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Um brinde aos escritores

Verão combina com viagem, que combina com férias, que combina com uma bebidinha, que combina com… escritores. E é para fazer um brinde a tudo isso que separamos aqui alguns autores e suas bebidas preferidas. Tim tim!

Entre as bebidas favoritas de William Faulkner estava o Mint Julep, uma mistura nada inocente de uísque e cerveja:

Charles Bukowski era amante da Boilermaker, cerveja “emparelhada” com uma dose de uísque. Funciona assim: primeiro, o cidadão bebe o uísque de um gole só. Depois, degusta sua cerveja (de preferência escura), lentamente. Mas esse é só para os fortes como o velho Buk…

William Burroughs gostava de algo mais simples: Vodka com coca-cola. Este nem precisa de receita. Basta acrescentar gelo:

F. Scott Fitzgerald e sua Zelda adoravam Gin Rickey, um coquetel que mistura gin, suco de limão e água com gás:

A bebida de Dorothy Parker era o Whisky Sour que leva uísque, suco de limão e açúcar… Uma espécie de caipirinha inglesa.

Ernest Hemingway gostava de um bom Mojito, bebida que ele descobriu em Havana e que se prepara com rum, limão e hortelã:

E pra mostrar que a gente também lembra de quem está no hemisfério norte, onde o frio anda de lascar, sugerimos a bebida preferida de Oscar Wilde: o poderoso Absinto.

Só não esqueça: se beber, não dirija. Aliás, fique em casa. Quem sabe lendo um bom livro…

Os livros estão de luto

Quem conhece Paris provavelmente já visitou a livraria Shakespeare and Company. Aconchegante e abarrotada de (bons) livros, essa que hoje é ponto turístico dos apaixonados pela literatura,  já foi ponto de encontro de intelectuais como Arthur Miller, James Baldwin, Samuel Beckett, Anaïs Nin, Lawrence Durrel, William Burroughs, Gregory Corso e Allen Ginsberg. Escritores que lá iam para comprar seus livros e se encontrarem com George Whitman, o dono da livraria que morreu quarta-feira, 14 de dezembro, dois dias depois de completar 98 anos.

Segundo o jornal The New York Times, Whitman faleceu devido a complicações que surgiram após um derrame sofrido há dois meses. Em outubro, ele se recusou a ficar no hospital e exigiu ser levado para casa, que fica em cima da Shakespeare and Company. Ontem, quinta-feira, a livraria estava fechada e, em sua porta, velas, flores e romances foram colocados juntos ao comunicado que anunciava a morte de Whitman. Os admiradores também colaram bilhetes com agradecimentos e elogios a ele.

Whitman nasceu em Nova Jersey, nos Estados Unidos, mas passou parte da infância na China. Mudou-se para Paris em 1948, tendo uma bicicleta e um gato como as suas únicas posses. Em 1951, ele abriu a livraria Le Mistral que depois seria rebatizada de Shakespeare and Company, em homenagem a Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare & Company original, responsável pela primeira edição de Ulisses, de James Joyce. Quando morreu, em 1962, Sylvia Beach deixou para Whitman os direitos da marca e os seus livros. Dois anos depois, a Le Mistral de Whitman tornou-se Shakespeare & Company dois anos depois.

Mais do que dono de livraria, George Whitman foi uma lenda. Seu lema de vida tinha sido tirado de um poema de W.B. Yeats: “Não seja inóspito a estranhos, pois eles podem ser anjos disfarçados”. Atualmente, quem cuida da Shakespeare and Company é a filha de George, Sylvia Beach Withman.

O editor Ivan Pinheiro Machado, que também é artista plástico, eternizou a Shakespeare and Company em uma das pinturas que estava em sua mais recente exposição

48. Com os beats na alma


Alma Beat foi o trabalho mais completo editado sobre a Geração Beat no Brasil. Um painel apaixonado e preciso sobre o que eram e o que fizeram os beats. Em suas páginas, eram oferecidos textos escritos por poetas, jornalistas e escritores brasileiros que, de uma forma ou de outra, tiveram suas vidas e suas obras influenciadas pelo movimento. Além de textos inéditos dos próprios beats – como um poema de Kerouac sobre Rimbaud, um texto de Gary Snyder sobre o Brasil e um poema de Ginsberg para Che Guevara! –, Alma Beat trazia artigos de Eduardo Bueno, Antonio Bivar, Roberto Muggiati, Cláudio Willer, Leonardo Fróes, Pepe Escobar e Reinaldo Moraes sobre a ligação dos beats com o jazz, com as drogas, com o zen, com a estrada, com os autores malditos e com a tradição romântica. O livro era ainda complementado pelas autobiografias de Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burroughs, Gregory Corso, Neal Cassady, Gary Snyder, Peter Orlovsky e Lawrence Ferlinghetti. E tinha também trechos de cartas e entrevistas, além de fotos que naquela época nunca haviam sido vistas no Brasil (lembre-se que em 1984 não dava para pesquisar imagens no Google).

