O que há de mais acreditável nos milagres é que eles acontecem. Algumas nuvens no céu agrupam-se para formar um olho humano. Uma árvore destaca-se na paisagem de uma jornada duvidosa na forma exata e elaborada de um sinal de interrogação. Eu mesmo vi as duas coisas nos últimos dias. Nelson morre, de fato, no instante da vitória; e um homem chamado Williams mata de forma completamente acidental um homem chamado Williams Jr., isso soa meio como um infanticídio. Resumindo, na vida existe um elemento mágico nas coincidências que as pessoas ao pensar no prosaico talvez nunca notem. Como bem expressa o paradoxo de Poe, a sabedoria tem que levar em conta o inesperado.
O texto acima está em A inocência do Padre Brown, de G. K. Chesterton (Coleção L&PM Pocket), livro que traz doze histórias sobre crimes misteriosos. O londrino Chesterton, que nasceu em 29 de maio de 1874, criou um padre detetive que utiliza a intuição – além de métodos excêntricos – para desvendar os crimes. Além de suas histórias de mistério, Chesterton conquistou legiões de fãs com poesias, epopeias, artigos jornalísticos, livros de crítica literária e romances. Segundo Jorge Luis Borges, nenhum outro escritor foi capaz de lhe proporcionar tantas horas felizes quanto Chesterton.