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“Crime e castigo” para diminuir a pena dos detentos de Santa Catarina

Sábado, 24 de novembro, foi uma data especial para os presos de Joaçaba, no Oeste de Santa Catarina. Na manhã deste dia, os apenados receberam um livro Crime e Castigo, acompanhado de um dicionário. 

O presente faz parte de um projeto da Vara Criminal de Joaçaba que prevê a redução de até quatro dias na pena de detentos que lerem obras clássicas, como Crime e Castigo, de Dostoiévski. A proposta, chamada ‘Reeducação do Imaginário’, é coordenada pelo juiz Márcio Umberto Bragaglia. 

Edição de "Crime e Castigo" da Coleção L&PM Pocket foi entregue para os apenados de SC

Após lerem os livros, magistrado e assessores vão realizar entrevistas com os leitores. “Os participantes que demonstrarem compreensão do conteúdo, respeitada a capacidade intelectual de cada apenado, poderão ser beneficiados com a remição de quatro dias de suas respectivas penas”, explica o TJ. 

 “O projeto visa a reeducação do imaginário dos apenados pela leitura de obras que apresentam experiências humanas sobre a responsabilidade pessoal, a percepção da imortalidade da alma, a superação das situações difíceis pela busca de um sentido na vida, os valores morais e religiosos tradicionais e a redenção pelo arrependimento sincero e pela melhora progressiva da personalidade, o que a educação pela leitura dos clássicos fomenta”, explicou o juiz Bragaglia. Ainda segundo ele, a inspiração veio do filósofo Olavo de Carvalho.  

O primeiro módulo prevê a leitura de Crime e Castigo. No segundo módulo, os apenados devem ler O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Depois, estão previstas obras de autores como William Shakespeare, Charles Dickens, Walter Scott, Camilo Castelo Branco, entre outros. Os livros serão adquiridos em edições de bolso, com verbas de transação penal destinadas ao Conselho da Comunidade.

As avaliações estão previstas para ocorrer após 30 dias. Ainda conforme o TJ, o projeto tem o apoio do Ministério Público de Santa Catarina.

“Macbeth” de Bob Wilson tem estreia mundial em São Paulo

Chegou a vez de Bob Wilson emprestar seu estilo inconfundível à montagem de Macbeth, de Willian Shakespeare. Dá pra dizer, na verdade, que é uma adaptação da adaptação, pois a montagem do diretor norte-americano é feita sobre o texto lírico de Giuseppe Verdi, que virou ópera em 1847. Os figurinos e cenários escuros, muitos silêncios, silhuetas e jogos de luz em cena dão o “tom Bob Wilson” para um dos textos mais encenados de todos os tempos.

“O diretor concebeu um espetáculo escuro. Os trajes de época dos cantores são negros. Também negros são os cenários laterais. No de fundo, única concessão, a cor clara funciona para colocar como silhuetas os personagens coletivos – cortesãs, feiticeiras ou militares. Só os personagens principais têm o rosto iluminado. Eles andam, mas não gesticulam. Se carregam as mãos ensanguentadas pela cumplicidade ou pelo cometimento de homicídios, elas ficam esticadas, e as luvas, clareadas por uma discreta luz negra”, escreveu o jornalista João Batista Natali no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo, nos deixando com ainda mais vontade de assistir à peça 😉

Montagem de Bob Wilson tem estreia mundial no Teatro Municipal de São Paulo nesta sexta, dia 23.

Macbeth, de Bob Wilson
Quando: sexta/23, terça/27 e quinta/29 às 20h e domingo/25 às 15h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo
Quanto: de R$40 a R$100
Classificação: 10 anos

Caravaggio está entre nós

Acaba de chegar um novo Shakespeare na Coleção L&PM Pocket. Medida por Medida, que vem com tradução de Beatriz Viégas-Faria e apresentação de Ivo Barroso, traz na capa a imagem de um jovem cabisbaixo, contando suas moedas enquanto os outros homens à sua volta miram uma figura que, neste caso da capa, encontra-se escondida. A belíssima imagem, carregada de luz, sombra e significados é obra do grande artista italiano Michelangelo Caravaggio. A boa notícia – além da chegada de mais este título na série Shakespeare L&PM – é que, para os que ainda não sabem ou esqueceram, Caravaggio está no Brasil, mais precisamente na capital mineira. Belo Horizonte é a primeira cidade latino-americana a receber a exposição “Caravaggio e Seus Seguidores”. A maior mostra de Caravaggio na América Latina que começou em 22 de maio vai até 15 de julho e depois segue para São Paulo. São 20 pinturas não apenas de Caravaggio, mas também obras de grandes artistas seguidores do mestre como Orazio Gentileschi, Mattia Preti, Jusepe de Ribera e Giovanni Baglione. E outra boa notícia: a entrada é gratuita.