Para completar, Alma Beat mexia com temas considerados explosivos como punk, revolução, sexo, dinheiro e drogas, além de oferecer uma ampla bibliografia. Ou seja, era uma fonte primordial para entender a história e a obra deste grupo de escritores que, mais do que qualquer outro, provocou as maiores e mais significativas mudanças no comportamento dos jovens do mundo inteiro.

Vale dizer que Alma Beat não foi apenas o nome de um livro, mas de uma Coleção criada por Eduardo Bueno que, em 1984, já oferecia Uivo, de Allen Ginsberg, Cartas do Yage, de William Burroughs e Ginsberg, Uma Coney Island da Mente, de Lawrence Ferlinghetti, O livro dos sonhos, de Jack Kerouac, Gasolina e a Lady Virgem, de Gregory Corso, Como nos velhos tempos, De Gary Snyder, O primeiro terço, de Neal Cassady e Crônicas de Motel, de Sam Shepard. Depois, claro, vieram muitos outros. Alguns dos títulos da saudosa “Coleção Alma Beat” estão na Série Beat da Coleção L&PM POCKET. É realmente um mergulho no espírito de Kerouac e sua turma. Vale a pena!

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo oitavo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Eu gosto de gatos porque…

Se me pedissem para completar a frase “Eu gosto de gatos porque…”, duvido que ganhasse algum prêmio, mas sei o que gosto neles e por quê. Gosto de gatos porque eles são elegantes e silenciosos, e têm efeito decorativo; uns leõezinhos razoavelmente dóceis, andando pela casa. Poderia dizer que eles são silenciosos na maior pare do tempo, porque um siamês no cio não é silencioso. Acredito que os gatos dão menos trabalho do que os cachorros, embora admita que cachorros, em geral, viajam melhor.

Assim começa o ensaio “Sobre gatos e estilo de vida” de Patricia Highsmith, que era assumidamente apaixonada pelos pequenos felinos. Eles não só a inspiram como ganharam dela uma linda homenagem: três histórias, três poemas, um ensaio e sete desenhos que compõem o livro Os gatos (Coleção L&PM Pocket).

Temos que reconhecer que os bichanos têm algo que combina muito com literatura, pois não há outra explicação para o fascínio que alguns escritores têm por eles como bem mostra outro trecho do ensaio de Patricia:

Raymond Chandler gostava de ter um gato roliço junto dele, ou sobre a escrivaninha. Simenon é frequentemente fotografado com algum de seus gatos, em geral um gato preto. Os gatos oferecem para o escritor algo que outros humanos não conseguem: companhia que não é exigente nem intrometida, que é tão tranquila e em contante transformação quanto um mar plácido que mal se move. (…) Gosto de fazer aniversário no mesmo dia de Edgar Allan Poe: 19 de janeiro. Ele é outro não solteirão que aparentemente gostava de gatos.

Bukowski, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs e outros escritores também adoravam os bichanos, como registramos em outro post aqui no blog.

E você, gosta de gatos? Conta pra gente o porquê aí em baixo nos comentários 😉

O que Richard Prince tem que você não tem

Richard Prince

Discreto e taciturno, quem vê o artista Richard Prince nas ruas da pequena cidade de Rensselaerville, Nova York, onde mora há 15 anos com a esposa e a filha, não imagina que ele é dono de uma das mais incríveis coleções de relíquias relacionadas à literatura moderna dos Estados Unidos. Entre os milhares de objetos, livros e fotos que ele guarda em casa estão o exemplar de On the road com dedicatória de Jack Kerouac a Neal Cassady e os manuscritos de O poderoso chefão, de Mario Puzo. Sentiu o nível da coleção?

