Por Paula Taitelbaum*
Seriam os cirurgiões plásticos os Doutores Frankensteins da nova era? No lugar de juntar pedaços, agora eles mudam, moldam, delineiam, esculpem… Usam os corpos como matéria-prima de sua arte. Criam novas existências. Dão vida a novas experiências.
Em “A pele de habito”, novo filme de Pedro Almodóvar, o Dr. Robert Ledgard é um cirurgião plástico incansável na busca pela perfeição. Seu objetivo, no entanto, vai muito além do que apresenta a sinopse dos jornais: “Cirurgião plástico cria uma pele sintética que resiste à qualquer dano”. O Dr. Ledgard quer e faz muito mais do que isso. Mas não condene os jornalistas pelo simplismo de seus story lines, pois resumir esta trama de Almodóvar é praticamente impossível.
Mas voltemos ao médico em questão. Consumido por um sentimento de vingança, o Dr. Ledgard dá início a um trabalho que realmente o faz virar uma espécie de Dr. Frankenstein. Ele cria um monstro que passa a habitar sua mente e o consome de paixão. Por fim, torna-se o Deus de sua amargura. Infeliz e solitário em seu castelo high tech.
Como sempre, ninguém no filme de Almodóvar é menos do que intenso. Tão dramático quanto uma novela mexicana – e totalmente genial em tornar seus exageros factíveis – o diretor espanhol vai e volta no tempo, dançando entre os anos 2000 e 2012 (vez por outra vai mais longe do que isso). Sem deixar nenhuma cicatriz em seu roteiro, ele costura as cenas com a maestria de um cirurgião das películas.
No final, a nós meros espectadores, resta a certeza de que não gostaríamos de habitar a pele de nenhum dos personagens criados por Almodóvar. Ao mesmo tempo, sabemos que o mundo não seria tão interessante sem eles (talvez nem tão bizarro). Portanto: Ave Almodóvar!
* Paula Taitelbaum é escritora, coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM, fã de Pedro Almodóvar e assistiu “A pele que habito” em sua pré-estreia.