Serviço

O que: “Caravaggio e Seus Seguidores”
Quando: até 15 de julho – terça a sexta, das 10h às 21h, e aos sábados e domingos, das 14h às 21h
Onde: Casa Fiat de Cultura – Rua Jornalista Djalma Andrade, 1.250
Quanto: Grátis

World Shakespeare Festival: a grande festa do teatro em Londres

Um grande festival mundial de teatro com quase 7 meses de duração só pode ter como homenageado um dramaturgo, talvez o maior deles: William Shakespeare. Desde o dia 23 de abril, grupos do mundo inteiro se encontram em Londres no World Shakespeare Festival, uma grande festa do teatro que reúne centenas de profissionais das artes cênicas de 7 países: Índia, Republica Tcheca, Hong Kong, Estados Unidos, África do Sul, Omã e Brazil. O evento estima ainda que cerca 7200 artistas de 260 grupos amadores passam pelos palcos e praças da capital inglesa apresentando suas peças e participando das atividades paralelas.

Isso sem contar o envolvimento de professores e educadores em atividades relacionadas a Shakespeare, ao teatro e às artes em escolas e universidades do Reino Unido. Já pensou que sonho seria promover algo assim aqui no Brasil?

Quem responde pelo megaevento é a Royal Shakespeare Company, que conta ainda com outros 60 apoiadores, entre empresas e entidades ligadas às artes e à cultura. Se você estiver por Londres ou planeja passar pelas Terras da Rainha nos próximos meses, taí um programa imperdível!

E uma coisa é certa: lá você vai ter a oportunidade de assistir a montagens de, no mínimo, todas as 21 peças publicadas na Série Shakespeare da L&PM 😉

Três reis magos e o soberano do teatro

6 de janeiro é conhecido como Dia de Reis, celebrado pelos cristãos como a data da chegada de “alguns magos do Oriente” ao local do nascimento do menino Jesus. Reza a lenda que os reis Baltasar, Gaspar e Belchior chegaram em plena madrugada (Noite de Reis) trazendo mirra, incenso e ouro de presente ao recém-nascido. A data também marca o fim dos festejos natalinos: é hora de desmontar o pinheirinho, guardar os enfeites e dar férias para o Papai Noel. Na Inglaterra, o dia 6 de janeiro é tão importante que virou até feriado e inspirou William Shakespeare a escrever a comédia Noite de Reis, cujo título original é Twelfth Night, uma alusão à décima segunda noite depois do Natal.

Divertimento era a palavra de ordem na Inglaterra de Shakespeare. Talvez por isso suas comédias faziam tanto sucesso. Em Noite de Reis, um grupo arma uma cilada para tirar uma onda com a cara de Malvólio, já que ele não sabe se divertir e muito menos aceitar a diversão dos outros. No prefácio do livro, a tradutora Beatriz Viéga-Farias alerta que a brincadeira armada para “obrigar” Malvólio a se divertir pode nos causar certo estranhamento: “aos nossos olhos, acostumados ao ‘politicamente correto’ deste século XXI, pode parecer cruel demais – mas esta é uma peça escrita na primeira década do século XVII, quando então amarrar um urso vivo a um poste e soltar cachorros ferozes contra ele era um entretenimento popular”.

E como não podia faltar numa peça de Shakespeare, há também amores não correspondidos, afetos impossíveis e identidades falseadas. Mais ou menos assim: Olívia está de luto pela morte do irmão, mas seu mundo volta a ter cor quando ela conhece Cesário – que na verdade é Viola disfarçada de homem. Sem saber do disfarce, Olívia se apaixona, mas Cesário, sendo Viola, se interessa por Orsino, que, por sua vez, usa Cesário para se aproximar de Olívia. E pra completar a quadrilha, surge Sebastião, o irmão gêmeo de Viola, aquela que se traveste de Cesário e por aí vai… Só lendo a peça pra saber como isso termina!

Além de Noite de Reis, a L&PM publica outras 20 peças de William Shakespeare na Coleção L&PM Pocket.

