Por Angélica Seguí*
A diferença entre a história real e a que você aprendeu na escola sempre é do tamanho da sua curiosidade. Aliás, curiosidade será a palavra que vai direcionar minha pesquisa para os posts que vou escrever toda sexta-feira aqui no blog da L&PM. A final, se não existissem os curiosos e os caçadores de novidades, o homem não teria descoberto o fogo, a Princesa Diana poderia estar viva e Colombo não teria chegado à América. Ah! Sim! Colombo… impossível não começar por ele. Mas, antes de prosseguir devo avisar: há aqueles que não gostam de saber a verdade. Têm medo, ou vergonha, de conhecê-la. Para estes, recomendo que parem a leitura por aqui. Aos curiosos… sigam-me os bons!
Dois amigos estão rodando um filme em terras bolivianas. Sebastián, o diretor do filme, está interessado em mostrar a verdadeira história de Cristóvão Colombo: um homem interessado no ouro e nos escravos. Mas, o produtor do filme, e também amigo íntimo de Sebastián, quer que a rodagem acabe logo, mesmo que para isso pague esmolas vergonhosas aos figurantes bolivianos. (Esta história deve parecer MUITO familiar para qualquer um que tenha contato mínimo com profissionais do cinema, não? O produtor quase sempre é o chato do set! Coitado. É muita pressão!) Paralelamente, enquanto rodam o filme, o povo da Bolívia entra em confroto com o governo e se inicia la Guerra del Agua. O motivo? Una empresa privada tomou o controle da água e cobra preços que só alguns bolivianos podem pagar. Curiosamente, Daniel, o índio que protagoniza o filme de Sebastián, é o líder da revolta popular. O produtor do filme, Costa, tenta evitar de todas as formas que Daniel se envolva na Guerra del agua, pois se o ator for preso, o filme nunca mais será finalizado. Esta é a história que serve de pano de fundo para relatar o lado pouco conhecido de Colombo, no filme español También la lluvia. Escrito pelo roteirista Paul Laverty, e filmado em Cochabamba. O filme revisa a figura de Colombo não como um homem empreendedor e conquistador, mas como cruel governador e pioneiro da exploração do ouro na América. Exploração esta que ainda hoje teima em persistir. A “herança empreendedora” de Colombo está presente, mesmo que com outro nome, em grandes projetos que mineradoras multinacionais tem em países como Peru, Bolívia, Argentina, Brasil e, em breve, Uruguai.
Depois de ver o trailer, e ler algumas entrevistas da diretora Icíar Bollaín, é impossível não refletir acerca da curiosidade e ganância que move os grandes descobridores, os grandes nomes da história, os grandes nomes do capitalismo mundial. Impossível não pensar em “o que é bom pra você, poder não ser bom pra mim”, a velha teoria etnocentrista ou “meu umbigo é mais bonito”. Teorias utópicas à parte, só me resta dizer que a distância que separa a ganância da crueldade, provavelmente é a mesma que separa a sua cabeça das orelhas. E a crueldade nem sempre é física, violenta. Aquela que não se vê , a crueldade silenciosa e estatégica, pode ser mais dolorosa do que uma navalhada na carne.
Clique no play e veja o trailer de También la lluvia, que tem como presente um lindo, e talentoso, par de olhos verdes como protagonista (aka Gael García Bernal). A estreia mundial será no dia 7 de janeiro de 2011. Vale a pena ler as notas da diretora no site http://www.tambienlalluvia.com Por lá, Iciár relata detalhes da extensa pesquisa realizada para a elaboração do roteiro. O filme representará a España na 83ª edição do Oscar.
Começo hoje o desafio de postar semanalmente bacanices culturais aqui no blog da L&PM. O nome da série? Balaio da Angélica. E que Colombo me guia. O Colombo que conheci no colégio, of course.
* Angélica Seguí é jornalista, blogueira, curiosa e uruguaia.