assim pertenço à terra e a seu inverno.

Cresceu o rumor do mundo na folhagem,
ardeu depois o trigo constelado
por flores rubras como queimaduras,
logo chegou o outono estabelecendo
a escritura de vinho:
e tudo passou, foi céu passageiro
a taça do estio,
e se apagou a nuvem navegante.

Eu esperei no balcão, tão enlutado
como ontem nas heras da minha infância,
que a terra estendera
suas asas no meu amor desabitado.

Eu soube que a rosa feneceria
e este caroço do transitório pêssego
voltaria para dormir, germinar:
e me embebedei com a taça do ar
até que todo o mar se fez noturno
e o amanhecer foi convertido em cinza.

Vive a terra agora
tranquilizando o seu interrogatório,
estendida a pele do seu silêncio.
Volto a ser agora
o taciturno que chegou de longe
envolto em chuva fria e pelos sinos:
devo para a pura morte da terra
a intenção das minhas germinações.

Pablo Neruda em Jardim de Inverno (edição bilíngue), Coleção L&PM Pocket

Morre o grande Carlos Fuentes, autor da obra-prima “Aura”

Morreu ontem, aos 83 anos, Carlos Fuentes, um dos maiores e mais influentes escritores latinoamericanos do século XX. É autor – entre dezenas de romances, novelas, livros de contos, ensaios, peças de teatro e roteiros cinematográficos – de A região mais transparente (1958), Aura (1962), A Morte de Artemio Cruz (1962), Terra Nostra (1975) e Gringo Viejo (1985). Filho de pais mexicanos, nasceu no Panamá em 1928. Dono de um estilo muito refinado e de um enorme talento, soube como poucos retratar a atmosfera onírica e trágica do seu México. Com o colombiano Gabriel García Marquez, o chileno José Donoso, o peruano Vargas Llosa, o paraguaio Roa Bastos, o argentino Julio Cortázar, os uruguaios Onetti e Benedetti, o guatemalteco Miguel Ángel Asturias, entre outros, formou a “geração de ouro” que criou a alma e a personalidade da poderosa literatura latinoamericana que invadiu o mundo inteiro nas últimas décadas do século XX e produziu 4 prêmios Nobel: Miguel Ángel Asturias, Pablo Neruda, Gabriel García Marquez e Vargas Llosa.

A L&PM publicou um dos seus mais impressionantes trabalhos que, por acaso, é uma pequena novela de 80 páginas, Aura. Poucos textos da literatura latinoamericana têm a beleza e a expressividade desta narrativa em que o o autor utiliza seus imensos recursos para construir uma ficção que intriga, deslumbra e, por fim, surpreende como poucas histórias conseguem surpreender. Uma verdadeira obra prima que a L&PM publica desde a década de 1980 numa magnífica tradução da poeta Olga Savary (atualmente é publicada na Coleção L&PM Pocket).

Para nós, fica a melancolia de ver esta luminosa geração ir se apagando aos poucos. Como consolo, resta o sortilégio da literatura, o raro espaço real onde o imaginário que estes homens e mulheres criaram faz com que se eternizem nos corações e mentes da nossa e de futuras gerações. (Ivan Pinheiro Machado)

Desventuras do mês de janeiro quando
o indiferente
meio-dia estabelece sua equação no céu,
um ouro duro como o vinho de uma taça repleta
satura a terra até seus limites azuis.

Desventuras deste tempo semelhantes a uvas
pequenas que agruparam verde amargo,
confusas, escondidas lágrimas dos dias,
até que a intempérie publicou seus cachos.

Sim, germes, dores, tudo o que palpita
aterrado, à luz crepitante de janeiro,
madurará, arderá como arderam os frutos.

Divididos serão os pesares: a alma
dará um golpe de vento, e a morada
ficará limpa como o pão novo na mesa.

(De Pablo Neruda em Cem Sonetos de Amor tradução de Carlos Nejar)