Os últimos dias de Tolstói

Em 1910, Leon Tolstói já contava 82 anos. Mas nem a idade avançada e a saúde frágil o fizeram perder de vista a coerência entre seu modo de vida e seus ideais. Apesar da pressão de sua esposa para que lhe deixasse em testamento os direitos sobre sua obra, ele resolveu fazer o que achava certo: modificou seu testamento sem que ela soubesse. Para garantir que sua obra se tornasse pública após sua morte, todos os direitos foram deixados como herança para um de seus discípulos mais fiéis.

Feito isto, o melhor a fazer era abandonar tudo e fugir em busca de uma vida diferente. Ao deixar a mansão na calada da noite para uma longa viagem de trem, Tolstói renunciava definitivamente à família, à propriedade, mas também à própria vida. O frio, a fumaça e as péssimas acomodações dos vagões da terceira classe (já que luxo e conforto não estavam em acordo com a vida simples que buscava) lhe renderam uma penumonia, que se agravou rapidamente e culminou em sua morte no dia 20 de novembro de 1910, aos 82 anos, numa modesta estação de trem em Astapovo, cercado de curiosos, seguidores fanáticos, e de uma das filhas, a única da família que aderiu à sua cruzada.

A saga dos últimos meses de vida do autor de Guerra e paz está contada no filme A última estação (2009), do diretor Michael Hoffman, lançado em 2009. Emocionante e intenso, o longa traz Christopher Plummer no papel de Tolstói e Dame Helen Mirren como sua esposa Sofia. Veja o trailer:

Aristocrata russo, filho do conde Nicolau Ilich Tolstói e da princesa Maria Nikolayevna Volkonski, Leon Tolstói teve uma infância carente e complicada. Sua mãe morreu quando ele tinha dois anos e seu pai foi vítima fatal de uma apoplexia antes do pequeno Leon completar dez anos. Ele e os três irmãos foram criados por parentes próximos na província de Kazan. Já adulto e incentivado por seu irmão, o tenente Nicolai Tolstói, Leon alistou-se no exército e participou da guerra da Turquia e da guerra da Criméia, onde conheceu profundamente a vida militar, os horrores e os heroísmos de uma guerra. Quando finalmente desligou-se do exército, já com 30 anos, ele conheceu a bela e moscovita Sofia, com quem se casou e teve 13 filhos. Foi neste período que ele escreveu suas obras mais conhecidas: Guerra e paz e Anna Karenina.

Anarquista convicto, Tolstói era admirado pelo filósofo Joseph Proudhon, cujas ideias coincidiam com a filosofia que ele difundia entre seus empregados e vizinhos. Seus escritos foram aplaudidos também por seus contemporâneos russos Fiódor Dostoiévski, Ivan Turguêniev e Anton Tchékhov e festejados por Gustave Flaubert, que comparou-o a William Shakespeare.

No final de sua vida, trocou intensa correspondência com Mahatma Ghandi, cuja teoria de resistência não-violenta tinha muito em comum com suas teses, inclusive as que ficaram imortalizadas no tratado pacifista Guerra e paz, uma das maiores obras da literatura mundial – não só em volume de páginas mas também em excelência literária.

Na apresentação da edição de bolso de Guerra e Paz publicada pela L&PM em 4 volumes, o editor Ivan Pinheiro Machado faz a seguinte comparação: “Guernica de Pablo Picasso está para o povo espanhol assim como Guerra e paz de Leon Tolstói está para o povo russo”.

Já não resta dúvidas de que este livro é leitura obrigatória, né? 🙂

Shakespeare era uma fraude?

Estreia nesta sexta-feira, dia 28 de outubro, nos Estados Unidos o filme Anonymous do diretor Roland Emmerich (o mesmo de “Independence day” e “O dia depois de amanhã”), que questiona o trabalho de William Shakespeare e o retrata como um ator bêbado, analfabeto (!) e incapaz de escrever as peças geniais que lhe atribuem a autoria. O longa reacende a hipótese (que está mais para teoria da conspiração, né?) sustentada por alguns estudiosos da área de que Shakespeare não seria o verdadeiro autor de Romeu e Julieta, Hamlet, Sonho de uma noite de verão e outros 30 clássicos da dramaturgia mundial.

