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Um passeio “Ao farol” no blog da tradutora Denise Bottmann

Capa_ao_farol.inddEm outubro de 2012, a tradutora Denise Bottmann lançou um blog chamado Ao farol de Woolf, em que retomava as postagens sobre sua tradução de To the Lighthouse, de Virginia Woolf, para a L&PM Editores. De lá para cá, Denise publicou comentários sobre seu processo de trabalho e outros posts relacionados com o livro. Agora que Ao farol foi lançado, vale a pena dar uma lida nas postagens da tradutora. Tem, por exemplo, uma em que ela lista os personagens que aparecem no livro e outra em mostra a primeira edição da obra, de 1927, com sobrecapa feita por Vanessa Bell, irmã da escritora.

 Quem

– A família Ramsay: Mrs. Ramsay, Mr. Ramsay e os oito filhos, Cam, Prue, Rose, Nancy, James, Andrew, Jasper, Roger

– Empregadas e ajudantes eventuais: Mildred, a moça suíça, Mrs. Mcnab, Mrs. Bast

– Hóspedes e visitantes: Lily Briscoe, Minta Doyle, Mr. William Bankes, Mr. Augustus Carmichael, Charles Tansley, Paul Rayley

– Macalister, pescador e dono do veleiro que faz a travessia até o farol, seu filho, também pescador

– O encarregado do farol e seu filho, apenas citados e vistos ao longe

– Vários figurantes secundários, apenas citados: a copeira Marthe; o pintor Mr. Paunceforte; Elsie, moradora local pobre e doente; Mrs. e Mr. Doyle; tia Camilla; a família de Charles Tansley; a esposa falecida de Mr. Bankes; o criado de Mr. Bankes; os jardineiros Kennedy, George e Davie Macdonald;  o homem maneta colando o cartaz; o operário cavando um dreno; grupos não identificados de intelectuais, estudantes, operários, garçonetes etc.

Esta foi a sobrecapa original da primeira edição de To the Lighthouse, criada por Vanessa Bell, irmã de Virginia Woolf. O livro foi lançado em maio de 1927 pela Hogarth Press, a editora do casal Leonard e Virginia Woolf.

Esta foi a sobrecapa original da primeira edição de To the Lighthouse, criada por Vanessa Bell, irmã de Virginia Woolf. O livro foi lançado em maio de 1927 pela Hogarth Press, a editora do casal Leonard e Virginia Woolf.

 

“Ao farol”: o mais autobiográfico livro de Virginia Woolf

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Foi no verão de 1925, em Monk’s House, que Virginia Woolf deu início a uma aventura literária que teria um impacto impressionante em sua vida pessoal: ela começou a escrever o romance Ao farol. A biografia publicada na Coleção L&PM Pocket conta um pouco sobre a importância deste livro lançado pela L&PM com tradução de Denise Bottmann:

Aos 43 anos, a romancista sente a necessidade de pôr um fim nos fantasmas do passado que continuam entravando seu avanço fulgurante. Em Ao farol, Virginia cumpre um ato salutar: colocando seus pais em cena, ela vai definitivamente se libertar. De início, pretende escrever uma elegia, depois opta pelo romance. Como sempre, a arrancada é brilhante: “vinte e duas páginas de uma só vez em menos de quinze dias”. Mas rapidamente os primeiros sintomas da depressão surgem. Ao farol é um livro que tem o dom de reavivar os sentimentos da infância. Virginia confia a seu Diário seu medo de não ter o distanciamento suficiente. (…) Para ela, Ao farol é um meio de se compreender melhor, criando ao mesmo tempo uma estrutura sólida e capaz de mascarar tudo aquilo que o livro pode ter de autobiográfico. “Escrevi o livro muito rápido e, depois de escrito, parei de ser obcecada por minha mãe. Não ouço mais sua voz, não a vejo mais…”

(…)

No outono de 1927, Virginia Woolf espreita com apreensão as primeiras reações ao lançamento de um livro em que colocou muito de si mesma: Ao farol. Para ela, é sempre uma fase difícil essa em que espera o veredicto: seja esse elogioso ou não, ele a desestabiliza. Uma crítica desfavorável e Virginia passa quinze dias de cama acometida por violentas dores de cabeça. Uma boa resenha e ela tem o sentimento de não ter sido verdadeiramente compreendida. Dessa vez, como é frequente, o artigo que saiu no Times Literary Supplement é elogioso, o que não a impede de ficar deprimida. Felizmente, Vanessa, cuja opinião conta mais do que a de todos os críticos juntos, está estusiasmada. Escreve no mesmo intante à irmã para partilhar com ela a emoção que sentiu ao ler esse livro que tão bem ressuscitou seus pais.

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Os escritores e seus amores

Neste Dia dos Namorados, compartilhamos algumas fotos de escritores e seus amores. E que elas inspirem todos os apaixonados. Hoje e sempre.

