Arquivo da tag: Eduardo Galeano

Os 72 anos de Eduardo Galeano

Há exatos 72 anos, em 3 de setembro de 1940, nascia Eduardo Galeano. Veio ao mundo na capital uruguaia de Montevidéu, onde voltou a viver depois de anos de exílio. Galeano jornalista, escritor, historiador, poeta. Galeano da memória do fogo, das pernas pro ar, das palavras andantes, dos abraços, das mulheres, dos espelhos, do futebol, dos dias e noites de anos e de guerras. Galeano que é pai do recém nascido Os filhos dos dias. Galeano das veias, sorriso e peito aberto.

Galeano nasceu em plena Segunda Guerra Mundial. E no recém lançado Os filhos dos dias, o texto dedicado a 3 de setembro fala exatamente sobre isso.

Maus costumes

Por Juremir Machado da Silva*

Quando vou perder a mania de falar de livros? Ainda mais de livros sentimentais. Ando tão piegas que, depois de chorar num filme de caminhoneiro, fiquei de queixo caído diante de um livro do Eduardo Galeano, “Os Filhos dos Dias” (L&PM). Galeano, autor do clássico infanto-juvenil ideológico “As Veias Abertas da América Latina”, que os lacerdinhas transformam com maledicência em “véias”, também serviu de modelo para o idiota do filho de Mario Vargas Llosa escrever um livro idiota intitulado “Manual do Perfeito Idiota Latino-americano”. Não desrespeito quem gosta, pois eu mesmo sou um idiota perfeito e um perfeito idiota, o que não é muito difícil constatar, embora eu não seja marxista, nem comunista, só um idiota.

Com textos curtos, dedicados a cada dia de um ano, o escritor uruguaio desencava histórias que deveriam ser esquecidas. Por exemplo, esta de Winston Churchill, o herói civilizador que comandou a resistência ao nazismo: “Não consigo entender tantos melindres sobre o uso de gás. Estou muito a favor do uso de gás venenoso contra as tribos incivilizadas. Isso seria um bom efeito moral e difundiria um terror perdurável”. Uau! E esta, ainda melhor (ou seja, pior): “Eu não admito que se tenha feito mal algum aos peles-vermelhas da América, nem aos negros da Austrália, quando uma raça mais forte, uma raça de melhor qualidade, chegou e ocupou seu lugar”. Racismo britânico, of course! Só no dia 26 de janeiro de 2009, graças a um plebiscito, que aprovou uma nova Constituição, outorgou-se cidadania a todos os índios da Bolívia. Obra “lamentável” do “atrasado” Evo Morales.

Há uma divertida homenagem a um magnata americano: “Em 1937, morreu John D. Rockefeller, dono do mundo, rei do petróleo, fundador da Standard Oil Company. Tinha vivido quase um século. Na autópsia, não foi encontrado nenhum sinal de escrúpulo”. Excelente também é a síntese da visão de mundo de Tintim, personagem mítico de histórias em quadrinhos criado pelo belga Hergé. Na sua famosa viagem ao Congo, Tintim “fuzilou 15 antílopes, escalpelou um macaco para se disfarçar com sua pele, fez um rinoceronte explodir com um cartucho de dinamite e disparou na boca aberta de muitos crocodilos. Tintim dizia que os elefantes falavam francês muito melhor que os negros. Para levar um souvenir, matou um e arrancou suas presas de marfim”. O rei da Espanha adora Tintim.

Instrutivo é o capítulo sobre a “desonra”. Em 1981, Galeano participou de uma reunião do Tribunal Internacional, que tratou, em Estocolmo, da invasão do Afeganistão pela União Soviética. Um alto chefe religioso islâmico, integrante do que os americanos chamavam, então, de “guerreiros da liberdade”, mais tarde rebatizados de terroristas, acusou, no seu depoimento, os invasores de terem cometido o mais hediondo dos crimes:

– Os comunistas desonraram nossas filhas!

Diante da expectativa geral, explicou:

– Ensinaram elas a ler e a escrever!

* Juremir Machado da Silva é jornalista e escritor, autor de História Regional da Infâmia. Este texto foi originalmente publicado em sua coluna no Jornal Correio do Povo do dia 16 de agosto de 2012

O novo livro de Galeano

Por Jaime Cimenti*

Os filhos dos dias é o mais novo livro do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, que vive, caminha e escreve em Montevidéu, aos 72 anos, e segue como um dos grandes nomes da intelectualidade contemporânea. Galeano escreveu o clássico moderno As veias abertas da América Latina – denunciando a exploração europeia – e já recebeu prêmios importantíssimos como o Casa de las Américas de Cuba, o Dagerman da Suécia e o Cultural Freedom Prize, da Lannan Foundation dos Estados Unidos. Sua obra mescla, sem medo e sem cerimônia, com criatividade, gêneros literários diversos, como a poesia, a narração, o ensaio e a crônica. Memórias e memórias inventadas também entram, claro. Ao longo de várias décadas de trabalho, Galeano notabilizou-se por recolher as vozes e as almas das ruas em obras como Bocas do tempo, De pernas pro ar, Futebol ao sol e à sombra e O livro dos abraços. Nessa nova obra, Os filhos dos dias, Galeano utilizou o formato de calendário para contar uma história para cada dia do ano. Na primeira página ele deseja que o dia seja alegre como as cores de uma quitanda. Na última, ele fala de morte, de febre terçã e da palavra abracadabra, que, em hebraico queria dizer e continua dizendo: envia o teu fogo até o final. Pois é, para o dia 16 de julho, Galeano traz a história daquele jogo da Seleção Brasileira contra o Uruguai em 1950, quando o Maracanã abrigou duzentas mil estátuas de pedra. Para o 1 de abril não há história de bobos. O escritor narrou o episódio do desembarque do primeiro bispo do Brasil, Pedro Sardinha – em 1553 – e que, três anos depois, teria sido devorado pelos caetés no Sul de Alagoas e inaugurado, assim, a gastronomia nacional. Para 19 de fevereiro, Galeano trouxe um diálogo-desafio terrível entre o consagrado escritor Horacio Quiroga e a morte. Para o dia 14 de abril, o escritor contou a história de Nellie Bly – a mãe das jornalistas -, que mostrou, em 1889, dando a volta ao mundo e reportando a viagem, que jornalismo não era só coisa de homem. Em 1919, ela publicou suas últimas reportagens, desviando das balas da Primeira Guerra Mundial. Como se vê, Galeano abraçou a diversidade de povos e culturas, contando episódios que vão de 1585, no México, até, por exemplo, o 15 de setembro de 2008 na Bolsa de Nova Iorque, passando pela morte de John D. Rockefeller, em 1937, e muitos outros. L&PM Editores, 432 páginas, R$ 49,00, tradução de Eric Nepomuceno.