Depois da exibição do filme do Festival de Cinema de Londres na última terça-feira, não se fala em outra coisa nas terras da rainha. Enfurecida, a fundação Shakespeare Birthplace retirou o nome do autor dos cartazes do filme na cidade em protesto contra o que considera “uma manipulação da história e da cultura inglesa”. Vários pubs na cidade inglesa de Warwickshire também aderiram ao protesto e taparam as referências ao dramaturgo em seus estabelecimentos.  Em Stratford-upon-Avon, cidade natal de Shakespeare, um memorial erguido em homenagem ao autor foi coberto com um lençol e ficará assim por tempo indeterminado.

Por outro lado, a crítica especializada que assistiu ao filme no festival resolveu não colocar lenha na fogueira. A polêmica da autoria das peças foi deixada de lado e as atenções se voltaram para os excessos visuais do diretor e a falta de sutileza em cenas violentas. Mas o trabalho dos atores foi elogiado.

Bom, independente da polêmica, fica a nossa recomendação para quem ainda não leu estas verdadeiras obras primas da literatura mundial: 21 das 37 peças escritas por Shakespeare (ou simplesmente atribuídas a ele, vá lá!) estão na Coleção L&PM Pocket.

E enquanto o filme não chega aos cinemas brasileiros, dê uma olhada no trailer:

O ardente The Globe

Por Paula Taitelbaum

Era verão e o público lotava  o The Globe naquela noite de 29 de junho de 1613 para mais uma estreia de Shakespeare. O céu estava limpo e, sob ele, a maioria dos espectadores permanecia em pé aguardando o início de “Henrique VIII”. Eles eram os chamados “groudlings” e se amontoavam em volta do palco, ao ar livre, em pé ou sentados no chão. No The Globe, uma construção octogonal de madeira, era possível acomodar até três mil pessoas e os que tinham mais recursos sentavam-se nos bancos cobertos. Sob o palco, alguns alçapões guardavam surpresas para durante a encenação. Sobre o tablado, havia uma galeria para ser usada em cenas de varanda, saídas e entradas dos atores ou para os músicos entoarem as canções da peça. 

O espetáculo então teve início e, mais uma vez, ele parecia mostrar que o texto de Shakespeare seria um sucesso. Envolvido nas tramas e dramas do monarca Henrique, o público estava concentrado quando soou o tiro de canhão de uma das cenas. O susto foi grande. Além do estrondo, ele acabou atingindo o telhado do lugar. O fogo espalhou-se rapidamente. E assim, em menos de uma hora, há exatos 398 anos atrás, o The Globe, popular teatro de Londres, foi totalmente consumido pelas chamas. Ninguém se feriu e a maioria dos figurinos e adereços das peças de Shakespeare conseguiram ser resgatados do incêndio.

Apesar do incidente, o teatro que era chão de Shakespeare foi logo reconstruído. Mas em 1642, com os puritanos no poder –  e franzindo a testa para qualquer tipo de entretenimento – o governo ordenou que todos os teatros locais fossem fechados. Desta vez, o The Globe não resistiu às fúria flamejante de gente como Oliver Cromwell, líder da Guerra Civil Inglesa, e sucumbiu, sendo demolido em 1644. Felizmente, Shakespeare, que morrera em 1616, não assistiu a esta triste cena.

Foi só a partir de 1970 que começou-se a falar novamente no The Globe e na possibilidade de uma reentrada dele nos circuito de teatros londrinos, com uma campanha liderada pelo ator e diretor britânico Sam Wanamaker. Anos depois, tiveram início as pesquisas arqueológicas para encontrar o local aproximado do The Globe original e uma réplica do antigo teatro começou a ser erguida em 1989, num terreno que, tudo indica, fica a 100 metros de onde estava o antigo. 

Em 1999, o Shakespeare´s Globe Theatre foi inaugurado, mantendo exatamente as mesmas características daquele erguido à beira do Tâmisa em 1542. A peça que abriu a temporada do novo teatro foi justamente uma das primeiras de Shakespeare a ser encenada no velho The Globe: “Henrique V“.

O Shakespeare Globe na beira do Tâmisa

Hoje, lá está ele imponente em seu estilo “retrô”. E basta pagar uma bagatela de 5 libras para sentir-se um verdadeiro “groudling” dos tempos shakespearianos. Foi o que eu fiz há cinco dias atrás. A tarde estava linda e, sob o céu azul, comprei ingresso para um espetáculo que começava às 14h (há sessões às 14h e às 19h30min). A única ironia é que, justamente naquele dia, a peça em cartaz não era assinada pelo do dono da casa, mas por seu maior concorrente: Christopher Marlowe. Mesmo assim, valeu assistir a “Doctor Faustus” à beira de um palco que, naquele momento, fiingi ser o mesmo em torno do qual Shakespeare orbitava.

