Já falamos algumas vezes aqui no blog sobre a bela edição que a Revista francesa Trois Couleurs fez do filme “Na Estrada / On the Road” (baseado no livro de Kerouac) que foi lançada durante o festival de Cannes. Pois eis que encontramos a versão brasileira em uma banca do Rio de Janeiro! E pela bagatela de 10 reais. Não conseguimos descobrir se ela já chegou a outros estados do Brasil, mas se você conseguir encontrá-la, não deixe de levar para casa. A edição é um luxo só e por aqui a ela foi feita pela revista seLecT em parceria com a Trois. São 196 páginas com artigos, entrevistas e imagens exclusivas sobre o set de filmagens do longa metragem de Walter Salles, incluindo páginas do roteiro, croquis e muito mais. Imperdível!
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On the Road na vitrola…
Na estrada, o filme de Walter Salles baseado em On the Road, é como o livro de Jack Kerouac: embalado em música do início ao fim. Infelizmente, a trilha sonora do filme, feita por Gustavo Santaolalla, não será lançada no Brasil. Afoitos por ela, conseguimos comprar o CD via e-bay de um vendedor da Coreia do Sul. Quinze dias depois da transação, eis que o CD chega pelo correio com a trilha original (e não é pirata!).
Para você sentir o clima, aqui vai uma das músicas mais emocionantes da trilha, a canção que abre e fecha o filme e cuja letra aparece algumas vezes no livro. E o melhor: quem está cantando é o próprio Jack Kerouac!
E assim como há muita música em On the Road, há muitos músicos que se deixaram levar – e inspirar – pela obra de Kerouac, como bem conta Eduardo Bueno no prefácio do livro traduzido por ele:
Bob Dylan fugiu de casa depois de ler On the Road. Chrissie Hynde, dos Pretenders, e Hector Babenco, de Pixote, também. Jim Morrison fundou The Doors. No alvorecer da década de 90, o livro levou o jovem Beck a tornar-se cantor, fundindo rap e poesia beat. Jakob Dylan, filho de Bob, deixou-se fotografar ao lado da tumba de Jack em Lowell, Massachusetts, como o próprio pai fizera, vinte anos antes.
P.S.: E por falar em músico, Caetano Veloso confessou este final de semana em seu blog que nunca conseguiu ler On the Road até o fim, mas que o fará depois de assistar ao filme. “Devo confessar que nunca consegui ler todo. Acho que sou um estranho ser em minha geração. A opinião de Dylan ecoa tudo o que venho lendo e ouvindo sobre esse livro desde a adolescência. Prometo-me que o lerei agora, depois de ver o filme” escreveu ele.
Contardo Calligaris assitiu ao filme “Na estrada”
“Na estrada”
Por Contardo Calligaris*
Assisti a “Na Estrada”, de Walter Salles, na sexta passada, no Rio. E passei o fim de semana pensando na minha vida.
Li “Na Estrada”, de Jack Kerouac, no fim dos anos 1960, provavelmente em Nova York -mas talvez em Houston. O texto que eu li era uma versão expurgada; isso, na época, eu não sabia. Não voltei ao texto em 2007, quando a Viking publicou o manuscrito original (em português pela L&PM). Mas o texto voltou em mim com força, na sexta-feira, quando assisti ao filme.
Nos anos 1960, eu era um hippie lendo um “beat”. Na mesma época, “Almoço Nu”, de William Burroughs, me seduzia, mas me assustava -longe demais de minha experiência (das drogas, do sexo e da vida). Também lia Allen Ginsberg e Gregory Corso, mas, aos dois, preferia Lawrence Ferlinghetti -outra escolha “bem comportada”, dirá alguém.
O fato é que “Na Estrada” foi a parte da herança “beat” da qual eu me apropriei imediatamente. Por quê? As drogas, o álcool ou o sexo “livre” me pareciam secundários -apenas um jeito de dizer: “Não esperem que a gente viva como manda o figurino”.
O essencial, para mim, era a junção da fome de aventura com uma raivosa vontade de escrever. A vida se confundia com um projeto literário que exigia os excessos: era preciso viver intensa e loucamente, de peito aberto, para que valesse a pena contar a história. Por isso, eu e outros podíamos, ao mesmo tempo, venerar Kerouac e Hemingway -os quais, álcool à parte, provavelmente, não se dariam.