Graças aos milhões que ganha com a venda de seus quadros – em geral, grandes pinturas que já foram arrematados por até 8 milhões de dólares em leilões pelo mundo – Richard Prince possui o que muitos idolatram. Cheques devolvidos de Jack Kerouac, as famosas cartas de Truman Capote a Perry Smith, cuja correspondência deu origem ao célebre A sangue frio, os originais de Naked Lunch com anotações de William Burroughs, esboços das músicas de Jimmy Hendrix e uma excitante coleção de cartoons eróticos também fazem parte do acervo particular de Prince, que foi obrigado a adquirir novos espaços só para acomodar as peças que não param de chegar.

Em meio a tudo isso, uma ótima notícia: já é possível ver todas estas relíquias de perto! Parte do acervo de Richard Prince compõe a exposição American Prayer, em cartaz na Bibliotèque Nationale de France até o dia 26 de junho.

Mas se você não tem planos de ir à França nas próximas semanas, estas fotos dão um gostinho de como está a exposição.

O pai da expressão “beat”

Qual a origem do termo “geração beat”? De todas as versões, a considerada definitiva e confirmada é aquela publicada no prefácio de um livro de Allen Ginsberg, The Beat Book: “A expressão ‘beat generation’ surgiu em uma conversa específica entre Jack Kerouac e John Clellon Holmes em 1948. Discutiam a natureza das gerações, lembrando o glamour da lost generation, e Kerouac disse: ‘Ah, isso não passa de uma geração beat’. Mas o que nem todo mundo sabe é que o autor de On the road captou o termo de Herbert Huncke. Kerouac ficou encantado com o modo como Huncke usava sem parar o termo “beat” – que nos circos itinerantes significa “cansado” e “abatido” – e empregou a expressão para batizar toda uma geração (Kerouac também chegou a dizer que o termo derivava de “beatific”).

Herbert Huncke em 1947 na fazenda de William Burroughs

 Mas quem foi Herbert Huncke? Foi um garoto de programa, um ladrãozinho, um viciado. Mas, acima de tudo, uma figura fascinante e carismática. Huncke deu o primeiro pico a William Burroughs, guiou Kerouac e Ginsberg pelo submundo da Times Square nos anos 1940, inspirou personagens de muitos dos livros beats, escreveu os seus próprios sem muito sucesso. Nascido em uma família de classe média, costumava dizer que começou a usar drogas aos doze anos, vender sexo com dezesseis e que roubou tudo o que lhe passou pelas mãos. “Eu sempre segui o caminho mais fácil”, disse em uma entrevista de 1992. “Simplesmente continuei a fazer o que queria. Não pesava nem avaliava as coisas. Comecei desse jeito e de fato nunca mudei.”

Apesar de junkie, Huncke tinha modos finos, era elegante e não mentia jamais. Passou onze anos na prisão e boa parte da vida vivendo no Chelsea Hotel em Manhattan, onde faleceu em 9 de agosto de 1996 aos 81 anos de idade.

Howl, filme sobre o poema de Allen Ginsberg, será exibido em São Paulo

Começa hoje a 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo com uma programação imperdível. O evento vai de 22 de outubro a 4 de novembro e durante essas duas semanas serão exibidos cerca de 400 títulos, entre eles, Howl (Uivo), o filme sobre o mais famoso e polêmico poema de Allen Ginsberg  que terá a primeira sessão no dia 2 de novembro às 22:10 no Cine Livraria Cultura 1 (veja aqui trechos do filme legendado). Além dele, os fãs dos beats ainda poderão ver o documentário William S Burroughs: Um Retrato Íntimo. Os filmes serão exibidos em mais de 20 espaços, entre cinemas, museus e centros culturais espalhados pela capital paulista. Exposições de fotos de Wim Wenders e de storyboards originais de Akira Kurosawa também são destaques da programação. E a boa notícia é que você não precisa estar em São Paulo para assistir os filmes. Pelo segundo ano, a Mostra Internacional de Cinema promove com a MUBI, a maior plataforma de filmes na internet, a Mostra Online. Ou seja: além da exibição normal em salas, 68 filmes da seleção da 34ª Mostra terão também sessões (gratuitas) na internet. O acesso em “streaming” (sem download) estará disponível para os 500 primeiros acessos. Confira no site da Mostra a programação completa que inclui ainda Factótum, baseado no livro homônimo de Charles Bukowski.

William Burroughs com a cantora Patty Smith em cena do documentário sobre o escritor