Consegui um bom lugar na beira do palco - Foto: Eduardo Bueno

Às 14h em ponto os músicos se acomodaram na galeria - Foto: Paula Taitelbaum

Queria ver Shakespeare, mas era dia de Marlowe - Foto: Paula Taitelbaum

 O Shakespeare´s Globe tem uma lojinha ótima. E o melhor é que dá pra comprar pela internet. Dá uma olhada.

Algumas verdades sobre a morte de Ofélia

Segundo historiadores da Universidade de Oxford, a morte de uma menina perto de Stratfort-upon-Avon, cidade natal de William Shakespeare, em 1569, teria inspirado a famosa morte de Ofélia, uma das cenas finais da peça Hamlet. Shakespeare tinha apenas 5 anos de idade quando correu pela cidade a notícia de que a pequena Jane Shaxspere morreu afogada após cair num rio enquanto apanhava flores. O fato parece ter impressionado tanto o pequeno William, que cerca de 40 anos depois, ele descreveu assim o fim de sua Ofélia (aqui, com tradução de Millôr Fernandes):

(Entra a Rainha)
REI: Que foi, meiga Gertrudes?

 RAINHA: Uma desgraça marcha no calcanhar da outra,
Tão rápidas se seguem. Tua irmã se afogou, Laertes.

 LAERTES: Afogada! Oh, onde?

 RAINHA: Há um salgueiro que cresce inclinado no riacho
Refletindo suas folhas de prata no espelho das águas
Ela foi até lá com estranhas grinaldas
De botões-de-ouro, urtigas, margaridas
E compridas orquídeas encarnadas
Que nossas castas donzelas chamam dedos de defuntos
E que os pastores, vulgares, dão nome mais grosseiro.
Quando ela tentava subir nos galhos inclinados,
Para aí pendurar as coroas de flores,
Um ramo invejoso se quebrou;
Ela e seus troféus floridos, ambos,
Despencaram juntos no arroio soluçante
Suas roupas inflaram e, como sereia,
A mantiveram boiando um certo tempo;
Enquanto isso ela cantava fragmentos de velhas canções,
Inconsciente da própria desgraça
Como criatura nativa desse meio,
Criada para viver nesse elemento.
Mas não demoraria para que suas roupas,
Pesadas pela água que a encharcava
Arrastassem a infortunada do seu canto suave
À morte lamacenta.

A cena da morte de Ofélia foi imortalizada por diversos artistas, entre eles John Everett Millais, que quase matou sua modelo Lizzie Siddall ao deixá-la tempo demais deitada numa banheira de água fria! Pelo menos o resultado valeu a pena:

A morte de Ofélia, de John Everett Millais

"A morte de Ofélia", de John Everett Millais

“A Tempestade” começa hoje em São Paulo

A tempestade foi a última peça escrita por William Shakespeare. Uma história de vingança, amor e conspirações que estreia em nova montagem hoje, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Tudo começa quando um navio, açoitado por uma grande tempestade, é levado em direção à uma ilha onde vivem o mágico Próspero e sua filha Miranda. Ele, ex-Duque de Milão, foi exilado em meio ao mar depois de perder o trono para seu traiçoeiro irmão, Antônio, que não por acaso é um dos passageiros do navio que naufraga. Sedento por vingança, Próspero preparou a tormenta que atacou a embarcação em que viajavam todos os seus inimigos. Na ilha, o grupo fica à mercê dos poderes de Próspero, do encanto de Miranda e das artimanhas do espírito Ariel. Mas junto com seus desafetos (que deverão ser levados à loucura), Próspero também coloca na ilha um belo príncipe, noivo potencial para Miranda. Se o amor acontece entre os dois jovens, se a vingança de Próspero é bem sucedida, se além de dor haverá reconciliação, só mesmo assistindo a peça para saber. Ou, melhor ainda: lendo o livro que, na L&PM, tem tradução de Beatriz Viégas-Faria.

A direção da peça é de Marcelo Lazzaratto e tem Carlos Palma no papel de Próspero, Thaila Ayala como Miranda, Sergio Abreu como Príncipe Ferdinand e Paulo Goulart Filho como Ariel. A temporada vai de 26 de maio a 26 de junho no Teatro Raul Cortez (Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – Tel. 11 3254-1631). Quintas e sextas às 21h30min, Sábados às 21h e Domingos às 20h.