Pensando bem, eu fui mais um “beat” atrasado do que um hippie. A procura por iluminações interiores e comunhões cósmicas da idade de Aquário, tudo isso me parecia pacotilha para “Hair”, coisa da Broadway. Fiz minha peregrinação à Índia e ao Nepal, mas considerava com desconfiança o orientalismo que estava na moda: o budismo dos anos finais de Kerouac e Ginsberg não me parecia mais sério do que o hinduísmo dos Beatles.
O problema é que eu era um espécimen bastardo: “mezzo” hippie e “mezzo” maio-68 francês, “mezzo” descendente dos “beats” e “mezzo” filho marxista do pós-guerra europeu.
Kerouac não tinha simpatia pelo marxismo. Ele preferia o individualismo dos que procuram uma fronteira para desbravar -pouco a ver com um projeto de reforma social ou de revolução. Para os “beats”, aliás, transformar a sociedade seria um problema. Certo, Neal Cassady e Gregory Corso passaram tempo na cadeia; e Burroughs, Kerouac e Ginsberg foram censurados. Mas, justamente, num mundo que não lhes resistisse, a vida dos “beats” perderia sua dimensão épica.
Ao longo dos anos 1970 e 1980, fazendo um balanço, eu teria dito que, em mim, a herança marxista europeia prevalecera sobre a herança “beat”. Hoje, penso o contrário -não sei se por decepção política ou por maturidade. Mas não tenho muitas certezas: por exemplo, minha errância pelo mundo foi uma experiência da estrada ou uma versão “chique” do cosmopolitismo forçado dos trabalhadores modernos?
E será que vivi como um fogo de artifício? Ou então durar e continuar vivo se tornou, para mim, mais importante do que me arriscar na intensidade das experiências?
O filme de Salles está sendo a ocasião imperdível de um balanço -ainda não decidi se festivo ou melancólico. Cuidado, o balanço não interessa só minha geração. Cada um de nós pode se perguntar, um dia, como resolveu a eterna e impossível contradição entre segurança e aventura: quanta aventura ele sacrificou à sua segurança?
Essa conta deveria ser feita sem esquecer que 1) a segurança é sempre ilusória (todos acabamos morrendo) e 2) qualquer aventura não passa de uma ficção, um sonho suspenso entre a expectativa e a lembrança.
Que você tenha lido ou não o livro de Kerouac, e seja qual for sua geração, assista ao filme e se interrogue: se uma noite, inesperadamente, Neal Cassady tocar a campainha de sua casa, louco de aventuras para serem vividas e com o olhar fundo de quem dirige há horas e ainda quer se jogar na estrada, você saberia e poderia, sem fazer mala alguma, simplesmente ir embora com ele?
*Este texto foi publicado originalmente na coluna de Contardo Calligaris no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo no dia 19 de julho de 2012.
Jô Soares ganha edição do livro On the Road com a capa do filme
Ontem à noite (na verdade, hoje de madrugada), Jô Soares entrevistou a atriz Alice Braga em seu programa e ganhou dela a nova edição de On the Road com a capa de Na Estrada. No filme, Alice vive Terry, uma catadora de algodão mexicana que se envolve com Sal Paradise. O esperado filme com direção de Walter Salles é baseado na obra de Jack Kerouac e estreia hoje – 13 de julho – no Brasil. Alice é a única brasileira no elenco.
Proust na estrada
“A obra do escritor não é senão uma espécie de instrumento óptico que ele oferece ao leitor a fim de lhe permitir discernir o que, sem aquele livro, ele talvez não tivesse visto em si mesmo.” A frase é de Marcel Proust, escritor francês nascido em 10 de julho de 1871, em meio aos bombardeios da Guerra Franco-Prussiana. E talvez ela dê uma pista dos motivos que fazem com que, geração após geração, Proust continue sendo cultuado entre os leitores do mundo inteiro. Muitos são aqueles que dizem ter encontrado, nas palavras “proustianas”, uma espécie de espelho da alma. Jack Kerouac, por exemplo, costumava carregar consigo um exemplar de “No caminho de Swann”. Dizia que era uma espécie de talismã. Em seu livro On the road, ele cita Proust algumas vezes:
“Ela estava parada na penumbra do nosso quarto e sala com um sorriso esquisito. Falei milhares de coisas para ela quando de repente senti uma quietude estranha no quarto e vi um livro gasto em cima do rádio. Sabia que era o eternamente sagrado e crepuscular Proust, de Dean.”
