Na madrugada da quarta-feira, 15 de julho [de 1789], o grão-mestre do Guarda- Roupa o acorda, e cada palavra pronunciada pelo duque de La Rochefoucauld-Liancourt dolorosamente arranca Luís XVI de sua protetora sonolência.
A Bastilha tombara. Cabeças haviam sido desfiladas na ponta de lanças aos gritos de canibais.
– É uma revolta – balbucia Luís XVI numa voz surda.
– Não, Sire, é uma revolução.
Luís tem a impressão de que jamais conseguirá erguer seu corpo.
Levanta-se lentamente.
Precisa se mexer, agir.
Precisa comparecer à Assembleia, repetir que tomara a decisão de afastar as tropas de Paris e de Versalhes.
– Conto com o amor e a fidelidade de meus súditos – diz Luís.
(…)
A multidão acorre, grita:
– Viva o rei!
Luís se tranquiliza, apesar das advertências da rainha e do conde de Artois. É preciso, dizem eles, apagar com uma vitória e um castigo exemplar a revolta de Paris, a tomada da Bastilha, a matança selvagem que se seguira.
É preciso impor, em todo reino, a autoridade do rei.
(Trecho de Revolução Francesa, Vol. I – O povo e o rei (1774 – 1793), de Max Gallo)