*Jaime Cimenti é jornalista e escritor. Este texto originalmente publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre dos dias 17, 18 e 19 de agosto de 2012.

A Índia de Gandhi por Eduardo Galeano

Em 15 de agosto de 1947 a independência [da Índia] foi proclamada. Enquanto o país, tomado de um delírio de alegria, a festejava aos gritos de Mahatma Gandhi Ki jai, “vitória ao Mahatma Gandhi”, este se ausentava. “Agora que temos a independência, parece que estamos desiludidos. Eu pelo menos estou”.

(Trecho da biografia de Mahatma Gandhi na Coleção L&PM Pocket)

Quem relembra este episódio é Eduardo Galeano em seu novo livro Os filhos dos dias:

(clique na imagem para ampliar e ler melhor)

9 de agosto: Dia Internacional dos Povos Indígenas

Como dizia Baby do Brasil (ex Baby Consuelo), havia uma época em que “todo dia era dia de índio”. Mas os tempos mudaram e agora eles têm dias específicos para serem homenageados. O Brasil comemora o Dia do Índio em 19 de abril. Já 9 de agosto é o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Eduardo Galeano dedica uma página do seu novo livro, Os filhos dos dias a esta data:

Página do livro "Os filhos dos dias" de Eduardo Galeano (clique na imagem para ampliá-la)

Pavilhão da Bienal do Livro de SP começa a borbulhar

Por Amanda Zulke*

O cinza que toma conta do céu de São Paulo nessa quinta-feira se contrapõe ao colorido dos livros que preenche os pavilhões do Anhembi, onde acontece a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que começa hoje e segue até o dia 19 de agosto. Aberta oficialmente às 11 horas, com a presença da Ministra de Estado da Cultura, Ana Buarque de Hollanda, do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e de outras autoridades, editores, livreiros e leitores, a 22ª edição da Bienal promete grandes momentos. E já começou bem, diga-se de passagem: foi emocionante a apresentação do Hino do Brasil feita pelo maestro João Carlos Martins com a Orquestra Bachiana do Sesi – SP.

Pouco a pouco, o público vai tomando conta dos corredores e estandes da Bienal.  O lema desse ano, “Livros transformam o mundo”, a curadoria de peso, que inclui nomes como os jornalistas e apresentadores Paulo Markun e Zeca Camargo, os eventos e atrações programados e, obviamente, a quantidade colossal de livros são chamarizes para essa que é a maior feira de literatura do país.

Uma variedade inacreditável de formatos, cores e gêneros de livros estão expostos em quase 500 estandes. Um desses espaços é o da L&PM, que atrai leitores e livreiros com seu catálogo multifacetado. Agatha Christie, Jack Kerouac, Shakespeare, Eduardo Galeano e Martha Medeiros convivem harmoniosamente nas prateleiras, junto de HQs, mangás, livros eróticos e muitos mais. Não há quem não se sinta contemplado nesse espaço. 

* Amanda Zulke é assessora de imprensa da L&PM e está na Bienal do Livro de São Paulo.

O estande da L&PM na Bienal do Livro de São Paulo

Uma parede só de quadrinhos da Coleção L&PM Pocket!

Claudio Willer, autor de "Geração Beat" e tradutor de "Uivo" visitou o estande da L&PM

As outras vocações de Eduardo Galeano

Eduardo Galeano acaba de lançar por aqui “Os filhos do dias”. Neste novo livro, que conta uma bela história real a cada dia (com a poesia e a profundidade que caracteriza Don Galeano), há ilustrações que abrem cada mês. Ao procurar quem é o responsável pelos desenhos, o leitor vai encontrar, na ficha catalográfica, a seguinte resposta: “Ilustrações do miolo: colagens de Eduardo Galeano”. Curiosos em saber mais sobre este talento do escritor, perguntamos a ele como eram feitas essas colagens. Eis a resposta que chegou por e-mail (e em bom português!):

Sim, acontece que essa é uma das vocações minhas não realizadas. 

Em ordem de aparição, as outras são:

– Jogador de futebol, porque fui o melhor nas noites, enquanto sonhava, e o pior durante os dias, na dura realidade;

– Santo, por uma irresistível tentação do pecado, que me empurra aos abraços proibidos desde que era neném;

– e, last but not least, pintor e desenhista.

Acho que o talento não dá, mas reivindico meu direito a sentir prazer desenhando meus livros – escrever me dá prazer, mas eu me sinto livre e brincando como criança quando vou inventando esses colagens, grudando imagens alheias que viram minhas e imaginando cada uma das páginas dos livros que estou escrevendo (os espaços brancos são os silêncios, necessários para que as palavras respirem.