Por Paula Taitelbaum
Cheguei no prédio da Turma da Mônica uma hora depois do combinado. Tudo porque um nevoeiro emparedou a cidade de Porto Alegre, fechou o aeroporto e fez meu avião decolar com cinco horas de atraso. Ou seja: desembarquei do táxi, na Lapa paulista, esbaforida, nervosa e faminta. Enquanto esperava pelo meu crachá na fila, notei que havia uma garota sentada. Juro que ela era a cara da Mônica adolescente. Fiquei pensando se seria algum teste para filme, alguma vaga para recepcionista de parque temático ou se tudo não passava de delírio meu. Ainda na fila da portaria, prestei atenção em quatro estudantes que estavam ali pelo mesmo motivo que eu: entrevistar Mauricio de Sousa. Antes mesmo de conhecê-lo, percebi o quão acessível é o pai da Turma da Mônica.
Com o crachá pendurado no peito, entrei sozinha no elevador e apertei no número cinco. Ao descer no andar indicado, não consegui achar nenhuma recepção, só o que me pareciam ser duas portas de saídas de emergência. Abri a primeira e encontrei a escada. Abri e segunda e, bingo, lá estava a ilha particular de Maurício. Depois de me apresentar e me desculpar pelo atraso, em segundos fui levada ao escritório do chefe. Entrei em uma sala enorme, com uma mesa de trabalho cheia de coisas das mais variadas espécies. Pelas paredes, quadros clássicos com Mônica e Cebolinha. Pelos cantos, estantes, livros de quadrinhos e bichos de pelúcia da turma.
Mauricio chegou sorridente como nas fotos que vemos dele. Mas apesar do sorriso sincero, não consegui relaxar totalmente. Eu estava atrasada, mareada, insone, faminta, lembram? E pior: tinha que montar o tripé, ligar a câmera de vídeo, plugar o microfone, conectar os fones de ouvido, enquadrar, testar… Pode parecer simples pra você, mas pra mim foi uma tarefa de gincana. Normalmente quem faz isso por aqui é a Cris e a Cris não estava lá comigo.
Aparentemente, tinha conseguido fazer tudo direitinho. Quando ia começar a gravar, uma das filhas de Mauricio, Marina, que deve ter uns vinte e poucos anos, entrou. Depois de eu ser apresentada a ela, pai e filha conversaram amenidades. Quando ela saiu, ele me explicou que o assunto era o apartamento novo da moça, que está saindo de casa para morar sozinha. “Já meu filho disse que não sai de casa de jeito nenhum, Inclusive perguntou se, quando casar, pode continuar morando lá”, falou ele entre sorrisos.
Tentando ser o mais rápida e ágil possível, fiz a primeira pergunta: como tudo começou? Com um livro da Turma da Mônica da Coleção L&PM POCKET nas mãos, ele contou que planejou tudo nos mínimos detalhes, usando os quadrinhos americanos como modelo. Falou que sempre quis fazer o pacote completo que incluía brinquedos, filmes, alimentos e até parque temático. E emendou dizendo que o que gostava mesmo de fazer eram as tirinhas iguais as que a L&PM publica. Foi então que a câmera apitou e apagou. Por sorte, diga-se de passagem. Porque eu simplesmente tinha esquecido de apertar no Rec e, por isso, a câmera entrou no modo stand by (só que isso eu só fui descobrir depois). Comecei de onde ele tinha parado, dessa vez captando tudo (o vídeo logo estará disponível na L&PM Web TV). Ai, que atrapalhação…
Como Mauricio estava com pressa, a entrevista foi curtinha. Mas já valeu. Saí da sua sala cheia de gibis para minha filha, ganhei sanduíche e suco de uva e fui conhecer o estúdio. Antes, no entanto, Mauricio avisou que, de jeito nenhum, eu poderia captar imagens dos desenhos que estavam sendo feitos. Era sexta-feira, dia de fechamento de capas, e nenhuma delas poderia vazar na internet. Ele contou que tinha tomado essa decisão desde que a capa do beijo da Mônica e do Cebolinha tinha sido divulgada antes de chegar nas bancas, estragando a surpresa. Sacudi a cabeça dizendo que ele não precisava se preocupar e lá fui eu conhecer onde nascem as histórias da turma.
O estúdio divide-se em mesas de desenhos onde tudo é feito à mão. Repito: à mão! Juro que achei que só artesanato de feirinha hippie ainda era feito à mão… Mas além dos habilidosos desenhistas, também vi computadores bem modernos. Depois de conversar com um roteirista que inventa histórias, de captar algumas imagens (tortas, diga-se de passagem) e trocar endereços eletrônicos com as amáveis secretárias de Mauricio de Sousa, saí com a certeza de que eles são uma grande família. Pena que eu não tirei nenhuma foto com Mauricio. Esqueci, vocês acreditam?