“Mas é claro, Sal, que em breve já poderei falar tanto quanto sempre e, na verdade, tenho muitas coisas para te dizer e com essa minha cabecinha pancada, tenho lido e relido esse Proust doidão, o trajeto inteiro através da nação, sacando milhares de coisas que nunca tenho tempo para te contar…”
Em Na estrada, adaptação de On the road para o cinema, com direção de Walter Salles, um exemplar de “No caminho de Swann”, primeiro dos sete volumes de “Em busca do tempo perdido”, aparece em cena com frequência.
Coincidência ou não, este desenho feito pelo próprio Proust mostra que ele também tinha amor pela estrada:
A Coleção L&PM Pocket publica Um amor de Swann, a segunda e autônoma parte de No caminho de Swann.
As anotações no roteiro de “On the Road”
A Revista Trois Couleurs, que foi distribuida durante o Festival de Cannes, é uma verdadeira preciosidade para os amantes dos beats. Editada pela Mk2, produtora do filme On the Road (“Sur la Route” na França e “Na Estrada” no Brasil) ela traz, em suas 240 primorosas páginas, um “quem é quem” dos personagens, uma cronologia que mostra até os antepassados de Jack Kerouac, muitas fotos, documentos, desenhos, música e detalhes sobre o filme dirigido por Walter Salles como croquis e anotações no roteiro. Nestas anotações, feitas pelo diretor, há até algumas escritas em português. “Muito bom isso vai antes da morte do pai” escreveu ele junto a uma locução em off de Sal Paradise, que aparece logo no início do roteiro.
O roteirista portorriquenho José Rivera, que também trabalhou com Walter Salles em “Diários de Motocicleta” fez várias versões de roteiros até chegar na final. Em alguns momentos, ele optou por seguir a descrição de Jack Kerouac em On the Road – o manuscrito original. Um das primeiras cenas do filme, por exemplo, mostra o enterro do pai de Sal Paradise e a locução em off diz “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que meu pai morreu…”, enquanto no livro On the road – Pé na estrada a frase é “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que minha mulher e eu nos separamos”.
O filme estreia no Brasil em 13 de julho.
“Meninos, eu vi” On the Road, o filme
*Por Paula Taitelbaum
Como diria Gonçalves Dias em I-Juca Pirama: “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme verdadeiro, íntegro e profundo. Centrado na capacidade humana de ir em busca da sua essência. Ou de se distanciar dela. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme baseado em um livro, mas não escravizado por ele. Que escreve sua própria história não só com palavras, mas principalmente cores, ritmo, música e… silêncio. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme em que Garrett Hedlund recebe o espírito de Dean Moriarty/Neal Cassady e se entrega a ele como só os grandes atores são capazes de fazer. Como Viggo Mortensen, encarnando Old Bull Lee/William Burroughs, fez em cada sílaba sua. “Meninos, eu vi”. Eu vi o filme que eu não sabia que veria, que uma parte de mim nem esperava gostar, cujo trailer nem havia me empolgado. Mas que quando pegou a estrada não a abandonou jamais, honrando cada quilômetro percorrido por Jack e Neal, rodado com a paixão que só os amantes da obra original poderiam ter. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme sobre a sensação universal de ter vinte anos, que me fez chorar no final, assim que a voz do verdadeiro Jack ecoou no cinema e logo que as palavras dele tingiram a tela – I think of Dean Moriarty… “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme que tem alma – e nem importa se ela é beat. E que, em seus 140 minutos, passou a muitas milhas por hora sem negar carona aos que algum dia já se deixaram levar por On the road.
*Paula Taitelbaum e Eduardo Bueno (tradutor de On the Road) assistiram ao filme On the Road/Na estrada em uma sessão fechada, na sexta-feira, 15 de junho. Ambos adoraram. Eduardo também chorou no final.