Bukowski e Linda

Bukowski e Linda

Peter Orlowski e Allen Ginsberg

Peter Orlowski e Allen Ginsberg

Neal Cassady e Carolyn

Neal Cassady e Carolyn

Gertrude Stein e Alice Toklas

Gertrude Stein e Alice Toklas

Pablo Neruda e Matilde

Pablo Neruda e Matilde

Oscar Wilde e Lorde Alfred Douglas

Oscar Wilde e Lorde Alfred Douglas

Sartre e Simone

Sartre e Simone

Virginia Woolf e Vita

Virginia Woolf e Vita

A grande biblioteca de Morgan

Pierpont Morgan (J.P. Morgan) foi o maior banqueiro de Nova York. E além de ter sido um gigante das finanças (como bem mostra o livro Os Magnatas, de Charles R. Morris – Coleção L&PM Pocket), foi um gigantesco colecionador de  livros, manuscritos e raridades ligadas à literatura. Comprava tanta coisa que, no início do século XX resolveu contratar um arquiteto famoso para erguer um grande palácio para abrigar seus livros. E assim, entre 1902 e 1906, a Morgan Library (Biblioteca Morgan) foi construída para abrigar as centenas de milhares de preciosidades de Morgan, bem pertinho de sua residência, na esquina da Madison Avenue com a 36th Street.

Em 1924, J.P. Morgan Jr, filho do Morgan pai, abriu essa extraordinária biblioteca para receber o público. E desde então, ela é uma visita imperdível para quem mora ou vai a Nova York.

Eu estive lá há algumas semanas e, além de ficar boquiaberta com a biblioteca em si (e de ver manuscritos que vão de Maquiavel a Virginia Woolf), lá estavam algumas exposições emocionantes: Desenhos Surrealistas (até 21 de abril), Marcel Proust – 100 anos do Caminho de Swann (até 28 de abril) e Degas – Miss Lola e o Circo Fernando (até 12 de maio).

Portanto, fica aqui a dica para que, além de visitar bibliotecas em território nacional, você não deixe de procurar algumas nas suas viagens. (Paula Taitelbaum)

Detalhe da Morgan Library / Foto: Paula Taitelbaum

Detalhe da Morgan Library / Foto: Paula Taitelbaum

Manuscritos de Maquiavel e Shelley / Foto: Paula Taitelbaum

Manuscritos de Maquiavel e Shelley / Foto: Paula Taitelbaum

A letra de Virginia Woolf / Foto: Paula Taitelbaum

A letra de Virginia Woolf / Foto: Paula Taitelbaum

Clique aqui e visite o site da Morgan Library.

 

 

Uma ótima entrevista com Denise Bottmann, tradutora de Mrs. Dalloway

O jornal Opção, de Goiânia, publicou uma longa entrevista com Denise Bottmann, uma das mais importantes tradutoras brasileiras, responsável pela tradução de Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. O livro acaba de sair pela Coleção L&PM Pocket e Denise falou sobre a importância das novas traduções de clássicos e o desafio de encontrar o tom certo para esta grande obra de Virginia Woolf. Clique aqui e leia a entrevista completa.

O que você destacaria como o principal desafio que encontrou para traduzir este livro?

Foi encontrar o tom. A linguagem em si é muito simples. A questão é a seguinte: existem “n” maneiras de dizer qualquer coisa; acontece que aquela coisa está dita daquela e não de outra maneira — e ninguém, em especial o tradutor, pode considerar que seja algo fortuito ou mecânico. Então este é o ponto de partida: as escolhas do autor. E são essas escolhas incessantes ao longo das páginas que você tem de entender: não digo só o que está dado no texto; digo as razões de fundo (literárias, estilísticas) para a escolha de tal e tal montagem, desta e não daquela palavra, daquela imagem, daquela ordem dos termos e frases, o que for. Esse entendimento leva algum tempo, pelo menos para mim: assim como o pessoal da filosofia fala em “tempo lógico” do texto, penso numa espécie de “tempo literário” do texto. Então, digamos, a certa altura você até consegue reconstituir mais ou menos o quadro da coisa, você já discerne os procedimentos e suas correlações internas. Ótimo. Mas ainda não sente, está ainda no nível analítico, abstrato. Você até consegue prever quais as escolhas que vão vir, ou, quando vêm, já parecem bastante naturais, você bate na cabeça e diz, “mas claro!”. E aí você tem de conseguir infundir essa percepção de uma estrutura, que transparece apenas obliquamente na superfície do texto, no que você vai escrever em português, isto é, na sua tradução. É isso o que chamo de “encontrar o tom”. E vários elementos de conteúdo, eu tinha de conseguir que cintilassem de leve, aqui e ali, discretamente, como pequenos presentinhos escondidos para o leitor, como Woolf faz, sem alardear: e de repente pode aflorar à leitura alguma preciosidade, e é quando o leitor tem aquela — para usar um termo batido — epifania. Várias coisas ganham nova perspectiva; coisas que pareciam avulsas ou desconectadas se reúnem; fica uma espécie de prisma multifacetado.

