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De Bollywood a Hollywood: um estranho no ninho

O mundo cinematográfico já aguarda a nova montagem de O grande Gatsby, o clássico de F. Scott Fitzgerald que está sendo filmado em Sidney sob a batuta do diretor australiano Baz Luhrmann (o mesmo de “Moulin Rouge” e “Austrália”). O burburinho se deve não só à montagem de um dos melhores textos da literatura ocidental, mas também à presença de Leonardo DiCaprio no elenco. A ironia, no entanto, é que o ator mais bem pago de Hollywood vai contracenar com Amitabh Bachchan, astro do cinema indiano que vai interpretar o personagem Meyer Wolfsheim de graça. Isso mesmo, de graça!

E vamos combinar: num filme com orçamento – nada modesto! – de 126 milhões de dólares, verba para pagar os atores não deve ser o problema. Bachchan, que é um dos atores mais conhecidos de Bollywood, revelou em seu blog que a participação não remunerada em O grande Gatsby é um favor ao diretor, que é também seu amigo. Mas vale lembrar que o papel for free no filme de Baz Luhrmann será sua estreia em Hollywood e, sendo assim, a atitude vai um pouco além do altruísmo e vira uma espécie de investimento na carreira.

Como o próprio Amitabh pergunta ao fim do post em que explica o caso, “what would you think… makes sense?”

O ator indiano Amitabh Bachchan vai viver o personagem Meyer Wolfsheim na nova montagem de "O grande Gatsby"

Esta é a quarta vez que O grande Gatsby é adaptado para o cinema e tem estreia prevista para 2012. Talvez a versão mais conhecida do clássico de Fitzgerald na telona seja a de 1974 com Robert Redofrd como Jay Gatsby e Mia Farrow no papel de Daisy.

Uma nova edição de O grande Gatsby acaba de sair na Coleção L&PM POCKET.

Nunca julgue um livro pela capa…

… A menos que este livro seja O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, um dos grandes romances americanos modernos que acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket. A capa desta edição traz o quadro “Mulher de luvas”, da pintora polaca Tamara de Lempicka, que se tornou uma das mais importantes artistas de sua geração ao retratar socialites e membros da nobreza européia. Figura conhecida também na boemia parisiense, ela frequentava os mesmos bares onde se encontravam Picasso, Cocteau e o próprio Fitzgerald. Portanto, esta “mulher de luvas” retratada por Lempicka no fim dos anos 20 bem que podia ser a personagem Daisy de O grande Gatsby, por quem o personagem principal Jay Gatsby se apaixona e dedica toda a fortuna adquirida com o contrabando de bebidas.

A capa da versão original em inglês, feita pelo artista Francis Cugat, é uma das mais célebres da literatura americana. Diferente do que acontece normalmente, a capa ficou pronta antes do romance e deixou Fitzgerald tão encantado que ele resolveu incorporar a imagem criada por Cugat ao livro, como nesta passagem que descreve um dos personagens:

“Acima da terra acinzentada e dos espasmos da poeira soturna que pairam infindavelmente sobre ela, pode-se perceber, após um momento, os olhos do Doutor T. J. Eckleburg. Os olhos do doutor são azuis e gigantescos: as retinas têm um metro de diâmetro. Eles não surgem de nenhum rosto, mas de trás de um par de enormes óculos amarelos apoiados em um nariz inexistente. (…) Mas seus olhos, um pouco desbotados pelo passar do tempo, suportando o sol e a chuva por muitos anos, continuam a contemplar com melancolia o terreno coberto de escória.”

A imagem aparece novamente neste trecho, no fim do capítulo 4, sobre a desejada Daisy: “Ao contrário de Gatsby e Tom Buchanan, eu não tinha assombrações que me acompanhavam pelas ruas escuras e flutuavam entre os luminosos de neón”, numa clara evocação à cena da capa.

Você já deve ter ouvido alguém dizer que não se pode julgar um livro pela capa, mas O grande Gatsby prova que esta regra também tem suas exceções.