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10. Bukowski levanta o tapete e mostra a sujeira

Por Ivan Pinheiro Machado*

Charles Bukowski é publicado pela L&PM há quase três décadas. É por isso que o velho safado é super-identificado com a editora que publicou até agora quinze livros seus, incluindo “Delírios Cotidianos”, a bela adaptação de seus contos para HQ feita pelo desenhista alemão Mathias Schultheiss. Nesse ano de 2011, vamos publicar finalmente os seus primeiros romances, “Cartas na rua” e o incensado “Mulheres”. Aí teremos em nosso catálogo todos os seus romances, os principais livros de contos, alguns de suas melhores obras de poemas e o antológico “diário” publicado postumamente: “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Bukowski conquistou a admiração dos jovens de várias gerações; daqueles que são jovens há muito tempo e daqueles que são jovens recentemente. Esta permanência no coração dos leitores se deve a uma obra descarnada, sobre a qual paira a irresistível aura de transgressão. Há malucos que se tornam santos com o passar do tempo como Van Gogh, Rimbaud, Baudelaire, Artaud, Thoureau, Kerouac, Bukowski, entre dezenas de outros. E esta maravilhosa capacidade da juventude de cultuar aqueles que descarrilham dos trilhos do sistema transforma artistas marginalizados em clássicos. Desde que morreu, em 1994, a obra de Heinrich Karl Bukowski, dito Charles Bukowski, tem corrido o mundo. O bêbado inconveniente capaz de performances desastrosas, completamente embriagado em frente às câmeras da TV, passou a ser respeitado.

O lado sombrio do sonho americano

Nasceu na Alemanha e criou-se nos EUA, filho de um militar de origem alemã que lhe aplicava surras terríveis. Sua prosa e seus poemas “cortam como aço de navalha” e sua obra sistematicamente é o contraponto brutal ao “american way of life”. Foi 1982 que ouvimos falar de Charles Bukowski aqui na L&PM. Curiosamente, ele começava a fazer sucesso na Itália e a agente literária Ana Maria Santeiro, que representava a agência Carmen Balcells no Brasil, me passou um exemplar do livro “Erections, ejaculations, exhibitions and general tales of ordinary madness”. Fiquei perplexo com o título e fascinado com a violência dos contos. Na mesma época, o cineasta italiano Marco Ferreri fez um filme baseado no livro que chamava-se “Crônica de um amor louco”(em italiano “Storie di Ordinaria Folia”), com Ben Gazzara e a maravilhosa Ornella Muti que fazia o papel da “mulher mais linda da cidade”, um dos contos do livro. Rapidamente, a fama do filme espalhou-se e ele virou um verdadeiro “cult” da contra-cultura. Nós compramos os direitos do livro para o Brasil e o publicamos em dois volumes; o primeiro com o título do filme “Crônica de um amor louco” e no segundo adaptamos o título original para “Fabulário geral do delírio cotidiano”. Até hoje publicamos estes livros, agora na Coleção Pocket.

Em 1986, eu estava na Feira Internacional de Frankfurt com o dublê de jornalista e historiador Eduardo Bueno (que na época trabalhava na L&PM) quando conhecemos John Martin, o dono da legendária Black Sparrow, que publicou todos livros do velho Buk, com exceção de “Erections, ejaculations…” que saiu pela editora e livraria City Lights de San Francisco, pertencente até hoje ao poeta beat Lawrence Ferlinghetti. Martin era um grande editor. Foi ele que percebeu o talento de Bukowski e estimulou-o a largar o emprego nos correios e dedicar-se a literatura. Hoje, quase todos os seus livros estão na Coleção L&PM POCKET e o baixo preço é um apelo a mais para que os jovens o leiam. Bukowski não perdoa, não alivia. É sempre violento, irreverente, não tem nenhuma ilusão. É bom que os jovens o leiam. Ele é uma alternativa ao mundo idealizado que virou moda depois da vitória final da civilização do dinheiro e da globalização. Bukowski escancara o lado sombrio da nossa sociedade. Ele levanta o tapete e mostra a sujeira. É a voz dos desvalidos, dos perdedores, dos desempregados, dos doentes, dos falidos, dos feios, das putas, dos bêbados. Não tem nenhum charme, mas a violência que jorra das suas páginas é tão verdadeira que não tem como ficar indiferente.

Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.

Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.

Chelsea is dead?!

“El olvido está lleno de memórias” escreveu o uruguaio Mario Benedetti em um de seus poemas. Pois é assim que ficará o local que, por anos, abrigou artistas, músicos, escritores, poetas e muitos casais apaixonados. O Chelsea Hotel, em Nova York, será vendido por falta de verbas. Se o brilho de seus hóspedes tivesse algum valor, o hotel certamente não fecharia suas portas. Na lista de hóspedes famosos estão Bob Dylan, que chegou a viver em várias suites durante os anos 60 – Jim Morrison, Patty Smith, Arthur Miller, Marilyn Monroe e até Mark Twain, que viveu num dos quartos de Chelsea durante anos. Também Sid Vicious, Robert Mapplethorpe e outros nomes ligados a Andy Warhol conheceram bem os seus corredores.

O Chelsea Hotel nasceu como a primeira cooperativa privada de apartamentos da cidade. Passou a funcionar como hotel em 1905. Foi por lá que alguns dos escritores publicados pela L&PM escreveram suas obras. Allen Ginsberg e Charles Bukowski vivenciaram estadias prolongadas pela “velha casa dos artistas”.

