Em 2 de maio de 1519, ele escreve no seu caderno: “Continuarei…”, seguido de um “etc.” cheio de esperança. Após o chamado de Mathurine [a cozinheira que o serviu desde a chegada à França] para tomar a sopa antes que esfrie, ele perde os sentidos e cai. Battista, Melzi e Mathurine [seus empregados] correm até ele. Os olhos do mestre não se abrem mais. Caído sobre a mesa onde tomava notas, ele está morto.
Leonardo tinha quase 70 anos de idade e, apesar dos sinais físicos de que o dia derradeiro estava próximo, ele estava plenamente consciente. Pouco antes de morrer, mandou chamar o notário de Amboise, cidade francesa onde passou seus últimos anos, e ditou-lhe seus últimos desejos. Mandou dividir seus bens com os empregados e os pobres da comunidade. Seus quadros – inclusive A Gioconda – foram deixados de herança para o rei Francisco I, que no dia da morte de Leonardo, estava em outra cidade, desmentindo assim o célebre quadro de Dominique Ingres, que faz o artista morrer nos braços do rei.
Ele também planejou seu funeral nos mínimos detalhes, com toda a pompa que tinha direito. Sua despedida está descrita no trecho a seguir, extraído do livro Leonardo da Vinci, da Série Biografias:
Este famoso artista, humilde e chistoso, simples e irônico, apaixonado pela glória e pela opulência, organizador de solenidades reais e brincadeiras desconcertantes, que adorava tanto o grotesco e o mostruoso dos rostos populares, quanto a beleza do rosto e das roupas dos rapazes, providenciou um funeral com grande pompa, à altura de sua fama. Sua última festa. Talvez ele tenha imaginado que sua pessoa, admirada por Francisco I, equivalia a de um rei…
O cortejo é impressionante. Toda a corte acompanha seu ataúde atrás do rei, seguida pelo povo da aldeia. Como para um príncipe, todo o clero de Ambroise participa do funeral. (…) Serão a seguir celebradas três grandes missas e trinta missas gregorianas.
Mas após o funeral, não há notícia do paradeiro do corpo de Leonardo.
Alguns afirmam que o corpo de Leonardo estava enterrado sob uma das lajes do coro [da igreja de Saint Florentin, destruída durante a Revolução Francesa e demolida em 1808]. Um jardineiro diz ter recolhido alguns ossos que seriam dele, e com os quais as crianças da aldeia brincavam até então!
Assim Leonardo pregou a sua última peça.
Nenhuma sepultura real ou figurada existe para o maior artista do Renascimento. Nada, nem o menor vestígio. Ele, que não cessou de embaralhar as pistas enquanto viveu, vê seus desejos literalmente cumpridos na morte.
Não repousa em parte alguma. Assim a lenda pode continuar. E ela continua