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A voz de Virginia Woolf

Em 1937, a emissora britânica BBC gravou depoimentos de vários escritores para uma série de rádio chamada “Words fail me” (algo como “Me faltam palavras”). A gravação de Virginia Woolf lendo um de seus ensaios é único o registro conhecido da voz da autora de Mrs. Dalloway.

Pra quem é fã, este material é uma verdadeira relíquia, já que ao ler seu próprio texto, Virginia revela suas verdadeiras intenções com aquelas palavras escritas. A entonação da leitura, as pausas entre as frases e todo o mise-en-scène da interpretação dão um toque especial à experiência de quem ouve.

A gravação foi realizada em 29 de abril de 1937, quando Virginia tinha 55 anos, e o texto foi publicado postumamente, em 1942, no livro “The Death of the Moth and Other Essays”.

Patti Smith lê Virginia Woolf

Neste vídeo, Patti Smith presta uma bela homenagem à Virginia Woolf declamando um trecho de As ondas, acompanhada pelo piano e pela guitarra de seus filhos Jesse e Jackson:

A admiração de Patti Smith pela autora de Mrs. Dalloway não é de hoje: o álbum “Wave”, de 1979, foi batizado assim em homenagem à Virginia. Além disso, a exposição “Patti Smith: Camera Solo”, realizada em 2011, exibia fotos feitas por Patti na casa onde Virginia se refugiava durante suas crises de depressão, em Sussex. Uma das fotos mostra o Rio Ouse, onde a escritora se suicidou em 26 de março de 1941:

O Rio Ouse, em Sussex, na foto de Patti Smith (2003)

Chegou “Mrs. Dalloway” na Coleção L&PM Pocket!

Acaba de chegar aqui na L&PM o clássico Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, com nova tradução de Denise Bottmann. Passado num só dia, o romance é cheio de vaivéns, misturando, além disso, discurso direto e discurso indireto livre. Com Mrs. Dalloway, considerado por muitos sua obra mais importante, Virginia Woolf comprovou que ações corriqueiras do dia-a-dia, como comprar flores, por exemplo, podem ser tema de grande arte, e que a vida e a morte acompanham todos os momentos da existência humana.

Virginia Woolf e o anjo do lar

Em janeiro de 1931, Virginia Woolf escreveu um texto que foi lido para a Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres. Convidada para falar sobre as suas experiências profissionais, a escritora discorreu sobre o “Anjo do Lar”, uma sombra que, segundo ela, havia em todas as mulheres. No texto, Virginia contou que, ao começar a escrever suas primeiras resenhas como jornalista, havia sido atormentada pelo “Anjo do Lar”, tanto que preferiu matá-lo. Este texto é um dos sete ensaios que está no livro que acaba de ser lançado na Série Pocket Plus L&PM, Profissões para mulheres e outros artigos femininas. Ao ler a descrição do Anjo do Lar, percebemos que ele há muito já voou para longe. Mas se fez isso, provavelmente foi graças a mulheres como Virginia Woolf.

“E, quando eu estava escrevendo aquela resenha, descobri que, se fosse resenhar livros, ia ter de combater um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando a conheci melhor, dei a ela o nome da heroína de um famoso poema, “O Anjo do Lar”. Era ela que costumava aparecer entre mim e o papel enquanto eu fazia as resenhas. Era ela que me incomodava, tomava meu tempo e me atormentava tanto que no fim matei essa mulher. Vocês, que são de uma geração mais jovem e mais feliz, talvez não tenham ouvido falar dela – talvez não saibam o que quero dizer com o Anjo do Lar. Vou tentar resumir. Ela era extremamente simpática. Imensamente encantadora. Totalmente altruísta. Excelente nas difíceis artes do convívio familiar. Sacrificava-se todos os dias. Se o almoço era frango, ela ficava com o pé; se havia ar encanado, era ali que ia se sentar – em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia sempre concordar com as opiniões e vontades dos outros. E acima de tudo – nem preciso dizer – ela era pura. Sua pureza era tida como sua maior beleza – enrubescer era seu grande encanto. Naqueles dias – os últimos da rainha Vitória – toda casa tinha seu Anjo. E, quando fui escrever, topei com ela já nas primeiras palavras. Suas asas fizeram sombra na página; ouvi o farfalhar de suas saias no quarto. Quer dizer, na hora em que peguei a caneta para resenhar aquele romance de um homem famoso, ela logo apareceu atrás de mim e sussurrou: “Querida, você é uma moça. Está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja afável; seja meiga; lisonjeie; engane; use todas as artes e manhas de nosso sexo. Nunca deixe ninguém perceber que você tem opinião própria. E principalmente seja pura.” (Trecho de “Profissões para mulheres”, primeiro artigo do livro – Tradução de Denise Bottmann)

Virginia Woolf também é um dos nomes da Série Biografias L&PM. E, breve, chegará à Coleção L&PM Pocket, Mrs. Dalloway.