“On the road” chega bem na Austrália
Depois da estreia mundial no Festival de Cannes, o filme “Na estrada/On the road” de Walter Salles foi recebido com entusiasmo também na Austrália, onde foi exibido pela primeira vez neste fim de semana, durante o Sydney Film Festival. Foram longos minutos de aplausos após a sessão e a imprensa local só confirmou o sentimento do público presente no State Theatre, na capital autraliana. Um dos jornais mais importantes do país, o The Sydney Morning Herald, classificou o filme como ”courageous, audacious and cutting-edge” (algo como “corajoso, audacioso e inovador”).
As estreias mundo afora só nos deixam com ainda mais expectativa para a chegada do filme ao Brasil, marcada para o dia 17 de julho. Até lá, dá tempo de ler a nova edição de On the road com a imagem do cartaz do filme na capa.
Na trilha (sonora) de “On the road”
On the Road é um livro sonoro. Do motor do carro no qual Sal Paradise e Dean Moriarty empreenderam sua jornada aos inferninhos em que ambos “viajaram” entre metais e bongôs, Jack Kerouac faz as palavras dançarem pelos pensamentos. Sua obra, que agora virou filme e concorre a Palma de Ouro em Cannes pelas mãos de Walter Salles, embalou, embala e continuará embalando os sonhos de liberdade de quem sabe que há um mundo lá fora, além da fronteira.
O filme, que estreia em junho no Brasil, já tem trilha sonora lançada em CD na França. O responsável por ela é Gustavo Santaolalla, músico argentino que já trabalhou com Walter Salles em Diários de Motocicleta e também assina músicas dos filmes Brokeback Mountain, Babel e 21 Gramas. Na lista de canções de On the Road (Na Estrada) estão composições próprias de Santaolalla e também Ella Fitzgerald, Coati Mundi, Son House e, claro, Slim Gaillard. “Ela chora e tem chiliques, não quer me deixar sair para ver Slim Gaillard, fica furiosa cada vez que me atraso e então, quando resolvo ficar em casa, ela simplesmente não fala comigo, diz que sou um idiota completo” diz Dean a Sal, citando Slim Gaillard e se referindo a Camille em uma das páginas do livro de Kerouac.
Dodô Azevedo, editor de conteúdo do site de Na Estrada está em Cannes e de lá postou no Facebook oficial do filme uma foto do CD e imagens da gravação da trilha que aconteceu em Los Angeles. No estúdio, Santaolalla recebeu as lendas do Jazz Charles Haden e Brian Blade. O diretor Walter Salles também estava lá, acompanhando as gravações e com cara de quem estava feliz com o resultado.
Se você não puder ir até a França buscar o resultado de tudo isso, o pessoal de Na Estrada avisa que será sorteado um CD assinado por Walter Salles entre os que curtem a página do Facebook e os que seguem @naestradafilme no twitter. Dá uma olhada na soundtrack list que inclui ainda uma leitura de Kerouac:
1. Sweet Sixteen – Greg Kramer
2. Roman Candles
3. Yep Roc Heresy – Coati Mundi
4. Reminiscence
5. Lovin’ It
6. The Open Road
7. Memories / Up to Speed
8. I’ve Got the World on a String – Ella Fitzgerald
9. That’s It
10. Keep it Rollin’
11. Hit That Jive Jack – Slim Gaillard
12. God Is Pooh Bear
13. Death Letter Blues – Son House
14. I Think of Dean
15. Jack Kerouac Reads ‘On the Road’ – Jack Kerouac
O press kit de “On the road” em Cannes
Quem entra no site oficial do Festival de Cannes 2012, que começa no dia 16 de maio, encontra um press kit de divulgação do filme “On the road/Na estrada”. São 66 páginas com a ficha completa dos atores, uma entrevista com o diretor Walter Salles, fotos e imagens do filme, informações sobre a adaptação do livro para a telona e várias curiosidades sobre a viagem que a equipe encarou para refazer a saga de Dean Moriarty, Sal Paradise e a encantadora Marylou. O filme será exibido pela primeira vez durante o Festival no dia 23 de maio e está concorrendo a Palma de Ouro (estamos torcendo por ele!).
No site de Cannes, o press kit é um pdf, mas nós montamos um flip para facilitar a leitura (clique sobre a imagem):
E em breve, chegará às livrarias uma nova edição do livro On the road, desta vez em formato convencional e com a imagem do poster do filme na capa.