Por Paula Taitelbaum*
Na noite passada, acho que pela décima vez, assisti a Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. E provavelmente assistirei mais dez, vinte, trinta vezes. A sequência inicial – o diálogo entre o presunçoso nazista e o humilde fazendeiro – é espetacular, magistral, incansável e seja lá que outro adjetivo seja possível arranjar para definir algo que deixa você pensando: “como é que o cara conseguiu escreveu isso?”.
Os Bastardos Inglórios que dão nome ao filme são um grupo de norteamericanos judeus que vai para a França caçar e escalpelar os nazistas que lá estão instalados depois da invasão alemã. Liderados por Aldo (Brad Pitt em versão apache), os Bastardos Inglórios vingam os judeus perseguidos por Hitler.
Mas quem eram estes judeus franceses? Seriam eles apenas fazendeiros como os que aparecem no início do filme? Obviamente que a resposta é “não”. Na vida real, além dos humildes, havia gente poderosa como a família Rothschild. O nome soou familiar? Não é à toa: os Rothschild são os negociantes mais célebres do planeta, sinônimo de influência, riqueza e poder.
Isso e muito mais eu descobri nas páginas de “A dinastia Rothschild”, de Herbert R. Lottman, o mesmo autor de “A Rive Gauche”, e que acaba de chegar por aqui. Ainda não li todo o livro, mas hoje, pós Bastardos Inglórios, não resisti em dar uma olhada no capítulo 22, chamado “Os Rothschild na Guerra” para tentar descobrir um pouco a respeito dos judeus ricos de Paris nos anos 1940. Será que, assim como a família mostrada por Tarantino, eles também se escondiam sob as tábuas de assoalhos alheios? Duvideodó…
O que não quer dizer, é claro, que a Guerra não tenha deixado lá suas cicatrizes neles.
O livro que conta a saga da poderosa família Rothschild
O nome de Edouard e Robert Rothschild encabeçava a lista dos judeus fugitivos e um artigo sobre a família, publicado em um jornal francês da época, dizia que “O judeu, sendo um ser nauseante e fedido no verdadeiro sentido da palavra, gosta de sujar, de manchar todos aqueles que lhe são superiores ou que não se ajoelhem perante ele.”
E os ataques a eles não pararam por aí. Seus bens foram confiscados e “cerca de cinquenta oficiais e homens alemães se aquartelaram no castelo da família”. Nem as instituições de caridade mantidas por eles foram poupadas. “Quando começaram a arrebanhar os judeus para a deportação em massa para os campos de concentração, os nazistas pairaram sobre as instituições de caridade dos Rothschild, tirando pacientes do hospital Rothschild por categorias – advogados, vendedores…”
Edouard e Germain Rothschild
Temendo o pior, eles escaparam a tempo. Ao desembarcarem no aeroporto de Nova York, Edouard Rothschild, sua mulher Germaine e a filha Bethsabée, levavam uma mala contendo gemas avaliadas em 1 milhão de dólares. “Quando deram uma olhada no que os Rothschild estavam carregando, os inspetores da alfândega levaram Edouard e Germaine para uma sala privada; alguém tinha dado a informação de que as jóias seriam ‘peças de museu’. Mas os repórteres de fato notaram que o barão continuava carregando a mala ao deixar o aeroporto.”
Fico pensando que os Rothschild bem poderiam ter financiado as ações dos Bastardos Inglórios. Caso eles tivessem realmente existidos, é claro. Aliás, uma pena que não existiram…
* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.