Abaixo a música feita por Leonard Cohen…Chelsea Hotel. Foi num dos quartos do Chelsea que Cohen viveu sua paixão com Janis Joplin.

Capote e Bukowski na The Paris Review

Qual foi a idéia que deu inicio à trama do livro? O escritor buscou conhecer pessoas para criar o personagem? Quando escreve, o que faz?

Algumas respostas estão no novo site da publicação literária The Paris Review. A revista reuniu em um grande arquivo entrevistas com grandes escritores como Ernest Hemingway, Ralph Ellison, Jorge Luis Borges, entre outros. Estão por lá, também, artigos sobre autores publicados pela L&PM, como Charles Bukowski e Truman Capote. Vale a pena conferir.

Confissões de sexta-feira

Angélica Seguí*

Sinto saudades do velho. O safado exercia sobre mim uma espécie de “domínio fatal”. Se é que isso é possível. Não era um domínio sexual, nem apenas intelectual. Era paixão. Pura e avassaladora. Por alguns anos foi assim. Ele e eu. Eu e Ele. Com eventuais traições com algum jornalista americano ou poeta uruguaio. Mas foram poucas…

Foi por meu velho que virei noites e noites, bocejei nas aulas mais divertidas sobre teorias de Roland Barthes e discuti, a ponto de quase pegar na faca, quando alguém quis ofender o velho. Foram bons anos.

Precisava devorá-lo diariamente. Os encontros eram cada vez mais frenquentes. Em casa, na faculdade, no ônibus, em praças, cafés, bares. Naquele tempo, ninguém conseguia prender minha atenção como ele.

Os amigos avisavam: “Larga esse velho! Você merece mais! Ele é um desbocado. Tem que voltar aos clássicos ou conhecer um europeu.” Eu ficava triste. Sentia que podiam ter razão. Mas, que mal poderia haver em gostar de um homem pobre, safado e bêbado? Que moça de família não havia amado alguém assim?

Depois de muitos anos juntos percebi que estava me entregando demais. Toda mulher deve se entregar por inteiro a uma paixão, pero no mucho.

Acordei numa manhã gelada de inverno, com a ressaca habitual de nossos encontros, e decidi: era o dia do fim.

Toda paixão acaba um dia. Ou se transforma.  Charles Bukowski foi uma grande paixão. Mas precisava conhecer outras pessoas.

Por que me apaixonei? Além da realidade crua com que me deparava em cada linha, havia algo mais naqueles livros. Bukowski quis ser escritor. E se entregou. E foi.

Hoje cuido bem do “nosso amor” relendo de tempos em tempos um dos seus livros ou poemas. Vibro com cada novo lançamento e quero, sinceramente, que conquiste outras moças.

Ele me ensinou muito sobre o pensamento masculino. Dos safados, é claro.

Para quem nunca leu, recomendo iniciar com Notas de um velho safado, Ao sul de lugar nenhum e Pulp.

Depois disso? Pare se for capaz…

Na Web TV L&PM tem uma entrevista fantástica com o Buk!

*jornalista e blogueira. Editora online da L&PM

Teste seus conhecimentos artísticos: que escritores pintaram essas obras?

Parece que já não se fazem mais escritores como antigamente. O belo livro The Writer’s brush – Painting, Drawings, and Sculpture by Writers, de Donald Frieman, traz uma extensa mostra de pinturas, desenhos e esculturas de famosos literatos do mundo inteiro, produzidas ao longo de várias épocas. Selecionamos algumas delas, todas de autores publicados pela L&PM, e aproveitamos para propor um teste: você consegue relacionar corretamente as obras com os escritores da lista que vem logo abaixo? Mas não vale espiar a resposta (que está no pé no post).

 

 

Lançamentos na Bienal de São Paulo

No post anterior, falamos das 50 reedições deste mês.
E se em julho, que era para ser “o mês de cães danados”, já tivemos essa produção toda, agosto não poderia chegar em menor estilo. O grande acontecimento será a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a realizar-se no Anhembi de 12 a 22 de agosto.
E para marcar este importante evento, a L&PM terá excelentes novidades tanto entre os livros convencionais, como nos livros de bolso. Olha só:

Coleção L&PM POCKET:
Depois do Funeral – Agatha Christie
Maigret sai em viagem – Simenon
Radicci 7 – Iotti
A linha de sombra – Joseph Conrad
Lincoln (Série Encyclopaedia) – Allen Guelzo
Primeira guerra mundial (Série Encyclopaedia) – Michael Howard
Despertar: uma vida de Buda – Jack Kerouac
O amor é o cão dos diabos – Charles Bukowski
Bella Toscana – Frances Mayes

Outros formatos:
Peanuts Completo volume 3 – Charles Schulz
Anjos da desolação – Jack Kerouac
Clássicos do Horror (Drácula, Frankenstein e O médico e o monstro) (Série Ouro) – Bram Stoker, Mary Shelley e Robert Louis Stevenson
Pedaços de um caderno manchado de vinho –Bukowski
Amores de alto risco – Walter Riso
A espécie fabuladora – Nancy Huston
Videiras de cristalLuiz Antonio de Assis Brasil
Assassinato no Expresso Oriente & Morte no Nilo (Versão em Quadrinhos) – Agatha Christie

Alguns trechos dos livros novos já estão disponíveis na seção Próximos Lançamentos do nosso site.