Por Fernanda Scherer*
Luiz Antonio de Assis Brasil, além de escritor, é Secretario de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, professor universitário e ministrante da Oficina de Criação Literária mais antiga do Brasil. No evento de ontem, em São Paulo, Assis Brasil falou sobre técnicas literárias e sobre seu novo livro, Figura na sombra.
Figura na sombra marca uma nova estética da obra do escritor, com capítulos, parágrafos e frases mais curtas. Cada capítulo é uma unidade autônoma, o romance é fragmentado e o que dá consistência orgânica à obra é a personagem. Na entrevista exclusiva que Assis deu a L&PM WebTV em outubro de 2012, o autor reforça que uma grande história, mesmo uma história real como a do Aimé Bonpland, não é suficiente para um grande romance. Um grande romance, segundo ele, precisa de uma grande personagem e, em Figura na sombra, ele constrói a personalidade e os conflitos de Aimé, preenchendo com a imaginação os pormenores que as pesquisas dos acontecimentos reais não trouxeram.
A história de um francês, reconhecido médico e botânico, que vem parar em uma estância no Rio Grande do Sul já é por si só curiosa, mas, durante o evento de ontem, Assis Brasil revelou de onde veio a inspiração para contar tal história. E a história sobre a história de como ele escolheu o tema também renderia uma nova história.
Tudo começou há décadas atrás, quando Assis Brasil ganhou de um colega professor um livro artesanal, com o título escrito em francês, mas cujo significado era “Viagem de São Borja a Porto Alegre pela serra”. Pois o livro de capa verde foi para a prateleira da biblioteca de Assis e por lá ficou durante muitos anos. Foi somente em 2006 que, embalado por uma taça de vinho, Assis resgatou o livro e resolveu finalmente dar uma olhada. Abriu em uma página aleatória e viu um nome conhecido. Era o nome de seu bisavô. Em seguida, viu também o nome de sua bisavó. Só podiam ser eles. E pensando em tamanha coincidência, leu toda a obra de um gole só e foi em busca de sua origem. Descobriu então que aquele “carnet de Voyage” havia sido copiado à mão por um aluno da UFRGS em visita a uma biblioteca argentina onde estavam guardados todos os cadernos de viagem de Aimé Bonpland. E assim começaram as pesquisas sobre esse fascinante naturalista.
E por que os bisavós do escritor estavam na história? Aimé queria um sócio para entrar com capital para a fabricação de erva-mate em Porto Alegre. O bisavô, felizmente, não aceitou (o porquê do “felizmente” você descobrirá lendo o livro).
Amanhã, sábado, 10 de novembro, Assis Brasil autografa Figura na sombra na Feira do Livro de Porto Alegre às 19h. Mas nesse mesmo dia, às 18h, o autor fala sobre a história do livro no evento “Aimé Bonpland: uma figura na sombra”, na Sala Oeste do Santander Cultural.
*Fernanda Scherer é gerente de marketing da L&PM Editores e acompanhou o evento de Assis Brasil em São Paulo.